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3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL EM FACE

3.1.1 O FMI no governo Fernando Henrique Cardoso

A política econômica adotada no Brasil desde 1994 no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso – FHC, tem como característica principal a tentativa de estabilização da moeda associada ao câmbio sobrevalorizado e à abertura comercial acelerada. Essa política gerou um permanente déficit na conta de transações correntes do país. Tal déficit acaba sendo financiado pela entrada de investimentos estrangeiros, o que aumenta a dependência financeira do Brasil em relação ao capital internacional.

Desde o início do Plano Real, a atração dos capitais estrangeiros – necessários para fechar as contas dentro dos marcos da política econômica adotada – deu-se através da oferta de remunerações atrativas, especialmente taxas de juros extremamente elevadas, além de um mercado de bolsa de valores que favorece ganhos rápidos, ou ainda a oportunidade de comprar patrimônio valioso a preço baixo, como no caso das privatizações.

Assim, a política econômica adotada no país foi logrando as dificuldades e turbulências surgidas no cenário internacional desde 1994, quando se iniciou o Plano Real.

A oferta de taxas de juros elevadíssimas aos capitais internacionais acabou, de um lado, gerando uma dívida pública12 que foi crescendo assustadoramente durante o

período do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Conforme pode ser observado nos dados da tabela abaixo.

Tabela 1 – Trajetória da dívida pública (1994 – 2002)

Ano Valores atualizados pelo IGP-M

1994 R$ 328 bilhões 1995 R$ 386 bilhões 1996 R$ 457 bilhões 1997 R$ 487 bilhões 1998 R$ 596 bilhões 1999 R$ 673 bilhões 2000 R$ 660 bilhões 2001 R$ 699 bilhões 2002 R$ 750 bilhões 13

Fonte: Banco Central do Brasil disponível em www.bancocentral.gov.br acessado em 10 de novembro de 2002.

12 A dívida pública é a dívida contraída pelas várias esferas administrativas de um país, podendo ser externa

(dívida contraída com não-residentes, estrangeiros ou instituições internacionais) ou interna.

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A partir do segundo semestre de 1998, tornou-se evidente que os malabarismos da administração pública para dissimular as contas do País, no exterior, haviam chegado a um limite.

A intensa fuga de capitais que ocorreu entre julho e setembro de 1998 cerca de US$ 30 bilhões migraram do País provando, de forma contundente, que a fase das manobras mirabolantes chegara ao fim. Os capitais estrangeiros vieram, valorizaram-se num curtíssimo prazo e foram-se. Os gestores da política econômica preferiram não colocar barreiras a essa mobilidade dos capitais internacionais privados, apesar dos efeitos danosos à economia nacional.

Enquanto isso, a dívida externa brasileira crescia sistematicamente, chegando a ultrapassar US$ 235 bilhões no final de 199814.

Fica evidente que a política econômica adotada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso durante os oito anos de mandato e atualmente administrada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de difícil sustentação e tem para o País um custo social altíssimo, além de agravar seu endividamento externo.

Pode-se ter a impressão de que, antes de 1998, o FMI não estava tão presente no País e que as autoridades monetárias brasileiras estavam livres de sua supervisão. No entanto, essa visão é apenas parcialmente verdadeira. De fato, o FMI manteve, desde o início do Plano Real, em 1994, um monitoramento da política econômica levada a cabo no País, já que o Brasil estava sob a égide da renegociação da dívida externa. A renegociação havia estabelecido-se com o Fundo pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, tendo como negociador o ministro da fazenda Pedro Malan. Os acordos foram negociados entre o final de 1993 e início de 1994 e implicavam pesados pagamentos por parte do Brasil. No entanto, o governo negava a possibilidade de solicitar novos empréstimos ao FMI, que se mantinha relativamente fora do debate público. Porém, no segundo semestre de 1998, com o agravamento do quadro financeiro, o FMI voltou ativamente à cena pública, comandando a negociação do pacote de sustentação financeira do País.

Ao longo da década de 1980, os acordos firmados entre Brasil e FMI davam grande ênfase à geração de saldos em dólar na balança comercial, que deveriam ser transferidos ao exterior pelo pagamento dos juros da dívida externa. Estima-se que o Brasil tenha pago mais de U$ 90 bilhões (AÇÃO EDUCATIVA, 1999) a título de juros dessa dívida,

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nos anos 1980. Essa ênfase era compatível com o funcionamento da economia internacional, pelo qual os países mais endividados transferiam aos principais centros financeiros do capital internacional amplo volume de recursos.

O Acordo com o FMI previa, para 1999, uma diminuição do crescimento econômico – gerando mais desemprego e pobreza – e assinalava que o governo federal deveria minimizar os cortes orçamentários nos programas sociais que beneficiassem a camada mais pobre da sociedade, esforçando-se para melhorar seu direcionamento e eficiência.

Contudo, não faltam críticas às agências diante dos efeitos sociais perversos acarretados pelo modelo que advogam, incapaz de integrar o desenvolvimento econômico e o social. Possivelmente, instituições como BID e BIRD, são conscientes da impossibilidade de fazê-lo de forma abrangente dentro das políticas que prescrevem.

As propostas do Banco Mundial para proteção social podem ser resumidas em quatro grandes linhas de intervenção: mercado de trabalho (ajudando governos em programas de adaptação às mudanças tecnológicas); pensões (auxiliando governos na assistência de seus idosos e deficientes); fundos sociais (auxílio à população de baixa renda, capacitando-a para geração de receitas) e, finalmente, as Redes de Proteção Social, delineadas com a finalidade de prover serviços básicos para a população mais pobre e para aqueles que necessitem de assistência em situações de desastres econômicos ou naturais. Assim, a criação e o fortalecimento de Redes de Proteção Social foi uma resposta encontrada pelo BIRD para situações vivenciadas em todos os continentes, particularmente as decorrentes de crises econômicas ou de ajustes, que trazem uma série de efeitos adversos aos grupos vulneráveis.