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O encontro com os entrevistados e a entrevistada

3. O ENCONTRO COM DUAS GERAÇÕES DE TRABALHADORES

3.1 O encontro com os entrevistados e a entrevistada

Foram entrevistadas, no total, seis pessoas que trabalham na empresa Companhia Brasileira de Alumínio. Três delas trabalham há mais de 20 anos na empresa, com idade entre 40 e 55 anos e três são trabalhadores jovens, entre 18 e 29 anos de idade.

A proposta de falar com dois grupos de faixas etárias diferentes não foi decidido a priori, mas surgiu durante o processo de construção dessa dissertação. Conhecer as percepções dos trabalhadores sobre a Companhia Brasileira de Alumínio é uma empreitada centrada nas imagens que essas pessoas criaram a partir das suas experiências com a fábrica, contudo, como vimos, a CBA mudou, motivada, sobretudo, pelas mudanças mais amplas no mundo do trabalho.

Ouvir duas gerações foi uma forma de olhar mais fielmente para essas percepções sob a perspectiva de movimento. Conhecer os trabalhadores jovens e os trabalhadores adultos é se comprometer com uma pesquisa mais ampla e ao mesmo tempo mais profunda, a fim de compreender como tais percepções guardam proximidades, distanciamentos e ambiguidades.

Sendo assim, como pesquisa qualitativa, a escolha dos entrevistados se guiou menos pela quantidade de entrevistas, mas, mais fundamentalmente, pela diversidade dos percursos individuais dos trabalhadores, para, desta forma, trazer à tona a pluralidade das percepções (PAIS, 2005).

A idade dos entrevistados, o tempo de serviço na empresa e a residência em Alumínio foram aspectos determinantes para a seleção dos entrevistados. Desta forma, buscamos por trabalhadores e trabalhadoras que tivessem entre 18 e 29 anos, e por trabalhadores e trabalhadoras com mais de 40 anos de idade, sendo que estes últimos trabalhavam há mais de 20 como funcionários da CBA.

A partir destes pressupostos foram estabelecidos critérios como: alcançar diferentes níveis de escolaridade dentre os entrevistados; procurar pessoas que moravam na Vila Operária e outros que não e encontrar trabalhadores cujas famílias (pais ou mães) tivessem trabalhado na empresa ou não. Tratava-se de ir ao encontro de uma diversidade de trajetórias dos interlocutores.

De forma geral, a oportunidade de conversar com esses trabalhadores e trabalhadoras foi uma tarefa desafiadora, e, neste contexto, é importante salientar que a fábrica não teve nenhuma participação neste processo de seleção e de encontro com os entrevistados.

Enquanto o primeiro encontro se deu a partir do conhecimento e das relações que eu tinha da cidade e com os moradores, os demais dependeram, sobretudo, das indicações das próprias pessoas que eu entrevistava.

O fato de eu pertencer à comunidade facilitou a aproximação com os trabalhadores, e, de certa forma, possibilitou uma confiança maior na relação entre entrevistador e entrevistado.

Todavia, nos deparamos com algumas dificuldades ao longo deste processo. Por vezes, entrei em contato com as pessoas e não obtive resposta, ou foi necessário insistir e remarcar as conversas. Em alguns casos, a proposta, em um primeiro momento, causou receio nos trabalhadores preocupados com possíveis prejuízos pela participação em um estudo que envolvesse seu empregador. Outra hipótese para a hesitação ou ausência de devolutiva do contato é a insegurança referente a saberem ou não as respostas às perguntas que lhes seriam feitas.

A pandemia causada pelo vírus SARS-coV-2 também foi um fator a ser considerado. Conhecido também como Novo Coronavírus ou Covid-19, a disseminação do vírus iniciou-se na China, na cidade de Wuhan, sendo publicamente divulgadas as primeiras infecções em dezembro de 2019. Rapidamente a doença se espalhou pelo planeta, causando milhões de casos e centenas de milhares de mortes por todo o mundo. Atualmente os pesquisadores trabalham para desenvolver uma vacina contra o vírus e, até que ela seja uma

realidade, o distanciamento social, o uso de máscara facial e a assepsia das mãos são as principais formas de evitar o contágio (BRASIL, 2020).

Tal contexto influenciou no trabalho de campo, sobretudo na busca por esses perfis de entrevistados, principalmente em relação às mulheres jovens ou com mais de 20 anos de serviço na empresa, que, conforme os entrevistados, estão em sua maioria aposentadas ou possuem mais de 30 anos de idade, falas estas que foram ao encontro com os dados apresentados anteriormente sobre as faixas etárias das trabalhadoras que estão na empresa.

As entrevistas foram realizadas com certo intervalo de tempo entre uma e outra. Em janeiro aconteceram as conversas com os dois primeiros trabalhadores e em sequência a entrevista com o terceiro trabalhador, no mês de fevereiro. Com a quarta e o quinto entrevistados os encontros foram em março e, por fim, as duas últimas entrevistas foram feitas no mês de junho, todas no ano de 2020.

Os encontros aconteceram em locais decididos pela trabalhadora e pelos trabalhadores. Na casa dos entrevistados, em dois casos; na casa da entrevistadora em outros dois casos; e de forma remota, devido aos cuidados necessários para a prevenção de contaminação da pandemia de Covid-19, nos casos dos últimos entrevistados.

Os trabalhadores mais velhos, de forma geral, pareceram mais confiantes e mais preocupados no momento de elaborar suas falas, e como resultado as respostas desse grupo são mais longas; por outro lado os jovens deram respostas mais rápidas e objetivas. É preciso cuidado aqui para não atribuir às idades a maior ou menor facilidade para o diálogo. Há vários outros fatores envolvidos em uma situação de entrevista. Especificamente em nosso caso, as entrevistas com os adultos foram mais longas comparativamente às entrevistas com os mais jovens.

Os mais velhos também aparentaram estar mais atentos e interessados em saber das motivações e das repercussões da pesquisa, mais cuidadosos com a leitura do termo de consentimento; os jovens pareceram se importar menos com o objetivo e a finalidade do trabalho, em comparação com o outro grupo, o que não significou uma demonstração de descaso no desenrolar da entrevista.