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A teoria da agência trata de situações nas quais uma parte (o principal) delega responsabilidade a outra (o agente) para realizar alguma tarefa em benefício do principal. Principal e agentes buscam uma relação cooperativa, ainda que eles tenham objetivos e atitudes em relação ao risco diferentes. A teoria da agência esboça fatores que permitem que principal e agente alinhem interesses e estabeleçam uma relação de troca eficiente (EISENHARDT, 1989).

Neste contexto, os incentivos desempenham um importante papel. Como destacado por Olson (1965), faz com que o interesse individual coincida com o interesse coletivo, modificando o cálculo individual dos custos e dos benefícios das diferentes alternativas de escolha do indivíduo. Especificamente nos casos em que existe problema de agência, os incentivos (aqui, as contribuições de campanha) são uma possível solução para a divergência de interesses de agentes e principal24. De acordo com Dixit (2000), é por meio deles que o principal pode afetar a ação do agente, com vistas a estimulá-lo a desempenhar suas tarefas conforme os seus interesses.

Desta forma, o incentivo está diretamente ligado ao modo pelo qual um principal define mecanismos para induzir os agentes a agir na direção dos seus interesses [ver Molho (1997) e Sappington (1991)]. Como afirmado por Laffont e Martimort (2000) um grande esforço tem sido realizado por vários estudiosos do assunto para delinear mecanismos de incentivos para induzir a revelação verdadeira do agente. Groves (1973) propôs um mecanismo individualmente compatível, que estabelece que as verdadeiras preferências é uma estratégia dominante para cada indivíduo e que o ótimo de Pareto é selecionado25. Contudo, que esta propriedade precisa ser mantida somente para mudanças pequenas (ou locais) na política próxima ao equilíbrio (GROSSMAN e HELPMAN, 2001, p. 253).

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Essa idéia remete ao trabalho de Peltzman (1974) conforme citado na subseção anterior.

25 Um mecanismo de Groves é um mecanismo de revelação direta com uma regra de transferência específica: onde é uma função determinística de

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tais mecanismos são somente um dos vários mecanismos que apresentam essas características e qualquer mecanismo satisfatório26 é semelhante ao mecanismo de Groves (GREEN e LAFFONT, 1977).

Usando uma abordagem bayesiana para informação, d‟Aspremont e Gérard-Varet (1979) analisam o problema de incentivos como um jogo com informação incompleta. Desta forma, é possível encontrar mecanismos capazes de resolver eficientemente um problema de decisão coletiva, e que garantem, simultaneamente, compatibilidade de incentivos e equilíbrio orçamentário. Este resultado, entretanto, está sujeito a uma condição de compatibilidade que é imposta às crenças dos agentes.

Quando se considera a questão dos incentivos como solução de problemas que envolvem grupos27, os mesmos podem minimizar os custos de transação devido à seleção adversa e instituições ineficientes. Nesse sentido, Laffont e N‟Guessan (2001) analisando o caso dos empréstimos28 em grupos, consideram uma estrutura principal-multiagente com seleção adversa e contrato ex-ante, em que o contrato em grupo é utilizado para corrigir as ineficiências provocadas pelas imperfeições da execução do contrato. De acordo com os autores, deve haver garantias suficientemente eficientes para que os contratos em grupo dominem os contratos individuais e facilitem sua execução29. Porém, os contratos em grupos são eficientes somente se os emprestadores conhecem um ao outro, e não são robustos quando há conluio. Neste caso, o contrato em grupo ótimo é composto de um único contrato que especifica somente um pagamento, como aquele caracterizado por Laffont e N‟Guessan (2000).

Os empréstimos em grupos, porém, são apenas uma das formas pelas quais incentivos em grupos podem melhorar a tecnologia de transação em ambientes com restrições de informação. Laffont (1999) utiliza os incentivos para determinar os custos de transação de

26De acordo com Green e Laffont (1977, p. 430), “um mecanismo é decisivo se

D ,

onde a função , que é considerada como os custos líquidos atribuídos ao projeto, refere-se à função de avaliação do agente . Um mecanismo é dito ser satisfatório se, para qualquer e é uma estratégia ótima para o jogador , cujas verdadeiras preferências são , então maximiza . Um mecanismo satisfatório é aquele mecanismo que é tanto decisivo quanto bem sucedido, e então a propriedade de êxito mantém todas as combinações de estratégias dominantes. Mecanismos satisfatórios são desejáveis porque eles selecionam os resultados eficientes e ao mesmo tempo elimina qualquer interação estratégica entre os agentes porque estratégias dominantes existem.”

