2.5 O SISTEMA DE FORMAÇÃO DE PILOTOS CIVIS NO BRASIL
2.5.2 O Exemplo do Passado: Programas EVAER e ESVAR
Desde a fundação da VARIG fora prevista uma escola de pilotagem a fim de capacitar e formar profissionais para compor o quadro de funcionários da companhia na qualidade de tripulante. Com a criação do departamento aero desportivo (Varig Aero Esporte – VAE) em 1938. 14 anos após, este departamento deu lugar à Escola Varig de Aeronáutica (EVAER), com maior grau de especialização e profissionalismo. Juntamente com o programa EVAER, também foi criado um convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI) para a formação de técnicos em manutenção de aeronaves (RIBEIRO, 2008a).
Conforme Ribeiro (2008b) a EVAER surgiu juntamente com a ESVAR, no momento em que a aviação comercial estava por começar a exigir a uma preparação muito mais qualificada de seus técnicos e tripulantes devido aos avanços da tecnologia aeronáutica e constante modernização da malha aérea. Tal especialização iria também abranger, as demais áreas correlatas ao desenvolvimento da aviação comercial e de linha aérea.
A EVAER foi criada para a formação de pilotos comerciais e a ESVAR para a formação de mecânicos profissionais no âmbito da aeronáutica, ambas as escolas com o mesmo objetivo de melhor atender a aviação comercial Brasileira, aumentando dessa maneira significantemente os níveis de segurança operacional (RIBEIRO, 2008b).
A Aeronáutica colaborou em muito para montar o que efetivamente, seria a primeira escola de aviação do país, criada com o fim específico de formar pilotos comerciais, entregando desta maneira a EVAER aviões que estavam sendo desativados para treinamento da FAB (Força Aérea Brasileira). A escola recebeu também uma elevada quantidade de peças de reposição destas mesmas aeronaves.
A VARIG importou dos Estados Unidos um lote de aviões, que estavam em condições para o treinamento e a realização de voos por instrumentos (RIBEIRO, 2008b).
Quanto à seleção de pilotos comerciais, ao candidato eram aplicados testes psicotécnicos, com o objetivo de conhecer o indivíduo nos seus diferentes níveis psicológicos e, detectando assim seu senso de observação e reflexos. Para ser aprovado no curso, o candidato era submetida às provas de conhecimentos gerais, língua portuguesa, ciências físicas e exatas, devido ao fato de ser requisito a conclusão do curso científico, hoje correspondente ao ensino médio. Os estudos eram custeados tanto pelo Ministério da Aeronáutica e quanto pela VARIG. E, o Curso de Piloto Comercial tinha a duração de dois anos, sendo dividido em duas fases distintas: a fase teórica e posteriormente a fase prática. Na primeira, abordavam-se conhecimentos que atendiam aos requisitos estabelecidos pelo Ministério da Aeronáutica e aos objetivos propostos pelo corpo docente da VARIG. Na segunda etapa então eram iniciadas as horas práticas de voo, levando em consideração a dominância do instruído em manobras elementares, voos de cruzeiro e assim como voos de Acrobacias (Boletim Informativo do Museu da VARIG, nº 16, julho de 1981 apud RIBEIRO, 2008c).
Com o passar dos anos, mais precisamente na década de 90 as aulas eram diárias e por vezes estendendo-se até tarde da noite, principalmente na faze de aprendizagem do Jet
Training. No primeiro semestre havia uma forte interação entre as aulas teóricas e aulas práticas de voo, abrangendo integralmente os períodos matutinos e vespertinos. Para a instrução prática utilizava-se as aeronaves Piper Arrow PA-28 (Cherokee) e o simulador AST-300, este auxiliando o aluno com a familiarização do equipamento. Aproximadamente cada aluno voaria 65 horas divididas estas entre a aeronave real e o simulador, também receberia 600 horas de instrução teórica, durante os 3 primeiros meses (RIBEIRO, 2008d).
