• Nenhum resultado encontrado

estudo que se originou no curso Análise Crítica do Conceito de professor Reflexivo, ministrado, inicialmente, junto a alunos do curso de Doutorado em Educação (Universidade Católica de Goiás)2 e junto à linha de pesquisa Didática, Teorias do Ensino e Práticas Escolares, no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre /formação de Professores, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da USP (2001), com o objetivo de “[...] explicitar e discutir as origens, os pressupostos, os fundamentos e as características do conceito professor reflexivo...” (PIMENTA, 2012, p.20).

Para a realização do estudo, Pimenta faz uma revisão do tema a partir das propostas do norte-americano Schön (1983,1992 apud Pimenta, 2012), principal formulador do conceito, traçando um breve panorama histórico de pesquisas sobre a formação de professores no Brasil.

Pimenta (2012) inicia sua reflexão afirmando que todo ser humano reflete, por isso questiona qual o motivo da moda de “professor reflexivo”? Continua explicando que a “[...] a expressão “professor reflexivo” tomou conta do cenário educacional, confundindo reflexivo, enquanto adjetivo, como atributo próprio do ser humano, com um movimento teórico de compreensão do trabalho docente” (PIMENTA, 2012, p. 22). Nesse sentido, com o objetivo de esclarecer a diferença entre a reflexão (adjetivo) e o movimento reflexivo (conceito), a autora faz um panorama das origens desse movimento relacionando-o ao pesquisador Donald Schön. Esse estudioso, fundamentado na teoria de investigação de John Dewey3, realizou atividades relacionadas a reformas curriculares nos cursos de formação de profissionais, propondo:

2 O texto é parte do Relatório Parcial de pesquisa (CNPq, 2002) com o título A pesquisa na área da formação de professores e as tendências investigativas contemporâneas teórico- epistemológicas-metodológicas e políticas.

3 Em sua tese de doutorado (1983), Schön estuda Dewey, além de Polanyi, Wittgenstein, Luria e Kuhn. Autores que lhe dão base para configurar uma pedagogia de formação profissional [...]

[...] que a formação dos profissionais não mais se dê nos moldes de um currículo normativo que primeiro apresenta a ciência, depois a aplicação e por último um estágio que supõe a aplicação pelos alunos dos conhecimentos técnico-profissionais. O profissional assim formado, conforme a análise de Schön, não consegue dar respostas às situações que emergem do dia a do profissional, porque ultrapassam os conhecimentos elaborados pela ciência e as respostas técnicas que esta poderia oferecer ainda não estão formuladas (PIMENTA, 2012, p. 23).

Schön, a partir dos conceitos Dewey (experiência e a reflexão na experiência), Luria e Polanyi (conhecimento tácito), propõe uma formação profissional baseada em uma epistemologia da prática, que consiste em valorizar essa prática, concebendo-a como um momento de construção de conhecimento, por meio da reflexão, análise e problematização, reconhecendo o conhecimento tácito que está presente soluções encontradas no ato, que se desenvolvem em : conhecimento na ação, reflexão na ação e reflexão sobre a reflexão.

O conhecimento na ação “[...] é o conhecimento tácito, implícito, interiorizado, que está na ação e que, portanto, não a precede. É mobilizado pelos profissionais no seu dia a dia, configurando um hábito.” (PIMENTA, 2012, p.23), entretanto, segundo Schön, nem sempre esse conhecimento é suficiente.

A reflexão na ação surge a partir de situações novas que extrapolam a rotina,

“[...] os profissionais criam, constroem novas soluções, novos caminhos, o que se dá o processo de reflexão na ação...” (PIMENTA, 2012, p.23), possibilitando- nos interferir na situação que está em movimento. A reflexão sobre a reflexão, por sua vez, mobiliza-se a partir do momento em que os conhecimentos práticos não dão conta de novas situações, “exigindo uma busca, uma análise, uma contextualização, possíveis explicações [...], uma investigação, enfim” (PIMENTA, 2012, p.23). Essa abordagem, segundo a autor, possibilita a valorização da pesquisa na ação dos profissionais, “colocando as bases para o que se convencionou denominar o professor pesquisador de sua pratica” (PIMENTA, 2012, p.23).

De Dewey, o conceito de experiência compreendida como mais do que a simples atividade, envolvendo os elementos ativos (tentativas, experimentos, mudanças) e passivo, quando experimentamos, passamos, sofremos as consequências da mudança [...] (Pimenta, 2012, p.22).

A respeito desses tipos de reflexão, Pimenta destaca a importância das contribuições dos estudos de Schön na valorização da prática na formação dos profissionais, enfatizando que essa prática precisa ser objeto de reflexão desde o início da formação.

4.3 O SENTIDO DA REFLEXIVIDADE

Libâneo (2012), em Reflexividade e formação de professores: outra

oscilação do pensamento pedagógico brasileiro? critica o reducionismo,

observado por ele, acerca do tema reflexividade e que pode ser explicado, segundo o autor, “[...] em boa parte, pela fragilidade do pensamento pedagógico brasileiro nas últimas décadas, que, por isso, submete-se facilmente aos modismos e às oscilações teóricas” (LIBÂNEO, 2012, p. 64).

Nesse sentido, Libâneo aborda o significado da reflexividade, analisando seu conceito, com o objetivo de ampliar os estudos sobre o tema professor reflexivo, buscando “diferentes modos de compreender o papel da reflexão no desenvolvimento profissional dos professores” (LIBÂNEO, 2012, p. 64-65).

O autor nos apresenta, para conceituar o termo reflexividade, três significados distintos: a reflexividade como consciência dos próprios atos (a reflexão como conhecimento do conhecimento); a reflexão com uma relação direta entre a reflexividade de cada sujeito e as situações práticas; e a reflexão dialética.

A reflexividade com o consciência dos próprios atos diz respeito ao ato de

o profissional pensar sobre si mesmo, pensar sobre o conteúdo da sua mente, o que o leva a formar uma teoria, um pensamento que orienta a sua prática. (LIBÂNEO, 2012, p.66). A reflexão com uma relação direta entre a reflexividade

do sujeito e as situações práticas é algo imanente à ação. Trata-se de um

sistema de significados decorrente da experiência pessoal, ou melhor, formada no percurso da experiência de cada indivíduo. É a partir dessa reflexão que o sujeito define seu modo de agir no futuro (LIBÂNEO, 2012, p.66). Na reflexão

dialética, há uma realidade dada, independentemente da reflexão feita pelo

sujeito, mas esta pode ser captada por essa reflexão que ele faz (LIBÂNEO, 2012). Acerca dessa definição, o autor alerta sobre a necessidade de se

considerar dois pontos: primeiro, a realidade encontra-se em movimento; segundo, ela é captada pelo pensamento.

Documentos relacionados