• Nenhum resultado encontrado

O Estado capitalista e suas relações com a educação no Brasil

Para compreender o atual Estado capitalista brasileiro utilizamos concepções e conceitos formulados, em especial, por Antônio Gramsci e Nicos Poulantzas. Do pensador italiano, valemo-nos do conceito de hegemonia, enfatizando o movimento de força e de consenso. Observamos a defesa realizada por Gramsci de que as classes subalternas devem buscar construir a sua própria hegemonia. Consideramos o conceito de intelectual e o destaque feito pelo autor para o papel dos intelectuais orgânicos como responsáveis por fazer a ligação da construção dessa nova concepção de mundo, de hegemonia do proletariado. Trabalhamos com o ideário de escola unitária, talvez uma de suas contribuições mais importantes quanto ao aspecto educacional. Relacionamos os períodos de evidência (década de 1980) e de perda de força (década de 1990) dos ideais gramscianos com o próprio contexto das políticas públicas para a EJA no Brasil.

Dos estudos de Poulantzas, utilizamos também o conceito de hegemonia e outro complementar ao primeiro, o conceito de “bloco no poder”, que nos auxilia na compreensão de que, no Estado capitalista – portanto, fragmentado em classes sociais –, há em sua gênese várias classes ou frações politicamente dominantes. O factível é que, dentre essas diversas frações ou classes dominantes, pode existir uma que obtém hegemonia sobre as outras. Analisamos, por conseguinte, como as lutas e os interesses de classe perpassam o interior deste Estado.

Relacionamos o pensamento destes dois pensadores acerca da concepção de Estado com os pressupostos e as políticas implantadas nas gestões de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente na área educacional, com maior destaque para as políticas de EJA.

A partir dos anos 1990 constata-se a ocorrência da reforma do Estado e a instituição de políticas neoliberais, que foram mais exacerbadas durante os governos FHC. A tendência à retirada de direitos sociais repercutiu também nas

36

políticas educacionais, bem como nas adotadas para a educação das pessoas jovens e adultas no Brasil.

Outrossim, analisamos a correlação de forças presente nos governos Lula. Destacamos duas das características que acreditamos serem as mais marcantes nessas administrações: a coalizão e a contradição. A primeira refere-se ao conjunto diverso de sujeitos que compuseram o governo Lula, marcado, de um lado, pela presença de personalidades com um histórico ligado à defesa dos direitos das classes populares e, de outro lado, também compartilhado e/ou apoiado por políticos atrelados aos interesses das classes dominantes ou dos setores mais conservadores da sociedade. Essa característica está interligada com o aspecto contraditório das ações das gestões Lula, afinal esta composição governamental repercutiu nas políticas públicas que foram adotadas durante esses governos. A área educacional não passou ilesa a esse embate de forças.

Doravante, sustentamos a tese de que, apesar dos muitos resquícios de políticas neoliberais presentes no governo Lula, há, contudo, uma inflexão que se expressa num maior investimento nas políticas educacionais, com uma maior participação da União na educação básica, ainda que insuficiente para garantir a todos uma educação de boa qualidade. Na sequência do trabalho, tentamos delinear como esse movimento ou esse choque de interesses perpassam a definição e a adoção das políticas públicas de EJA no Brasil e suas repercussões no seu financiamento, especialmente após a implementação do Fundeb.

1.1 – Gramsci: a educação como fator de hegemonia

Segundo Luciano Gruppi (1978, p. 66), pensador italiano, estudioso da obra de Gramsci, há uma linha principal que guia as análises gramscianas, o conceito de hegemonia:

[...] todas as análises dos processos histórico-sociais, quer se trate da formação dos intelectuais ou da formação do Estado unitário italiano, quer se trate da literatura italiana ou de suas relações com o povo, derivam e estão ligadas à questão da hegemonia: como se

37 realiza a hegemonia de uma classe, como deve se desenvolver o processo que leva à hegemonia do proletariado; qual é o modo específico no qual se colocam as questões da hegemonia e, em particular, a questão da hegemonia do proletariado na Itália, na específica situação italiana.

