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CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

1.4 Metodologia

1.4.3 O Facebook

As postagens (conversas e anúncios) na rede social virtual Facebook foram selecionadas de acordo com o perfil dos sujeitos envolvidos. O Arquivo Público do Estado de São Paulo assim define o Facebook:

Fundado em quatro de fevereiro de 2004 por Mark Zuckerberg, ex- estudante de Harvard, o Facebook é atualmente a rede social mais utilizada no mundo, com mais de 250 milhões de acessos e cerca de 500 milhões de usuários. Só no Brasil, o Facebook possui mais de sete milhões de usuários cadastrados, com crescimento de cerca de 70% em 2009. No Facebook você pode publicar uma série de conteúdos que queira compartilhar com seus amigos. Eles os receberão e, na mesma hora, poderão fazer comentários acerca de sua publicação. Você também tem acesso ao que seus amigos estão publicando em seus murais. É possível publicar fotos, imagens e vídeos tanto de um computador pessoal (PC) como de celulares com acesso a e-mail. Você também pode publicar eventos, participar de grupos de discussão, compartilhar links, entre outros.

A escolha dessa rede social como canal de comunicação se deve em parte à espontaneidade com a qual os usuários lidam com essa ferramenta. Para os usuários do primeiro grupo, a fotografia é o elemento desencadeador de emoções ou reações que o levarão a se expressar. De acordo com Adam D. I. Kramer et al. (2014):

Demonstramos através de uma bateria de experimentos (N = 689.003) no Facebook, que estados emocionais podem ser transferidos para outras pessoas através do contágio emocional, levando as pessoas a experimentar as mesmas emoções sem se darem conta. O contágio emocional ocorre sem a interação direta entre pessoas (demonstrar emoção a um amigo é suficiente), e na completa ausência de sinais não-verbais17. (Tradução nossa)

Assim se expressa a informante:

Happy thanksgiving. Obrigado meu bom Deus pela minha vida, família amigos,

17 We show, via a massive (N = 689,003) experiment on Facebook, that emotional states can be

transferred to others via emotional contagion, leading people to experience the same emotions without their awareness. We provide experimental evidence that emotional contagion occurs without direct interaction between people (exposure to a friend expressing an emotion insufficient), and in the complete absence of nonverbal cues.

e todas as bênçãos que são derramadas todos os dias. Let’s all be thankful. Amen. (Informante 1)

Nesse contexto, flagramos a mistura linguística, como demonstrada no exemplo acima. Para os usuários do segundo grupo, entretanto, o elemento principal que o leva a utilizar o Facebook é bem mais pragmático: a procura de trabalho. É esse também o elemento desencadeador da escrita, bem curta, e sem recursos gráficos que a enfeite. A mistura também aí está presente, caracterizada principalmente pelo uso de empréstimos.

Estou a procura de trabalho full time de limpeza or housekeeper, secretaria, qualquer coisa dirijo e falo engles. (Informante 2)

De fato, de acordo com Mota (2007, p. 34):

Mostrar que já sabe dizer em inglês toda a lista de expressões referentes aos documentos nacionais, tais como Greencard, Social Security ou Driver license sinaliza que o imigrante já está se adaptando aos novos territórios de identidade. Em conversas mais íntimas, entretanto, tais referentes são aportuguesados em formas simplificadas e camufladas em expressões tipo ―tirar o social‖ (pronúncia em português) ou ―tirar o Sìlvio Santos‖ (referindo-se às iniciais de Social Security).

A partir desse corpus, composto por falantes da mistura das variedades do português brasileiro e do inglês americano, com faixa etária, profissão e escolaridades variadas, analisamos alguns casos de misturas.

As identidades dos usuários foram preservadas. As amostras foram coletadas com o objetivo de observar o uso da mistura de línguas na comunicação entre esses usuários.

Utilizamos o Facebook para observar dois grupos distintos. Assim, nosso ponto de partida foram imigrantes que satisfizessem certas condições que procurávamos para nossa pesquisa. A saber, que:

 estivesse na cidade desde a década de 1980;

 tivesse filhos nos Estados Unidos (segunda geração);  mantivesse laços com o Brasil;

 tivesse círculo de amizades diversificado em Framingham nos vários setores sociais;

 fosse usuário do Facebook.

Após sermos ―adicionados‖ pude participar do cìrculo de amigos.

Utilizamos também o Facebook da rádio local para observar a linguagem utilizada nos classificados (lá os imigrantes recém-chegados ―postam‖ anúncios) e nos anúncios em geral. Isso nos levou a inferir que mesmo o recém-chegado compreende o ―código‖ de inclusão.

Ola acabo de chegar do brasil e procuro emprego tenho green card e social e tenho a lincensa pra dirigir moro em XXXXX-MA contato YYY-ZZZAACC, XXXXX obrigado. (Informante 3)

O Facebook é uma rede social, mediada por computador, em que é necessário ser assinante, em primeiro lugar, para que se tenha acesso a qualquer informação. Em segundo lugar, na maioria das vezes, é necessária a autorização dos usuários para que se tenha acesso ao seu perfil, ou pelo menos, ao perfil completo.

Diante do exposto acima, usar essa tecnologia como ferramenta pode nos auxiliar em nosso trabalho, pois, se na monografia de 2001, tínhamos a espontaneidade da fala, aqui temos a fotografia como gatilho que dispara emoções. No tocante aos anúncios, a espontaneidade cede lugar à necessidade de sobrevivência. Em todos esses discursos, outro traço comum continua sendo a necessidade de pertencimento. No caso dos anúncios, a necessidade de se mostrar parte do grupo pode se dever ao fato de que o imigrante tem mais dificuldade em conseguir trabalho ao revelar a sua condição de recém-chegado:

Igual eu estava falando para aquele pessoal lá. Não fala que vocês chegaram do Brasil ontem se vocês forem procurar trabalho. Fala que vocês já estão aqui há seis meses, já está aqui há um ano. Mas, se você falar que chegou ontem, eles vão querer te pagar oito dólares a hora. Porque, infelizmente, o que tem de brasileiro aqui aproveitando de

outros brasileiros, é fora do normal. (Horácio)