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O Escambo e o Consumo de Alimentos

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1 ALIMENTO COMO ELEMENTO DE CULTURA E IDENTIDADE

1.2 COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS

1.2.1 O Escambo e o Consumo de Alimentos

consumo não se restringe à última etapa de criação do capital, mas é também um mecanismo de racionalidade sociopolítica interativa. Ou seja, para o autor, o ato de consumir proporciona interagir com um cenário de concorrência por aquilo que é produzido em sociedade e pela forma como é utilizado.

O alimento que sai da terra à mesa, desde quem o produz até o consumidor, percorre diferentes caminhos. Portanto, em nossa sociedade, a forma como esse alimento é produzido, comercializado e divulgado está diretamente relacionado com a complexidade das dimensões até aqui apresentadas.

Assim, quanto aos aspectos relacionadas à identidade e cultura, podemos inferir que “as comidas têm histórias sociais, econômicas e simbólicas complexas” (MINTZ, 2001), e que o gosto pelos alimentos não é algo intrínseco ao indivíduo, constituindo além das necessidades nutricionais e significados culturais, outros aspectos como os interesses econômicos e poderes políticos (CANESQUI; GARCIA, 2005).

A partir disso, para compreender o indivíduo e suas motivações para a compra, precisamos compreender como o alimento é adquirido, ou, em outros termos, como chega ao mercado e se torna disponível para a “escolha” dos indivíduos, aspecto importante para este trabalho. Nesse sentido, considerados os diversos critérios sobre o valor simbólico dos alimentos e aspectos culturais até aqui destacados, passaremos para a reflexão sobre os elementos referentes a produção, circulação e consumo de alimentos na sociedade, com destaque para as feiras.

1.2 COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS

1.2.1 O Escambo e o Consumo de alimentos

O escambo era um sistema de trocas entre mercadorias realizado entre os indivíduos para se adquirir o que precisava antes de surgir o dinheiro. Este sistema consistia na troca de serviços, alimentos ou objetos sem nenhum envolvimento monetário. Utilizado durante séculos, o escambo foi introduzido por tribos da Mesopotâmia, adotado pelos Fenícios e posteriormente, povos da Babilônia. Nesse período as mercadorias eram trocadas por alimentos, chá, armas e especiarias. Na época do Brasil colonial, o escambo foi muito comum entre a comunidade indígena, sendo utilizado na extração do pau-brasil. Por exemplo, os índios trocavam utensílios, decorrente do corte e transporte de madeira que realizavam até as

caravelas portuguesas, e recebiam como pagamento objetos de pouco valor (espelhos, talheres, escovas, facões, perfumes, aguardente etc.) pela mão de obra (HUBERMAN, 1986).

Praticado também no sistema feudal, o escambo começou a ser substituído por outras relações comerciais que passaram a existir posteriormente como também em consequência do desenvolvimento das cidades, expansão dos feudos e na medida em que o sistema econômico exigia sempre mais (SANTOS, 2011).

Como naquele período não existia a moeda, era muito comum a permuta entre mercadorias, por meio do qual um agricultor fornecia o excedente de sua produção em troca de outros alimentos. A partir de então, alguns produtos passaram a valer mais que outros em função da sua utilidade, como, por exemplo, o sal, que propiciava a conservação dos alimentos, e o gado, que era utilizado para locomoção e transporte de mercadorias (HUBERMAN, 1986).

A partir dos segmentos de produção e consumo, encontramos um elemento essencial para a existência dos outros dois: a troca. É nela que se fundamenta toda a essência e sentido do comércio, que anteriormente surgiu de maneira sutil e na forma de escambo, por meio do intercâmbio de mercadorias entre os interessados, desde gêneros alimentícios a objetos. De acordo com Foladori, Melazzi e Kilpp (2016, p. 102), “a base primitiva do escambo é, também, certo grau de especialização no trabalho que obrigou ao intercâmbio para satisfação de necessidades sociais”. Ou seja, desde os primórdios da humanidade os homens praticam o escambo, porém estas permutas basicamente surgiram como formas de troca entre sociedades diferentes para posteriormente se fixarem no interior das comunidades.

