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Grafico 03 – Representações geradas com base nas vinte Entrevistas 1

1.3 O Estatuto do Idoso: Direitos Assegurados

O idoso tem seus direitos garantidos pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Em suas disposições preliminares, art. 1º, há o esclarecimento sobre a regulação dos direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.

E inaugurando a lista de direitos que devem ser garantidos à pessoa idosa o art. 3º determina que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

O que se pode comprovar é que, lamentavelmente, alguns dos direitos supracitados não têm sido observados e considera-se que, em nossa sociedade, é forçoso reconhecer o direito à dignidade da pessoa idosa principalmente aquela representada pelos sujeitos que compõem o corpus das pesquisas apresentadas nesse estado da arte.

E se for focada a pessoa idosa que mora em casas de repouso, pelo menos no caso específico de nossa pesquisa, esta não tem podido usufruir de seu direito à convivência familiar, embora tal garantia seja enunciada novamente no parágrafo único do artigo 3º, inciso V, que determina a priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;

Além disso, no Art. 4º fica prescrito que nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei. A esse respeito observa-se que, em nosso país, a pessoa idosa não tem tido tal direito resguardado, fato perceptível por meio das pesquisas até aqui elencadas.

Atentando para o parágrafo §1º do supracitado artigo, no qual se determina que é dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso, fica evidente que todos têm o dever de cuidar para que os direitos do idoso sejam respeitados.

Para demonstrar a gravidade de não acatamento ou desrespeito para com o idoso o texto do artigo 6º adverte sobre o dever que todo cidadão tem de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação ao Estatuto do Idoso, desde que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.

O 2º parágrafo do artigo 6º prescreve o respeito ao idoso, que consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. Este parágrafo nos impele a uma reflexão sobre a observância da manutenção da integridade psíquica e moral, bem como da preservação da identidade de uma pessoa que não tem o direito de permanecer com seus filhos mesmo querendo, que muitas vezes não tem sequer o direito de expressar sua vontade, sua opinião a respeito da forma como gostaria de viver ou morar.

O estatuto também resguarda o que são denominados como direitos fundamentais do Idoso em seu título II, capítulo I, que versa sobre o direito à vida, no artigo 8º, que preceitua que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção, por sua vez, um direito social, nos termos desta lei e da legislação vigente.

O art. 9º determina que é obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

Especificamente, no aspecto da saúde da pessoa idosa, o art. 18, do capítulo IV, prescreve que as Instituições de Saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo treinamento e capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores, familiares e grupos de autoajuda. Nessa perspectiva, o cuidador da pessoa idosa deve receber treinamento para desempenhar tal função, pois como o idoso se encontra numa fase na vida na qual está em condições de limitações físicas e/ou emocionais deve receber tratamento especializado.

É importante observar também que há regulação para a forma como deve ser prestada a Assistência Social à pessoa idosa no art. 35, que determina que todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada. No caso desse tipo de instituição a cobrança de participação do idoso prescreve-se que é facultada a cobrança de participação do idoso no custeio da entidade, no caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar.

No que se refere à moradia, o Art. 37 prescreve que é direito do idoso ter moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada.

No artigo supracitado em seus parágrafos 2º e 3º ainda são estabelecidas algumas condições que devem ser observadas pelas referidas instituições:

§ 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter identificação externa visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação pertinente.

§ 3o As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.

As medidas de proteção ao idoso estão prescritas no título III, capítulo I do art. 43, que trata das disposições gerais:

As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; III - em razão de sua condição pessoal.

Tratando-se ainda, acerca das medidas de proteção, a prescrição é que no caso de se verificar qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;

IV - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação;

V - abrigo em entidade; VI - abrigo temporário.

Abordando a política de atendimento do idoso, bem como suas linhas de ação, o capítulo 1, nos artigo 46 e 47 determinam, respectivamente, que a política de atendimento ao idoso deve ser realizada por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não

governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e que as linhas de ação da política de atendimento são as seguintes:

I - políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994; II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem;

III - serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus- tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV - serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;

VI - mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso.

Para adequação das instituições que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência deverão ser adotados os seguintes princípios, de acordo com o previsto no artigo 47:

I - preservação dos vínculos familiares;

II - atendimento personalizado e em pequenos grupos;

III - manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior; IV - participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo; V - observância dos direitos e garantias dos idosos;

Considera-se pertinente ressaltar que o artigo 47 trata de uma questão muito relevante para o idoso: a preservação dos vínculos familiares. Apreende-se, neste estudo que a pessoa idosa, especialmente, aquela que mora em casas de repouso prioriza os laços familiares. Observa-se, também que as idosas da casa de repouso que compõe o corpus em análise, praticamente não recebiam visitas de seus parentes e familiares.

