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O general Arthur da Costa e Silva tomou posse em 15 de março de 1967 (havia sido eleito por um colégio eleitoral em 3 de outubro de 1966), prometendo um governo de restabelecimento dos processos político- representativos normais.94

Poderiam ser feitas concessões limitadas à classe política, desde que se conseguisse apoio para “reconstitucionalizar” o regime e ampliar sua legitimidade.95

Em verdade, os dispositivos da Carta Magna de 1967, adicionados à legislação editada desde 1964, conferiam enorme poder ao Presidente da República, tanto para repressão política e garantia da segurança pública, como para tratar de matéria econômica (a política econômica de Costa e Silva seria conhecida como modernização conservadora96, retomando o

desenvolvimentismo, junto a metas de integração nacional e promoção social). Apesar da presença do extenso e severo aparato normativo, o período que então começava caracterizava-se por uma tênue abertura política.97

O partido único de oposição, MDB, se baterá, até a crise que irá irromper no AI-5, pela revogação da legislação de segurança nacional, pelo restabelecimento das eleições diretas e pela concessão da anistia aos presos políticos e aos políticos cassados.98

Além disso, a oposição procurava instrumentos de aumentar sua participação política, resistindo a votar incondicionalmente a todos os projetos de lei oriundos do governo.

A marginalização política que o golpe impusera a antigos rivais - Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, João Goulart (este, no exílio), tivera o efeito de associá-los, ainda em 1967, na Frente Ampla, cujas atividades somente seriam 94 CODATO, op. cit., p. 20.

95 Idem.

96 REIS, op. cit., p. 45.

97 CRUZ e MARTINS, op.cit., p.31. 98 CODATO, op. cit., p. 21.

suspensas pelo ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, em abril de 1968.

Também já é possível acompanhar o ressurgimento do movimento estudantil, com suas reivindicações políticas, que não encontraram respaldo na propalada abertura do início do governo Costa e Silva.

Nesse sentido, afirma Aarão Reis, que

já em 1967, primeiro ano do governo Costa e Silva, o diálogo prometido não funcionou face às pressões do único movimento social ativo – o estudantil. Sucederam-se as manifestações reivindicatórias, de modo geral acompanhadas por uma repressão desproporcional. Parecia, às vezes, haver uma espécie de emulação entre, de um lado, a grande imprensa liberal, que passara a fazer oposição ao governo, e a polícia, de outro, no sentido de exagerar a força do movimento estudantil, uns querendo enfraquecer o governo, outros, provar que eram indispensáveis99.

Nessa conjuntura confusa e tumultuada se inicia o ano de 1968, em que se definiriam os rumos da política do regime militar, sendo uma data fundamental na evolução política do regime ditatorial-militar brasileiro.100

O ano de 1968, "o ano que não terminou",101 ficou marcado na história

mundial, e na do Brasil, como um momento de grande contestação da política e dos costumes.

O movimento estudantil celebrizou-se como protesto dos jovens contra a política tradicional, mas principalmente como demanda por novas liberdades. O radicalismo jovem pode ser bem expresso no lema "é proibido proibir".

Esse movimento, no Brasil, associou-se a um combate mais organizado contra o regime: intensificaram-se os protestos mais radicais, especialmente o dos universitários, contra a ditadura.

O enfrentamento entre estudantes e forças da repressão se intensificou após a morte do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, em uma reivindicação pela melhoria das condições de alimentação no restaurante do Calabouço, na cidade do Rio de Janeiro, onde se alimentavam estudantes universitários e secundaristas.

Ele foi morto em 28 de março de 1968, por um tiro disparado por um policial militar, que supostamente reagia a pedras atiradas pelos estudantes contra a Polícia Militar.102

99 REIS, op. cit., pp. 48-49. 100 CODATO, op. cit., p. 15.

101 VENTURA, Zuenir. 1968 – O ano que não terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

A partir da morte de Edson Luis as dissidências do regime e da oposição foram às ruas. 103

O conflito entre estudantes e outros setores descontentes com o regime e as forças de repressão foi inevitável e manifestações de rua deixaram saldos de presos, mortos e feridos.

