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1. Algumas formas de narrativas acerca da gênese da Música Eletrônica de Pista

1.6. O início da digitalização: a chegada dos CDJs

Os players de CD para uso de DJs já estavam disponíveis no mercado desde meados da década de 1990, entretanto, o tipo de design e a pouca precisão do pitch não ajudavam para sua popularização. No entanto, em meados e final da década de 1990 dois modelos de CDJ foram lançados, o CDJ-500 e o CDJ-100s, respectivamente em 1994 e 199817, pela empresa Pioneer, e foi com essa linha de equipamentos da Pioneer que os CDs player usados por DJs receberam a denominação CDJ. A precisão do pitch também foi melhorada consideravelmente. Mesmo não tendo atingido um nível de confiança significativo entre os DJs; os CDJs já eram vistos com menos desconfiança. Mas ainda não foram adotados como ferramentas exclusivas ou de uso cotidiano na prática da discotecagem. Os CDJs continuaram sendo usados em casos esporádicos e alternando o seu uso com o dos toca-discos. Outro fator relevante foi o desenvolvimento de um design que aproximava mais o uso do CD ao do disco de vinil; tipo de manipulação que os DJs já                                                                                                                          

16É a técnica de pitch shifting (alteração de tempo e tonalidade) ou timestretching (estensão de tempo) de uma faixa

em relação a uma outra; isto é, de forma que as batidas dos tempos fortes das duas faixasestejam no mesmo tempo para que ambos estejam sincronizados e possam ser executados simultaneamente.  

17Mais informações sobre os lançamentos de equipamentos da empresa Pioneer para DJs estão disponíveis em: http://www.djsource.eu/Topics/story/38/The-Pioneer-Pro-DJ-History/#CDJ-500.

estavam habituados. Ou seja, a forma física do equipamento fazia referência direta à figura do havia se estabelecido como um DJ.

Com os dois modelos de CDJs supracitados, lançados pela Pioneer, um novo cenário para discotecagem com CDs começa a se delinear. Mas é em meados dos anos 2000 que os CDJs, principalmente os produzidos pela Pioneer, conseguem se tornar os equipamentos mais utilizados pelos DJs. A maior aceitação por parte dos DJs parece se dar porque as dimensões físicas do CDJ são alteradas e o design fica mais próximo do toca-discos; o que facilita significativamente a manipulação, pelo fato da familiaridade dos DJs com os toca-discos. O que até então vinha sendo chamado de pitch adjust muda de nome e passa a ser chamado de Tempo. Essa mudança não é arbitrária, ela tem um fundamento técnico. Pois, o pitch, como nos toca-discos, não altera somente a velocidade dos registros, ele também altera o tom. Com aproximadamente 2,95 de porcentagem de pitch para mais ou para menos um semitom é alterado. Então, como no caso dos

pitch adjust dos toca-discos que tem uma escala de 8% para mais ou para menos é possível à

alteração de um tom acima ou abaixo do original. A partir dos CDJ-500 o pitch adjust passa a ser denominado Tempo, pois é inserida a função master tempo, que quando acionada faz com que o antigo pitch adjust altere somente a velocidade de andamento do registro, ou seja, seu tempo, sem alterar a tonalidade. Além dessa nova função a precisão foi melhorada significativamente, e a porcentagem de velocidade passível de alteração por meio do pitch que até então era de 10% para mais ou para menos, passa a dispor de três porcentagens diferentes, 6%, 10% ou 16%.

A partir de então o visor desta nova linha de CDJs apresenta a porcentagem exata (com precisão de dois algarismos após a vírgula) de Tempo que está sendo usada. Por exemplo, se estamos executando a música X utilizando + 2, 40% de Tempo e a sua velocidade é de 126 BPMs18. Isso quer dizer que a velocidade original desta música é de 123 BPMs19, porque se reduzirmos a porcentagem de Tempo para +1,60% a velocidade de execução que era de 126 BPMs reduzirá para 125 BPMs, e se seguirmos reduzindo 0.8% de Tempo até chegarmos a porcentagem zero na régua de Tempo do CDJ notaremos que a música estará com a velocidade de 123 BPMs. O aumento de precisão foi fundamental para o surgimento da técnica de mixagem até então não existente, baseada em cálculo e não na percepção auditiva das diferenças, mas esta questão será abordada na seção “habitar uma tecnologia”.

                                                                                                                         

18Batidas por minuto.  

19 Os valores utilizados no exemplo acima não são exatos (como demonstramos na tabela 1), mas para uma

explicação preliminar de como funciona essa técnica de beatmatching estes valores podem ser usados como recurso ilustrativo.