O Estatuto do Idoso é uma lei que evidencia as principais necessidades do idoso e prevê as formas de atendimento de tais necessidades. Entretanto, considera-se que esta lei, dada a sua relevância, visto que está centrada num segmento da sociedade que tem crescido cotidianamente, ainda é pouco conhecida pelas famílias e pelos jovens. Considerando-se que o Brasil que era até bem pouco tempo um país de crianças já está sendo associado a um país de idosos, o que é pertinente, se se refletir sobre os dados que revelam que até 2050 a previsão é de que se chegue a ter 30% da população brasileira composta por idosos.

Considera-se que a população brasileira ainda não está sensibilizada para tal realidade, possivelmente, pelo fato de a sociedade não saber de tal informação. Ainda são perceptíveis casos de inobservância do estatuto do idoso por parte da referida população. Percebe-se que a

pessoa idosa ainda sofre muitos tipos de violência, como violência física, econômica, moral e psicológica.

Urge uma melhor divulgação do Estatuto do Idoso, bem como a sua observância em todos os seus artigos e capítulos por parte de nossa sociedade, que deve ser conclamada a conhecê-lo, a respeitá-lo de forma integral e vigiar, para garantir que a pessoa idosa tenha um tratamento adequado pela sociedade, especialmente, pelas suas famílias.

2 APROFUNDAMENTO TEÓRICO QUANTO AO OBJETO DE PESQUISA

Neste capítulo, apresentar-se-ão as proposições teóricas em que se baseiam a Teoria das Representações Sociais - TRS e suas ampliações; a proposta dos Estudos Críticos do Discurso – ECD, com base em Teun van Dijk (2008). E proceder-se-á ainda, a uma revisão teórica da TRS, focando, notadamente, nos trabalhos de Moscovici (2001, 2009), Jodelet (2001), Doise (2001) e Abric (2001), às complementações teóricas elaboradas por Sá (1998) e Nóbrega (2001), por serem obras de considerável contribuição à grande teoria. Igualmente, discutir-se-á sobre a questão da consideração da velhice como um objeto de representação social e as possíveis implicações perceptíveis nos posicionamentos e atitudes das idosas moradoras de casas de repouso.

Faz-se necessário que seja definido o conceito de representação adotado no presente estudo com vistas a alcançar o objetivo proposto de comprovar que a velhice pode ser concebida como um objeto de representação social composto por dimensões múltiplas.

Não será feita uma apresentação extenuante da TRS, também conhecida como Grande

Teoria, pois se visa enfatizar apenas os aspectos conceituais fundamentais, notadamente, o de

representação social. Dessa forma, se abordará a origem do conceito, as bases da teoria moscoviciana e suas principais abordagens.

É conveniente elucidar que pretende-se desenvolver uma pesquisa sobre as representações acerca da velhice, trabalhando com a Teoria das Representações Sociais, mas de forma adaptada, pois nossa pesquisa situa-se na área da Linguística Aplicada, particularmente, nos Estudos Críticos do Discurso, nos termos preceituados por Teun van Dijk (2000, 2003, 2008). Denominamo-lhe “adaptada” porque não se trabalhará propriamente com a TRS moscoviciana (1976, 2009), mas com a adaptação da teoria, tomando como base Jodelet (2001) para elaboração de categorias quanto ao estudo discursivo na perspectiva crítica, conforme Teun van Dijk (2000, 2003, 2008). Desse modo, pretende-se inaugurar uma teoria analítica do discurso na perspectiva crítica focando na abordagem de Jodelet (2001) da TRS e dos ECD de Teun van Dijk (2000, 2003, 2008) focando nas representações construídas por meio dos temas presentes nos discurso dos sujeitos, que constituirão o corpus deste estudo - as senhoras idosas moradoras de uma casa de repouso.

O presente estudo centrar-se-á nos discursos de idosas que moram em uma casa de repouso localizada na Avenida da Universidade, nº 3106, no bairro Benfica, na cidade de

Fortaleza, estado do Ceará, CEP 60.020-181, porque supom-se que essas idosas têm diferentes representações sobre a velhice e pretende-se identificá-las e analisá-las.

