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3 A BIBLIOTECA NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO

3.1 O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO NA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA

Atualmente, as estruturas organizacionais, em maior ou menor grau, estão sendo, inevitavelmente, impactadas

pelas TICs. Especialmente, aquelas que lidam,

universidades, das bibliotecas e instituições congêneres, as quais devem dar a devida atenção às inovações tecnológicas, às novas possibilidades dispostas pelas tecnologias, entendendo-as como ferramentas passíveis de potencializar as capacidades do homem. Em relação a esse impacto, Lévy prevê que:

em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. (LÉVY, 1999, p. 167).

A virtualidade da informação é apontada pelo autor como a característica mais marcante do ciberespaço, por ele designado como sendo o:

“universo das redes digitais; como: o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores [...] inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos, [...] que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização.” (LÉVY, 1999, p. 92).

Lévy (1999) diz, ainda, que como novo suporte de informação e comunicação “novos critérios de avaliação do saber e o envolvimento de novos atores na produção e

tratamento do conhecimento surgirão.” Em suas

considerações, adverte que “qualquer política educacional deve levar isso em conta”.

Acompanhar as mudanças e incorporá-las ao seu funcionamento faz parte das atividades da universidade, visto que seus maiores objetivos são o desenvolvimento educacional, social, político e econômico da sociedade. Por

isso mesmo, é inegável que está havendo uma evidente transformação do contexto universitário, tanto no âmbito nacional, quanto no internacional (FUJITA, 2005). Essa transformação decorre de diversos fatores destacados por López Yepes (2000):

 A aproximação da Universidade com o meio empresarial e organizações sociais, o que passa a exigir maior qualidade dos seus serviços;

 Crescimento significativo da demanda por formação em nível superior;

 Incorporação das tecnologias da informação, bem como da capacitação de pessoas para o uso das mesmas, de forma a promover amplamente a inclusão digital e o acesso à informação. Evitando, assim, a divisão social entre aqueles que possuem e os que não possuem acesso à informação;

 O avanço da socialização e interiorização do conhecimento, graças, entre outras iniciativas à universidade virtual, na qual se encontram todos os elementos da organização universitária, bem como a conjunção dos profissionais que nela trabalham.

A Universidade é, por excelência, o espaço de criação e comunicação do conhecimento, o qual se materializa sob os mais distintos formatos: “texto, gráfico, som, algoritmo e simulação da realidade virtual [...] distribuído em redes mundiais, em representações digitais, acessíveis a qualquer indivíduo” (CUNHA, 2000, p. 73). De fato, a convergência digital dos mais diversos meios de comunicação permite aos indivíduos o amplo acesso ao conhecimento, privilégio, tradicionalmente intrínseco à academia. A biblioteca

intermediadora, realizando os processos documentários e preservando a informação para posterior transformação em conhecimento, em um contínuo espiral de evolução científica e tecnológica.

A biblioteca universitária é nomeada por López Yepes (2000) como uma “fábrica de ideias” e evidencia a importância da informação como matéria prima essencial para a criação de novos saberes e, nesse processo a destaca como o elo vivo da organização universitária.

Novelli, Hoffmann e Gracioso (2011, p.144) asseveram que as bibliotecas são partícipes na construção do conhecimento, pois, são responsáveis por “prover acesso, dinamizar, socializar, divulgar essa produção e também disponibilizar instrumentos que facilitem o acesso, o uso da informação nas diversas áreas do conhecimento humano”.

Apesar de toda a potencialidade que as TICs encerram, estudos desenvolvidos no âmbito nacional e internacional constatam que as bibliotecas ainda não as exploram adequadamente e que “fatores tecnológicos, humanos e sociais estão atrelados a isto”. Entretanto, “quando estes recursos são incorporados tem havido maior

aproximação e apropriação do usuário sobre os

conhecimentos buscados na biblioteca” (BLACK; KILZER,

2008; BLATTMANN; SILVA, 2007; GONÇALVES;

CONCEIÇÃO; LUCHETTI, 2010; KIM; ABBAS, 2010; MANESS, 2007; PEREIRA; GRANTS; BEM, 2010; SANTOS; ANDRADE, 2010; SHONIWA; HALL, 2007; XU; OUYANG; CHU, 2009 apud NOVELLI; HOFFMANN; GRACIOSO, 2011, p. 159-160 apud NOVELLI; HOFFMANN; GRACIOSO, 2011, p.160).

universitárias, quanto suas instituições mantenedoras – sejam de natureza pública ou privada – são consideradas como as principais provedoras do conhecimento registrado, embora o privilégio do papel da biblioteca como principal provedor de informações venha sendo „ameaçado‟ pelo impacto da tecnologia digital.

