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5 O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL

5.3 O Guia de Livros Didáticos hoje: a avaliação da avaliação

Após a edição dos dois Guias de Livros Didáticos para o ensino fundamental – 5ª a 8ª séries – a avaliação desse trabalho é analisada pelos professores como algo bastante positivo. Professores da rede estadual entrevistados ressaltaram que o PNLD tem sido importante para a melhora da qualidade dos livros didáticos que têm chegado às escolas, mesmo eles não sabendo identificar ou apontar as diferenças existentes nos livros didáticos antes e depois do PNLD. Mas as queixas, com relação à distribuição e principalmente com relação à escolha dos livros didáticos que não estão sendo atendidas pelo FNDE, permanecem. Para os professores o Estado do Paraná entrevistados nos municípios de Londrina e de Foz do Iguaçu, o MEC deve continuar avaliando os livros e publicando os Guias mas deve procurar acatar as escolhas dos professores quando indicados nas fichas.

Para as editoras, a avaliação é que ainda falta profissionalismo no MEC, as avaliações ainda se alteram de programa para programa, não existe clareza quanto aos critérios de avaliação e é preciso ter mais transparência por parte do MEC. Quanto as diferenças sentidas entre os dois Guias publicados, para as editoras todo o processo ainda é muito novo, o que segundo o responsável pela editora que nos concedeu entrevista dificulta uma avaliação, “vamos aguardar o novo governo para emitir parecer. Não sabemos se o programa irá continuar. Tudo pode acontecer. Mas concordamos com a avaliação e achamos que ela é positiva, o problema é como ela vem se desenvolvendo.” Mas como poderia melhorar? Perguntamos. Segundo a editora “não temos propostas ainda, até porque não existe esse espaço no MEC para debate, quando tiver, se tiver, reuniremos nossa equipe pedagógica e elaboraremos propostas”.

Os autores de livros didáticos entrevistados, que unanimemente concordam com o processo de avaliação, reconhecem que a avaliação do Segundo Guia de Livros Didáticos, coordenado pela professora Maria Encarnação Beltrão Sposito, apresenta qualidade superior ao Primeiro Guia coordenado pelo Professor Manuel Correia de Andrade, contudo fazem destaques quanto ao processo.

Para José William Vesentini,

A composição das equipes é bastante elitista, os professores que compõem as equipes são todos professores universitários e a grande maioria não tem experiência em ensino o que acaba por atrapalhar a avaliação. As equipes

devem ser mistas, deve ter nas equipes professores universitários mas que trabalhem com ensino e a outra parte deve ser de professores da rede e de preferência, de cima pra baixo, ou seja, escolhidos pelo coletivo. O que vem ocorrendo é uma hierarquia dos professores universitários, como se esses soubessem mais que os professores da rede. Isso não é positivo e em muitos casos não é verdade. (JOSÉ WILLIAM VESENTINI, 19 de maio de 2003)

Para Douglas Santos,

O segundo Guia superou o Primeiro uma vez que passou a avaliar as coleções e não os livros em separado, mas, ainda impera a concepção de Estado que eu já mencionei. E não que eu não queira que os livros sejam avaliados. Porque eu acredito que o Estado deve avaliar. Mas o mecanismo de avaliação não pode ser esse que aí está. Se o mecanismo de avaliação do Estado não for o debate público então não é avaliação. É interessante notar que quando um conjunto de indivíduos de alguma maneira se relaciona com o Estado assume o poder do Estado, enquanto o poder da individualidade, porque passam a falar em nome do Estado sem a nação. É o chamado ‘discurso competente’ da Marilena Chauí. É falar de política pública sem o público. É isso que o Estado está fazendo e com legitimação de algumas referências importantes da Geografia na Geografia, da matemática na Matemática, em todas as áreas. (DOUGLAS SANTOS, 19 de maio de 2003)

Sobre a avaliação do Guia de Livros Didáticos de 5ª a 8ª séries de 2002, a coordenadora ressalta aspectos importantes e pouco conhecidos desse processo,

Perfeita uma avaliação nunca é. Ela é um processo e tem que ser revisada. A avaliação não é perfeita. É muito difícil de avaliar. Mas o segundo Guia realizado pelas Universidades foi melhor e nós tivemos a certeza disso quando em entrevista coletiva para o lançamento do Guia, o ministro da Educação, acabou admitindo que tinha sido um sucesso porque os resultados já haviam sido divulgados e nenhuma ação havia sido impetrada por nenhuma das editoras, e como esse fato era corrente nas avaliações anteriores, tomou-se esse critério como parâmetro para avaliar que o resultado das avaliações realizadas pelas Universidades tinha sido um sucesso. Na área de Geografia e História houve apenas uma única carta direcionada ao Ministro do autor Demétrio Magnoli questionando o meu papel enquanto coordenadora, a escolha do meu nome e questionando a avaliação. Essa carta foi respondida, por meio de um parecer de vinte páginas, bastante circunstanciado onde nós não respondemos nenhumas das acusações pessoais mas apenas fundamentamos os pontos que ele considerou equivocados em nossa avaliação. E remetemos ao MEC e à editora do professor Demétrio, que não entrou na justiça entendendo que a carta havia solucionado as dúvidas levantadas. É importante registrar que a postura do MEC foi muito boa nessa ocasião porque a carta do professor Demétrio questionava o MEC quanto à escolha de nomes para a avaliação de pessoas ligadas ao PT. Sendo o governo do FHC oposição, acredito que ele esperava

alguma decisão por parte do MEC, mas esses pontos se querem foram mencionados pelo ministério ou por qualquer membro do ministério, a nós. Então eu tive por parte do MEC, um total respeito sobre a aprovação e exclusão de obras, inclusive a exclusão dos livros do professor Scarlato que era na aquela ocasião autor dos Parâmetros Curriculares. O professor Francisco Scarlato era autor de outro programa do MEC, e nós temíamos, que o MEC questionasse, ma isso não ocorreu. O MEC em nenhum momento questionou nosso trabalho o que nos deixou bastante satisfeitos. (MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO, 20 de maio de 2003)

Com relação às possibilidades de melhoria do processo de avaliação dos Livros Didáticos, o professor Jose William Vesentini, analisa a partir das ações do novo governo federal do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

Não é o caso de acabar com as avaliações, o caso é aprimorar as avaliações, seja ela dos livros didáticos, dos cursos superiores, ou ainda do ENEM. Precisa aprimorar. E nesse aprimoramento a condição sine qua non é consultar as bases, os interessados, fazer os professores participar inclusive para tornar o processo legítimo, uma vez que ele ainda não é. E não é, justamente porque os professores não participam do processo, são ignorados e eles precisam fazer parte do processo. (JOSÉ WILLIAM VESENTINI, 19 de maio de 2003)

Mas para Douglas Santos as possibilidades de melhoria no processo de avaliação devem ser entendidas a partir de uma nova concepção de políticas públicas,

o Estado deve avaliar, mas o mecanismo de avaliação não pode ser esse que aí está. Se o mecanismo de avaliação não for o debate público então não é avaliação. (DOUGLAS SANTOS, 19 de maio de 2003)