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4. ENCONTROS E DESENCONTROS DO PROCESSO FORMATIVO

4.2. Implicação com a Profissão

4.2.3 O Encontro com o Aluno

O encontro com o aluno constitui para os professores entrevistados um momento rico de trocas, de revelação de saberes e de intercâmbio do humano. O material coletado sugere a existência da valorização do humano, do respeito à subjetividade, do desafio de conviver com a diferença, com a satisfação diante do encontro com o outro.

Lembrando Cavaco (1995), é possível acrescentar a idéia de que na construção de identidade profissional está presente a dimensão social e a

linha de continuidade, que é determinada pelo que o sujeito é com os trajetos partilhados com os outros, num espaço determinado. Deste modo é impossível deixar de pensar sobre o significado da mediação do conhecimento no processo de ensino e aprendizagem, pois o professor e os alunos afetam-se mutuamente, transformando essa relação em um momento histórico único, singular, determinado e determinante de significados, conscientes e inconscientes, para o mundo existencial de cada um dos envolvidos.

O encontro recebe a conotação de aprendizagem, espaço onde vão sendo tecidos os caminhos e as possibilidades de aprender e ensinar, tendo como horizonte a dinâmica interativa, onde o amor, e os valores humanos fazem morada. O “amor” aqui é compreendido pela visão de Maturana (2002, p.67), como “um espaço de interações recorrentes, no qual se abre um espaço de convivência onde podem dar-se as coordenações de conduta de coordenações consensuais de conduta que constituem a linguagem, que funda o humano”

Sydnei, Evelize e Flora destacam valores considerados imprescin- díveis na relação com o aluno, todos de uma forma ou de outra revelam comprometimento com os aspectos formativos tais como: sinceridade, ética, respeito, verdade, justiça, compromisso, bondade, solidariedade, apego e sensibilidade. A fraqueza do olhar míope da formação, Morin (2001), parece não estar presente no fazer dos referidos professores, pois o olhar está voltado para a construção de saberes que vão além do cognitivo e instrumental, enxergando a vida, a cultura e os saberes que valorizam o humano tão necessário para o processo formativo do ser professor.

O professor que se respeita, faz o aluno respeitar a si também. O aluno encontra no professor um amigo, alguém que está ali contribuindo com a formação dele. Neste sentido... eu acho, que essa relação é a mais importante, ou seja, que essa aproximação com o aluno .Quer dizer que o valor que o professor tenta passar para o aluno é busca da verdade... a justiça ... a cima de qualquer coisa. Muitas vezes problemas existem por falta de capacidade desta interação entre o aluno e o profissional. Acho que a sala de aula é uma escola para a gente, cada dia... a gente aprende mais com o aluno. Quanta coisa não tem para passar para nós. Mas que o professor que também não tiver humildade de ouvir (Sydnei)

(...) são pilares: seriedade, compromisso, a ética profissional, o respeito pelas pessoas que estão do teu lado... com quem tu trabalha, com quem tu atende, com quem tu atinge. Eu acho isso importante a gente nunca pode deixar isso de lado. (...) o mesmo respeito que tu tem pelo teu aluno,. tenha pelo teu colega ... que nenhum pese mais que o outro. (...) a gente tem que ser alegre... tem que ser bondoso, tu tem que aprender a ser bondoso. A solidariedade a bondade tem que estar junto conosco.(...) problema maior é que nem todos pensam assim e os cursos de formação as vezes pecam no sentido da humanização. (...) Então tu tem que ter a flexibilidade e essa flexibilidade quem te dá. é tu como professor, como profissional que tem que ter essa sensibilidade e isso pode ser trabalhado pela instituição, no momento que tu trabalha com ciências humanas, que tu fortalece os valores pessoais, os valores profissionais e o valor da ética, a pessoa. (Evelize)

(...) a gente vai se dar muito bem, se tiver respeito um com o outro. Eu não sei acho que eu sou assim em casa, sou assim com meus amigos, eu sou assim no meu trabalho, sou assim na escola, sou assim dentro da sala de aula, entende. Eu vejo que todo meu lado de sensibilidade como pessoa uso com meus alunos, vejo que toda minha... meu lado de respeito com as pessoas, uso com meus alunos e eles em compensação usam comigo... (Flora)

