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O perfil da trabalhadora e dos trabalhadores

3. O ENCONTRO COM DUAS GERAÇÕES DE TRABALHADORES

3.2 O perfil da trabalhadora e dos trabalhadores

Antes de olhar para as percepções dos entrevistados sobre a imagem que formaram da fábrica, é imprescindível conhecer algumas informações relevantes destas pessoas. O quadro “Informações sobre o perfil dos entrevistados” a seguir apresenta dados que compõem o perfil destes trabalhadores.

Tabela 2: Informações sobre o perfil dos entrevistados

Nome14 Idade Gênero15 Raça/

cor16 Idade de admissão Tempo de trabalho na fábrica Formação escolar Média Salarial (R$)

Abigail 54 anos Feminino Negra 18 anos 36 anos Ensino Superior

5.500,00

Alberto 46 anos Masculino Negro 18 anos 28 anos Ensino Médio

3.500,00

Roberto 41 anos Masculino Negro 18 anos 23 anos Ensino Superior

4.000,00

Juliano 28 anos Masculino Branco 21 anos 7 anos Ensino Médio

2.400,00

Eduardo 25 anos Masculino Pardo 23 anos 2 anos Ensino Médio

2.400,00

Mário 21 anos Masculino Negro 20 anos 1 ano Ensino Médio

2.700,00

Elaboração própria.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Alberto, Abigail e Roberto compõem o grupo de trabalhadores adultos que têm mais de 20 anos de serviço na CBA.

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Todos os nomes aqui citados são fictícios, pois, conforme Bourdieu, as conversas com os entrevistados podem “revelar as coisas enterradas nas pessoas que as vivem e que ao mesmo tempo não as conhecem e, num outro sentido, conhecem-nas melhor do que ninguém” (BOURDIEU, 2001, p. 708), por isso, o anonimato é uma forma de respeitar a confiança que o entrevistado depositou no pesquisador ao falar de suas experiências e percepções.

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Como se trata de identificação, o gênero foi autodeclarado por cada entrevistado.

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O pai de Alberto veio de Minas e sua mãe do Paraná para morarem na cidade de Alumínio. Há quinze anos ele reside na Vila Operária com sua esposa e os dois filhos. Desde os 18 anos de idade na empresa, Alberto se espelhou nos irmãos e no pai para entrar na CBA. Sócio do sindicato, atualmente ele trabalha no setor de tratamento de gases que são emitidos durante o processo de superaquecimento da bauxita, nas salas fornos.

Abigail mora atualmente em um bairro central do município de Alumínio com o esposo e os dois filhos, mas por muito tempo residiu com a família em uma das casas da Vila Operária. A trabalhadora possui amplo histórico familiar na CBA: pai, irmãos e tios que saíram de Minas Gerais para vir para a cidade trabalhar na empresa. Abigail nunca foi sindicalizada. Iniciou sua carreira como telefonista e no setor permaneceu a maior parte de seus mais de 30 anos a serviço da Companhia. Atualmente é proprietária de um pequeno hotel na zona central de Alumínio, motivada também por sua formação de nível superior como administradora de empresas.

Roberto faz parte de uma família de seis irmãos que trabalharam ou trabalham na empresa, assim como seu pai, natural de Minas Gerais, que lá se aposentou. Ele mora em Alumínio desde que nasceu e atualmente reside na Vila Operária com a esposa e a filha. Roberto é sindicalizado e há anos está no setor de refinaria, em que é feita a primeira transformação química do alumínio.

Já Juliano, Mário e Eduardo formam o grupo dos trabalhadores jovens, que têm entre 18 e 29 anos de idade. Juliano foi o primeiro deste grupo com quem conversei. O entrevistado, dentre os jovens, é o mais velho, com 28 anos, e o que tem maior tempo de trabalho na fábrica. Seu pai e seus tios, que vieram do Paraná, também foram funcionários da CBA, diferente da maioria dos entrevistados, Juliano nunca morou na Vila Operária, mas está na cidade de Alumínio desde que nasceu. Ele mora com a esposa em um bairro localizado na entrada do município, em um terreno compartilhado com sua avó. O jovem não é sindicalizado e trabalha no setor de expedição desde seu ingresso na CBA.

