• Nenhum resultado encontrado

O município de Uberlândia, localizado na região nordeste do Triângulo Mineiro, conta com uma área territorial de aproximadamente 4.116 km2 e ocupa posição privilegiada em

relação ao desenvolvimento regional sendo um dos principais municípios geradores de renda, no entanto, apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) insatisfatório quando comparado com índices do Estado ou do País (UFU, 2005).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, a população de Uberlândia apresentava uma distribuição de 501.214 habitantes [255.513 do sexo feminino e 245.701 do sexo masculino], sendo estimada para 2005 uma população de 598.481 (BRASIL, 2006b). A categoria infanto-juvenil [de 0 a 14 anos] é representada por 26% dos residentes (UFU, 2005).

Os principais órgãos de proteção e instituições de atendimento a situações de violência envolvendo crianças e adolescentes, existentes em Uberlândia, são o Hospital de Clínicas de Uberlândia (HCU), as Unidades de Saúde Pública [Unidade de Atendimento Integrado (UAI), UBS, UBSF] e os CT (ARAÚJO, 2005), além do Centro Municipal de Atendimento à Infância e Adolescência (CEMAIA).

Segundo dados do CT [Região Leste] que, desde julho de 2003, utiliza o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (SIPIA2) em registro de casos atendidos, no período de 31/03/03 a 03/05/06, 3.911 crianças e adolescentes [2.063 do sexo masculino e 1.848 do sexo feminino] tiveram de alguma forma seus direitos violados.

Especificamente sobre a violência intrafamiliar, 314 correspondem à violência física, 177 à violência psicológica e 58 à violência sexual, lembrando que o sistema especifica outros tipos como a utilização na mendicância, a convivência com entorpecentes no ambiente doméstico, que podem ser incluídos na modalidade negligência e violência psicológica.

__________

2. O SIPIA é um sistema de informações específicas sobre crianças e adolescentes cujo direito esteja de alguma forma violado, que numa rede de comunicação de dados interliga os Conselhos Tutelares entre si e ao Governo Federal, subsidiando a formulação de políticas e a gestão de programas no Brasil (BATTAGLIA, 1998?).

O CT [Região Oeste] não possui o registro de seus dados atualizados no SIPIA devido a questões estruturais e de funcionamento, não sendo possível demonstrar as especificidades das situações atendidas.

No enfrentamento da problemática da violência contra crianças e adolescentes, bem como da garantia de seus direitos, o município vem construindo uma trajetória. Assim, em 1993, o poder público municipal seguindo determinações do ECA criou, através de uma iniciativa governamental da Secretaria de Trabalho e Ação Social, o Programa SOS Criança; cujo objetivo era prestar o atendimento psicossocial às crianças e adolescentes vítimas de violência intrafamiliar, assim como às suas respectivas famílias.

No entanto, por não haver se constituído ainda um CT no município, as ações do SOS Criança se estendiam desde a notificação de denúncias, atendimento de situações de violência contra crianças e adolescentes e problemas comportamentais destes, até o recambiamento de adolescentes de outras localidades. Além de incluir em seu funcionamento um abrigo para crianças em situação de risco pessoal e social, afastadas de seus pais ou responsáveis. Somente em 1996 é que foi criado o primeiro CT de Uberlândia. O CT, enquanto órgão permanente, autônomo, não jurisdicional, é encarregado de cuidar do cumprimento dos direitos da criança e do adolescente; legitimado pelo ECA para realizar notificações de violência, aplicando medidas previstas nos artigos 136 e 137 dessa mesma lei (BRASIL,1990a). Os municípios têm por dever implementar, no mínimo, um Conselho, composto de cinco membros escolhidos pela comunidade para um mandato de três anos, tendo direito a uma reeleição (BRASIL, 2002b).

Na tentativa de organização dos serviços, esses dois órgãos passaram a dividir suas ações. Enquanto o SOS Criança recebia denúncias, realizando o atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência, o CT notificava toda situação de violação de seus direitos, aplicando medidas cabíveis e, requisitando ao SOS Criança o acompanhamento psicossocial dos casos.

Durante alguns anos, essa forma de atuação perdurou, gerando duplicidade e desarticulação das ações. Como reflexo, essa situação repercutiu diretamente na comunidade que passou a ter uma imagem negativa destes dois órgãos, sem contar o grande número de reincidência de casos de violência.

Em meados de 2001, um grupo de profissionais atuantes no SOS Criança, propôs a transformação do Programa em um Centro de Referência à Infância e Adolescência Vitimizada (CRIAV), redimensionando assim, a proposta de atendimento através da ampliação de suas linhas de ações: diagnóstico, tratamento, prevenção e capacitação;

buscando atender de forma integrada e abrangente o fenômeno da vitimização da infância e adolescência.

Em função da demanda do primeiro Conselho e do número de habitantes do município, passou a funcionar, no ano de 2002, um segundo CT. Existe no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) uma solicitação para a criação de um terceiro. O Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA), como órgão deliberativo, foi criado pelo ECA para subsidiar e garantir o funcionamento do CT e propor políticas públicas (ALMEIDA; NOVO, 2004), no âmbito nacional, estadual e municipal.

Outras modificações surgiram, em 2005, devido a ações governamentais da nova gestão municipal. O CRIAV passou, então, a compor um projeto maior, denominado CEMAIA, com quatro frentes de trabalho: violência doméstica contra criança e adolescente, crianças e adolescentes em vivência de rua, o adolescente e o ato infracional e a erradicação do trabalho infantil.

Em Minas Gerais, Uberlândia é exemplo, pois dispõe de agentes competentes no enfrentamento da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes, entretanto, toda uma rede social de apoio ainda necessita ser mais bem articulada, com ações integradas na área da saúde, educação, direito, serviço social etc., numa abordagem global da infância e adolescência. E, conforme mencionado anteriormente, esta pesquisa torna-se relevante, pois poderá esclarecer profissionais de saúde e de outras áreas, sobre a problemática analisada, auxiliando-os, também, na percepção da necessidade de elaboração e efetivação de uma rede de atenção e intervenção que, dê resolutividade a essa demanda específica da população [no caso, o fenômeno da violência].

2 OBJETIVOS Geral

Avaliar o conhecimento dos profissionais das equipes do Programa Saúde da Família e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde da Prefeitura Municipal de Uberlândia, sobre o fenômeno da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes.

Específicos

• analisar se esses profissionais identificam, em sua atuação, situações de violência intrafamiliar contra criança e adolescente;

• conhecer quais procedimentos são adotados pelos mesmos diante da suspeita ou confirmação desse tipo de violência;

• identificar se reconhecem a violência contra crianças e adolescentes como um problema de saúde pública;

• verificar se as palavras utilizadas denúncia ou notificação influenciam respostas sobre a conduta desses profissionais, frente a situações de violência.