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Capítulo 2 Blog

1 Novas tecnologias para a comunicação

1.5 O essencial do blogar

Um aspecto interessante nas análises de blogs é que eles são, ao mesmo tempo, produto (conteúdo, formato, tecnologia etc.) e meio de comunicação; um formato/ferramenta/canal pelo qual o blogueiro se expressa. Por ser um formato nativo da internet, ele é um meio considerado híbrido e, dessa forma, tem suas contradições e potencializações. Os conceitos de meio podem estar focados em sua distribuição, como rádio que usa ondas de rádio para transmissão; a televisão, que tem múltiplos canais de distribuição (cabo, satélite, antenas etc.). Atualmente, sinais de rádio e TV também são distribuídos pela

internet, numa apropriação mais recente. A rede altera o potencial de distribuição para a maioria dos meios de massa e os aparelhos móveis ampliam ainda mais essa distribuição. No contexto comunicacional, um meio é o canal através do qual as pessoas podem se comunicar ou ampliar suas expressões para os outros indivíduos: os blogs são precisamente isso.

Acreditamos que eles existam porque blogueiros estão blogando; ou seja, é pelo valor do blog (ou do blogar) em si.

As ferramentas moldaram o estilo e as propriedades dos blogs e esses instrumentos são desenvolvidos e projetados para atender às necessidades dos blogueiros. Algumas dessas tecnologias são fáceis, outras são mais complexas; a maioria delas tem interface simples para o blogueiro novato, e uma quantidade pequena se apresenta mais trabalhosa. Essas ferramentas vão influenciar os blogs e, da mesma maneira que elas evoluem, os blogueiros também o fazem com a prática.

Os limites de blogs são socialmente construídos. Entretanto, a tecnologia tem um papel importante no resultado. Ferramentas para acesso aos meios são relevantes na formação das mídias, mas não as definem. Canais de distribuição também não são sinônimos dos meios e formatos também não. Muitos meios de massa sobreviveram a grandes mudanças de dispositivos, componentes e tecnologias.

Acreditamos que o meio pode ser definido pela prática que ele suporta e pelo modo com que as pessoas se identificam com essas metodologias. Na sociedade em rede, a integração de diferentes meios ocorre, não por uma razão de caráter tecnológico, mas pelas práticas culturais de seus usuários e os blogs representam uma nova cultura da mídia.

Ao conceituá-lo como um meio em vez de um gênero, é possível ver como os blogs são mais relacionados ao uso. Ele pode ser usado para documentar a vida das pessoas, elaborar listas de links (ou listas mesmo), fazer anotações, protestar, explicar, pensar, publicar, enfim, realizar inúmeras atividades. Não são convenções ou tipos de conteúdo que definem blogs, mas o conjunto das práticas usadas para a expressão. Meios são flexíveis, permitem diferentes tipos de expressão e estão em constante evolução como os blogs.

Definir categorias para enquadrar blogs é criar limites que não existem na prática e, além de restritivas em sua ordenação, as classificações podem ser falhas, dado que as divisões de um meio não podem ser definidas somente por suas propriedades iniciais. No começo da blogosfera, os blogs tinham funcionalidades baseadas nas ferramentas existentes, como comentários, links, trackbacks, posts na ordem cronológica inversa e feeds, por exemplo. A tecnologia altera, evolui, se transforma e funcionalidades são criadas, modificadas ou extintas. Hoje, muitos deles trabalham com ordem cronológica (mas agora não há necessidade). Os

dispositivos também mudaram muito – até se tornaram móveis – no entanto, blogs continuam sendo blogs, porém de forma diferente.

Repetir a mídia tradicional não agrega nenhum valor, dessa forma, espera-se que, para adquirir importância no mix de comunicação, o blog deva gerar valor onde a mídia tradicional não consegue ou não tem interesse de estar. Ele precisa oferecer algo mais, uma informação diferente para suprir um desejo, uma necessidade. Muitos blogueiros preferem ser “alternativos”, outros querem ser “mainstream”, em muitos casos, os blogueiros preferem permanecer fora dos meios de massa e atuar em seus nichos com competência. Novos entendimentos são admissíveis, o que é compreensível, visto que se trata de uma área em constante mutação. Há blogs que tratam de vários temas; outros que são de caráter pessoal e até intimista e, dividi-los em categorias pode ser redutor, ou seja, um blog pode ser tudo isso, ou nada disso.

Acreditamos que na comunicação mediada por computador, a prática de blogar envolve a produção de conteúdo digital com a intenção de compartilhar informações com o público. É uma prática na qual os blogueiros dividem com seus leitores e comentaristas um conteúdo específico.

Searle explana o conceito de intencionalidade em livro com mesmo título e enfatiza que:

[...] não pode haver nenhuma ação, nem mesmo não intencional, sem intenções em ação. Portanto, as ações necessariamente contêm intenções em ação, mas não necessariamente são causadas por intenções prévias. Todavia, o conteúdo Intencional da intenção em ação não é que ela deva causar a ação, mas sim que deve causar o movimento (ou estado ) do agente que é sua condição de satisfação; e os dois em conjunto, intenção em ação e movimento, constituem a ação [...].(SEARLE, 2002, p. 149).

No caso do blogueiro, esse intuito de partilhar precede a ação. Ele tem a intenção de obter o compartilhamento, antes da realização do ato em si. É uma ação intencional que o blogueiro procura – ou tenta buscar – no momento em que bloga. Dessa maneira, propositalmente, o blogueiro divide o conteúdo de seu blog com as pessoas.

Desde o princípio da blogosfera, muitos acreditam que ter um blog é ter a capacidade de comunicar-se livremente com um grande público, sem nenhuma limitação, edição ou controle. É sabido que eles têm um enorme potencial de alcance, entretanto, na maioria das vezes, o público desses blogs é um grupo pequeno, fator que não esmorece o blogueiro.

Com a apropriação do uso de blogs por empresas, existem aqueles controlados ou hospedados em jornais, que são uma continuidade do trabalho de colunistas, por exemplo, ou ainda instituições públicas ou privadas. Alguns autores monetizaram seus blogs, outros tantos adicionaram anúncios ou links patrocinados. Dessa forma, o blogueiro pode ter lucro, o conteúdo pode ser controlado, mas, ainda assim, continua sendo blog. Por ser um meio nascido digitalmente acaba por refletir os dilemas da cibercultura, onde se turvam as fronteiras, tanto da textualidade, oralidade, corporalidade e espacialidade, como os limites entre público e privado ou massivo e personalizado.