Não é possível relatar em poucas palavras a variedade, a quantidade e a intensidade das lutas travadas entre março e dezembro de 1968 nos principais centros urbanos do país.104

Também no decorrer de 1968, alguns setores progressistas da Igreja começavam a apresentar uma ação mais expressiva na defesa dos direitos humanos, e também lideranças políticas cassadas continuavam a se associar, visando a um retorno à política nacional e ao combate à ditadura.

Uma greve dos metalúrgicos em Osasco, em meados do ano, a primeira greve operária desde o início do regime militar, também sinalizava para a "linha dura" que medidas mais enérgicas deveriam ser tomadas para controlar as manifestações de descontentamento de qualquer ordem.

Pouco depois, o ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, reintroduziu o atestado de ideologia como requisito para a escolha dos dirigentes sindicais.

Por outro lado, a "linha dura" providenciava instrumentos mais sofisticados e planejava ações mais rigorosas contra a oposição.

Nas palavras do ministro do Exército, Aurélio de Lira Tavares, o governo precisava ser mais enérgico no combate a idéias subversivas. O diagnóstico militar era o de que havia um processo bem adiantado de guerra revolucionária liderado pelos comunistas.

O fato considerado motivador para a promulgação do AI-5 foi o pronunciamento do deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, na Câmara, nos dias 2 e 3 de setembro, num momento em que havia acontecido vários episódios de dura repressão dos militares contra manifestações estudantis, lançando um apelo para que o povo não participasse dos desfiles militares do 7 de Setembro e para que as moças, "ardentes de liberdade", se recusassem a sair com oficiais.105

103 Idem.

104 CRUZ e MARTINS, op.cit., p.33. 105 SKIDMORE, op. cit., p.162.

Na mesma ocasião outro deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu uma série de artigos no Correio da Manhã, considerados provocações. O ministro do Exército, Lyra Tavares, atendendo ao apelo de seus colegas militares e do Conselho de Segurança Nacional, declarou que esses pronunciamentos eram ofensas e provocações irresponsáveis e intoleráveis.

O governo solicitou então ao Congresso a cassação dos dois deputados. Seguiram-se dias tensos no cenário político, entrecortados pela visita da rainha da Inglaterra ao Brasil, e, no dia 12 de dezembro, a Câmara recusou, por uma diferença de 75 votos (e com a colaboração da própria Arena, o partido governista), o pedido de licença para processar Márcio Moreira Alves.

O Ato Institucional de nº 5 foi decretado pelo Presidente da República, general Arthur da Costa e Silva, após reunir-se com os membros do Conselho de Segurança Nacional, que era formado pelo próprio Presidente da República, pelo Vice-Presidente da República, pelos ministros de Estado e pelo chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).

O Conselho de Segurança Nacional era, nos termos do Decreto-Lei 000.200/1967, o órgão de mais alto nível no assessoramento direto do Presidente da República, na formulação e na execução da Política de Segurança Nacional106.

No mesmo dia foi decretado o recesso do Congresso Nacional por tempo indeterminado. Só em outubro de 1969 o Congresso seria reaberto, para referendar a escolha do general Emílio Garrastazu Médici para a Presidência da República.

O seu conteúdo, como será melhor detalhado adiante, representou um recrudescimento do regime militar instituído após o golpe de 31 de março/ 1º de abril de 1964, pois os seus autores acreditavam, ou queriam fazer acreditar, que os ideais e objetivos da “Revolução de 64” estavam ameaçados pela subversão política e cultural existente no país naquele período, e que deveriam ser objeto de uma legislação mais dura, que pudesse ser eficaz contra tais ameaças.

