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CAPÍTULO 1 – ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL

1.2. POBREZA: UMA ANÁLISE CONCEITUAL

1.2.1 O enfrentamento da pobreza levando em consideração as

estar é consenso em todos os debates sobre a análise da pobreza, basta definir em cada sociedade o que se considera bem estar. A pobreza enquanto fenômeno complexo passa a ser definida de acordo com o desenvolvimento socioeconômico e cultural de cada país.

O que se define por necessidades ou mínimos sociais pode variar de acordo com os padrões universais aceitos pela sociedade, nas quais os graus de pobreza e miserabilidade ou da satisfação das necessidades mais essenciais da população passa ser definido pelas relações existentes em cada sociedade. O resultado destas relações pode ser percebido na organização da população, na luta pela garantia de melhores condições de vida, alterando o que chamamos de qualidade de vida para todos dentro de uma sociedade.

Para Sposati (1997), definir mínimos sociais é definir padrões básicos de proteção social universais, que fazem parte do padrão societário de civilidade, exigindo outro estatuto de responsabilidade pública e social.

Os mínimos sociais não ficam estáveis, eles tendem a se alterar de acordo com o avanço ou retrocesso das ações que permeiam as relações sociais, econômicas e políticas em cada nação.

Os recursos postos à disposição do homem, em termos de sua posição na escala social, mudam com o tempo e o lugar. O valor dos recursos é igualmente relativo, dependendo em grande parte da estrutura da produção de seus objetivos fundamentais (SANTOS, 1978, p. 9).

De acordo com Sposati (1997), torna-se difícil discutir mínimos sociais no contexto neoliberal, pois entende-se que a proposta de política neoliberal fragmenta

a efetivação de direitos, propondo mínimos sociais a partir da seletividade e focalização.

Segundo Rocha (2003), a pobreza passa a ser tratada de acordo com a realidade de cada país, levando em consideração as particularidades de cada um. A autora realiza uma diferenciação da pobreza em três grupos: o primeiro grupo, é formado pelos países onde os recursos não são suficientes para garantir o suprimento das necessidades de todos; o segundo, é o dos países desenvolvidos, nos quais as necessidades básicas são atendidas por programas de transferência de renda e acesso a serviços públicos; o Brasil, insere-se no terceiro grupo, dos países que se situam em uma posição intermediária, visto que possui recursos suficientes para garantir o mínimo necessário a todos, mas isto não é permitido devido à desigualdade existente.

O Brasil se classifica neste terceiro grupo. Com renda per capita de R$ 3.500 ao ano em 2000 – portanto, bem acima de qualquer valor que possa ser realisticamente associado à linha de pobreza -,16 a incidência da pobreza absoluta no Brasil decorre da forte desigualdade na distribuição do rendimento (ROCHA, 2003, p.31).

Isso explica que a existência da pobreza no Brasil ocorre não pela falta de recursos, mas por falta de investimentos sociais, de políticas públicas, e, principalmente, por falta de ações que diminuam os grandes índices de desigualdade social.

Indubitavelmente, os objetivos básicos na superação da pobreza continuam sendo a integração, a equidade e a cidadania. No entanto, a realidade atual e a ausência de políticas integrais nos apresentam situações que impedem alcançá-los. Como exemplo está o fato de que a pobreza urbana, recoberta cada vez mais pela exclusão, implica a impossibilidade de participar no Estado de direito, restringe o acesso a uma cidadania rela e fragmenta ainda mais as populações (DÍAZ, 2005, p. 85).

A pobreza é um fenômeno complexo e multidimensional, e não vem recebendo tratamento que possibilite seu enfrentamento, pois se entende que o

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“Por exemplo, uma linha de pobreza associada ao valor médio do salário mínimo de R$ 150 corresponderia a uma renda per capita de cerca de R$ 1.800 ao ano, em 2000”.

combate à pobreza inicia-se através de um sistema amplo e interligado em que as responsabilidades da superação da pobreza extrapolem as instâncias dos governos locais e ao mesmo tempo responsabilizem estes governos pela total articulação e gestão das políticas, que tenham o propósito de atuar nesta problemática.

A cidade é o local em que o impacto da pobreza é percebido, de acordo com as suas características. Desta forma, o enfrentamento a pobreza só terá sucesso se partir destes espaços. Pois, “... a cidade é o lugar privilegiado do impacto das modernizações, já que estas não se instalam cegamente, mas nos pontos do espaço que oferecem uma rentabilidade máxima” (SANTOS, 1978, p. 17 e 18).

