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5.5 OS IMPACTOS GERADOS PELA MONTADORA

5.5.1 O impacto econômico

5.5.1.2 O impacto econômico nos negócios

Além do impacto econômico na parte de arrecadação municipal, a instalação e o funcionamento da Honda também provocam um impacto da área de negócios em Itirapina. Segundo o entrevistado A01, empresário do setor alimentício e presidente do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), a respeito de seu negócio,

A partir do momento que foi falado que a Honda viria para Itirapina, nós começamos a nos preparar [...] Nós fizemos um estudo, um levantamento de quanto seria essa demanda e se estaríamos prontos para atender. No caso, na época não estávamos e teríamos que fazer um investimento meio alto. Aí começamos. Nós investimentos em estrutura de base, que é câmara fria, novos fornos, frota própria de moto, e fomos construindo essa estrutura.

Apesar da fábrica da Honda se manter parada, e ainda não operar em capacidade máxima, a produção da empresa de C01 de imediato alcançou o nível máximo, incorporados os últimos investimentos. Isso ocorreu não só porque os novos funcionários da Honda começaram a se estabelecer na cidade, mas também porque clientes antigos, residentes de Itirapina, que foram contratados para prestar serviços à montadora, passaram a utilizar seus serviços alimentícios com maior frequência e consumir produtos mais caros, uma vez agora que possuem tickets de alimentação. Ademais, a expansão da cidade, caracterizada pela construção de novos loteamentos, o aproximou geograficamente de seus clientes.

Ainda assim, suas perspectivas serão ainda maiores quando a Honda operar toda a produção para Itirapina, dado que novos funcionários serão contratados e consumirão os mais variados bens e serviços da cidade, especialmente em sua área de atuação. Por isso, o empresário C01 possui planos para novos investimentos e ampliação de seu quadro de funcionários, a fim de aumentar a produção em torno de 50%. “Se a Honda não viesse, teríamos um crescimento natural, mas não nessa velocidade e nesse padrão”, salientou.

Um ponto relevante é a mudança no modelo de consumo dos bens e serviços em Itirapina. Isso significa que há uma mudança no perfil do cliente advindos do intercâmbio cultural.

Esse público que vem de fora é um público que tem um perfil de consumo diferente. Geralmente marido e mulher trabalham e estão acostumados com o delivery e acostumados a sair fazer a refeição fora também. Cidade grande tem muito disso. Então a gente começou a preparar a empresa para isso [...] A Honda não traz só os funcionários morando na cidade, mas traz também uma gama de valores [...] Os funcionários que vêm da cidade grande para a pequena já têm padrões esperados pelo comércio.

Assim, cabem aos empresários da cidade se adequarem as novas exigências impostas, como melhorar a qualidade de seus serviços e produtos e ampliar os horários de funcionamento.

Esse processo evolutivo causado pelos novos clientes, ligados direto e indiretamente a Honda, também alterará a dinâmica concorrencial dos comércios e a viabilidade de novos investimentos. Caso os empresários locais não se adequem aos novos padrões exigidos pelo diferente perfil do público, abrirá espaço para os demais de outras cidades se instalarem em Itirapina. “Infelizmente tem comerciante que não enxerga o crescimento potencial no seu negócio e não investe [...] Então, virá gente de fora onde estiver um serviço mal prestado”, de acordo com C01. No entanto, para os empreendedores conscientes, esse impacto aumenta a viabilidade de novos investimentos. “Se antes não era possível aprimorar os serviços, agora tem púbico formado para isso”, segundo C01, que pretende estender seu nicho de atuação para alimentos goumerts e ampliar o espaço físico de seu restaurante. Portanto, a população itirapinense também se beneficia pelos novos serviços, horários e especialmente pela geração de empregos indiretos pelo próprio setor terciário.

Além disso, o impacto econômico é demonstrado no setor turístico. Com funcionários transferidos e maior fluxo de terceirizados de outras localidades, os indivíduos buscam conhecer a região, sobretudo Itirapina. “A Honda fez barulho para Itirapina [...] É comum famílias dos funcionários de Sumaré virem para se hospedar, conhecerem a cidade, antes mesmo de serem transferidos”, segundo A02, proprietário de uma pousada, camping e restaurante. “Hoje, o pessoal relacionado a Honda representa em torno de 20% a 30% do meu faturamento”, finaliza. Assim, o aumento dessa visibilidade atrai uma demanda para os pontos turísticos da cidade e o consumo de seus bens e serviços.

