• Nenhum resultado encontrado

2.1. Teoria dos Grupos de interesse

2.1.3. O Equilíbrio de Interesses Políticos

Considerado como o equilíbrio de mercado político, o modelo desenvolvido por Becker (1983) supõe que indivíduos pertencem a grupos de pressão que competem por favores políticos com o apoio aos candidatos políticos através de votos e contribuições de campanha. A abordagem desenvolvida por Becker (1983) integra a visão de que o governo corrige falhas de mercado com a visão de que favorece certos grupos politicamente. Ou seja, considera que a regulação é utilizada para elevar o bem estar de grupos mais influentes.

O foco é a competição entre grupos por influência política, e não necessariamente a sua interação com legisladores. Diante disso, Becker considera dois grupos, os subsidiados e os contribuintes, cujas funções de influência de cada um deles são dependentes uma da outra. Isto é, o aumento da influência de um grupo é compensado por uma diminuição da influência do outro, visto que os subsídios recebidos por grupos são financiados pelo pagamento de tributos pelo outro. Ou seja, a estrutura do modelo se apresenta como um jogo de soma zero, cujo equilíbrio político depende da eficiência de cada grupo em realizar pressão.

Nesse sentido, os grupos competem gastando tempo, energia e dinheiro no exercício de pressão política, que é representada por uma função que relaciona a sua produção de pressão a vários insumos, como demonstra a Figura 4.

21 Isso explicaria, segundo Peltzman (1976), o processo de competição por regulação entre monopólios naturais, como ferrovias, serviços de utilidade pública (energia elétrica, gás, água, telefone, etc.), e aquelas indústrias aparentemente competitivas, como transporte rodoviário, linhas aéreas, táxis, barbeiros e agricultura.

27 Fonte: MITCHELL E MUNGER (1991)

Figura 6 – Lobby: Curvas de Reação e Equilíbrio

Becker prevê a disputa por renda como um jogo Cournot-Nash, onde cada grupo considera a pressão política dos demais como dada e, levando isso em consideração, calcula a sua quantidade ótima de recursos. As funções de reação do grupo 1 e 2 são representadas pelas curvas FF’ e MM’, respectivamente. A fim de aumentar os subsídios recebidos do governo, os membros do grupo 1 empregam recursos e exercem a pressão . Dada essa pressão, os integrantes do grupo 2, também escolhem fazer pressão e determinam o ponto P0 em sua curva de reação, que corresponde à pressão exercida pelo grupo 1. A escolha deste ponto pelo grupo 2, torna as pressões exercidas por ambos grupos equivalentes, o que induz o grupo 1 a aumentar o lobby realizado para . Em resposta a este aumento, o grupo 2 escolhe o ponto P1 em sua curva reação, elevando seu lobby para . O grupo 1, então, passa a exercer uma pressão maior, , o que faz com que o grupo 2 exerça uma pressão proporcional em sua curva de pressão, . Esse movimento continua até que o ponto de equilíbrio estável P* seja atingido, tornando os gastos e o nível de tributação de ambos os grupos determinados. A soma das quantidades gastas por cada grupo é igual à quantidade total gasta em rent seeking.

A importância do trabalho de Becker verifica-se pelas conclusões obtidas desse modelo. Uma primeira conclusão assinala que o "peso morto" serve como uma restrição às atividades regulatórias ineficientes. Isto porque, o crescimento marginal dessa perda de bem- estar faz com que os grupos perdedores sejam mais resistentes a maiores transferências ao

Lobby do Grupo 1 P1 P0 M F F M P* Lobby d o Grup o 2

28

grupo vitorioso, o que desencoraja o esforço deste último por valores maiores de renda não- econômica. Assim, os próprios grupos impediriam a regulação ineficiente, e o Estado atuaria na maioria dos casos para aumentar a eficiência do sistema, ainda que isso se dê pela ação de grupos de interesse que buscam seus objetivos particulares. Outra importante conclusão diz respeito à indústria a ser regulada: uma indústria que apresenta falhas de mercado apresenta maior probabilidade de regulação que uma indústria que não apresenta estas falhas, já que o benefício agregado dos grupos é maior.

Grossman e Helpman (2001) dá novos insights a essa relação entre grupos de interesse e formuladores de políticas ao problema da competição por influência, estruturado como um modelo common agency22. Os autores analisam a situação em que vários grupos de interesse tentam influenciar um governante, utilizando-se de um modelo no qual os grupos de interesse são os principais e o formulador de política é o agente. Os grupos estão prontos para oferecer contribuições de campanha para influenciar a decisão do governante, esboçando um esquema de contribuição independente. Essa contribuição associa uma doação a um fundo de campanha do político, considerando os incentivos que os outros podem oferecer. Os grupos comunicam seus esquemas ao político privadamente, que após ter ouvido todas as ofertas, seleciona a política que maximiza seu bem-estar político, e recolhe a contribuição de cada grupo.

O responsável político deve escolher um dos conjuntos de vetores de política que lhe fornece o maior nível de bem estar possível. Então, o conjunto de melhor resposta do responsável político a todos os esquemas de contribuições consiste de todos os vetores de política factíveis que maximiza sua função de bem-estar. Diante disso, um determinado grupo de interesses, que tem algumas expectativas sobre os esquemas de contribuição oferecidos por seus rivais, buscará delinear sua proposta tal que proporcione ao governante um nível de bem estar maior do que aquele obtido sem esse grupo.

O equilíbrio encontrado é um equilíbrio de Nash em subjogo perfeito na competição política entre os grupos. Isto é, que o esquema de contribuição de cada grupo deve ser uma resposta ótima ao conjunto de esquemas dos outros, quanto todos os grupos prevêem a melhor resposta do responsável político. A caracterização do equilíbrio obtido considera que os grupos de interesse utilizam esquemas de contribuição localmente compensatórios23.

22 Bernheim e Whinston (1986) definem common agency como uma situação na qual vários principais, simultaneamente e independentemente, tentam influenciar um agente comum.

23“O termo localmente „compensatório‟ refere-se ao fato de que a mudança na contribuição compensa o grupo de interesses pela mudança na política, então o bem-estar permanece o mesmo. O termo „localmente‟ significa

29

Assim, o equilíbrio do vetor de política e das contribuições associadas obedece às condições necessárias para um resultado ser conjuntamente eficiente para o político e os grupos de interesse. Isto significa que eficiência conjunta – que necessariamente é obtida quando há somente um grupo de interesses – é mantida quando muitos grupos de interesse competem por influência (GROSSMAN e HELPMAN, 2001).

Documentos relacionados