As alterações de design que ocorreram foram, basicamente, as seguintes: 1) a inserção do

jog wheel20; 2) o aumento do tamanho dos visores e das informações que eles disponibilizam; 3) o CDJ passa a ser uma peça única e independente. Diferente dos modelos que existiam até então, que eram compostos por duas peças21; em uma destas peças estavam localizadas as duas gavetas onde são inseridos os CDs; a segunda peça que completava o conjunto era composta por um painel com dois visores dispostos lado a lado com seus respectivos controles de Tempo, dois botões para seleção de faixa, outros dois botões intitulados pitch bend (que exercem a mesma função do jog wheel); no entanto, estes são inferiores ― em termos de precisão ― se comparados ao jog wheel. Essa inferioridade se dá, principalmente, devido ao tipo de manipulação permitida pelo jog wheel, este permite “acelerar” ou “retardar” a velocidade do registro que está sendo executado com movimentos muito semelhantes aos usados na manipulação dos discos com os toca-discos. Apartir do ano de 2002 quando chega ao mercado o CDJ-800 que dispõe, assim como os modelos que surgiram após este modelo, da função vinyl mode, esta opção de modo de funcionamento do jog wheel tenta emularomodo de funcionamento do disco no toca-discos, para que este modo de funcionamento fique o mais próximo do disco de vinil a superfície do jog wheel passa a ser sensível ao toque da mão; junto com essas funções vem o vinyl speed ajust, que serve para regular a intensidade da força de disparo e parada do CD ― para simular o que ocorre com os discos ―; também é acrescentado o jog adjust, este é um parâmetro para a regulagem da resistência do jog wheel aos movimentos para frente ou para trás com a finalidade de acelerar e retardar o andamento do CD. Desta forma o nível de aceleração do som que está sendo executado está associado à força do movimento empregado pela mão no dispositivo e o nível de resistência ao movimento para que o dispositivo foi regulado para oferecer. O pitchbend, por sua vez, é um dispositivo constituído por dois botões, um botão de + (mais), que serve para acelerar a velocidade do registro sem a necessidade de alteração da velocidade na régua de pitch/ Tempo, e outro botão de – (menos), que tem o mesmo objetivo do botão de + (mais), que é alterar a velocidade de andamento sem a necessidade de alterar a porcentagem de execução na régua de

pitch/Tempo, mas serve para retardar a velocidade ao invés de acelerar. Assim o nível de

                                                                                                                         

20 Círculo localizado no centro do CDJ que, apesar de não girar, simula o prato do toca-discos. Essa função e

utilizada para acelerar ou reduzir a velocidade da música de maneira sutil sem precisar alterar o Tempo em que a música está sendo executada. O tipo de ajuste permitido pelo jog wheelserve para os casos em que Tempo já está correto, mas por algum motivo, por exemplo, a música foi disparada com um pequeno atraso, mesmo o pitch estando certo é necessário corrigir esse atraso que surge no momento do disparo da música.

aceleração aplicada ao som que está sendo executado está limitado a quantidades discretas pré- programadas pelo fabricante, pois cada toque nos botões corresponde à quantidade X de aceleração ou frenagem que foi estipulada pelo fabricante. Essas mudanças tornaram a topografia do CDJ muito mais próxima dos toca-discos Technics SL-1200 MKII aos quais os DJs já estavam habituados. Assim, com essas alterações de design questões ergonômicas e de precisão na execução e manipulação dos sons foram solucionadas. Pois o aumento do tamanho e o fato de os CDJs se tornarem peças separadas e independentes assim como os toca-discos, fizeram com que eles se tornassem mais próximos dos toca-discos usados até então. Estes fatores parecem bem relevantes para a aceitação dos CDJs por parte dos DJs.

Imagem13: Três gerações de CDJs, os modelos estão ordenados do mais antigo ao mais novo seguindo de cima para

baixo e da esquerda para direita.

As alterações técnicas dos CDJs que parecem mais relevantes são: 1) o aumento de precisão e estabilidade do Tempo; 2) a inclusão de uma quantidade maior de informações nos visores dos equipamentos, por exemplo, os BPMs em que a música está sendo executada, a porcentagem com precisão de dois algarismos após a vírgula de Tempo que está sendo utilizada, o nome da música que está sendo executada, o wave form da música, bem como a possibilidade

de visualizar o tempo da faixa tanto de forma crescente como decrescente; os CDJ-2000 nexus lançados no ano de 2012 dispõem de uma tela sensível ao toque, o que permite ir para qualquer ponto do registro apenas tocando na wave form. Mas as diferenças não param por aí. Nos anos de 2009 e 2010 a Pioneer lança, respectivamente, os CDJ-2000 e o CDJ-850. Além de serem compatíveis com CDs de dados, isto é, de arquivos de áudio digital (MP3 e WAV, por exemplo) como alguns modelos anteriores a eles já eram, esses dois modelos vieram com entradas USB e para cabos de rede. Assim a surge a possibilidade de se manipular diretamente os arquivos digitais de um pen drive em um CDJ e conectar os equipamentos em rede. Desta forma com um pen drive é possível manipular os arquivos de áudio contidos nele simultaneamente em dois ou mais CDJs. Com o modelo CDJ-2000 nexus supra citado surge a conexão HDI, que possibilita a conexão de um computador diretamente aos CDJs por meio de cabos USB para usá-los no controle de softwares de discotecagem.