Esta integração permitiria aos melhores alunos menos horas de voo para sua formação. Onde, era cobrado uma filosofia rígida de operação, devendo os alunos-piloto ter total proficiência com instrumentos, voo noturno e comunicação aeronáutica. Nos 3 meses seguintes eram completados cerca de 25 horas em aeronaves multimotores, tal como o Embraer Sêneca. Os pilotos-alunos tinham contato com instrumentos sofisticados e de alta precisão para época, como por exemplo, o Course Deviation Indicator (CDI)9, Radio MagneticIndicator (RMI)10, Flight Director, Auto Pilot e Radares Meteorológicos.
Os últimos 3 meses do curso eram dedicados ao Jet Training e juntamente era oferecida oportunidade de o piloto-aluno voar como observador em voos domésticos, realizados pela companhia. O Jet Training servia como ferramenta de transição do avião movido a pistão para o avião a jato e coordenação de cabine em equipe. Nesta etapa do curso o piloto-aluno voava como tripulação em aproximadamente de 40 horas, sendo 20 horas como piloto em comando (PIC) e 20 horas como copiloto. Para cada copiloto, somente na EVAER, o custo de formação aproximava-se da cada dos 67.000 dólares (RIBEIRO, 2008d).
Nota-se que a formação acompanhada com tamanha dedicação assim como acontecia no caso dos tripulantes da VARIG, direcionava o perfil do profissional para seguir diretamente a cultura organizacional da empresa desde o início da formação deste aeronauta, gerando resultados significantemente positivos, desta maneira a empresa pode ‘esculpir’ o profissional que irá atuar, conforme os padrões estipulados, sem a consequência deste trazer vícios e técnicas de pilotagem não condizentes com aqueles instituídos pela instituição.
9 CDI – Course Deviation Indicator, fornece dados referentes a navegação horizontal da aeronave. (Nova
Síntese da Navegação Aérea. MONTEIRO, M, A., 2012)
10 RMI – Radio Magnetic Indicator, aponta a direção de estação que emita onda de rádio (NDB/VOR)
3 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Participaram da entrevista, 56 pilotos-alunos do curso de Piloto Privado e Comercial, todos na categoria avião, onde pode-se observar, com base na tabela 2, que a grande maioria dos adeptos ao curso de pilotagem, são pessoas do sexo masculino, compreendendo 94,6% da amostra pesquisada.
Tabela 2 – Sexo
Descrição Quantidade %
Masculino 53 94,6
Feminino 3 5,4
Total 56 100,00
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Os dados mostram que atualmente, embora haja um número de adeptas femininas neste mercado, o cenário da aviação é dominado quase que integralmente por homens quando se tratando da operação de pilotagem em si. No gráfico 1, encontra-se demonstrado o percentual para uma melhor visualização.
Gráfico 1 – Sexo
Fonte: Elaborado pelo Autor
Quanto da faixa etária dos ingressos no mundo da aviação, esta mostra-se bastante homogênea, variando pouco entre todas as faixas de idades, questionadas.
Tabela 3 – Faixa Etária
Descrição Quantidade %
Até 19 anos 9 19,6
Entre 20 e 25 anos 14 25
Entre 26 e 30 anos 20 26,8
Maior que 30 anos 13 28,6
Total 56 100
Fonte: Elaborado pelo Autor
Pode-se constatar que 36% das respostas adquiridas são de pilotos com a faixa etária entre 26 a 30 anos.
Com idade entre 20 a 25 anos representam 25%, que correspondem a 14 respostas obtidas.
23% dos respondentes tem idade maior que 30 anos e somente 16% possuem idade até 19 anos, conforme pode-se observar no gráfico 2 abaixo.
Percebe-se com isto que a maioria das pessoas que adentram a cursos de formação aeronáutica, o fazem após se estabilizarem financeiramente afim de arcar com os custos de formação, por isso é comum encontrar pessoas formadas nas mais diferentes áreas de atuação (advogados, contadores, dentistas, etc.) voando remuneradamente.
