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CAPÍTULO 2: CONTATO DE LÍNGUA – ENTRE BILINGUISMO E MISTURA DE

2.4 Políticas linguísticas para o imigrante de Framingham

2.4.5 Transmissão da língua na família e línguas de interação

Na comunidade brasileira de Framingham, o português é a língua predominante entre os adultos da primeira geração de imigrantes. Através de observações, anotações de campo e gravações que fizemos para esse trabalho, nós detectamos que o tipo mistura produzida por imigrantes da segunda geração ou geração 1,5 é diferente daquela produzida pela maioria dos imigrantes da primeira geração. Uma adolescente, por exemplo, durante uma conversa, usou a palavra popularidade em vez de população. ―O carro foi parinho‖ (em vez de parando), disse um informante, durante a entrevista, ao se referir a uma expressão usada pela filha, que sempre estudou em escola privada

(Fonte: https://www.facebook.com/BrazilianAmericanCenter?sk=info)

45O Movimento Educacionista Brasileiro, que tem como idealizador o senador Cristovam Buarque, surgiu

durante a caminhada do Projeto Educação Já! Em 2006, no momento em que o senador percorria as capitais brasileiras e estava em contato com os pais e os educadores. Essa caminhada resultou na formação do Movimento Educacionista Brasileiro e em sua missão de oportunizar uma Escola Igual para Todos... Este Projeto de adaptação à realidade dos imigrantes brasileiros no exterior foi idealizado e escrito pela educadora Arlete Falkowski e apresentado aos pais e aos educadores, como forma de conscientização e na criação da Fundação e de uma equipe educacionista dos E.U.A. A equipe foi composta por nove profissionais da área de educação, para atender a demanda e para expandir o ideal de um núcleo educacionista de aprendizagem da língua portuguesa e da cultura brasileira, no estado de Massachusetts e em outros estados americanos interessados nesta causa. (Fonte:

americana e praticamente não teve contato com crianças brasileiras. Há relatos de pais dizendo que seus filhos se irritam quando eles misturam as duas línguas. Em sua pesquisa etnográfica, tendo como sujeitos 12 famílias de imigrantes na região de Boston, Mota (2004, p. 152), apesar de não se referir à mistura de línguas, especificamente, descreve ―situações de conflitos linguìsticos que dificultam a dinâmica social da família; a competitividade entre as gerações acentua-se, causando inversão nas relações de poder‖.

Uma das entrevistadas demonstra sua frustração ao revelar que a filha mais nova (15 anos) não é tão fluente na língua portuguesa quanto a irmã mais velha (23 anos) que frequentou o programa bilíngue por mais tempo. Ela diz que por muitas vezes quer se comunicar de forma mais efetiva com a filha de 15 anos e não consegue: ―eu quero que ela entenda o que eu estou querendo dizer, mas sinto que ela não consegue. Ela não entende o que estou dizendo em português e eu não sei dizer em inglês exatamente o que eu quero que ela entenda‖. Relatou também que a filha, em visita ao Brasil, deu a impressão à família de ser tímida, por ter dificuldade em falar o português. Apesar dessa dificuldade em se comunicar com os parentes, ela ―adorou‖ o Brasil. A mãe tem planos de mandá-la ao Brasil assim que ela terminar a high school (ensino médio) por seis meses para que ela adquira fluência no português. Esse sentimento é compartilhado pelos pais que consideram a manutenção da língua importante para evitar o distanciamento dos filhos provocado por conflitos linguísticos, como revela uma das entrevistadas de Mota (2004, p. 152):

Parece que, quando vão conversar, as palavras delas saem melhor no inglês. Eu não gosto, não. Eu digo para elas: Faça favor, falem em português. E elas me respondem: Mãe, é bom para você também, pra você aprender. Mas eu digo: Eu não quero, eu prefiro não aprender, mas não quero que vocês percam o português. Acho que, se eu aprender inglês, elas acabam esquecendo o português. Eu não quero isso.

As crianças que frequentam Day care (creche) americano desde cedo, tendem a conversar em inglês com os pais, a partir de então, enquanto aquelas que são cuidadas por babás brasileiras tendem iniciar esse processo mais tarde. Ainda assim, como assistem desenhos animados em inglês, acabam misturando as palavras nas duas

línguas. Muitos pais, ainda que não sejam fluentes na língua inglesa, encorajam os filhos a falarem apenas inglês. O mito de que a criança bilíngue terá problemas de aprendizagem ainda persiste, sendo endossado, às vezes por profissionais da área da educação, como professores e fonoaudiólogos como informaram alguns pais. Por outro lado, há pais que, preocupados que os filhos percam a língua portuguesa, matriculam seus filhos nos cursos de português oferecido à comunidade. Lieberson, Dalto e Johnston apud Alejandro Portes e Lingxin Hao (1998, p. 269) fazem projeções bastante pessimistas sobre o futuro das lìnguas de imigração nos Estados Unidos: ―[...] os Estados Unidos é um verdadeiro cemitério de línguas estrangeiras, em que o conhecimento das línguas maternas de centenas de grupos de imigrantes raramente ultrapassa a terceira geração46.‖ (tradução nossa)

Partindo das indagações anteriores, é preciso ressaltar que a língua é um fator de interação em que se expõem as identidades individuais e sociais ao longo da vida. A perda da língua materna pode ser um elemento perturbador no processo de construção de identidades de imigrantes e filhos de imigrantes. Cria-se, portanto, uma lacuna que alarga cada vez mais a distância entre essas gerações. A pressão sofrida através da política do English only, forçando filhos e netos de imigrantes a ―falar apenas inglês é geralmente considerada como fator preponderante para essa perda‖ (PORTES; HAO, 1998, p. 269). Sob essa perspectiva, esses indivíduos, que deveriam se manter unidos através dos seus traços étnicos, culturais e linguísticos, deixam de ter controle sobre a própria língua e consequentemente sobre seus processos de formação de identidades.