Esta pesquisadora apresenta-se mais propensa a trabalhar com os aspectos discursivos dos estudos com linguagem. E, no que concerne à temática em questão, justifica-se devido a algumas preocupações que provocaram um sentimento de inquietação, na doutoranda, ao serem observados alguns problemas pelos quais passavam as hóspedes do local em que esta também estava hospedada no curso do doutoramento: um convento, que complementa sua receita hospedando pessoas que estejam em tratamento de saúde pela capital, ou estudantes, que dispusessem de referências de antigos moradores ou hóspedes e também idosas, sob a observância dos critérios anteriores, em duas modalidades: a) aquelas que recebam um salário mínimo e contribuem com as despesas de água, energia e alimentação, conforme quota estabelecida internamente, dispondo de quartos mais simples, mantidos e organizados por elas próprias e b) aquelas que podem pagar uma mensalidade superior ao salário mínimo, que por sua vez, têm direito a quartos maiores e organizados também conforme suas preferências. Nessa convivência, que inicialmente era apenas na situação de hóspede, e que mais tarde passou a ser a de também moradora da casa, pôde-se perceber que aquelas idosas apresentavam muito interesse em conversar e mostrar suas opiniões acerca de problemas sociais, mas tinham pouca oportunidade para fazê-lo. Diante disso, surgiu a ideia de desenvolver o presente trabalho de pesquisa. E para ver a exequibilidade da pesquisa recebeu- se a orientação para desenvolver um projeto piloto, uma amostra do que fora realizado apenas com três das trinta e duas senhoras moradoras da casa de repouso denominada Recanto Sagrado Coração. Atualmente, o estudo conta com apenas vinte idosas entrevistadas, uma vez que a seleção tem como requisito a idade e a lucidez, para poder contribuir com o objetivo da pesquisa, bem como o interesse em colaborar com a realização do estudo.

A perspectiva do discurso com a qual se pretende trabalhar está embasada em Teun van Dijk (2003, 2008), que preceitua um estudo crítico da realidade, em seus termos, conforme se comentou neste trabalho, deve contribuir para a mudança ou a melhora da vida da sociedade.

Cônscios de seu papel enquanto linguistas, analistas do discurso crítico, sabe-se que alterar a realidade, melhorá-la em termos de ações será impossível, até porque esse não é o papel do linguista, mas tem-se convicção de que o esclarecimento, a evidenciação, a publicização de problemas sociais que podem vir à tona a partir do estudo dos discursos dos sujeitos, que estão imersos nessa natureza de problemas, poderá ser útil, bem como vir a fomentar medidas, reflexões por profissionais de outras áreas como terapeutas, psicólogos,

geriatras, educadores físicos, cuidadores, enfermeiros, ou até mesmo, levar à reflexão àquelas famílias que muitas vezes não sabem como lidar com seus idosos, por não estarem em sintonia com a forma como eles pensam e se sentem diante da velhice, às vezes por não mais se sentirem úteis aos filhos, conhecendo a dura face de se sentir como estorvo, atrapalhando a vida dos jovens; e ainda, especialmente aos órgãos públicos responsáveis por assegurar ao idoso seus direitos e medidas de proteção, conforme preceitua o Estatuto do Idoso (Lei nº 10741/01.10.2003).

Ressalte-se que este trabalho tem como ponto determinante o discurso da pessoa idosa e se configura como um estudo de linguagem; e buscou-se, para tanto, outras fontes teóricas em virtude da pretensão em trabalhar o Discurso sem desprezar sua dimensão afetiva, como preceitua Spink (2011, p.98) “as representações são também uma expressão da realidade intraindividual; uma exteriorização do afeto” e essa dimensão afetiva poderia ser melhor compreendida, abrangendo o processo de elaboração dessa representação, no caso desse estudo, possibilitando a visualização da forma como os sujeitos em questão se reportavam à

velhice, tendo em vista suas interações nesse espaço.

Considera-se que o presente estudo pode ser útil para todas as áreas já mencionadas, bem como para a própria linguística que não tem dentre as pesquisas consultadas para a elaboração do estado da arte, mesmo após a realização de uma extenuante procura dentre todas as instituições de ensino superior, tanto em cursos de mestrado quanto de doutorado, trabalhos que tenham sido embasados com as teorias as quais nos propomos desenvolver este estudo, muito menos abordando a dimensão afetiva conforme fora aventado anteriormente citando-se Spink (2011).

É relevante ressaltar que esta pesquisa está situada na grande área Linguística, na linha denominada Linguística Aplicada ao Ensino - L.A, especificamente nos Estudos Críticos do Discurso - ECD com base em van Djik (2000, 2003, 2008) e será desenvolvida interepistemologicamente entre a área supracitada e a Teoria das Representações Sociais, de Moscovici (2009).

Cientes de que não se pode estudar o discurso de um sujeito sem levar em consideração aspectos, como por exemplo, o seu sentimento de pertença a um grupo social, a uma determinada cultura e/ou história, muito menos se pode fazê-lo desconsiderando a sua dimensão cognitiva e afetiva (crenças, valores, representações), razão pela qual acedemos à postura de que os ECD poderão ser desenvolvidos a partir do aporte teórico-metodológico da TRS, ainda que de forma adaptada, visto que esta não é uma pesquisa pura em RS, pois apesar de termos observado o que se preceitua numa pesquisa etnográfica, haja vista o fato de a

pesquisadora ter morado no mesmo espaço que os sujeitos investigados correspondendo a certos padrões típicos de pesquisas Etnográficas, a sua análise terá outra teoria que norteará sua construção metodológica, conforme Bardin (2012), mais especificamente a Análise de Conteúdo. Para tanto, passaremos a uma breve exposição acerca da Teoria das Representações Sociais - TRS, na perspectiva moscoviciana.