Para ocorrer a troca entre mercadorias, a pessoa, além de encontrar alguém que necessitasse do produto em questão, deveria encontrar proporções quantitativas nas equivalências representadas nas necessidades de cada um (FOLADORI; MELAZZI; KILPP, 2016). O que os autores explicitam é que o escambo representava uma forma complexa para realização de troca entre mercadorias, seja pela dificuldade de encontrar equivalências entre os produtos, ou porque era necessário encontrar alguém que estivesse desejando o mesmo objeto, e nesse processo de troca algumas equivalências poderiam não ser exatas. Para facilitar este entendimento, citamos, por exemplo, que ao possuir um excedente de 10 kg de laranja e necessitar a troca por uma cadeira, era preciso encontrar quem tivesse a cadeira excedente e que, ao mesmo tempo, necessitasse de laranjas. Portanto, pouco a pouco este método de obtenção dos produtos vai sendo substituído, pelo papel moeda que destacamos logo abaixo e diminui esta discrepância entre as trocas e os valores correspondentes das mercadorias.

Com o passar do tempo, os “itens de necessidade” deixam de ser objetos de troca e passam a ser representados pelo papel na forma de dinheiro. Conclui-se, assim, que o dinheiro é a consequência das relações sociais de produção e intercâmbio que vão se transformando com o passar do tempo em diferentes sociedades. Registros arqueológicos datam que em alguns séculos antes de Cristo, o dinheiro metálico já existia no Oriente Próximo. A etnografia apresenta diversas maneiras que essas representações materiais poderiam se dar antes do surgimento do dinheiro, ou seja, a moeda era representada por meio de gado, sal, peles, conchas marinhas, cereais etc. (FOLADORI; MELAZZI; KILPP, 2016).

Assim, o dinheiro ia se constituindo nas diferentes sociedades, demonstrando que como qualquer outra categoria social não possui suas características definidas e definitivas, e que, por meio dessas distintas representações acima descritas, demonstra como essa relação de troca entre mercadorias tem diferentes formas e finalidades em cada sociedade.

De acordo com Foladori, Melazzi, Kilpp (2016), na sociedade capitalista, as mercadorias se compram e se vendem por dinheiro; os capitalistas investem para obter dinheiro, os trabalhadores trabalham por dinheiro. Na vida cotidiana, o dinheiro está presente nas relações pessoais, como também é o começo e o fim de todo processo produtivo. A existência do equivalente monetário para as trocas ampliará as possibilidades para o surgimento da moeda. Na história do surgimento dos mercados, a feira como veremos no próximo subtópico deste capítulo, constitui importante espaço de ambiência das relações sociais de produção e intercâmbio monetário, que ao longo do tempo vão se modificando e atualmente compõem estes modelos diversos que temos em sociedade.

1.2.2 O Surgimento das Feiras

As feiras livres representam uma forma de comercialização de produtos agrícolas das mais antigas, e representam até os dias atuais um importante papel econômico, social e cultural. Registros datam que em 3.000 a.C. os povos Sumérios já faziam uso desse modelo de comercialização, fazendo em determinados dias da semana trocas em locais específicos das cidades (SALES; REZENDE; SETTE, 2011).

Segundo Braudel (1996), as feiras surgem entre o campo e a cidade como a maior e mais volumosa de todos os espaços de trocas conhecidas. São realizadas normalmente de uma a duas vezes na semana, e para abastecê-las se faz necessário o campo ter tempo de produzir e escoar uma parte da produção para a cidade. As feiras são denominadas como um local em que as trocas acontecem até hoje. Frequentada em dias fixos, a feira é considerada um núcleo

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