Gramsci atribui grande importância à educação e à cultura. Critica a ideia de que ambas, estando na superestrutura, eram mecanicamente determinadas pelas estruturas econômicas. Segundo Rosemary Dore (2006), o interesse de Gramsci pela educação acontece no momento em que amplia seu estudo sobre o Estado capitalista, atribuindo destaque para as ideias. Para Gramsci, as ideologias não se constituem como “aparência” ou “falsa consciência” num terreno contraditório, no qual os conflitos sociais podem ser ocultados ou elucidados. As subjetividades ganham valor em seu pensamento.

Para compreendermos essa importância atribuída à educação e à cultura, precisamos trabalhar com a própria noção de luta pela hegemonia. Gramsci ressalta a importância da dimensão da cultura e da educação (superestrutura) para a conquista e manutenção do poder. Esta ideia está relacionada com a luta pela hegemonia, onde o Estado não governa apenas pela força, mas também pelo convencimento, ou seja, há um movimento de força e consenso. Hugges Portelli (1977) assevera que não há um sistema social em que o consentimento seja a única base de hegemonia, assim como também afirma que, apenas por meio da coerção, não é possível certo grupo continuar dominando de forma durável uma

sociedade, um Estado. De acordo com Gruppi (1978), Gramsci usa frequentemente o termo

“filosofia da práxis” como sinônimo de marxismo, não apenas por razões de prudência conspirativa, como também porque considera o marxismo como uma concepção que funda a práxis revolucionária transformadora e confirma na práxis a validade de suas próprias postulações. Vale lembrar também que a filosofia da práxis é a própria apropriação do conhecimento por parte dos trabalhadores, reunindo aspectos culturais em geral como arte, política, ciência. Ademais, Gramsci destaca o conceito de práxis demonstrando que o marxismo não deve ser considerado como uma “ciência da infraestrutura”, mas como a articulação

38

complexa da teoria e da prática na relação infraestrutura e superestrutura.

Gramsci procura prestar a atenção nas especificidades históricas, como também busca soluções igualmente históricas para a elucidação dos processos. Teoria e prática, espírito e matéria se unificam dialeticamente. Trata a relação entre a estrutura e a superestrutura como discordante e contraditória, num movimento histórico, que corresponderia ao conceito de bloco histórico (DORE, 2006). Deste modo, atribui-se um sentido de valor à concreticidade dos processos históricos, dos próprios sujeitos históricos, da consciência de classe, da iniciativa política e da teoria revolucionária.

Para Gramsci, todo homem tem uma concepção de mundo, ainda que isso não seja consciente. Pelo simples fato de ter uma linguagem, de participar do senso comum, é também um filósofo. Todavia, as classes subalternas (ou dominadas) carregam uma concepção de mundo que lhes é imposta, que corresponde à sua função histórica e aos interesses das classes dominantes. A hegemonia acaba unificando, através da ideologia, da conservação de um bloco social que não é homogêneo, mas sim marcado por profundas contradições de classe. Além disso, Gruppi (1978) afirma que a hegemonia não é apenas política, mas é também um fato cultural, moral, de concepção de mundo, é a própria superação da contradição entre prática e teoria.

A busca da classe dominante de obtenção do consenso, no espaço da sociedade civil, pode abrir brechas para a própria organização das classes subalternas com vistas à conquista da hegemonia. Para Gramsci (1977, p. 2010- 2011, apud DORE, 2006, p. 338),

[...] um grupo social pode e mesmo deve ser dirigente antes de conquistar o poder governativo (essa é uma das condições principais para a própria conquista do poder); depois, quando exerce o poder e ainda que o empunhe fortemente, torna-se dominante, mas deve continuar também a ser ‘dirigente’.