Em relação a essa possível „ameaça‟, Lévy (1999, p. 88) assegura que as estruturas anteriores não vão desaparecer, mas que será preciso se ajustar à nova conjuntura determinada pelo ciberespaço. Defende que “O virtual não „substitui‟ o „real‟, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo” (LÉVY, 1999, p. 88). Ainda, segundo Lévy, a tecnologia digital permite a hipertextualidade, a interatividade, a fluidez e a virtualidade da informação, características mais marcantes do ciberespaço, ao que define como sendo o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias desses, incluindo os sistemas de comunicação eletrônicos que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou passíveis de digitalização caracterizada por codificação digital.

Cunha (2000) apresenta um quadro evolutivo da biblioteca num período de 150 anos, descrevendo-o em cinco eras: a passagem dos manuscritos para os textos impressos marcam a Era I (Biblioteca Tradicional e Moderna); seguida do acesso à base de dados bibliográficas armazenadas em grandes bancos de dados (Era II que caracteriza a Biblioteca Automatizada); depois, o uso do CD-ROM (Era III que identifica a Biblioteca Eletrônica); na sequência, a Era IV, marca o surgimento da Biblioteca Digital e; a Era V, representa a chamada biblioteca 2.0, que inclui a aplicação de ferramentas da Web 2.0, nos principais produtos e serviços da

biblioteca universitária: blogs, wikis, podcasts, o social bookmarking (ou marcadores sociais) e as redes sociais.

Outra questão que se coloca é que as TICs correspondem a um divisor de águas nos processos

relacionados aos locais de pesquisa, à busca e

armazenamento e a forma de recuperação e disseminação da informação. Pois, promoveram mudanças significativas, impactando nas funções e atividades das bibliotecas universitárias e dos bibliotecários (SCHWEITZER, 2010). Algumas das principais mudanças nos processos das bibliotecas estão ilustradas no Quadro 4.

Quadro 5 - Mudanças nos processos da biblioteca após a incorporação das TICs.

Processo Tradicional (antes das

TICs) Com o uso das TICs

Pesquisa Bibliográfica Principais Fontes: Periódicos, Teses, Dissertações, Livros (impressos). Livros e Periódicos eletrônicos, Bases de Dados, Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações, Portais de Periódicos, Bases Referenciais. Disseminação da Informação Veículos: Livros e Periódicos impressos.

Meio de divulgação: E-Books, Sites. Periódicos eletrônicos. Armazenamento da Informação Bibliotecas e Centros de documentação (físico). Bibliotecas Digitais, Repositórios (Open Archives), Bases de Dados Eletrônicas. Recuperação da Informação Bibliotecas e Centros de documentação (Presencialmente) Estações de trabalhos institucionais ou domésticas. Acesso remoto a materiais eletrônicos.

Fonte: Adaptado de Schweitzer (2010)

Tal como Lévy (1999), em 1994, Lancaster também

ponderou que as inovações tecnológicas e outras

ou como oportunidade para a valorização da biblioteconomia pela sociedade. Ele destacou que a mudança mais marcante com relação à filosofia da biblioteca foi a mudança do paradigma: da propriedade para o acesso. Para ele, “A forma da biblioteca do futuro será também determinada pela forma da instituição da qual ela fizer parte”. (LANCASTER, 1994, p. 17).

Em suas considerações Lancaster analisou que “a automação dos serviços se tornou um fim em si mesma” e, por isso, os bibliotecários, acreditaram que a mera adoção da tecnologia resolveria a questão do acesso à informação e, com isso, ganhariam prestígio profissional. O autor defendeu que as tarefas de natureza intelectual, como, análise de assunto ou formulação de estratégias de busca ou, ainda, a interpretação das necessidades informacionais dos usuários, dificilmente, serão substituídas pela Inteligência Artificial ou por qualquer outra tecnologia, em um futuro próximo. (LANCASTER, 1994, p. 23).

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