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2 O ESPAÇO AUDIOVISUAL BRASILEIRO NO PERÍODO

2.1 O ESPAÇO AUDIOVISUAL BRASILEIRO

2.1.2 A produção cinematográfica

2.1.2.2 O funcionamento da produção

Partindo de uma visão micro, a produção se desenvolve em um set de filmagem, onde nele estão envolvidos todos os profissionais necessários para a captação e produção das imagens brutas que darão origem a um filme. Aqui, o que tem importância é o trabalho cotidiano de preparar cenas e filmá-las, de modo otimizado, tanto no que se refere a recursos financeiros e tempo, quanto ao acabamento artístico e técnico. A equipe envolvida nesse processo pode ser formada por dezenas de profissionais, dependendo das necessidades do filme que está sendo produzido, distribuídos entre diversos núcleos –. Os principais núcleos são: direção, produção, som, imagem, arte e montagem/edição. O

núcleo de montagem, aquele responsável em fazer a edição do material bruto filmado, pode estar envolvido já nessa etapa do processo.

Por trás desse micro-ambiente de produção, está a produção executiva, um setor intermediário que se preocupa em organizar os recursos e disponibilizá-los para a equipe do set. Na verdade, para que isso possa ser feito, a produção executiva atua em um planejamento mais amplo, que se inicia meses antes das filmagens. Este trabalho preocupa-se em dimensionar as necessidades de produção a partir de um roteiro definido, bem como estabelecer, desenvolver e fiscalizar o fluxo de recursos, sejam financeiros ou humanos, para que todas as etapas de realização do filme sejam bem atendidas no que se refere às demandas de produção.

Figura 3: Esfera da produção

Há ainda um terceiro pólo que é o ambiente da produção propriamente dita, onde nele atuam produtores e realizadores. É nele que os projetos de produção têm origem. Isso significa dizer que é a partir de uma escolha ou uma decisão dos produtores e realizadores que um filme começa a existir. Em um

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primeiro momento, essa existência está marcada apenas por uma idéia, uma intenção, que aos poucos vai tomando forma de projeto de produção, de argumento, de roteiro, não necessariamente nessa ordem. De fato, a primeira intenção pode ser deflagrada por uma demanda de mercado ou por uma necessidade individual de expressão a partir de uma determinada ficção. E a partir daqui, dessa pequena isca, de um pequeno lampejo, todo um complexo e longínquo processo de produção audiovisual começa a ser gestado.

O processo é complexo e demorado porque essa terceira esfera é a que origina os outros dois círculos mencionados anteriormente e, ao mesmo tempo, dá sustentação e direcionamento para que tanto a produção executiva quanto a produção de um set de filmagem desenvolvam seus trabalhos a partir de objetivos e limites precisos. Ao mesmo tempo, ela vai interagir com o espaço externo desse diagrama, na verdade, o espaço audiovisual como um todo.

Primeiramente, há uma relação com a atuação estatal – que delimita e define o que é a produção cinematográfica de um determinado território, além de estabelecer vias de fomento e financiamento para ela. Na seqüência, os envolvimentos são: com a atuação empresarial de todo o setor de produção – formada por empresas prestadoras de serviços e suprimentos que atuam também na produção através da disponibilização de mão-de-obra e materiais; com a atuação empresarial em geral – especialmente no caso brasileiro, onde a maioria dos recursos financeiros destinados à produção cinematográfica advém de empresas privadas e públicas, dos mais variados setores, que investem através das leis de incentivo; com o segundo e o terceiro eixo da indústria audiovisual – a distribuição e a exibição.

Paralelamente a isso, o setor da produção também se relaciona com o eixo horizontal denominado “desenvolvimento”, com elementos voltados à pesquisa – que fornece novas visões e articulações teóricas ou teórico-práticas sobre o cinema; à formação – que possibilita a profissionalização da mão-de- obra; à crítica – que atua na análise crítica dos filmes produzidos e, assim, contribuem para uma auto-avaliação do cinema brasileiro e, portanto, do

trabalho dos realizadores; e à promoção cinematográfica – voltada a ações que valorizem o produto audiovisual brasileiro, tais como eventos no país e no exterior que divulgam os filmes nacionais.

No Brasil, as empresas privadas de produção, que atuam de forma independente, são a maioria no mercado. Outros profissionais do setor trabalham para canais de televisão de modo a gerar a programação das emissoras. E há ainda a modalidade free-lancer de atuação, ou seja, um profissional autônomo presta serviço para empresas.