Gramsci entende a sociedade civil como “aparelho privado” de hegemonia. Vale lembrar que é na sociedade civil que circulam as ideologias, entendidas como concepções de mundo que se expressam em todas as atividades sociais (nas artes, nas ciências, etc.). Quanto mais hegemônica for a classe dominante, menos se faz uso da violência. A sociedade civil é o espaço privilegiado onde

39

acontece a disputa pela hegemonia entre as classes sociais antagônicas. As classes dominantes buscam exercer a hegemonia com a repressão (força) e o consentimento (consenso). Todavia, Gramsci defende que, nessa disputa, as classes subalternas busquem construir a sua própria hegemonia. Para tanto, há a necessidade de formular um projeto de dimensão universal, de direção para a sociedade, objetivando tornar-se Estado:

A hegemonia é capacidade de direção, de conquistar alianças, capacidade de fornecer uma base social ao Estado proletário. Nesse sentido, pode-se dizer que a hegemonia do proletariado realiza-se na sociedade civil, enquanto a ditadura do proletariado é a forma estatal assumida pela hegemonia (GRUPPI, 1978, p. 5).

De acordo com Emir Sader (2005, p. 8-9), em outras palavras, Gramsci defende que a classe subalterna deve construir o seu próprio poder ideológico, justamente para tornar-se articuladora de uma hegemonia alternativa:

[...] Vale também para as classes dominadas e exploradas a necessidade de organizar não apenas sua força, mas também a capacidade de que sua ideologia, seus valores, sua visão do mundo, possam conquistar outros setores populares da sociedade.

Se a hegemonia, para Gramsci, é o exercício da direção intelectual e moral da sociedade, cabe destacar

[...] a importância de um movimento intelectual que difunda novas concepções de mundo, capazes de elevar a consciência civil das massas populares e de produzir novos comportamentos para que elas não se submetam à direção do Estado capitalista (DORE, 2006, p. 339).

É possível para as classes subalternas obterem a hegemonia antes mesmo de terem em suas mãos o poder político. Da mudança da estrutura decorre uma alteração do modo de pensar e da consciência, no caso a hegemonia do proletariado, responsável pela construção de uma nova sociedade – a sociedade socialista – e, consequentemente, do próprio modo de pensar. Destarte, a revolução não acontece apenas no plano material, econômico ou no nível da política, mas também se espera que haja uma reforma intelectual e moral. A conexão entre teoria e prática – formulação e realização/transformação – deve permitir tudo isso.

40

Gramsci propunha estratégias de luta mais diversas para que as classes populares alcançassem uma progressiva hegemonia. Ao invés de realizar apenas a chamada guerra de movimento, a luta armada como única forma de se obter o poder num ataque feroz às classes dominantes, o pensador italiano defendia a denominada guerra de posição. A sociedade civil seria um importante espaço de disputa, de luta de classes, na qual as classes populares tinham que buscar a construção da hegemonia.

Vale mencionar que, para o autor, a sociedade civil faz parte do Estado num sentido amplo, uma vez que há nela a presença de nítidas relações de poder. Os chamados “aparelhos privados de hegemonia” – por exemplo, os partidos de massa, os sindicatos, as diferentes associações –, ou seja, tudo aquilo que resulta de uma crescente “socialização da política” estão inseridos na esfera da sociedade civil, que se constitui numa arena de lutas (de classe) para a obtenção da hegemonia, da direção política, importantes, por sua vez, para a conquista e o exercício do governo8

Ao descobrir essa nova esfera, ao dar-lhe um nome e ao definir seu espaço, Gramsci criou uma nova teoria do Estado. O Estado, para ele, não é mais o simples ‘comitê executivo da burguesia’, como ainda é dito no Manifesto Comunista, mas continua a ser um Estado de classe. Contudo, o modo de exercer o poder de classe muda, já que o Estado se amplia graças à inclusão dessa nova esfera, a ‘sociedade civil’. Buscar hegemonia, buscar consenso, tentar legitimar-se: tudo isso significa que o Estado deve agora levar em conta outros interesses que não os restritos interesses da classe dominante. Com isso, Gramsci chegou a compreender o tipo de Estado que é próprio dos regimes liberal-democráticos, um Estado bem mais complexo do que aquele de que falam Marx e Engels no Manifesto ou Lênin e os bolcheviques no conjunto de sua obra (COUTINHO, 1999, p. 2).

Gramsci realiza uma comparação das sociedades tidas como do “Oriente” (principalmente a Rússia czarista) e do “Ocidente” (para ele, Europa Ocidental e Estados Unidos). Na primeira, em sentido estrito, o Estado seria tudo, sendo que a sociedade civil seria primitiva e gelatinosa. No caso do “Ocidente”, existiria um equilíbrio entre a sociedade política e a sociedade civil.

