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Capítulo I Os agentes da produção do espaço urbano: suas políticas e ações em

1.3 As Ações do poder público na produção do espaço urbano

1.3.2 O Estado como provedor das infraestruturas e serviços públicos

Apesar do papel de legislador do espaço urbano desempenhado pelo Estado já coloca-lo como alvo dos diferentes agentes sociais e econômicos, é através da implantação de serviços públicos como, implementação e manutenção do sistema viário, de esgoto, iluminação, do calçamento público, do abastecimento de água, da coleta de lixo, da construção de parques, hospitais, escolas, etc., que a sua atuação se faz de modo mais corrente e esperado, sob grande interesse, tanto das empresas como da população em geral.

Lojkine (1997) ao realizar sua crítica, no âmbito da teoria marxista, a cerca do papel das infra-estruturas, dos equipamentos e dos serviços urbanos públicos para a cidade, com foco sob a relação entre valor de uso e valor de troca, considera-os como “condições gerais de produção” e propõe o termo de “meios de consumo coletivo” para se referir a essas lógicas capitalistas ocorrentes na cidade. Lógicas essas que além de tornar o solo uma mercadoria, também se apropria de tudo aquilo que o constitui, o que potencializa o seu valor.

Nesse contexto, Catelan (2012, p. 1) ressalta que essas infra-estruturas, equipamentos e serviços urbanos “não podem ser vistos como simples objetos estruturantes da cidade, pois integram o processo de produção do espaço e, juntamente com outros elementos, outros fatores e outras dinâmicas, agregam valor ao solo urbano”.

É dessa forma que o Estado como agente principal da distribuição social e espacial dos equipamentos urbanos para as diferentes classes e frações de classe, reflete ativamente as contradições e as lutas de classes geradas pela segregação social dos valores de uso urbanos. Assim Lojkine (2004, p.193) afirma que a ação do Estado, que longe de unificar os seus aparelhos de atuação “a subordinação de sua política à fração monopolista do capital, vai pelo contrario, agravar as fissuras, as contradições entre segmentos estatais, suportes de funções contraditórias”.

Na mesma perspectiva, Sposito (2006, p.74) afirma que no nível intra-urbano, o poder público “escolhe para seus investimentos em bens e serviços coletivos, exatamente os lugares da cidade onde estão os segmentos populacionais de maior poder aquisitivo; ou que poderão ser vendidos e ocupados por estes segmentos, pois é preciso valorizar as áreas.” Como consequência dessa ação, para a autora, os lugares mais afastados e reduto da população mais pobre, densamente ocupados, são expropriados desses serviços, o que agrava a situação de carência social dessa população e reafirma a produção de espaços segregados.

E é decorrente de seu desempenho espacialmente desigual enquanto provedor de serviços públicos, especialmente aqueles que servem à população, que o Governo se torna o alvo de certas reinvindicações de segmentos da população urbana e, principalmente, dos setores econômicos que atuam na cidade, nesse caso, destaque para as reinvindicações do setor imobiliário.

É fato, como apontado por Ueda (2006), que os loteamentos são impulsionadores da produção do espaço urbano. Contudo, para se construir um loteamento faz-se necessário, a abertura ou o prolongamento de logradouros públicos, como ruas e calçamento, implementação de dutos de saneamento básico, extensão das linhas de energia e de serviços de transporte público, entre outras infraestruturas necessárias para a manutenção da vida de seus moradores. Isso serve de discurso para os promotores imobiliários angariar esses recursos junto ao Estado, que a partir de seu poder financeiro e de suas articulações com poder público, em suas diversas instancias político- administravas, conseguem direciona-los para as áreas que desejam ser contempladas.

Singer (1979) observa que o poder público, ao dotar uma zona qualquer da cidade de um serviço público, desvia para essa respectiva zona demandas de empresas e moradores que, anteriormente, devido a falta de serviço em questão, davam preferência a outras localizações. Então, novas demandas estão preparadas para pagar pelo uso da terra um preço maior do que as demandas que se dirigiam à mesma zona quando esta ainda não dispunha de determinados serviços.

Logo, enquanto o governo atua na execução das obras estruturantes do espaço urbano (como, infraestrutura sanitária e sistema viário) e na promoção de serviços públicos (como, educação, saúde e lazer), o setor imobiliário, por sua vez, se apropria

desses investimentos – que são públicos – buscando antecipar as oportunidades de maior valorização e, proporcionando assim, ampliar os seus lucros sobre a terra urbana. Desta forma, segundo Lima (2011) ocorre o aprofundamento das diferenças entre os lugares na cidade, e consequentemente de seus preços no mercado imobiliário. Essa diferenciação gera uma hierarquização do espaço urbano, que resulta em oportunidades desiguais na sua apropriação, favorecendo as classes sociais com maior poder aquisitivo em detrimento dos mais vulneráveis.

É assim que algumas regiões da cidade tornam-se mais atrativas ao setor imobiliário. O que permiti ampliar significativamente a renda da terra sem maiores gastos ao setor privado. Assim potencializa o lucro dos empreendedores, que sempre buscam pelo sobrelucro de localização. Portanto, o governo também atua na promoção de novas áreas para o setor imobiliário, alterando de forma significativa a estrutura urbana (Lima, 2011), como os condomínios fechados nas áreas mais afastadas da cidade.

Nesse contexto, segundo Campos (2011) “na medida em que a existência de infraestrutura urbana liga-se a propriedade privada da terra e esta liga-se a questão da habitação, tem se que os investimentos públicos acabam por definir o preço da terra”. Essa dinâmica, portanto, acaba por influenciar significativamente onde e de que forma as diversas classes sociais distribuem-se no espaço urbano.