Gráfico 2 – Faixa Etária
Fonte: Elaborado pelo Autor
Quanto das dificuldades encontradas para a formação, o que se observou, foi que a dificuldade principal é como se esperava, a questão financeira, onde 69,6% da população estudada aponta tal dificuldade como a mais severa e restritiva.
Tabela 4 - Dificuldades Descrição Quantidade % Financeiro 39 69,6 Disponibilidade de tempo 1 28,6 Intelectual 16 1,8 Total 56 100,0
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Relataram ainda que é real a necessidade de haver outras formas de custear o curso, como bolsas da ANAC e programas de incentivo do governo, visto que não há uma formação na área da aviação civil, de caráter público, como acontece em demais áreas de atuação.
A segunda maior dificuldade apontada foi à disponibilidade de tempo para voar, 28,6% dos questionados, afirmam ser este o pior problema enfrentado durante a formação. Pois, relatam que quem dispõe dos recursos necessários à formação, geralmente encontra uma agenda muito apertada para conciliar a vida profissional atual e o tempo necessário para dedicação para sua formação, como pode ser observado no gráfico 3.
Gráfico 3 – Dificuldades
Tabela 5 – Tempo de conclusão PC
Descrição Quantidade %
1 ano ou menos 12 21,4
Entre 1 e 2 anos 27 48,2
Mas que 2 anos 17 30,4
Total 56 100,0
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Com relação há quanto tempo estima-se em concluir o curso de Piloto Comercial dos 56 respondes a grande maioria mencionou que é 1 a 2 anos, conforme pode-se averiguar no gráfico 4.
Gráfico 4 – Tempo de conclusão PC
Fonte: Elaborado pelo Autor
Ou seja, 48,2% do pessoal, estima completar o curso de piloto comercial entre 1 e 2 anos.
30,4% devido as dificuldades enfrentadas, estimam levar mais que 2 anos para concluir o curso desde o PC teórico ao PC práticos.
Àqueles que dispõem de recursos financeiros, disponibilidade para voar e apoio, pretendem terminar esta etapa em menos de 1 ano, compreendendo este grupo 21,4% das pessoas pesquisadas.
Tabela 6 – Fonte de Recursos Descrição Quantidade % Próprios 29 51,8 Familiares 18 32,1 Financiamento ou empréstimo 9 16,1 Total 56 100,0
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Na sequência apresenta-se o gráfico 5, que diz respeito a fonte dos recursos despendidos para Conclusão do curso de Piloto Comercial.
Gráfico 5 – Fonte de recursos
Fonte: Elaborado pelo Autor
A respeito da origem dos recursos despendidos, 51,8% das pessoas, apontaram que pretendem custear através de recursos próprios.
Para 16,1% dos respondentes, pretendem financiar através de bancos, empréstimos e outras fontes e os demais, citaram ajuda familiar como fator principal para angariar tais recursos.
Tabela 7 – Habilitação MLTE
Descrição Quantidade %
Sim 51 91,1
Não 5 8,9
Total 56 100,00
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Com relação ao questionamento sobre a pretensão de realizar o cheque da sua licença com habilitação MLTE (multimotores), a grande maioria respondeu que ‘sim’, conforme demonstrado no próximo gráfico.
Gráfico 6 – Habilitação MLTE
Fonte: Elaborado pelo Autor
Nota-se com isso a consciência entre os pilotos-alunos quanto da obtenção de uma habilitação que lhes permitam voar aeronaves com mais de um motor, todos informaram que no cenário atual, a fim de ingressar em uma linha aérea, é imprescindível tal habilitação, sendo que 91,6% pretendem checar suas licenças de piloto comercial, juntamente com esta habilitação em multimotores (MLTE). Desta maneira, estando aptos a participarem de certames de empresas aéreas regulares que em sua totalidade operam aeronaves multimotoras