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O espaço escolar e o papel do professor

No documento Download/Open (páginas 30-33)

Compreender o contexto educacional mais amplo e a instituição escolar pública com seus limites e suas possibilidades, é de fundamental importância para que possamos entender o papel do professor contemporâneo. Sem este entendimento não é possível analisar as questões referentes à formação inicial do professor, a partir da realidade que se apresenta, a fim de refletir sobre os saberes docentes necessários à construção de sua profissionalidade.

Em que espaço escolar o professor está inserido? Segundo Ghedin, Almeida e Leite (2008) o Brasil avançou significativamente nos últimos anos no sentido de universalizar o acesso de todas as crianças ao ensino fundamental obrigatório, porém, ocorreu um retrocesso no que se refere à qualidade de ensino em nossas escolas públicas. Não estamos ofertando um ensino de qualidade a nossas crianças e jovens, que outrora eram excluídos da escola. Avançamos de um lado, mas recuamos do outro, melhoramos quantitativamente, porém, pioramos qualitativamente.

Segundo os autores, as pessoas, a comunidade e os meios de comunicação, em geral, costumam emitir críticas negativas contra a escola pública, como se o processo de democratização do ensino tivesse produzido uma situação de crise no ensino público.

Para Ghedin, Almeida e Leite (2008, p. 26):

É preciso analisar, avaliar e refletir sobre esses juízos negativos, tentar compreendê-los e ressignificá-los para que possamos entender o verdadeiro sentido da escola pública e do papel do professor nos dias de hoje. A escola para poucos de ontem cedeu lugar, hoje, à escola pública para muitos. Temos uma nova clientela, temos novas

necessidades a serem atendidas. Como tornar a escola pública capaz de garantir a inclusão social de todas as crianças, espaço de direito não somente dos professores, mas também dos alunos, filhos de trabalhadores que adentram essa escola?

Leite e Di Giorgi ( apud Ghedin et. al, 2008, p. 27) também colaboram com esta discussão quando afirmam que:

Uma escola pública preocupada em realizar uma verdadeira inclusão social deve educar todas as crianças e os jovens com qualidade, proporcionando-lhes uma consciência cidadã que lhes assegure condições para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Da mesma forma, será preciso, a partir da análise e da valorização das práticas existentes, criar novas práticas no trabalho em sala de aula, na elaboração do currículo, na gestão e no relacionamento entre a equipe escolar, alunos pais e comunidade. Temos, portanto, além de uma nova clientela, a necessidade de assumirmos novas características organizacionais e pedagógicas frente às atuais demandas oriundas do processo de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico.

É nesse contexto que a escola assume novas atribuições, como nos lembra Perrenoud (2000) ao dizer que não cabe mais à escola apenas ensinar os alunos a ler, a escrever e a contar, cabe-lhe também ensinar os alunos a respeitar e a tolerar as diferenças, a coexistir, a comunicar, a cooperar, a mudar, a agir de forma eficaz.

Essas novas atribuições escolares, outrora pertencentes à esfera familiar, recaem sobre o professor, e é a partir dessa perspectiva que os docentes hodiernos são cobrados por toda a sociedade e pela legislação educacional.

De acordo com Ghedin, Almeida e Leite (2008), os professores, invariavelmente, estão sendo responsabilizados pelos fracassos e insucessos da escola e do sistema de ensino, sem que se leve em consideração as fragilidades do sistema educacional em termos de políticas públicas, condições de trabalho do profissional docente e problemas referentes à sua formação inicial.

Acreditamos que devemos recuar ainda mais no tempo, em termos de formação de professores, pois é uma questão de lógica, já que, a educação básica forma muito mal seus alunos e os professores da escola pública, em sua grande maioria, são egressos do ensino público, logo, a formação

deficitária do professor não se dá só em nível superior, nos cursos de licenciaturas, mas, sim, desde a educação infantil, fundamental e média.

Nóvoa (1992, p. 57-65) ao refletir sobre as estratégias de reforma da educação expressa-se assim:

A reforma educativa pode ser vista como um esforço do Estado para adquirir uma maior legitimidade, nomeadamente na definição dos conteúdos curriculares, na configuração dos modelos de direção das escolas e no controle da profissão docente (...) O discurso (implícito) das reformas educativas é portador de uma contradição insuperável: por um lado, escreve nas entrelinhas que os professores são os principais responsáveis pelo estado crítico em que se encontram os sistemas de ensino; por outro lado, produz uma retórica que concede aos professores o papel de agentes privilegiados da reforma. Uma análise breve das notícias publicadas na imprensa sobre os professores confronta-nos com o sentimento ambíguo de que nos encontramos perante profissionais incompetentes e que têm comportamento pouco correctos, nos quais se depositam, no entanto, quase todas as esperanças de melhoria do ensino e da qualidade da educação.

Os professores não são os únicos responsáveis pelo malogro escolar. Tal como os discentes, eles são também vítimas de uma política educacional que não promove seu desenvolvimento profissional, e vítimas da falta de empenho da sociedade na construção de sua valorização profissional, por meio de salários dignos, de programas adequados de formação continuada em serviço, de condições materiais para as escolas.

Capítulo 2 – O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Neste capítulo abordaremos a crise do ensino de Língua Portuguesa, que decorre das transformações históricas e sociais do Brasil. Discutiremos, também, as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa para um ensino-aprendizagem de português que vai ao encontro das exigências da sociedade brasileira do século XXI, isto é, que o alunado brasileiro leia, compreenda e produza textos dos mais variados gêneros que circulam socialmente.

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