(...) acho que a amizade com os alunos, aquele carinho, que tem que ter, tem que ter respeito também. O professor tem que respeitar o aluno, tem que saber ouvir o aluno, tem que saber ponderar(...) respeito amizade acho que ... até um pouco de carinho com eles. (...) no momento que tu conversa, que tu fica no corredor, um pouquinho mais com eles tu tem um retorno maior. Acho que com os alunos eu até tenho uma relação bem boa, bem produtiva. Acho que eu sei escutar bastante, e isso eu vejo que é um aspecto bom.... (Heloísa)

Os professores demonstram estar imbuídos na busca de enfrentar os limites e as fronteiras que de certa forma impedem a vivência de uma ação docente de comprometimento com o outro, envolvendo saberes que segundo Freire (2001) deve contemplar: amorosidade, disponibilidade para o diálogo, curiosidade, alegria, escuta e querer bem os alunos. A preocupação com o lado humano da docência reforça a idéia da tendência do caráter gerativo presente em Erikson (1985), envolvendo uma relação de cuidado com o desenvolvimento dos alunos.

Segundo Isaia, (2002 ,p.7) “os professores gerativos não se eximem à condução pedagógica, considerando-a de sua responsabilidade o que, por sua vez, indica a sentido ético da implicação com a docência”. As professoras Vânea, Ayda e Evelize narram a preocupação e o senso de responsabilidade com o aluno, diante da função mediadora da docência no espaço institucional, o que mais uma vez reforça a implicação com a docência e com a instituição, já discutidos anteriormente.

Só que eu acho assim, se nós não nos desgastarmos com o nosso aluno, não termos a preocupação com o aluno, não ver o que esta acontecendo com aquele aluno, não vai ter validade nenhuma o nosso trabalho...(Vanea)

(...) o lado humano tem demais, esse tem demais eu não consigo vê o aluno, sem ver o lado humano do aluno, não

consigo, se é certo, se não é, não sei, mas eu não consigo ver(...) acho que o lado humano ... é o que mais pesa , porque tanto as crianças quanto aqui na universidade eles reconhecem isso, tu sente assim, não é reconhecem a palavra ... mas, tu sente que eles, desenvolvem esse lado sabe. Então isso aí vai ajudar muito na vida profissional deles e na vida pessoal também. E a gente se apega, a eles também demais, eu tenho isso aí, eu não sei se é certo ou não... Tem colegas que me dizem que não, que a gente tem que... que o aluno é o aluno, e na hora que saiu da instituição... eu não consigo ser

assim (Ayda)

Eu trabalho nos dois cursos de formação, eu coloco que nós temos que ter muito carinho e que o lado afetivo tem que estar ligado à questão conhecimento, sempre....tem que estar ligado. Não podemos utilizar o conhecimento puro, porque o conheci- mento puro ele é desumano. Então, sempre coloco que eu posso nem ensinar nada de novo para um aluno. Agora se aquele meu aluno conseguiu ler aquilo que eu passei, ele conseguiu ... transportar alguma coisa daquilo que eu passei para vida dele maravilha, está ótimo... Porque um determi- nado tempo... ele vai conseguir entender aquilo que tu estava fazendo que ele não conseguiu pegar. Então... o professor hoje em dia ,ele tem saber bem, mas ele também tem que ser uma pessoa integra, uma pessoa com a questão da ética bem claro, com a questão dos sentimentos, a questão da cidadania, ele tem que estar com isso bem claro para ele, senão ele não vai

conseguir. ....(Evelize)

Os relatos permitem a demarcação e a revelação do significado e do engajamento dos professores com o processo de formativo dos seus alunos, futuros professores. A mobilização destes, diante da necessidade de qualificação do processo formativo, sugere a vivência de olhares articuladores para a busca constante de conhecimentos.

O conhecimento almejado remete para o entrelaçamento de ações reflexivas envolvendo um olhar revelador diante do vivido e diante do des-

conhecido que se revela na experiência cotidiana e através da teoria que se anuncia. Para Mizukami (1996,p.64), “O processo de aprender a ser pro- fessor, de aprender o trabalho docente, são processos de longa duração e sem estágio final estabelecido a priori (...)”, ou seja, as aprendizagens ocorrem muitas vezes no espaço da sala de aula, na complexidade do dia-a- dia que, ainda segundo a autora, é caracterizada por sua“(...) multiplicidade, simultaneidade de eventos, imprevisibilidade, imediatismo e unicidade”.

Diante do exposto passo a discutir a próxima subcategoria, que visa a compreender como os professores articulam os aspectos teóricos e práticos da vida profissional, levando em consideração a idéia de que estes dois aspectos são significativos e complementares na vida do professor.