O planejamento de ações de enfrentamento da pobreza, bem como a coordenação e articulação destas ações, é responsabilidade do governo local. Estes espaços possibilitam estabelecer uma relação mais próxima com os beneficiários, conhecendo a realidade destes, suas necessidades e ao mesmo tempo avaliando o impacto destas políticas.

O enfrentamento da pobreza, nos espaços governamentais, torna-se desafio, pois passa a exigir a construção da cidadania, através da luta pela eqüidade, emancipação e inclusão. Esta tarefa é permeada e direcionada por padrões de sociabilidade construídos e aceitos, neste sentido, envolve a participação de atores presentes na sociedade.

Entende-se desta forma, a importância de se compreender a cidade, como espaço de socialização, de conflitos, de disputas, espaços onde as pessoas constroem suas formas de relações sociais, espaços que fazem parte destas vidas e influenciam nestas relações.

Pensar na política pública a partir do território exige também um exercício de revisita à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive nesse território, se o considerarmos para além do espaço físico, isto é, como toda gama de relações estabelecidas entre seus moradores, que de fato o constroem e reconstroem (KOGA, 2003, p. 25 e 26).

As políticas públicas implementadas acabam trabalhando com os problemas gerados pela pobreza de forma genérica, não levando em considerações as particularidades e exigências de cada local, de espaços que acabam sendo determinantes.

Pelo fato de o Brasil ser campeão mundial de desigualdades sociais numa curva em que a pobreza se reduz, mas persiste, a alta concentração de riqueza exige a introdução de novas dimensões às políticas públicas para que seus efeitos sejam de fato redistributivos e inclusivos (KOGA, 2003, p. 20).

Neste sentido, torna-se necessário realizar ações de cunho universal, mas com políticas que sejam pensadas levando em consideração as realidades locais, ações que busquem enfrentar a pobreza através da redistribuição de renda e do combate à desigualdade social. “Falar de gestão urbana hoje é falar da construção da cidadania, e isso vem produzindo um deslocamento do espaço institucional da questão social da pobreza, que deixa o eixo do Estado e migra para as esferas locais de governo” (LAVINASa, 2003, p. 27).

É nos espaços das cidades, onde se encontram as famílias em situação de pobreza, que é possível perceber as desigualdades sociais e locais, as condições de vida destas famílias, as necessidades que elas apresentam, bem como a falta da intervenção pública nestes espaços.

O enfrentamento da pobreza nos espaços das cidades deve estar articulado com outras instâncias governamentais, pois este é um problema macroestrutural e necessita de ações de cunho estrutural.

A pobreza, sendo analisada no contexto em que se torna mais complexa, com as relações de assalariamento, aparece nas cidades de forma mais aglomerada e condensada e passa a ser mediada pelo conjunto de relações modernas, obedecendo às novas configurações do mercado.

Dentro desta dinâmica, as cidades são construídas em espaços contraditórios. Por um lado, são vistas como geradoras de oportunidades, em

relação ao emprego e ao acesso ao conhecimento mas, por outro lado, se tornam os lugares onde existe a mais variada problemática social: pobreza, marginalização, insegurança, violência, entre outras coisas, e onde coabitam diferentes grupos sociais (DIAZ, 2005, p. 76).

A pobreza passa a ganhar características distintas, quando analisada a partir dos espaços contraditórios das cidades, centros econômicos, que coordenam e controlam as atividades econômicas, e são vistas como articuladoras da economia global. É no espaço das cidades que a pobreza torna-se mais complexa, local onde também são constituídas instituições que passam a ser responsáveis pelo seu enfrentamento, com vistas à construção de espaços mais democráticos.

Pensar a pobreza hoje é levar em consideração as relações complexas existentes na sociedade e os objetivos desta sociedade no que se refere a ela, é compreender que se trata de um problema que envolve disputas de poder, envolve diversos interesses. Compreender se o enfrentamento da pobreza é uma prioridade dentro deste contexto, nos leva a analisar a forma como as ações de combate a pobreza vêm sendo discutidas e implementadas.

Neste sentido, a dificuldade da implementação dos direitos sociais que vem sendo presenciada no país, bem como a discussão de ações de enfrentamento a pobreza que partem do atendimento às necessidades mais elementares, que objetivam apenas a sobrevivência e o acesso ao mercado, nos leva a ressaltar que o combate à pobreza não está sendo priorizado, que os padrões de cidadania, pautados pela Constituição Federal de 1988, não estão sendo respeitados.

Levando em consideração estas questões que se compreende a necessidade de discutir a pobreza partindo da realidade que ela se encontra, das reais necessidades da população em situação de pobreza e da articulação das esferas governamentais como responsáveis pelo planejamento e execução de ações que sejam efetivas.

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