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O Evangelho de Maria Madalena

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3 A DIAKONIA NO NOVO TESTAMENTO

3.3 MARIA MADALENA (Lc 8,1-3)

3.3.2 O Evangelho de Maria Madalena

p. 165).

Para Schüssler Fiorenza (1992, p. 346-348) as formas de interpretação e a legitimação das escrituras serviam aos interesses das funções políticas da igreja:

Os evangelhos canônicos mencionam mulheres tais como Maria Madalena e Salomé como discípulas de Jesus. Grupos gnósticos e outros apóiam-se nessas tradições para reclamar que as mulheres eram autoridades apostólicas para a recepção de revelação e de ensinamentos secretos. [...] Maria Madalena é mencionada nos quatro evangelhos canônicos como a primeira testemunha do evento e da fé pascal. No entanto, o evangelho de Lucas já tenta diminuir seu papel de primeira testemunha frisando que o Senhor ressuscitado apareceu a Pedro por um lado e omitindo, por outro uma aparição pascal às discípulas mulheres. O terceiro evangelista enfatiza também que “as palavras das mulheres pareceram aos onze como desvario, e não lhes deram crédito” (Lc 24,11). [...] A Sophia Jesus Christi narra que o redentor aparece aos doze e às sete discípulas mulheres que o seguiram da Galiléia a Jerusalém. Entre as discípulas mulheres somente Maria Madalena é destacada pelo nome. [...] O Evangelho de Felipe e o Diálogo do Redentor mencionam Maria Madalena com duas outras Marias. [...] Nas Grandes Perguntas de Maria, Cristo dá revelações e ensinamentos secretos a sua discípula privilegiada Maria Madalena, enquanto o Evangelho de Tomé alude ao antagonismo entre Pedro e Maria Madalena. [...] Em Pistis Sophia, escrito do século terceiro, Maria Madalena e João têm lugar de primazia entre os outros discípulos. [...] No Evangelho de Maria escrito do século segundo. No fim da primeira parte, Maria Madalena exorta os discípulos a proclamarem o evangelho apesar do medo e da ansiedade.

3.3.2 O Evangelho de Maria Madalena

O evangelho de Maria Madalena é o único Evangelho que aparece com designação de nome de mulher que se tem conhecimento, por isso e também por vários outros motivos desperta grande interesse na figura de Maria Madalena e nos e nos acontecimentos que a envolve nos inícios do cristianismo.

A origem do Evangelho de Maria é desconhecida, alguns argumentam, de forma não muito convincente que o Evangelho foi escrito no Egito. Esta sugestão é baseada no mito Gnóstico que, de acordo com a maioria dos exegetes, está por trás do texto e sobre o fato de que todos os três manuscritos do Evangelho de Maria foram encontrados no Egito. Para Faria (2004, p. 136), é uma pena que este evangelho, o qual chama de “preciosidade”, não faça parte dos evangelhos canônicos.

Escrito, possivelmente, no ano 150 da E.C., esse evangelho, em sua versão copta (língua do Egito), foi encontrado em vasos enterrados perto de um mosteiro, no alto Egito, em uma localidade chamada Nag Hammadi. A

Madalena desse evangelho se parece com a dos evanagelhos canônicos, com a diferença que no apócrifo ela assume seu papel de mulher apóstola. A mensagem contida no evangelho de Maria Madalena se aproxima daquela contida no Novo Testamento, onde existe a intenção de incentivar os discípulos que manifestaram medo e insegurança, a ter a certeza da grandeza do Salvador, e que apesar do seu sofrimento devem sair e pregar o evangelho. Isso pode ser comprovado na primeira parte dos escritos do Papiro 8.502 de Berlim:

1. Depois de dizer isto, o Bem-aventurado os saudou a todos, dizendo:

“A paz esteja convosco! Tende a minha paz! Ficai atentos para que ninguém vos iluda com palavras como estas: ‘Vede aqui! ’ ou Vede ali’! Na realidade, o filho do homem está dentro de vós. Segui-lo! Quem o procura o encontra. 2. Ide, portanto, e pregai o evangelho do reino. Não acrescentei nenhum

preceito àquilo que vos ordenei; não vos dei nehuma outra lei, como um legislador, para que não tenhais dúvidas sobre o que vos ensinei”.

Ditas estas palavras, retirou-se.

3. Eles ficaram tristes e choraram muito. Disseram: “Como podemos ir aos gentios e pregar-lhes o evangelho do reino do filho do homem? Nunca foi anunciado entre eles. Devemos nós anunciá-lo?”

4. Levantou-se, então, Maria, saudou a todos e disse-lhes: “Não choreis, irmãos, não fiqueis tristes nem indecisos. A sua graça estará com todos vós e vos protegerá. Louvemos antes a sua grandeza, por nos ter ensinado e nos ter enviado aos homens”.

Falando deste modo, Maria os reanimou e eles começaram a preparar-se para seguir as palavras do Salvador (BÍBLIA APÓCRIFA, 2002, p. 139-140).

O evangelho de Maria aborda duas questões amplamente discutidas na Igreja primitiva: (1) - a validade do ensino entregue por Jesus a Maria Madalena através de visões ou aparições (2) - a liderança e a autoridade das mulheres. Madalena é retratada no evangelho de Maria Madalena como um discípulo ideal que compreende Jesus e suas palavras, e desempenhando um papel de liderança entre os discípulos depois que Jesus se vai. Depois que Jesus se afasta os discípulos chorando perguntam como eles vão pregar o evangelho do reino do filho do Homem, Madalena surge como aquela que consola e instrui os discípulos masculinos. Ela é retratada como alguém que encoraja os discípulos a focalizar a grandeza do filho de Deus, em vez de focar no seu sofrimento, assim com relação ao Evangelho de Maria se aproxima de todos os Evangelhos do Novo Testamento.

Em minha opinião o principal objetivo do Evangelho de Maria Madalena é incentivar os discípulos a sair e pregar o evangelho. O evangelho de Maria revela sua principal finalidade através da repetição de temas. A instrução do Salvador aos discípulos para ir e pregar o evangelho do Reino ocorre duas vezes (Evangelho de Maria 8.21-22 e 18.17-21) e outras partes do evangelho estão intimamente relacionadas a ela. A chamada do Salvador para proclamar o evangelho é incorporada em uma série de exortações finais, em que os discípulos são convidados se convencerem de sua nova

identidade e para procurar e seguir o Filho do Homem entre eles, levando a paz ao invés de confusão (Evangelho de Maria 8.12, 9,4). […] Maria Madalena, teria encourajado eles a voltar para o interior de seus corações, onde os discípulos começam, então, a discutir as palavras do Salvador, aparentemente como preparação para proclamar o evangelho (Evangelho de Maria 9,12-23) (BOER, 2004, p. 56-57, nossa tradução).

No Novo Testamento, Maria Madalena é retratada como tendo presenciado Jesus morrendo na cruz, como tendo encontrado seu túmulo vazio e como sendo a mulher que recebeu a revelação sobre Jesus estar vivo. Em cada evangelho, Maria Madalena, portanto, está associada ao sofrimento de Jesus e à transcendência de seu sofrimento.

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