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O grupo de estudo para criação de sinais

4. AÇÕES METODOLÓGICAS

4.2 O grupo de estudo para criação de sinais

Ressalta-se que essa pesquisa tem como premissa básica para o processo ensino aprendizagem de estudantes surdos, a Libras como meio de interação em sala de aula. Assim, considera-se etapa fundamental para elaboração de uma proposta de material didático adequado ao ensino de estudantes surdos, a criação de sinais em Libras relacionados à terminologia utilizada em modelos qualitativos. Para isso, constituiu-se um grupo formado por surdos para criação dos sinais em Libras.

4.2.1 – Objetivos

Os objetivos definidos para o grupo de estudo são os seguintes:

- levantar terminologia existente em Libras relacionada aos modelos qualitativos;

- desenvolver terminologia não existente em Libras relacionada ao modelo qualitativo e

- elaborar glossário20 em Libras a ser utilizado na aplicação de modelos qualitativos ao ensino de Ciências a estudantes surdos.

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Conforme dicionário eletrônico ‘Aurélio’ da Língua Portuguesa, o termo glossário refere-se ao vocabulário que figura como apêndice a uma obra. No caso do presente estudo, vocabulário que figura como apêndice aos modelos qualitativos.

4.2.2 - Informantes

Participaram desta etapa de pesquisa seis estudantes surdos do curso de graduação em Letras-Libras da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, pólo UnB turma iniciada em outubro de 2006, o que foi determinante na escolha dos informantes da pesquisa. Considerando o contexto do perfil dos alunos desse curso, a saber, todos surdos, em sua maioria com experiência como instrutores e/ou professores de Libras, e ainda, o fato de estarem cursando o 3º período do curso de graduação, esses alunos já possuíam um conhecimento a respeito da estrutura da Língua de Sinais, pois já haviam cursado disciplinas como Estudos Lingüísticos, Morfologia, Fonética e Fonologia, Sintaxe, Libras I, Libras II; Escrita da Língua de Sinais I e II. Essas características muito contribuíram com a pesquisa aqui proposta.

Entende-se que cabe aos membros da comunidade surda a competência para criar novos sinais. Como já mencionado no capítulo I;

A ausência de sinais para expressar um determinado conceito em Libras prejudica a compreensão de todo o conteúdo ministrado. Por outro lado, somente após a compreensão significativa desse conceito pelos alunos surdos, o sinal correspondente poderá ser criado e incorporado à língua de sinais. (GAUCHE e FELTRINI, 2007, p. 6).

Diante disso, não era prioridade formar um grupo com muitos participantes, mas era importante que os estudantes assimilassem bem os modelos, o conteúdo e os conceitos apresentados, para então, desenvolver sinais correspondentes em Libras; conceitualmente claros e corretos. Assim, o grupo de estudo era coeso, assíduo e participativo. Tratava-se de um grupo piloto, que construiria a proposta de um glossário científico. A experiência deste grupo, sendo

dada a conhecer, pode contribuir para a geração e ampliação da terminologia científica em Libras e de outros grupos de estudo.

Todos os informantes são surdos falantes/sinalizadores de Libras. Esclarece-se que os alunos receberam a designação de A, B, C, D, E e F. A apresenta surdez congênita severa/profunda bilateral, tem 22 anos de idade, iniciou o aprendizado de Libras entre 9 e 12 anos de idade, apresenta nível avançado21 quanto ao conhecimento de Libras. Aprovado no exame do PROLIBRAS22. B também apresenta surdez severa/profunda bilateral, adquirida com 1 ano e 6 meses de idade. O aluno tem 21 anos de idade e iniciou seu aprendizado em Libras antes dos 6 anos, apresenta nível avançado de conhecimento de Libras e atua como instrutor23 de Libras. C apresenta surdez congênita severa/profunda bilateral, tem 27 anos de idade, iniciou o aprendizado em Libras antes dos 6 anos e apresenta nível avançado de conhecimento de Libras. O aluno é formado em Filosofia e atua como instrutor de Libras. Aprovado no exame do PROLIBRAS em ensino de Libras, nível superior. D tem surdez congênita severa/profunda bilateral, tem 38 anos de idade, iniciou o aprendizado em Libras antes dos 6 anos de idade, apresenta nível avançado de conhecimento de Libras e atua como instrutor de Libras. E tem surdez congênita severa/profunda bilateral, tem 32 anos de idade, iniciou o aprendizado em Libras com 9 anos de idade, com 11 anos teve contato e convivência com surdos adultos o que aprimorou seu aprendizado. Apresenta nível avançado de

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Considera-se nível avançado de conhecimento de Libras aquele indivíduo que

compreende/sinaliza de modo eficaz em sua vida social, profissional e acadêmica, expressando- se sobre assuntos complexos de forma clara e bem estruturada, é capaz de reconstituir fatos e argumentos de várias fontes sobre assuntos complexos, distinguir nuances de sentido e significados implícitos (CHAN, 2008, manuscrito não publicado).

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PROLIBRAS é o exame nacional de proficiência em Língua Brasileira de Sinais. 23

Denomina-se instrutor de Libras o surdo que ministra aulas de Libras, porém não possui formação em magistério ou pedagogia e denomina-se professor de Libras o surdo com formação no

conhecimento de Libras. Formado em Pedagogia atua como professor de Libras. Aprovado no exame do PROLIBRAS, proficiência em ensino de Libras, nível superior. F tem surdez congênita severa/profunda bilateral, tem 30 anos de idade, iniciou o aprendizado em Libras na adolescência e apresenta nível avançado de conhecimento de Libras, graduado em Pedagogia - Licenciatura Plena; com Pós- graduação lato sensu em Língua Brasileira de Sinais - Libras, aprovado no PROLIBRAS, proficiência em ensino de Libras, nível Superior.

4.2.3 – Planejamento

O grupo de estudo foi coordenado pela pesquisadora e antes de iniciar seus trabalhos realizou-se o levantamento da terminologia envolvida em modelos qualitativos e suas respectivas definições. Foram registrados os seguintes termos: entidades, configurações, quantidades, valores qualitativos de quantidades, magnitude, derivada, espaços quantitativos, processo, influências diretas (I+, I–), proporcionalidades qualitativas (P+, P–), correspondências (Q,V), cenários, estado do sistema, grafo de estados, comportamento do sistema, trajetória do sistema, diagramas de valores das quantidades, modelo causal, pressupostos e raciocínio qualitativo.

Após o levantamento, com o objetivo de localizar o significado correspondente a cada termo e detectar se estes já haviam sido registrados na Libras, os termos foram consultados em três dicionários de Libras considerados entre os mais divulgados atualmente, conforme Marinho e Carvalho (SALLES et al.,

2007a), a saber, Dicionário Digital da Língua Brasileira de Sinais (LIRA e SOUZA, 2005) publicado pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES (2001 e 2005), Dicionário de Libras Ilustrado da Secretaria de Educação do Governo de São Paulo (s.d.) e Dicionário Enciclopédico Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001). Tratam-se de dicionários genéricos, portanto, a cobertura de termos científicos é muito limitada.

O desenvolvimento dos sinais relacionados ao glossário de modelos qualitativos pelo grupo de estudo se deu em três etapas. Na primeira, o foco foi a compreensão dos modelos qualitativos pelos informantes surdos; na segunda, a criação de sinais e posterior registro dos mesmos em vídeo e na terceira etapa, realizou-se a validação dos sinais criados. Para isso foram realizados encontros semanais na Escola de Informática da Universidade de Brasília – UnB, com duração de 2 a 3 horas em cada encontro.