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II. Competências e habilidades: Definições, conceitos e perspectivas teóricas

2.2. Habilidade: conceito e história

2.2.2. O início: o termo soft skills

Para entendermos o termo soft skills, partiremos da definição do dicionário e

também contaremos com a contribuição de autores como Heckman e Kautz (2012),

Puerta et al. (2016), Shoda et al. (1990), UNESCO (2016) e Whitmore (1972),

finalizando com uma matéria de um periódico de ampla circulação em nosso país, a

revista EXAME, que nos auxiliará a contextualizar esse termo em aplicações práticas

do cotidiano.

Primeiramente, observamos o caráter humano dessas habilidades, notando

que, segundo o Cambridge Dictionary (2018), soft skills são as “habilidades de

pessoas em se comunicar e trabalhar bem juntas” (CAMBRIDGE DICTIONARY,

2018).

Em nossa tentativa de localizar documentos e artigos que atestassem a origem

do uso dessa nomenclatura, encontramos o trabalho de Whitmore (1972),

considerado, portanto, o mais antigo e que, talvez, tenha sido o primeiro a utilizar o

termo soft skills.

Ao elaborar um manual para treinamento nos quartéis do Continental Army

Command (CONARC) nos Estados Unidos, o autor definiu soft skills como as:

habilidades relacionadas ao trabalho envolvendo ações que afetam

principalmente pessoas, por exemplo, inspecionando tropas,

supervisionando o pessoal do escritório, conduzindo estudos, preparando

relatórios de manutenção, preparando relatórios de eficiência, projetando

estruturas de pontes” (WHITMORE, 1972 p. II-4, tradução nossa)

FIGURA 2: O primeiro artigo a citar o termo soft skills.

Fonte: Whitmore (1972)

Uma outra definição mais complexa pode ser encontrada no GTC da UNESCO

(2016) que utilizou o termo “habilidades subjetivas” indicando características pessoais

que podem ser usadas e valorizadas em diferentes cenários (trabalho, escola,

universidade ou vida pessoal). Por essa razão, essa entidade costuma se referir as

soft skills também como habilidades transferíveis, justamente por não estarem

relacionadas especificamente a um trabalho, tarefa ou área do conhecimento e

poderem ser usadas em uma variedade de situações e contextos. De forma paradoxal,

se quisermos nos referir apenas às habilidades de trabalho ou às que são

normalmente relacionadas apenas a capacidades técnicas procedimentais ou as que

são necessárias a uma ocupação e, que, portanto, podem ser facilmente observáveis

o GTC recomenda a utilização da palavra hard skills.

Com efeito, se tomarmos como referência esse último trabalho da UNESCO

(2016), perceberemos que houve uma mudança em relação a definição de Whitmore

(1972) no sentido de não associar as soft skills apenas ao mundo do trabalho.

Com o propósito de aprofundarmos nossa pesquisa e verificarmos em quais

contextos o termo soft skills vinha sendo empregado, realizamos buscas em portais

como a Scielo e o Google Scholar com vistas a localizar artigos que citassem “soft

skills” no campo palavras-chave.

Como resultado, encontramos um estudo envolvendo crianças pré-escolares

de Shoda et al. (1990) que, por meio de análises experimentais, buscou verificar o

desenvolvimento de habilidades cognitivas nessas crianças. No estudo, a situação

(dilema) criada pelos pesquisadores levava os sujeitos a fazerem uma escolha: comer

apenas um marshmallow ou comer dois, sendo esta última opção possível como forma

de recompensa apenas para os sujeitos que retardassem a ingestão deste alimento.

Os resultados sinalizaram correlações entre os que atrasaram a ingestão do alimento

às habilidades cognitivas e acadêmicas melhores, bem como perceberam o

desenvolvimento de habilidades que não eram previstas: capacidade de lidar com a

frustração e o estresse na juventude, constatando ainda que esses sujeitos, ao

desenvolverem essas habilidades, foram mais propensos a ter um bom

desenvolvimento escolar e em suas carreiras.

