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CAPÍTULO 2 O LOBO DE WALL STRETT

2.3 O FILME O LOBO DE WALL STREET

A obra cinematográfica The Wolf of Wall Street conserva o título original da autobiografia de Jordan Belfort e, assim como o livro, foi traduzida para o cinema brasileiro como O Lobo de Wall Street. O filme (O LOBO..., 2013) baseado na biografia, com roteiro de Terence Winter e o próprio Belfort, foi lançado nos Estados Unidos no começo de 2014, com duração de aproximadamente 2 horas e 59 minutos e direção do americano Martin Scorsese. Traz Leonardo DiCaprio como personagem principal no papel de Belfort, além de atores como Jonah Hill como Danny Porush, Margot Robbie como a duquesa Nadine e Matthew McConaughey como Mark Hanna. Os nomes dos personagens foram alterados no filme, com exceção do protagonista. As filmagens contaram com a presença do verdadeiro Belfort nos bastidores, que interferia principalmente nas cenas em que Leonardo DiCaprio supostamente se droga, explicando para o ator como realmente ficava enquanto estava sob efeito.

A obra de Scorsese precisou ser produzida de maneira independente pois nenhum grande estúdio quis vincular seu nome a uma história tão polêmica, cheia de sexo, nudez, orgias, drogas e palavrões. O filme quebra o recorde de menções do termo fuck, 569 vezes ao longo do filme, aproximadamente uma vez a cada 20 segundos. Foi censurado e até banido em alguns países pelas imagens que contém e temas que aborda e o diretor teve que cortar algumas cenas mais fortes para que o filme não recebesse a mesma classificação indicativa de filmes pornográficos.

A película se inicia com uma suposta propaganda midiática da empresa Stratton Oakmont, em que um leão utilizado como logo se confunde com a publicidade usada por produtoras responsáveis pela realização de filmes. A descrição feita na propaganda sobre a estabilidade, integridade e orgulho da empresa logo se contradiz com o arremesso de anão mostrado em seguida, em que Jordan joga 25 mil dólares para o alto oferecendo-o a quem conseguir acertar no alvo (O LOBO..., 2013).

A imagem do pequeno homem sendo arremessado é paralisada e dá-se início a uma apresentação em primeira pessoa do próprio Belfort, em que relata diretamente para o

telespectador um pouco de sua trajetória e rotina. O protagonista narra em poucos minutos tudo que envolve sua vida milionária, descrevendo de forma arrogante e bem humorada sua rotina de excessos, vícios, ambição, posses e intocabilidade. Partes do seu relato são feitas enquanto cheira cocaína no ânus de uma prostituta olhando para a câmera ou dirige um helicóptero completamente drogado pousando-o no jardim de sua casa. Conta com detalhes todos os entorpecentes que consome diariamente e termina com a assertiva de que, acima de qualquer droga, a que ele prefere é o dinheiro, pois ele é capaz de torná-lo invencível, conquistar o mundo e aniquilar qualquer inimigo. Para concluir, amassa uma nota de cem dólares e a joga na lixeira.

O filme retrocede aos primeiros dias de Belfort em Wall Street, suas primeiras impressões sobre aquele mundo e os “Mestres do Universo” que o rodeavam. Aborda seu início ainda como estagiário, depois quando perdeu o emprego pela crise financeira na Bolsa de Nova York, levando-o a conhecer o mercado de ações de baixo valor e consequentemente a montar a Stratton Oakmont.

O protagonista emite algumas impressões em primeira pessoa no decorrer de toda a obra cinematográfica, olhando diretamente para a câmera em muitas delas, como se estivesse vendendo a própria história. A narração feita de como construiu a Stratton e de como eram os dias do auge da empresa, a loucura que rodeava os strattonistas, o excesso de drogas e de putas são bem retratados. Há uma distorção cronológica de alguns fatos e a inserção e omissão de alguns outros, no entanto, tais medidas adotadas pelo diretor Scorsese não chegam a comprometer a compreensão da biografia escrita por Belfort. Pelo contrário, a película é bastante eficiente no seu intuito de mostrar “o estilo de vida dos ricos e malucos”, tão enfatizado pelo autor do livro.

A deterioração do protagonista é mostrada apenas na sua decadência financeira temporária e nos seus problemas judiciais. Mesmo demonstrando sua vulnerabilidade aos excessos e alguns episódios de agressividade, não retrata o dano físico nem psíquico que seu estilo de vida causou, como suas dores, prisões, internação na instituição psiquiátrica e na clínica de reabilitação. O filme, comparado à autobiografia, minimiza as consequências que o rápido enriquecimento trouxe a Jordan, razão pelo qual foi criticado por alguns espectadores, que alegaram estar a obra cinematográfica enaltecendo a personalidade

retratada. Personalidade esta que faz uma pequena aparição, em carne e osso mas sem que saibamos que é o próprio, no fim do filme. Jordan Belfort apresenta o personagem Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) como o palestrante da noite, atual profissão do antigo Lobo de Wall Street.

O verdadeiro Jordan Belfort, após cumprir seus 22 meses de cadeia, trabalha hoje como palestrante motivacional para vendedores e, segundo o próprio, pretende ganhar mais dinheiro do que jamais ganhou como corretor. A renda com os dois livros que escreveu - publicou uma continuação da autobiografia O Lobo de Wall Street traduzida também pela editora Planeta como A caçada ao Lobo de Wall Street - e o lucro que obteve vendendo seus direitos ao filme dirigido por Martin Scorsese e com sua lotada turnê de palestras mantêm sua conta bancária bastante cheia. Além de sua pena enjaulado, a justiça também exigiu que o Lobo recompensasse financeiramente àqueles prejudicados por suas fraudes acionárias que somam mais de 100 milhões de dólares. No entanto, muito se é especulado a respeito do cumprimento dessa determinação e aparentemente ainda não houve a execução.

A partir da trajetória contada, o que pode ser tecido sobre o papel do dinheiro nas vicissitudes do que ocorreu a Jordan Belfort, que ficou popularmente conhecido como o Lobo de Wall Street? O que levou Jordan a fazer as escolhes que fez, a tomar os caminhos que tomou, inconsequentemente se achando um “Mestre do Universo”? O que, conforme ele nos expõe, o elemento monetário tem a ver com isso e o que podem a semiótica e a psicanálise explicarem sobre tal questão? A entrada do dinheiro na vida de Belfort modificou sua estrutura, inclusive mudando a forma como ele e os demais o nomeavam. Qual a responsabilidade do enriquecer na sua deterioração? O que representa o dinheiro e por que ele é capaz de promover abalos tão extremos nos homens?

Após explanar sobre a história do elemento monetário e ilustrar um caso clínico em que o dinheiro está explicitamente acometendo o indivíduo em questão, uma costura será feita visando responder tais questões elaboradas anteriormente. Por que pode o elemento monetário ser considerado uma das molas mestras da economia libidinal? O que a experiência e o relato de Jordan têm a acrescentar sobre isso?

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