A mensagem do documento, uma vez que emanada do mandatário principal da nação, dirigia-se a toda a população brasileira, mas é possível destacar algumas audiências a quem ele se referia em particular:

- Aos militares da chamada “linha-dura” do governo, que há tempo vinham reclamando de medidas mais severas para combater os adversários do governo, fossem eles políticos de oposição, estudantes envolvidos em questões políticas, opositores ao regime lançados a ações armadas contra órgãos e pessoas do governo, ou mesmo artistas com suas manifestações consideradas subversivas e avessas aos costumes do país;

- Aos opositores do regime, para indicar-lhes que medidas mais graves seriam tomadas nas questões relacionadas à segurança nacional;

- À população como um todo, demonstrando que o governo detinha o controle da situação política no país, e que a ordem institucional originada da “revolução de 1964” seria mantida pelo aparato governamental.

Assim, uma vez que observada a conjuntura histórica a qual o documento está ligado, isto é, a sua contextualização, se procurará analisar as razões que justificaram a sua produção, segundo seus signatários, as medidas que objetivamente foram implementadas com a sua instituição, e também algumas conseqüências práticas levadas a efeito a partir da sua vigência.

O preâmbulo do Ato Institucional nº 05 procurava enumerar os motivos pelos quais ele foi produzido e outorgado, servindo assim para justificar a tomada das medidas que constituíam o seu texto legal.

O início do texto firmava ser essa uma necessidade para atingir os objetivos da revolução

com vistas a encontrar os meios indispensáveis para a obra de reconstrução econômica, financeira e moral do país.107

Desta forma, observamos em primeiro lugar, o objetivo de não se perder de vista os objetivos da “Revolução de 64”, que impôs ordem à nação, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições do povo brasileiro108, afirmando, ainda, o caráter permanente daquele movimento

revolucionário, cujo desenvolvimento não poderia ser detido por forças contra- revolucionárias.

Fazia-se necessária, portanto, a adoção de medidas que impedissem que fossem frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a 107 CAMPANHOLE, op.cit., p. 28.

harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária109.

Após as considerações acerca dos fatos motivadores do Ato, seguem os seus artigos, cujos pontos principais são os seguintes110:

O artigo 1º mantinha a Constituição de 1967, com as alterações constantes do Ato.

Em seu artigo 2º, o AI-5 previa a possibilidade do Presidente da República decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas dos Estados e das Câmaras de Vereadores Municipais, cujos funcionamentos dependeriam de autorização do próprio chefe do Executivo.

No caso do Congresso Nacional, o Ato Complementar de nº 38, publicado no mesmo dia do AI-05, decretava o imediato recesso daquele poder legislativo.

Ainda neste artigo, em seu parágrafo primeiro, decretava-se que durante o recesso parlamentar, o Poder Executivo estava autorizado a legislar sobre qualquer matéria.

Este artigo, por si só, com a possibilidade de hipertrofia do Poder Executivo e ausência de uma casa legislativa já denota características ditatoriais do regime, afinal não haveria necessidade de nenhuma negociação ou discussão entre os poderes republicanos, uma vez que às decisões emanadas do Presidente da República não caberia nenhum tipo de questionamento.

O artigo 3º, que previa a possibilidade de intervenção nos Estados e Municípios representa uma clara agressão aos princípios federativos, pois o texto legal justifica a tomada da medida intervencionista dando como motivo o “interesse nacional”, sem maiores explicações acerca de como isso se caracterizaria, deixando a exclusivo critério do Presidente da República em decidir quando tal hipótese se verificaria no caso concreto, o que implica novamente numa extensão indevida de seu poder, novamente a representar um recrudescimento do regime em vigor.

O artigo 4º previa a possibilidade de suspensão dos direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassação de mandatos eletivos 109 CAMPANHOLE, op.cit., p. 28.

federais, estaduais e municipais, além de impor uma série de proibições e sanções acessórias aplicáveis simultaneamente conforme o caso concreto exigisse (artigo 5º). Mais uma prova do endurecimento do regime objetivando um controle total da sociedade, que motivou uma nova série de expurgos e perseguições, com a prisão e a fuga para o estrangeiro de centenas de cidadãos.