Da mesma forma, os artigos científicos que encontramos no periódico de

pesquisas econômicas The National Bureau of Economic Reserach definem as soft

skills como “traços de personalidade, metas, motivações e preferências que são

valorizadas no mercado de trabalho, na escola e em muitos outros domínios”

(HECKMAN e KAUTZ, 2012 p. 451, tradução nossa), incorporando aspectos

psicológicos em suas definições como traços de personalidade e também subjetivos,

como motivações e preferências.

Tendo notado que apenas periódicos ligados à área econômica traziam essa

nomenclatura, constatamos e avançamos nesse entendimento junto com Puerta et al.

(2016) ao constatarem em suas pesquisas que 80% dos artigos que contêm o termo

específico soft skills no periódico ERIC (Education Resources Information Center)

analisam programas que promovem liderança e habilidades em negócios, portanto,

ligados às áreas de Administração e Economia.

Reunindo as definições e os conceitos que descrevemos, podemos dizer de

forma a complementar as contribuições enunciadas que as soft skills, portanto, podem

ser consideradas habilidades que carregam consigo a característica de serem

estritamente humanas, subjetivas e que podem ser observadas mediante as

interações (profissionais ou não) entre os indivíduos (HECKMAN e KAUTZ, 2012;

SHODA et al. 1990; UNESCO, 2016).

Demonstramos as mudanças ocorridas ao longo do tempo, bem como os

acréscimos de conceitos realizados pelas pesquisas de Heckman e Kautz (2012) e da

UNESCO (2016). Contudo, retomando nossas descobertas e investigando os

trabalhos de Withimore (1974), é fundamental lembrar que, em sua gênese, nos

manuais militares de quartéis nos Estados Unidos, essa terminologia nascia ancorada

e designada a tratar de habilidades exclusivas do trabalho. Talvez por esse motivo

seu uso e aplicação seja tão frequente tanto em trabalhos acadêmicos ligados à

Administração e à Economia quanto em contextos empresariais.

De fato, se buscarmos contextos em que o termo soft skills esteja sendo

utilizado, notaremos que, na prática, algumas empresas, especialmente as

multinacionais, fazem uso dessa expressão diariamente quando estão em busca de

seus futuros candidatos. A matéria veiculada pela revista Exame do dia 20/09/2017

destacou que no Brasil, os “termos em inglês têm sido usados por vários profissionais

de RH que trabalham em multinacionais e acabam incorporando os jargões

estrangeiros”. (EXAME, 2017). Nessa mesma matéria, encontramos algumas

habilidades que a revista descreve como soft skills e que são consideradas

importantes para os candidatos que pretendem uma vaga de emprego nessas

empresas: criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas, trabalho em

equipe, empatia, liderança etc. Aliás, algumas delas coincidem com as que a

UNESCO (2016, p. 54) elencou: “empatia, liderança, sentido de responsabilidade,

integridade, autoestima, autogestão, motivação, flexibilidade, sociabilidade, gestão de

tempo e tomada de decisões” que também coincidirão com em grande parte com as

habilidades socioemocionais, nomenclatura de que trataremos a seguir.

Portanto, já na primeira tentativa de buscar delinear as particularidades de cada

nomenclatura, pudemos perceber que cada termo trará aspectos característicos e

usuais de cada contexto, bem como suas particularidades intrínsecas, como as que

mostramos neste tópico. Antes de passarmos ao estudo das particularidades,

conceitos e usos da nomenclatura habilidades socioemocionais, entendemos ser

necessário resumir algumas das particularidades do termo soft skills.

✓ Em sua gênese, o termo era utilizado para destacar habilidades

destinadas apenas ao mundo do trabalho (WHITMORE, 1972);

✓ As soft skills também são descritas como habilidades transferíveis

(UNESCO, 2016);

✓ O termo soft skills é utilizado em pesquisas acadêmicas nas áreas de

Administração e Economia para descrever programas que promovem a

liderança e habilidades em negócios (PUERTA et al. 2016);

✓ Atualmente, o termo soft skills também se refere a “traços de

personalidade, metas, motivações e preferências que são valorizadas

no mercado de trabalho, na escola e em muitos outros domínios”

(HECKMAN e KAUTZ,2012 p. 451, tradução nossa)

✓ Empresas, especialmente multinacionais, durante a seleção de

pessoas, costumam buscar características em seus candidatos

utilizando a expressão soft skills. (EXAME, 2017).