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Durante o governo de Castello Branco, reconhecido como um militar moderado2, foi editado, em 27 de outubro, o Ato Institucional no 2 (AI-2)3. Por meio

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Como lembrou Creuza Berg (2002), havia uma divergência ideológica entre os militares que dava origem a duas correntes: a linha moderada ou ‘Sorbonne’, mais intelectualizada e ligada à ESG; e a linha-dura vinculada diretamente ao comando das tropas e operações antiguerrilhas.

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O AI-2 foi composto por 33 artigos. Além de estabelecer o bipartidarismo, através de seu artigo 18, e de tornar as eleições presidenciais indiretas, o Ato Institucional aumentou o número de ministros do STF de 11 para 16, o que garantia ao governo militar a maioria

do AI-2, os poderes do presidente foram maximizados permitindo que ele exercesse a cassação de direitos e mandatos políticos, tornasse indiretas as eleições para presidente da República, além de extinguir todos os partidos políticos existentes, criando apenas dois: um para o governo – Aliança Renovadora Nacional (ARENA); e outro para a ala oposicionista – Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

No ano de 1966, após a decretação do Ato Institucional no 3 (AI-3)4, o MDB teve o seu corpo partidário mutilado, pois sofreu expurgos nesse período e acabou perdendo 38 parlamentares que possuíam assento no Congresso Nacional.

Para Maria H. M. Alves:

A campanha de intimidação destinava-se a enfraquecer o MDB e garantir uma decisiva vitória à ARENA. Pretendia também criar um clima de crise, que daria ao governo vantagem na negociação da nova Constituição, com um Congresso Nacional e um partido de oposição intimidados. A campanha preparou terreno, assim, para a redação de uma Constituição altamente autoritária, destinada a institucionalizar o Estado de Segurança Nacional (2005, p. 124).

A pressão exercida pelo governo militar era muito incisiva e visava, antes de mais nada, esvaziar a oposição e enfraquecê-la politicamente. As eleições realizadas em 19665 para o Senado Federal e para a Câmara dos Deputados, exibiram resultados satisfatórios e que diziam respeito aos candidatos da ARENA.

nesse tribunal. O AI-2 esteve em vigência até 15 de março de 1967, ao entrarem em vigor a nova Constituição e a primeira Lei de Segurança Nacional (LSN) do regime militar.

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A promulgação do AI-3 aconteceu poucos meses depois das eleições que se realizaram em 1965 para a escolha de governadores. Contudo, segundo a lei eleitoral vigente, outras eleições ainda deveriam ocorrer, pois nem todos os Estados tinham escolhidos os seus representantes. Por isso, o AI-3 pode ser considerado como uma espécie de manobra no terreno eleitoral, pois o “seu artigo primeiro estabelecia que a partir de então os governadores seriam eleitos indiretamente por maioria absoluta de votos das assembléias legislativas. A votação seria pública e nominal. Os prefeitos de todas as capitais estaduais seriam nomeados pelos governadores; os demais prefeitos poderiam ser eleitos por voto popular secreto” (ALVES, 2005, p. 121). Tudo isso, porque se notou, através das eleições de 1965, que o controle pretendido pelo regime militar não se projetava com força nas regiões mais industrializadas do país, bem como com maior acesso a informação.

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No ano de 1966, quando ocorreram as eleições indiretas para governador de Estado, houve também a eleição de membros para o Poder Legislativo. A oposição conseguiu obter

A realidade vivida pela política nacional esboçava a tranqüilidade desfrutada pelo regime militar, tendo em vista que o partido do governo havia se destacado nas eleições de 1966 e a oposição oficial passava por um momento delicado e caracterizado, sobremaneira, pelo enfraquecimento de suas forças. Além do mais, o Congresso se encontrava paralisado devido a um Ato Complementar (AC), o de no 23, baixado pelo presidente Castello Branco em 20 de outubro de 1966 e que fechava as portas do Parlamento brasileiro.

Todavia, como mencionou Maria H. M. Alves, em 7 de dezembro de 1966, com a edição do Ato Institucional no 4 (AI-4)6, foi permitido que o Congresso voltasse a funcionar para que pudesse atribuir legitimação à votação da nova Constituição7.

Como se já não bastasse as limitações impostas ao Poder Legislativo, o Poder Judiciário, com a edição da mais nova Carta Magna que foi aprovada por um Congresso exaurido, viu-se impossibilitado de levar adiante algumas de suas funções. Para o regime militar, isso podia ser considerado um momento especial,

132 cadeiras no Congresso, e a ARENA aumentou a sua representatividade de 254 cadeiras para 277. Com relação ao Senado Federal, os candidatos do MDB obtiveram 43,3% dos votos e os candidatos do partido do governo conseguiram 56,6 % de votos. 6 Com a decretação do AI-4, Castello Branco convocou o Congresso em sessão extraordinária que foi de 12 de dezembro de 1966 até 24 de janeiro de 1967, para debater, votar e promulgar a nova Carta constitucional.

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A Constituição de 1967 possibilitou que houvesse uma canalização ainda maior de poder ao Executivo facultando-lhe o direito de legislar a respeito de questões da Segurança Nacional. Sobre a economia brasileira, como lembrou Maria H. M. Alves, o Estado interferiria em áreas que fossem importantes para a manutenção da segurança interna e que não pudessem ser desenvolvidas satisfatoriamente apenas com a injeção de capital privado. Além do mais, sobre a segurança interna, “a ameaça à segurança nacional era assim definida como uma ameaça antes a fronteiras ideológicas do que a fronteiras territoriais. Além disso, a defesa da segurança nacional seria responsabilidade não só das Forças Armadas, como de toda pessoa natural ou jurídica da sociedade civil. Indivíduos e organizações poderiam ser considerados criminalmente responsáveis por deixar de fornecer informação sobre as atividades daqueles considerados pelo Estado como parte do inimigo interno” (ALVES, 2005, p. 133).

pois o Supremo Tribunal Federal (STF) havia interferido em questões delicadas e decidido por ir contra aos ideais e anseios militares.

No período entre os meses de abril de 1964 e outubro de 1965, as pessoas que eram punidas por cometer alguma irregularidade vista como subversiva podiam, ainda, recorrer à Justiça Comum ou diretamente ao STF. “Nesse primeiro período, o STF e os tribunais estaduais tomaram decisões que respeitaram as garantias individuais estabelecidas pela Constituição Federal de 1946” (MATTOS, SWENSSON Jr., 2005, p. 18-19).

Com a decretação do AI-2 e mais tarde a incorporação de seus dispositivos pela Constituição de 1967, os Tribunais Militares e não mais a Justiça Comum, passaram a decidir sobre os destinos dos processos políticos que apuravam algum crime cometido contra a Segurança Nacional, impossibilitando que indivíduos enquadrados em IPMs escapassem dos julgamentos.

Em meio às edições dos Atos Institucionais e a preocupação do governo em formular uma Constituição que estivesse à altura do regime político, a sucessão de Castello Branco era pensada e discutida nos bastidores do poder. O seu sucessor foi um representante da linha-dura, o general Artur da Costa e Silva.