O artigo 6º previa a suspensão de garantias funcionais de servidores públicos como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a estabilidade, numa clara tentativa de intimidação a aqueles que pertenciam ao aparato governamental para que se comportassem exatamente como pretendia o governo.

O artigo 10º previa a suspensão de habeas corpus nos casos de crimes contra a segurança nacional. Essa medida, isoladamente, já representa um descalabro jurídico contra a presunção de inocência e a liberdade do exercício do direito de ir e vir, que são garantias mínimas de um estado democrático de direito.

Como bem observou Elio Gaspari:

Estava atendida a reivindicação da máquina repressiva. O habeas corpus é um inocente princípio do direito, pelo qual desde o alvorecer do segundo milênio se reconhecia ao indivíduo a capacidade de livrar-se da coação ilegal do Estado. Toda vez que a justiça concedia o habeas corpus a um suspeito, isso significava apenas que ele era vítima de perseguição inepta, mas desde os primeiros dias de 1964 esse instituto foi visto como um túnel por onde escapavam os inimigos do regime. Três meses depois da edição do AI-5, estabeleceu-se que os encarregados de inquéritos policiais podiam prender quaisquer cidadãos por sessenta dias, dez dos quais em regime de incomunicabilidade. Em termos práticos esses prazos destinavam-se a favorecer o trabalho dos torturadores111.

O artigo 11º, que finaliza o Ato Institucional nº 5, demonstra o caráter totalitário que caracterizou a sua instituição no sistema legal brasileiro ao, repetindo o que já acontecera nos Atos Institucionais “1” e 2, pura e simplesmente proibir a apreciação dos atos praticados de acordo com seus dispositivos pelo Poder Judiciário.

Desta forma, além de legislar e executar as leis por ele outorgadas, o Poder Executivo não poderia ter seus atos questionados pela justiça.

Além de tudo isso, ao contrário dos outros Atos Institucionais, o AI-5 não tinha prazo de vigência definido, o que fazia com que sua eficácia seria extinta apenas segundo as conveniências dos mandatários do regime.

Nas palavras do ministro da Justiça, Gama e Silva, a defesa do Ato sem prazo de duração:

A experiência demonstra como foi errado ter fixado prazo no Ato Institucional nº 1. Penso que isto é motivo mais que suficiente para justificar que esse Ato, outorgado como foi, possa até mesmo ser revogado a curto ou longo prazo, mas limitá-lo, seria incidir no mesmo erro do AI-1, quando a Revolução se autolimitou.112

O Ato Institucional nº 5 vigoraria por mais de dez anos, sendo revogado apenas em 31 de dezembro de 1978.

Fica impossível não qualificar como ditadura um regime político com características tão separadas dos mais basilares princípios republicanos e umas das hipóteses que se pretende demonstrar por meio deste trabalho é a de que o AI-5 representa o momento efetivo de recrudescimento do regime militar iniciado em 1964 em direção à ditadura, ao Estado de exceção totalitário

Nesse sentido, da própria ata do Conselho de Segurança Nacional datada de 13 de dezembro de 1968, é possível colher opiniões de que a efetivação daquele Ato Institucional seria a deflagração nítida de uma ditadura.

Nesse sentido, as palavras do vice-presidente Pedro Aleixo, proferidas naquela reunião:

Da Constituição, que é antes de tudo um instrumento de garantia dos direitos da pessoa humana, e da garantia dos direitos políticos, não sobra absolutamente nada. Estaremos instituindo um processo equivalente a uma própria ditadura113.

Ou as palavras do então ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, na mesma reunião:

Sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim e a todos os membros deste Conselho, enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples, mas me parece que claramente é esta que está diante de nós. Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência114.