8 Segundo Carlos N. Coutinho (1999), não se deve confundir sociedade civil com a coisa amorfa

denominada comumente por “terceiro setor”, que pretensamente se situa além do Estado e do mercado.

41

De acordo com Coutinho (1999), foi a partir dessa distinção que Gramsci não só renovou a teoria do Estado, como também se empenhou em criar um novo paradigma de revolução socialista, mais adequado para as sociedades ocidentais. A luta paciente pela hegemonia, pela conquista de espaços na sociedade civil seria um caminho interessante (e necessário) para as classes populares. Coutinho (1999) denomina este percurso de “reformismo revolucionário”9.

Segundo Gramsci, os intelectuais orgânicos seriam os responsáveis por fazer a ligação com vistas à construção dessa nova concepção de mundo, de hegemonia do proletariado. Afinal, não há organização sem esses intelectuais. Todavia, cabe destacar que o autor (1972, p. 13) entende que:

Todos os homens são intelectuais, [...] porém nem todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais. [...] não há atividade humana em que se possa excluir de intervenção intelectual, não se pode separar homo faber de homo sapiens. Cada homem desempenha uma certa atividade intelectual, adota uma concepção de mundo, tem uma consciente linha de conduta moral e, por isso, contribui para defender ou para modificar uma concepção de mundo, ou seja, para produzir novas maneiras de pensar.

Mas deve-se perceber se há pontos fracos no atual bloco histórico10 para a construção de uma nova hegemonia. É importante observar o papel de destaque do intelectual orgânico, se ele defende, de fato, os interesses e a concepção de mundo do proletariado e, mais ainda, se é responsável por aumentar a chance de dar homogeneidade a essa classe. Carmem S. V. Moraes (1978, p. 89) afirma que

Gramsci propõe uma alternativa pedagógica que favoreça o aparecimento de um novo tipo de intelectual surgido de um sistema de educação única, ao mesmo tempo intelectual e manual. Esse novo intelectual orgânico do proletariado reconciliaria a atividade manual e intelectual em um mesmo indivíduo, possível apenas com a “autodestruição” do velho intelectual.

Nesse quadro de disputa por hegemonia, o aspecto cultural e, por consequência, também o aspecto educativo ganham destaque. Gramsci enxerga duas dimensões de organização da cultura: didática e organizativa. Na dimensão didática, realça o papel educativo da escola, que serviria para auxiliar os filhos dos

9 Coutinho (1999) utiliza a expressão “reformismo revolucionário”, embora saliente não ser esta

uma denominação empregada por Antônio Gramsci.

42

membros da classe subalterna a “aprender a pensar”. Quanto à dimensão organizativa, salienta a criação de um “centro unitário de cultura” que, para tornar- se hegemônico, teria que ter duas linhas principais de ação: uma concepção geral

de vida (a filosofia da práxis, que deveria ser desenvolvida e aprofundada) e um programa escolar (princípio educativo e pedagógico original).

Nesse contexto, destaca-se a formulação da escola unitária:

Gramsci formula a noção de escola unitária quando desenvolve o princípio educativo. [...] Tal escola relaciona-se à luta pela superação das divisões de classe que se expressam na separação entre trabalho industrial e trabalho intelectual, na divisão social entre governantes e governados. Ou seja, o “princípio unitário” ultrapassa a escola como instituição (DORE, 2006, p. 341).

O ideal de escola unitária contrapunha-se à chamada “escola nova”, formulação realizada pelo pensamento liberal burguês no final do século XIX. Apesar da eventual existência de alguns aspectos interessantes nesse ideário escolanovista, Gramsci identificava-a como um exemplo de transformismo. As contradições sociais e o aspecto dualista (de um lado, a formação de quadros técnico-científicos e, de outro, a de quadros instrumentais) estavam presentes nessa concepção da “escola nova”. A escola unitária por ele proposta tinha, portanto, o mérito de superar dialeticamente essa concepção escolar dualista, como também realizava a ruptura com a escola única do trabalho, politécnica, existente na então União Soviética.

