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II. Competências e habilidades: Definições, conceitos e perspectivas teóricas

2.2. Habilidade: conceito e história

2.2.1 Por que devemos falar em habilidades socioemocionais? O cenário mundial e as

Nesse tópico, procuraremos entender a nomenclatura “habilidades

socioemocionais” e a importância de nos aprofundarmos no estudo dessas

habilidades. Embora tenhamos apresentado a definição proposta por Heckman

(2008), entendemos ser necessário discutir essa temática apresentando as diversas

definições e os contextos em que essas habilidades são estudadas.

Para começar, gostaríamos de compartilhar o trecho de uma entrevista que a

pesquisadora e analista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico – OECD, Esther Carvalhaes, concedeu à revista Gestão Escolar de 20 de

julho de 2017, um importante veículo de disseminação de notícias e materiais

destinados aos gestores escolares brasileiros. Na matéria intitulada “Por que ensinar

habilidades socioemocionais”, a reportagem dessa revista questionou o porquê das

atenções internacionais estarem voltadas para as habilidades socioemocionais. Em

sua reposta, a pesquisadora afirmou que:

apenas os conteúdos escolares não parecem mais bastar para as sociedades

atuais. O aprendizado não irá mais se limitar ao período da Educação Básica,

mas deverá continuar durante toda a vida do indivíduo (em inglês, life-long

learning). Na escola, os alunos aprendem a se relacionar, a lidar com

diferentes opiniões e costumes, a trabalhar em equipe e até a estabelecer

alvos mais elevados para si mesmos. Isso exige que eles desenvolvam uma

série de habilidades não estritamente cognitivas, mas que têm mais a ver com

sua capacidade de construir relações de confiança e de se autoconhecer, de

mobilizar ou controlar suas emoções, seja para atingir objetivos escolares ou

para criar um ambiente positivo ao seu redor. (CARVALHAES, 2017).

Vivenciando o contexto da sociedade contemporânea descrita por Carvalhaes

(2017), podemos dizer que, especialmente no mundo da Educação, há um discurso

que nos parece consensual no que diz respeito a mudanças no que se espera como

resultado do processo educativo, bem como a respeito do desenvolvimento dessas

habilidades. A priori, nessa última década, observamos que esse discurso é oriundo

de diversas áreas do conhecimento: Psicologia, Educação e Economia, que, por

exemplo, sinalizam uma preocupação com o desenvolvimento destas que também

são conhecidas como habilidades não cognitivas, habilidades para o século XXI, soft

skills e life skills.

Como dissemos, estabelecemos a publicação dos trabalhos de Messick (1979)

como um marco teórico no que diz respeito do interesse por entender e a dinâmica de

desenvolvimento de habilidades que ele considerou “não cognitivas”. Entendemos

também que, no Mundo da Educação, o relatório Delors (DELORS et al. 1996) pode

ser considerado um marco mesmo sem ter utilizado as nomenclaturas

socioemocionais ou habilidades não cognitivas.

Porém, ao nosso ver, foi quando essa temática figurou em um importante

evento liderado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura) que, ao falar em Educação no Brasil e em outros países do

mundo, passamos a considerar o discurso em torno do desenvolvimento de

habilidades socioemocionais por parte dos estudantes. Quanto ao evento marco,

estamos falando do Fórum Mundial de Educação 2015, em Incheon, Coréia do Sul,

que reuniu mais de 160 países, ministros de Estado e representantes da sociedade

civil que passaram a adotar a Declaração de Incheon para Educação 2030 - um marco

para o estabelecimento de uma nova visão para a Educação e que nos ajudará a

conceituar o que vem a ser estas habilidades. De acordo com a UNESCO (2017),

a Educação 2030 garantirá que todos os indivíduos adquiram uma base

sólida de conhecimentos, desenvolvam pensamento crítico e criativo e

habilidades colaborativas, bem como adquiram curiosidade, coragem e

resiliência. (UNESCO, 2017, p.26)

Além da coragem, curiosidade e resiliência, a Declaração de Incheon para

Educação 2030 descreve, na meta 48, que deveremos aumentar substancialmente o

número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes consideradas cruciais

para o desenvolvimento humano:

[...]como resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade,

trabalho em equipe, comunicação e resolução de conflitos. (UNESCO,

2017, p. 42, grifo nosso)

Em que pese o discurso da UNESCO (2017) e a sua importância e relevância

no Mundo da Educação, como já havíamos enfatizado no tópico sobre competências

(STRAKA, 2004; ARNOLD et al. 2001; KIRBY et al. 2010; LE DEIST e WINTERTON,

2005), se quisermos, de fato, preparar os indivíduos para o mundo real, precisaremos

entender que não bastará ensiná-los ou prepará-los apenas para o mercado de

trabalho oferecendo-lhes conhecimento técnico ou alguma profissão.

Por esta razão, grifamos o trecho em que a UNESCO (2017) citou as

habilidades: resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade, trabalho em

equipe, comunicação e resolução de conflitos. No entendimento desta organização,

estas serão as habilidades que deverão ser desenvolvidas pelos jovens até o ano de

2030 e que, portanto, figuram como uma meta a ser atingida até o ano de 2030.

Essa também é a opinião de Heckman (2008) e de Carvalhaes (2017). Ambos

trataram e utilizaram a nomenclatura “habilidades socioemocionais” e se referiram as

habilidades destacadas pela UNESCO (2017) como essenciais aos indivíduos.

No entanto, a magnitude deste trabalho não nos permite interromper esta

discussão sem antes percorrermos os diversos conceitos e definições que

encontramos ao longo desta pesquisa e que serão amplamente discutidos no decorrer

desta dissertação. Aliás, tal amplitude deve-se não pela complexidade do conceito em

si, mas pela variedade de nomenclaturas oriundas das diversas áreas sobre as quais

pesquisadores do mundo se debruçaram, em busca de parâmetros para identificá-las

nos indivíduos.

Faremos este caminho a fim de clarificar o percurso pelo qual seguiremos, já

que há neste cenário algumas visões reducionistas e tecnicistas que podem permear

estes conceitos. No interior deste debate será possível perceber que há um interesse

tanto da Psicologia e da Educação quanto de economistas.

Como anunciamos anteriormente, parece-nos ser consenso o interesse (em

nível mundial) de que as habilidades socioemocionais devam ser desenvolvidas pelos

indivíduos. No entanto, não há consenso acerca da nomenclatura que deve ser

utilizada, seja pelas diferenças linguísticas ou pelas variáveis históricas, como é o

caso da primeira nomenclatura que iremos abordar que, cronologicamente e de

acordo com nossas pesquisas em bases científicas, foi a primeira a ser empregada:

soft skills.