27 Tal limitação omite um importante e grande corpo da literatura dos incentivos. Para uma revisão teórica sobre incentivos nas demais áreas, ver Gibbons (1998), Prendergast (1999) e Dixit (2000).

28 Os autores analisam o contrato em grupo para empréstimos bancários, mas tal análise pode se estendida a outras situações.

29Esse resultado obtido por Laffont e N‟Guessan (2001) assemelha-se ao obtido por Besley e Coate (1995), que consideram que os contratos em grupos têm efeitos positivos e negativos. E esses últimos podem ser minimizados se existir punições sociais.

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coalizão induzido pela informação assimétrica e mostra quais extensões destes custos relaxam as restrições impostas pelo governo ao comportamento de conluio. O autor mostra, ainda, como os incentivos podem ser usados pelo governo para evitar a captura de políticos e burocratas por grupos de interesse.

Outro aspecto importante a ser considerado no problema do incentivo é a de formação de coalizões, uma vez que podem reduzir a eficiência do mecanismo de incentivo ótimo esboçado na ausência de suas respectivas restrições de incentivos. Como destacado por Laffont e Martimort (1997), a coalizão é importante para compreender o impacto da captura no processo regulatório, a organização do governo, quando grupos de interesse conluiam-se com partidos políticos e, finalmente, como os mercados geralmente se comportam. Segundo os autores, ela impõe mais restrições ao conjunto de alocações implementável, que devem ser incentivo-compatível, e invalidam os mecanismos individuais (ver Laffont, 1999, 2000 e Laffont e Martimort, 2000).

Green e Laffont (1979) são os primeiros a tratar de incentivos com coalizão e provam que o mecanismo proposto por Groves (1973) não é robusto às suas manipulações. Em sua análise, os autores mostram como uma coalizão distorce a informação sobre suas preferências quando enfrentam um mecanismo pivotal30 e uma subclasse do mecanismo de Groves. Ainda com mecanismos de estratégia dominante, Laffont e Martimort (1997) consideram o caso em que os agentes comunicam entre si e conluiam sob informação assimétrica. O conjunto de contratos implementável para a coalizão (collusion-proof) é caracterizado, e esse mecanismo obtido é robusto para toda extensão de equilíbrio do jogo com formação de coalizão.

Entretanto, nesse trabalho, Laffont e Martimort restringem sua análise ao caso em que os mecanismos são anônimos e a informação não é correlacionada. Diante de tais suposições, ainda existe uma implementação fraca e sem custo do segundo melhor resultado quando o principal oferece mecanismos Bayesianos não-anônimos. Nesse sentido, Laffont e Martimort (2000, p. 312) enfatizam “o papel da informação correlacionada, entre os agentes como um determinante da durabilidade da coalizão31” e avaliam as suas conseqüências na eficiência alocativa e na distribuição de rendas na sociedade. Os autores ainda caracterizam completamente todas as transferências fracas no mecanismo ótimo do collusion-proof, de tal modo que é possível calcular todas as rendas a posteriori e caracterizar o resultado do mecanismo quando as opiniões diferem.

30 Jackson (2003) apresenta um mecanismo pivotal, em que No caso da transferência de ,

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Uma nova abordagem de caracterização da restrição de incentivos32 em grupos é fornecida por Laffont (2000), onde considera o modelo de coalizão com assimetria de informação não verificável. Com essa metodologia, é possível caracterizar a resposta constitucional ótima para atividades de grupos de interesse e estudar o desenho de qualquer instituição na qual comportamento em grupo é importante.

Diante do exposto, a importância dessa teoria para o presente trabalho consiste em identificar os grupos de agente e de principais que estabelecem entre si algum tipo de relação por meio das contribuições de campanha.

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