Planejada como um esquema de organização do trabalho intelectual, a escola unitária tinha como ponto de partida as relações capitalistas. Gramsci não fala em construir esse projeto apenas depois da revolução socialista, que exigisse destruir o capitalismo e, somente depois, cuidar da educação dos trabalhadores. Por ser um processo dialético, ele é ou pode tornar a ser, concomitantemente, também de destruição. Não há, por conseguinte, uma visão dicotômica da relação entre Estado e sociedade. A ideia de escola unitária, na hipótese do desenvolvimento da sociedade civil, atribui à escola um sentido estratégico na disputa pela hegemonia, no âmbito do “Estado ampliado” descrito pelo autor.

Essa escola unitária visa à formação de um novo tipo de homem, ao mesmo tempo especialista e dirigente, que consiga unificar teoria e prática.

43

Objetiva a construção, o aprendizado de uma nova concepção de mundo que faça sentido para os educandos. Uma escola de caráter humanista, que equilibre o desenvolvimento de trabalhar manualmente, tecnicamente, com o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual.

Gramsci (1972, p. 115) defende que o Estado assuma essa configuração da escola unitária, não deixando para as famílias a responsabilidade de fornecer a escolarização para seus filhos:

[...] A escola unitária exige que o Estado possa assumir os gastos que atualmente ficam a cargo da família para a manutenção dos gastos escolares, ou seja, que transforme completamente o orçamento do ministério da educação nacional ampliando e tornando complexo de modo inaudito; toda a função de educação e formação das novas gerações deixa de ser privada para tornar- se pública, porque somente desse modo abarcará todas as gerações sem divisão de grupos ou de castas.

Ou seja, mesmo sabendo que o autor se refere à realidade educacional italiana – mas também econômica, política e social – das primeiras décadas do século XX, destaca-se a citação de que o Estado deveria disponibilizar recursos financeiros para a educação. Ademais, há a argumentação de que essa escola deve atender a todos os públicos, sem distinção de grupos ou de classes sociais.

A estrutura para essa escola também é descrita por Gramsci: ampliação dos edifícios, do corpo docente, do material científico; diminuição do número de estudantes por professor (pensando na realidade brasileira, um número menor de educandos por sala de aula); mais ainda, a escola-colégio deveria ter refeitórios, bibliotecas especializadas, além de outros ambientes de infra-estrutura. Mesmo mencionando que essa escola teria que ser expandida aos poucos, o autor fornece bases importantes para a reflexão e a luta por uma educação que seja universal, democrática, pública, gratuita e de boa qualidade no Brasil.

As ideias de Gramsci relacionadas com a Educação ganham força no Brasil nos anos 1980, contribuindo para a formulação de projetos em defesa da educação pública e de qualidade para todos. Todavia, esses ideais gramscianos perdem um pouco de sua intensidade na década de 1990, justamente no contexto

44

do neoliberalismo e da tentativa de retirada dos direitos educacionais, em especial das pessoas jovens e adultas.

1.2 – A influência dos ideais gramscianos na luta pela EJA no Brasil

Procuramos aqui relacionar as concepções formuladas por Gramsci na área educacional com a situação da população jovem e adulta brasileira nessa área. Analisando o histórico recente da influência das ideias de Gramsci no Brasil, observamos que, talvez não por acaso, elas coincidiram com os períodos de aumento ou redução da importância que a EJA teve nas políticas públicas no país.

Se na década de 1980 as ideias do autor tiveram muita repercussão, auxiliando educadores e movimentos sociais brasileiros em sua luta por uma melhor escola pública, isto também repercutiu na EJA. Neste período houve um ponto alto de reivindicações para que o Estado garantisse a escolarização das pessoas jovens e adultas. Não à toa, essas reivindicações irão repercutir na própria Constituição de 1988 da República Federativa do Brasil (CF/1988), que assegurou o direito à educação para essa população. Era muito forte a presença da educação popular, que tinha como mote a libertação, conceito chave formulado por Paulo Freire. Todavia, o referencial freireano tinha também como orientação a

Documentos relacionados