Essa contribuição ao turismo resulta também no fortalecimento do status de Município de Interesse Turístico (MIT) de Itirapina, que passou a ser classificada a partir de fevereiro de 2019. Com maior fluxo de turistas, relacionados às atividades da Honda, a cidade se consolida como atração turística. Na prática, com o título, o município ganha visibilidade no cenário turístico estadual e poderá pleitear recursos de cerca de R$ 650 mil por ano para melhoria da infraestrutura turística, por meio de projetos delineados no Plano Municipal de Turismo e devidamente aprovados pelo COMTUR (ITIRAPINA, 2019). A intenção é que o turismo seja uma oportunidade de diversificação na geração de emprego e renda para o município, que hoje caminha para o crescimento no setor automobilístico (SANTINI, 2019 apud A CONQUISTA..., 2019).

Vale ressaltar que o impacto nos negócios começou a partir do início das obras da fábrica. “Desde quando iniciou a construção, houve um grande crescimento no setor de hospedagem [...] No início, 90% das nossas ocupações estavam ligadas a operários que construíam a fábrica. Chegou a faltar vagas”, segundo A02, que ampliou o número de

apartamentos em 45% no período para atender à crescente demanda. De acordo com P01, centenas de operários se alocaram na cidade para a construção da Honda, formando repúblicas em residências alugadas ou se estabelecendo em pousadas. Esse representativo acréscimo populacional impactou o comércio, especialmente setores ligados ao imobiliário, a mercearias, ao vestuário, ao varejo, etc.

Todavia, entre o final de 2015 até início de 2019, a Honda adotou uma estratégia de rever suas decisões de abertura da fábrica em Itirapina, devido à queda de vendas de veículos em 2014 e 2015. Isso sucumbiu as expectativas favoráveis dos comerciantes. No intervalo da fábrica pronta até sua inauguração, foi um período de exercício com uma quantia muito restrita de funcionários, que atuavam na fábrica para a realização de testes e para não a deixar parada e depreciando. Por isso, houve um retrocesso de demanda no comércio de Itirapina, causada pelo esvaziamento das empresas construtoras e seus funcionários.

Se o período anterior apresentou grande aumento na quantidade de bens e serviços, o comércio voltou ao status quo antes da vinda da Honda, enquanto a produção da empresa ficou parada. Com isso, o comércio e o setor imobiliário, após um boom, entraram em dormência. Os preços dos alugueis voltaram ao normal e ficaram desocupados. As empreiteiras chegaram a alocar imóveis para seus funcionários por R$ 7 mil mensais, em contratos que antes eram de R$ 2,5 mil. O restaurante “La Pequetita”, por exemplo, fornecia mais de 600 refeições ao dia e 500 marmitas. No período de estagnação, ofereceu apenas 300 refeições e os pedidos de marmitas acabaram. (SILVA, 2015).

Contudo, essa transição foi um período cíclico da economia itirapinense. A Honda fora instalada, e era uma questão de tempo para a fábrica iniciar suas atividades e os seus novos funcionários preencherem essa demanda. Mais favorável, a máxima capacidade de empregos diretos é de 2.000 funcionários, superior ao boom do período de construção. Aos empreendedores visionários, foi possível utilizar esse espaço temporal para realização de novos investimentos, e assim, ampliar sua capacidade de produção à espera dos novos clientes ligados à montadora. Dessa forma, o setor terciário se beneficiará, uma vez que o número de pessoas empregadas tende a crescer. Enquanto A01 diz que “A vinda da Honda é uma bola de neve positiva”, A02 complementa: “a percepção é que a cidade tende só a aumentar, crescer cada vez mais”.

Portanto, desde o início da construção da Honda, até o aumento de produção de automóveis de modo gradativo, houve impactos econômicos de diversas ordens ao município de Itirapina. Em relação ao setor terciário no período de construção e de funcionamento da Honda, os novos empregos gerados no setor automobilístico resultam em um aumento nas

previsões de vendas, e então expansão das atividades produtivas dos empresários locais. Com isso, há novas contratações nessas atividades de prestação de serviços e de comércio, e consequentemente, um círculo vicioso de geração de emprego e renda, impulsionando a economia local.