Essa também é a percepção de Jacob Gorender, no que diz respeito ao AI-5:

A ditadura militar alcançou o ápice do fechamento, o que trouxe conseqüências imediatas. A censura inflexível impôs o controle total da imprensa. Deixaram de circular publicações de oposição, artistas foram presos e forçados a sair do país e se asfixiou a vida cultural. Professores

112 GASPARI, op. cit., p.338.

113 Ata da Quadragésima Terceira Reunião do Conselho de Segurança Nacional. In: GASPARI, Elio. op.

cit., p. 334.

universitários sofreram a punição da aposentadoria compulsória e emigraram para ensinar no exterior115.

Assim, os efeitos pretendidos pelo Presidente da República com a edição do AI-5 não tardaram a ocorrer: censura, cassações, fechamento do Congresso, prisões arbitrárias e aumento do número de casos de tortura são fatos que irão acompanhar a escalada do regime em direção ao recrudescimento desejado pela “linha-dura” do regime, que mais tarde viria justificar a ditadura como condição necessária para o desenvolvimento do país.

Nesse sentido, observa Codato, que

o AI-5 simboliza o ponto decisivo de inflexão do regime e o momento paradigmático do processo de reforço da centralização militar do poder de Estado.116

E ainda, que o AI-5 representava o

aprofundamento da ditadura, com limites severos fixados à atividade política e aos direitos civis revelavam a disposição em continuar, agora em estágio superior, o “movimento de 31 de março de 1964 “e restringiam bruscamente a possibilidade de retomada do controle civil sobre a “Revolução”.117

A inflexão representada pelo AI-5 tratava de debelar a contestação difusa, domesticar vastos setores da sociedade e neutralizar áreas nevrálgicas da opinião pública. Com o AI-5, instaurou-se o controle absoluto.118

O regime mudara de novo para ser então o que não havia sido até então: uma Ditadura com “D” maiúsculo.119

A partir daí, se inicia o processo mais radical de endurecimento do regime, do qual o AI-5 assinala apenas o começo. Novos instrumentos foram sendo criados para aumentar ainda mais o conjunto de poderes autocráticos do governo militar,120 como Atos Institucionais subseqüentes, emendas

constitucionais e legislação ordinária.

Além disso, as forças repressivas atuavam em total desrespeito às leis, por mais severas que estas fossem, não sendo responsabilizadas pelos seus excessos, se constituindo praticamente em uma “força autônoma”.121

115 GORENDER, op. cit., p.150.

116 CODATO, op. cit., p. 15. 117 Idem, pp. 15-16.

118 CRUZ e MARTINS, op.cit., p.36. 119 Idem.

120 CRUZ e MARTINS, op.cit., p. 37. 121 Idem, p.39.

O período seguinte à promulgação do AI-5 veio a ser caracterizado por uma dinâmica da violência, com a implantação de um formidável aparato de repressão e a institucionalização da estratégia de controle pelo terror.122

Além disso, com o AI-5, resolvia-se também o impasse sobre o caráter político-institucional que deveria ser adotado pelo regime militar, bem como a sua longevidade no poder: os militares se arvoraram definitivamente na classe dirigente do país.

Nas palavras de René Dreifuss e Otávio Dulci, em um posicionamento elucidativo sobre a questão:

Uma primeira etapa iria de 1964 ao Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. Nela se observa um enfrentamento de tendências dentro da “área revolucionária”. O foco principal de divergência era representado pelo caráter atribuído à “revolução”. Seria ela uma intervenção transitória, cirúrgica, por assim dizer, do tipo “devolver e limitar”, para uns restauradora da ordem constitucional, para outros reformadora dessa ordem, mas destinada a refluir como processo? Ou essa intervenção seria o início de um processo revolucionário permanente, que não deveria ser enquadrado nos limites da legalidade convencional? O Ato Institucional nº 5, ao cabo do período assinalou a vitória da segunda opção. Com o AI-5, as Forças Armadas se tornaram o Poder Dirigente sobre a nação.”123

122 ALVES, op.cit., pp. 136-137.

123 DREIFUSS, René e DULCI, Otávio. As forças armadas e a política. In: SORJ, Bernardo;

ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de (orgs.). Sociedade e política no Brasil pós-64. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983, pp. 93-94.

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