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2.2. O E SPAÇO P ÚBLICO

2.2.1. O F UNCIONAMENTO DOS E SPAÇOS E A V IVÊNCIA U RBANA

Quando se analisa um espaço público, além de uma análise e levantamento cuidadosos e detalhados das suas componentes históricas, morfológicas, paisagísticas e funcionais, importa igualmente estudar o seu efetivo funcionamento, “ (…) descobrindo quem o percorre ou nele permanece, quando, porquê

e de que modo, que atividades acolhe no dia-a-dia, que função empresta à cidade e de que modo se relaciona com a vivência dos espaços urbanos envolventes” (Silva et al., 2011).

Usualmente, um indivíduo, quando questionado sobre um espaço público onde gosta de estar, adjetivos tais como “seguro”, “divertido” ou “acolhedor” tendem a surgir repetidamente. Este tipo de adjetivos descreve qualidades intangíveis, isto é, aspetos qualitativos de um espaço de natureza tendencialmente subjetiva. No entanto, é precisamente este tipo de aspetos que permitem o estudo do funcionamento e da vivência urbana dos espaços públicos de uma cidade.

Reconhecendo limitações e dificuldades a diversas tentativas de medir quantitativamente estas características intangíveis, o grupo de investigação Project of Public Spaces (2000) analisou mais de mil espaços públicos em todo o mundo, tendo encontrado quatro características-chave para o sucesso destes espaços: sociabilidade, usos e atividades, acessos e ligações e conforto e imagem (Figura 2.8).

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Salvo indicação contrária, a redação deste ponto teve por base a obra de Project for Public Spaces, Inc. (2000)

Espaços Públicos, Processos de Desenvolvimento Urbano e Períodos Morfológicos na Cidade do Porto

Figura 2.8 – Quadro de características-chave proposto por Projecto of Public Spaces, Inc. (2000)

No que diz respeito à sociabilidade, quando os indivíduos se reúnem e se sentem confortáveis, nomeadamente interagindo com estranhos, estes tendem a sentir um forte sentido de espaço. Posto isto, esta característica constitui uma difícil mas inequívoca qualidade de um espaço público.

Quanto aos usos e atividades, estes são os pilares básicos de qualquer espaço público. Constituem a razão primária que leva um indivíduo a dirigir-se ao espaço e, igualmente, que o leva a regressar. Quando os usos e atividades de um espaço público escasseiam, o seu sucesso está, naturalmente, comprometido.

Um espaço público bem sucedido é igualmente aquele ao qual é fácil aceder, encontrando-se perfeitamente legível e onde os indivíduos circulam com facilidade. A legibilidade de um espaço é, por conseguinte, uma qualidade fundamental que está fortemente relacionada com a sua envolvente, por exemplo, a existência de paredes cegas na envolvente do espaço condiciona determinantemente a sua legibilidade e permeabilidade.

O funcionamento dos espaços públicos é igualmente condicionado pelo conforto e imagem. De facto, a perceção de segurança, limpeza, a escala dos edifícios envolventes e o próprio encanto do espaço são características fundamentais no momento de escolher um espaço público onde ir. O simples facto de possuir locais confortáveis para sentar pode determinar o sucesso ou insucesso de um espaço.

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Importa ainda acrescentar que a forma e o desenho dos espaços públicos são igualmente determinantes para o seu sucesso uma vez que se relacionam diretamente com as quatro qualidades-chave anteriormente referidas. A forma constitui o suporte do funcionamento dos espaços.

Segundo os autores de How to Turn a Place Around, a chave para o estudo do funcionamento dos espaços públicos e das suas quatro qualidades-chave é a observação. De facto, “quando se observa um

espaço público é possível compreender como na realidade este é utilizado; a sua observação permite quantificar algo que, de outro modo, constituiriam apenas intuições ou opiniões” (Project for Public

Spaces, Inc., 2000) (tradução livre).

Quando se observa um espaço público, aspetos tais como a proporção de pessoas em grupo, o número de mulheres, idosos e crianças, as atividades desenvolvidas ou mesmo simples demonstrações de afeto devem ser tidos em consideração.

Posto isto, Project of Public Spaces, Inc. (2000) refere cinco possíveis técnicas de observação que poderão ser levadas a cabo conjuntamente ou separadamente, no sentido de avaliar o funcionamento de espaços públicos: mapas de comportamento, contagens, monitorização, medição de rastos e questionários e entrevistas.

O mapa de comportamento (Figura 2.9) constitui uma técnica de observação que permite estudar as atividades desenvolvidas pelos indivíduos, numa dada área, num período de tempo limitado. É uma técnica bastante valiosa que consiste no registo dos grupos de pessoas, da dimensão desses grupos, do sexo desses indivíduos e das atividades que se encontram a desenvolver.

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As contagens constituem um método que permite recolher informação quantitativa sobre os utilizadores de um espaço, num local específico, por um determinado período de tempo. Estas podem facilmente ser traduzidas em elementos gráficos que permitem uma rápida perceção inicial do funcionamento dos espaços (Figura 2.10).

Figura 2.10 – Exemplo de um gráfico de contagens (Project of Public Spaces, Inc., 2000)

A monitorização é uma técnica simples na qual o observador segue os visitantes de um espaço público com o intuito de perceber as suas movimentações no seu interior. Através do registo num mapa do local público dessas movimentações é possível perceber quais os locais do espaço mais percorridos e utilizados.

À semelhança da monitorização, a medição de rastos permite, de certa forma, recriar o percurso dos visitantes de um espaço público bem como dos locais desse espaço mais utilizados. Tal pode ser feito, respetivamente, através do registo de evidências físicas (resíduos, por exemplo) ou dos caminhos erodidos.

Por último, os questionários e entrevistas têm a grande vantagem de permitirem medir atributos, perceções e motivações que não podem ser obtidos por nenhuma outra técnica de observação. Esta técnica, dependendo do tipo e quantidade de informação que se pretende obter, pode ser levada a cabo através de entrevistas informais, entrevistas guiadas (estruturadas) ou questionários diretos.

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