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Capítulo 2. A constituição da Educação a Distância no contexto da educação

2.3. O entendimento da mediação pedagógica na EaD

Ao analisarmos os aspectos acima descritos percebemos que estes processos de transformação apontam para concepções de educação que por sua vez remetem para entendimentos de mediação pedagógica.

A seguir apresentaremos algumas concepções de mediação pedagógica mais comuns na educação a distância11 e compreender o lugar do professor, do aluno e do conhecimento nestas concepções. Dialogaremos com as concepções de mediação pedagógica de Bruno (2008), Gutiérrez e Prietto (1994), Masetto (2010) e Toschi (2010).

Segundo Bruno (2008), as transformações pedagógicas ocorrem na mediação e nos processos de interação digital. Prosseguindo a autora afirma que “o conceito de mediação pedagógica demanda prévia incursão no de interação, uma vez que o primeiro se faz com o segundo” (BRUNO, 2008, p.78). A autora irá conceituar a interação apoiada na definição de Maria Luiza Belloni (2008) em seu livro Educação a Distância, sendo assim interação é a “ação recíproca entre sujeitos e pode ser mediatizada por diferentes meios, [...]” (p.58). Desta ação recorreria uma troca denominada intersubjetividade. Neste conceito de Bruno (2008) há uma aproximação do conceito de mediação com o de interação, por vezes a mediação é um elemento que intervém em um processo por meio da interação entre sujeitos.

11 Está nos apêndices um levantamento nas bases de dados do Scielo e do Banco de Teses e dissertações da

Segundo Gutiérrez e Prieto (1994, p.62) a mediação é “o tratamento de conteúdos e de formas de expressão dos diferentes temas, a fim de tornar possível o ato educativo dentro do horizonte de uma educação concebida como participação, criatividade, expressividade e relacionalidade”. Os autores localizam na comunicação, no diálogo, a base da educação, que demanda uma mediação pedagógica, sendo esta um conjunto de procedimentos realizados na criação de materiais educativos. A mediação para os mesmos é a construção de formas e tratamentos aos conteúdos objetivando o ato educativo. Percebemos que o conceito dos autores avança em relação ao de Bruno (2008).

Já segundo Masetto (2010, p.144),

Por mediação entendemos a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.

O autor acima apresentado localiza a mediação como uma atitude e que esta atitude deve ser carregada de aspectos motivadores da aprendizagem do aluno. Masetto (2010) ainda aponta que a mediação é a forma de apresentação e tratamento de um conteúdo ou tema que possibilite ao aluno realizar inferências, reflexões sobre o mundo.

Este autor localiza claramente no aluno o foco do processo educativo, colocando o professor como sujeito secundário neste processo com a função principal de motivação do ato educativo. Esta concepção se assemelha à dos Referenciais de qualidade para a educação superior a distância, editados pela Secretaria de Educação a distância do MEC em 2007. Em pelo menos dois momentos do documento é afirmado que o aluno é o centro do processo educacional, como vemos a seguir:

Tendo o estudante como centro do processo educacional, um dos pilares para garantir a qualidade de um curso a distância é a interatividade entre professores, tutores e estudantes. (p.10)

Portanto, como já afirmado, em um curso a distância o estudante deve ser o centro do processo educacional e a interação deve ser apoiada em um adequado sistema de tutoria e de um ambiente computacional, especialmente implementados para atendimento às necessidades do estudante. (p.12)

A centralidade no aluno, e não na aprendizagem, conduz a um movimento interessante de adequação dos processos educativos à particularidade do aluno. Tal movimento é exatamente o contrário ao empreendido pela escola tradicional que centrava o processo educativo no professor. Parafraseando Saviani (1986), tal concepção “curva a vara” do processo de ensino-aprendizagem para o sentido oposto apostando e ariscando que tal movimento produziria uma aprendizagem significativa.

E por fim, Toschi (2010) apresenta um conceito que busca ampliar a caracterização da mediação pedagógica, apontando a dupla mediação no processo educacional. A dupla mediação é composta por sujeitos que intervém na aprendizagem (professor) e também por instrumentos, máquinas que se inserem nesse processo (computador, tablets, etc.).

Nesta caracterização, a autora irá apresentar que no processo de aprendizagem tanto sujeitos historicamente situados intervém mediando o conhecimento, quanto instrumentos, máquinas que comportam informações e mediam a comunicação entre os sujeitos.

Buscaremos até o final deste tópico sintetizar uma crítica e propor uma posição a respeito do que compreendemos como mediação pedagógica. Apoiaremo- nos na concepção histórico-crítica de educação proposta por Saviani (2011) e a psicologia sócio-histórico-cultural de Vigotski (1998) desenvolvida por Facci (2004) e Duarte (1998).

Partimos do entendimento que a mediação pedagógica é parte do ato de ensinar e este por sua vez é parte integrante do trabalho educativo. Compreendemos o trabalho educativo como base para o direcionamento e compreensão dos demais

processos relacionados à educação e aos professores e alunos. Concordamos com Saviani (2011) que:

O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo, (p.13).

Nesse processo, do trabalho educativo, segundo Duarte (1998, p.2):

Existe aí um duplo posicionamento do trabalho educativo. O trabalho educativo posiciona-se, em primeiro lugar, em relação à cultura humana, em relação às objetivações produzidas historicamente. Esse posicionamento, por sua vez, requer também um posicionamento sobre o processo de formação dos indivíduos, sobre o que seja a humanização dos indivíduos.

O trabalho educativo desenvolve não só a objetivação da cultura humana historicamente produzida, como enseja um processo de apropriação desta cultura humanizando os indivíduos.

Vigotski (1998) afirma que na aprendizagem complexa, os simples processos de estímulo e resposta são substituídos por processos mediados pelos instrumentos e pelos signos, em direção a uma aprendizagem significativamente complexa capaz de apreender a realidade e suas representações.

Como afirma o autor, “O uso de signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de processos psicológicos enraizados na cultura” (VIGOTSKI, 1998, p.54).

Os processos psicológicos enraizados na cultura são fruto do trabalho humano como categoria fundante da humanidade. Tais processos o autor denomina de funções psicológicas superiores.

As funções psicológicas superiores são de origem sócio-cultural e a atividade intencional de produzir signos é que caracteriza esta função. Como esta ação é histórica e intencional, a ação de seres humanos sobre outros seres humanos constitui a atividade intencional de produzir signos.

Mediação pedagógica nesse ponto de vista é produzir elementos que se colocam entre o sujeito e a aprendizagem significativa. Estes elementos são intencional e culturalmente produzidos e sistematicamente inseridos no processo de aprendizagem dos sujeitos.

Nessa perspectiva a mediação pedagógica não é só interação, nem tão pouco só atividade, nem mesmo só motivação e animação. Mas é o esforço de sujeitos, que possuem um conhecimento profundo e complexo denominados professores, exercem e executam com a atividade histórica e social do trabalho educativo, de produzir direta e intencionalmente a humanidade em outros sujeitos, que não são tábuas rasas possuindo um desenvolvimento atual e potencial denominados alunos, buscando a apropriação de conhecimentos cada vez mais ricos e desenvolvidos.

As compreensões sobre as diversas concepções de mediação pedagógica, assim como os limites e possibilidades das gerações da EaD podem delimitar o sucesso ou fracasso de uma determinada ação caso seja depositada esperanças que não compactuam com o modelo e suas possibilidades. Dessa maneira veremos que o desenvolvimento da política de educação a distância no Brasil possui ligação próxima tanto com as gerações da EaD quanto com concepções de ensino e mediação.