Mário é o trabalhador mais jovem, com 21 anos. Seu pai também trabalha na CBA, bem como seu avô, que se aposentou na empresa. Ele morou na Vila Operária com seus pais durante toda sua infância e adolescência e atualmente reside no centro da cidade com a esposa e os dois filhos pequenos. Mário não é sócio do

sindicato e desde que entrou na fábrica trabalha no setor das Salas Fornos, nas quais ocorre o processo de superaquecimento da bauxita.

Eduardo, 25 anos, foi o último entrevistado. O jovem mora com sua mãe em um bairro afastado do centro, contudo, diferentemente dos demais, não nasceu em Alumínio, mas veio para a cidade quando ainda era criança. Seus tios também trabalham na empresa, e vieram, assim como ele e sua mãe, da cidade de São Paulo. Ele não é sócio do sindicato e também está alocado no setor das Salas Fornos, nas quais ocorre o processo de superaquecimento da bauxita.

Os trabalhadores adultos têm em comum diversos pontos: os três se declaram negros, são casados, têm filhos e dois deles são sindicalizados. A idade com que ingressaram na fábrica também é a mesma e o tempo de moradia na Vila Operária também são semelhantes. Todos residem em Alumínio desde que nasceram, e os três perfis possuem histórico familiar na CBA.

Por outro lado, a idade, o tempo de serviço na fábrica e a escolaridade são diversificados, sendo que quanto à escolaridade, Abigail e Roberto possuem ensino superior e Alberto o ensino médio.

Em relação ao grupo de trabalhadores jovens, a raça/cor se diferencia nos três casos. Juliano se declara branco, Eduardo como pardo e Márcio como negro. O estado civil e o fato de ter filhos também não são homogêneos, enquanto Mário é casado e têm dois filhos, Juliano é também casado sem filhos e Eduardo é solteiro. O tempo de moradia em Alumínio também se diversifica entre os três perfis, sendo que Eduardo é o único entrevistado que não reside em Alumínio desde o nascimento. Os tempos de trabalho também são acentuadamente distantes um do outro, Juliano é o que apresenta tempo mais extenso, 8 anos, depois Eduardo com 2 e Mário, o mais jovem, com 1 ano de serviço na Companhia. Da mesma maneira, embora que de maneira mais sutil, são diferentes as idades de admissão na metalúrgica: Mário foi o que ingressou mais novo, aos 20 anos de idade, Juliano foi admitido com 21 e Eduardo foi contratado quando tinha 23 anos de idade.

Já os pontos comuns entre os entrevistados jovens se referem, assim como os adultos, ao fato de todos terem familiares que trabalhavam ou trabalham na fábrica, de não morar nas casas da Vila Operária, de não serem sócios do sindicato e de possuírem, os três, o nível médio completo. Instigante observar como, ainda que mais jovens, esses trabalhadores ainda não haviam alcançado o ensino superior. Nenhum tinha cursado ou estava cursando esse nível de ensino.

Há pontos que aproximam os dois grupos. As condições de estarem casados e possuírem filhos são situações presente em ambos. Os arranjos familiares também se assemelham, predominando a moradia com a companheira ou companheiro e os filhos, a presença de histórico familiar na empresa atravessa jovens e adultos e em certa medida as idades de entrada na CBA também são parecidas.

Contudo, existem diferenças que podem ser categorizadas. A raça/cor se diferencia de um grupo para o outro, a moradia da Vila Operária se destaca como um distanciamento entre os grupos, e, se todos os adultos moram ou moraram grande parte da vida na Vila, entre os jovens, dois deles nunca residiram nesse local e o outro morou apenas na infância. Mais um ponto evidente é a escolaridade, enquanto dois trabalhadores mais velhos possuem o ensino superior, por outro lado, no grupo dos jovens, todos tem o ensino médio.