Desde a implantação das leis de incentivo à cultura, esses mecanismos têm sido a principal e, muitas vezes, a única fonte de financiamento da produção cinematográfica brasileira. Isso porque os subsídios dados à produção – a partir de benefícios fiscais oferecidos a empresários que escolhem projetos para investir seus recursos financeiros sob a forma de um patrocínio – possibilitam que os custos de realização sejam pagos.

A cadeia produtiva do audiovisual no país não permite que empresas produtoras invistam recursos próprios de modo a viabilizar integralmente as suas produções, porque a comercialização das mesmas no mercado interno encontra dificuldades (ver subcapítulos 2.1.3 e 2.1.4). Essas barreiras limitam a previsão e consolidação dos lucros advindos com a exploração dos filmes nas janelas de exibição. Dessa forma, as leis garantem que os filmes sejam produzidos com dinheiro investido pelas empresas através dessa renúncia fiscal. A empresa que investe não desembolsa, de fato, os recursos investidos nos projetos, pois o valor é, posteriormente, abatido dos seus impostos. Com isso, o produtor brasileiro planeja seu projeto, consegue a aprovação do mesmo nas leis, realiza a captação junto aos empresários e, na seqüência, usa esses recursos de acordo com o seu planejamento inicial.

Assim, filme pronto significa um “zero a zero” financeiro, pois o produtor pagou as despesas da sua realização e remunerou-se pelo seu trabalho também. O resultado dessa equação é a primeira cópia do filme que, em seguida, será explorado pelos eixos seguintes – a distribuição e a exibição.

Esse funcionamento não é exclusivo ao mercado brasileiro. Na verdade, todos os países usam subsídios do estado para facilitar a sua produção cinematográfica, inclusive os Estados Unidos e países europeus. Dois são os caracteres mais particulares ao Brasil, assim como a vários países latino-americanos e de cinematografias emergentes. O primeiro deles é que os incentivos estatais tornam-se, muitas vezes, a única fonte de financiamento. O segundo é que, em países desenvolvidos, como os da Europa, os subsídios estatais usados na produção audiovisual são gerados dentro da própria cadeia produtiva.

Interessante notar que, quando a legislação de fomento foi iniciada, a partir da retomada, em 1993, a proposta era a de criar um mecanismo que incentivasse a cultura, resolvendo uma paralisação generalizada do setor. Mas o incentivo visava que o mercado se desenvolvesse e caminhasse para a auto- sustentabilidade. Parece que esse caminho está sendo cruzado, mas ainda é longo para o alcance de seu principal objetivo.

Outro modo de viabilização de filmes é o estabelecimento de parcerias com outras empresas produtoras – a co-produção. A co-produção pode ser nacional – quando empresas produtoras brasileiras se associam de modo a juntar o know-how necessário para a estruturação dos projetos – ou internacional – quando a parceria inclui também empresas estrangeiras que, dentro do seu país de origem, podem obter recursos financeiros através de subsídios públicos ou investimentos privados de canais de televisão ou investidores, além de oferecer um intercâmbio profissional que inclui desde a formação das equipes técnicas, do elenco até os seus métodos e visões sobre o fazer cinematográfico e o próprio cinema.

Atualmente, várias iniciativas vêm sendo tomadas para motivar o estabelecimento de parcerias com outros países, a fim de obter maiores recursos financeiros para a viabilização dos filmes e atingir novos mercados consumidores de filmes prontos. Em grande parte, elas são capitaneadas por associações e sindicatos, e pelo próprio Ministério da Cultura. Citamos como exemplo o programa Cinema do Brasil - um programa setorial para promoção

da internacionalização do cinema e da produção para televisão. Desenvolvido pelo SICESP (Sindicato da Indústria Cinematográfica do Estado de São Paulo), tem a parceria da APEX-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e do Ministério da Cultura. Os focos principais são a co-produção internacional de cinema, a distribuição internacional das produções brasileiras, e venda de serviços de produção brasileiros, abrindo novos mercados e criando uma marca forte para o setor no exterior. Para isso, o Programa realiza diversas ações em festivais internacionais de cinema (presença institucional), traz potenciais compradores para o Brasil, além de promover ações de divulgação e capacitação do setor. Mesmo sendo gerido pelo SICESP, o Programa é aberto para participação de todas as empresas brasileiras.