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2.2. O E SPAÇO P ÚBLICO

2.2.2. O S E SPAÇOS P ÚBLICOS DA C IDADE DO P ORTO

“Os espaços públicos da cidade do Porto sofreram e sofrem mutações constantes que amplificam o seu sentido e significado de uso, função e forma.” (Barbosa, 2011) (Figura 2.11).

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Salvo indicação contrária, a redação deste ponto teve por base o estudo desenvolvido por Barbosa (2011) 0 100 200 300 400 500 600 N ú m e ro d e I n d iv íd u o s Horas de Contagem

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Espaços Públicos, Processos de Desenvolvimento Urbano e Períodos Morfológicos na Cidade do Porto

Figura 2.11 – Avenida dos Aliados no início do século XX (Alvão, 1993)

De acordo com a autora, os diversos espaços de uso público constituintes da cidade do Porto são reflexo da sua história e crescimento, estando naturalmente dependentes da morfologia do território, da sua implantação geográfica e das várias transformações que o Homem vai empreendendo. Poderá, por isso, dizer-se que os espaços urbanos que se encontram um pouco por toda a cidade caracterizam e clarificam o seu próprio crescimento, desenvolvimento e evolução.

Barbosa (2011) refere igualmente que os espaços públicos na cidade foram surgindo ao longo do tempo de formas diversas:

De forma pontual em áreas já amplamente consolidadas, reflexo das transformações que vão acontecendo ao longo do tempo. São normalmente os espaços mais tradicionais da cidade tais como praças, largos e jardins.

Espaços surgidos como resultado de grandes renovações, como consequência de grandes eventos ou motivações especiais.

Espaços surgidos como resultado de uma intervenção de raiz, geralmente associados às áreas de expansão da cidade.

Através destes processos de formação foram surgindo múltiplos espaços públicos na cidade (Barbosa (2011) aponta cerca de 140), existindo um conjunto alargado de denominações que caracterizam estes espaços: alameda, avenida, cais, calçada, campo, esplanada, jardim, largo, praça, praceta, terreiro e viela.

Os primeiros espaços públicos da cidade surgiram na idade média no século XII. Nesta altura, o aumento das trocas comerciais e a intensificação do comércio marítimo levaram ao aparecimento dos primeiros espaços públicos de trocas comerciais, como é o caso da Praça da Ribeira (Figura 2.12). Os espaços abertos, tais como os largos, apareciam também junto às muralhas da cidade, associados às portas que permitiam fazer a entrada e saída da cidade, que correspondiam muitas vezes ao final de uma rua ou a adros de igrejas.

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Figura 2.12 – Praça da Ribeira no início do século XIX (Alvão, 1993)

Por volta do século XVI, os ideais renascentistas começaram a ter reflexo na cidade do Porto através de um processo de renovação gradual dos espaços públicos então existentes, numa lógica em que estes constituíam “lugares nobres por excelência na nova conceção do espaço urbano” (Teixeira, 2001). O primeiro espaço verde da cidade, a Alameda da Cordoaria (Figura 2.13) surgiu numa altura em que os espaços públicos existentes correspondiam, na sua maioria, a alargamentos de rua que serviam sobretudo para a realização de pequenas feiras.

Figura 2.13 – Alameda da Cordoaria no século XIX (Alvão, 1993)

Por esta altura, a cidade começou a ser objeto de transformações de fundo para a época em questão. Dessas transformações destacam-se os primeiros grandes “rasgamentos da cidade” como é o caso da rua de Santa Catarina (Figura 2.14) e da rua de S. Bento. Este período de prosperidade e riqueza, onde o Barroco começou a prosperar na cidade, refletiu-se igualmente nos espaços urbanos e edifícios. Foi também nesta altura que surgiu o projeto para mais uma ampla praça na cidade, semelhante à da

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Ribeira, mas na zona de expansão da cidade, a na altura designada Praça Nova (atual Praça da Liberdade) (Figura 2.15).

Figura 2.14 – Rua de Santa Catarina no século XX (Alvão, 1993)

Figura 2.15 – Praça Nova, atual Praça da Liberdade, no século XX (Dias e Marques, 2002)

No século XVIII, iniciou-se uma “espécie de consciencialização de que era necessária uma

organização adequada dos espaços, através da sua clarificação e separação, entre aquilo que é de uso público e privado” (Barbosa, 2011). Neste contexto foram pensadas uma série de ruas e foram

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Entre 1779 e 1790 iniciou-se um novo processo importante de abertura de novas ruas estruturantes da cidade. Entre elas destacam-se a rua da Boavista e a marginal que permitiu a ligação da Praça da Ribeira à Foz.

Foi por volta de 1830 que se concretizaram importantes projetos anteriormente pensados. Neste caso, de destacar o prolongamento da Rua da Boavista, a abertura do Jardim de S. Lázaro e novas ligações junto ao rio Douro. Neste século, mais especificamente em 1868 é aberto um importante elemento da estruturação da cidade – a praça Mouzinho de Albuquerque (Figura 2.16).

Figura 2.16 – Praça Mouzinho de Albuquerque em 1905 (RF, 2010)

Já no século XX o planeamento da cidade e dos seus espaços públicos passou a incluir uma visão mais global, sendo este século particularmente rico em documentos de planeamento, tal como já foi visto anteriormente (Quadro 2.4).

Desde então, os espaços públicos foram-se desenvolvendo de acordo com as transformações da própria cidade, maioritariamente associadas ao poder central municipal. Foi já no âmbito da Porto 2001, ano em que a cidade for capital europeia da cultura, que se deram lugar a profundas alterações, sobretudo na área mais central da cidade, que compreenderam desde renovações de infraestruturas até transformações da própria forma e imagem da cidade. Neste âmbito, de realçar igualmente a abertura do Metro do Porto que introduziu mudanças importantes na estrutura da cidade.

Não obstante estas últimas transformações de fundo referidas no âmbito da Porto 2001, a verdade é que estes projetos de maior folego e ambição escassearam na história urbana da cidade, marcada sobretudo, como se viu, pela abertura sucessiva e individualizada de ruas, algumas avenidas e espaços públicos que têm vindo a perder cada vez mais o estatuto e nobreza de outros tempos.

Estes espaços singulares da cidade têm características de bens públicos, no sentido económico do termo, razão pela qual, a menos que se criem mecanismo regulamentares ou incentivos económicos, a sua dotação tenderá cada vez mais a reduzir-se.

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