• Nenhum resultado encontrado

O inquérito por entrevista

No documento Dissertação de Mestrado (páginas 96-101)

3. Abordagem metodológica

3.5. O inquérito por entrevista

De acordo com os objetivos definidos para esta pesquisa, a opção metodológica selecionada é de caráter qualitativo.

Bogdan e Biklen (1994) definem a metodologia qualitativa da seguinte forma: “Utilizamos a expressão investigação qualitativa como um termo genérico que agrupa

diversas estratégias de investigação que partilham determinadas caraterísticas. Os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico. As questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, sendo, outrossim, formuladas com o objetivo de investigar os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural” (p.16).

Tendo em conta que a nossa investigação é de caráter qualitativo, consideramos pertinente assinalar as suas caraterísticas mais importantes, segundo Bogdan e Birklen, citados por Tuckman (2005:507):

 A fonte dos dados é o ambiente natural, sendo o investigador o agente principal na recolha dos dados;

 Os dados recolhidos são de caráter descritivo;

 A preocupação primordial do investigador é todo o processo da investigação, mais do que os próprios resultados;

 Os dados são analisados de forma indutiva;

 O investigador preocupa-se em compreender o significado das experiências e sentimentos dos sujeitos que participam no estudo.

Seguimos estes princípios orientadores na realização do nosso estudo, optando pelo recurso à entrevista. Segundo Bogdan e Biklen (1994:134),

“em investigação qualitativa, as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas.

Podem constituir a estratégia dominante para a recolha de dados ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras

técnicas”,

sendo que em ambas as situações “a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. Sob a mesma perspetiva, Quivy e Campenhoudt (1995) referem que

“as entrevistas exploratórias têm, portanto, como função principal revelar

determinados aspectos do fenómeno estudado em que o investigador não teria espontaneamente pensado por si mesmo e, assim, completar as pistas de trabalho

sugeridas pelas leituras” (p.69).

Escolhemos a entrevista semiestruturada como principal instrumento de recolha de dados por esta permitir “colher informações íntimas ou de tipo confidencial” (Carmo & Ferreira, 1998:147). A entrevista permite a recolha de dados de forma oral.

Passamos a assinalar algumas das vantagens da utilização da entrevista:  Permite estabelecer contacto direto com os interlocutores;

 Permite a observação do participante (gestos, expressões faciais, entre outros);

 Permite incluir ou excluir perguntas no decorrer da entrevista. Quanto às desvantagens:

 Limita as informações a um pequeno grupo local;  Permite avaliações subjetivas.

Trivinos e Manzini são autores que têm tentado definir e caraterizar a entrevista semiestruturada. Assim, Trivinos (1987), citado por Manzini (s/data), refere que este tipo de entrevista “tem como caraterística questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa”, sendo que “os questionamentos dariam frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes” (p.146).

Quanto ao pesquisador, a entrevista semiestruturada permite-lhe “manter a presença consciente e atenuante” no processo de recolha de informação, sendo-lhe permitido realizar perguntas adicionais, sempre que se considere pertinente. Nesta perspetiva Manzini (1990/1991, in Manzini, s/data) afirma que a entrevista semiestruturada foca-se num assunto sobre o qual é realizado um guião com perguntas principais, complementadas por outras questões adicionais decorrentes das circunstâncias no momento em que decorre a entrevista. Este tipo de entrevista permite o emergir de informações de forma mais livre e espontânea e as respostas não obedecem a um padrão de alternativas pré-estabelecidas.

Neste tipo de entrevista são privilegiadas as perguntas de resposta aberta, sendo também essa a opção do nosso estudo. Segundo Bardin (2008), “o material verbal obtido a partir de questões abertas é muito mais rico em informações do que as respostas a questões fechadas ou pré-codificadas” (p.180).

Carmo & Ferreira (1998) apresentam algumas vantagens e desvantagens da utilização de questões de resposta aberta:

Vantagens:

 Ocorrem respostas mais variadas;

 O entrevistado concentra-se mais sobre as perguntas;

 Surgem respostas mais fiéis e representativas da opinião do entrevistado;  Aprecia a originalidade e o pensamento livre;

 Permite, ao investigador, recolher informação mais variada sobre o tema a abordar.

Desvantagens:

 As respostas de sujeitos com baixo nível de instrução podem não transmitir a opinião genuína do próprio;

 É necessário mais tempo para o inquirido responder às questões colocadas;  Dificuldade em categorizar e organizar as respostas.

O objeto desta investigação, A sexualidade na Deficiência Mental: Mitos e Tabus, é suscetível de ser analisado sob diversas perspetivas:

 Sob a ótica do próprio indivíduo portador de DM;  Sob a perspetiva da família do jovem deficiente mental;

 Sob a perspetiva dos técnicos especializados que acompanham estes indivíduos e lhes prestam os apoios necessários.

Pelos motivos já enunciados neste capítulo, decidimos abraçar a análise do objeto deste estudo, A sexualidade na deficiência Mental: Mitos e Tabus, sob a perspetiva de sujeitos portadores de DM. Decidimos, neste âmbito, entrevistar um grupo limitado de três jovens portadores de DM que frequentam o terceiro ciclo. Com o decorrer da investigação, e após muita reflexão, percebemos que seria interessante aferir o tipo de contributo que a família e a escola oferecem aos jovens portadores de DM em matéria de educação sexual.

A seleção da amostra para a realização do presente estudo, deve-se, essencialmente, ao facto de os jovens portadores de DM se encontrarem numa posição privilegiada para nos transmitirem os seus próprios conhecimentos, sentimentos, anseios, necessidades e experiências face à realidade que pretendemos estudar.

Com a realização destas entrevistas, não pretendemos encontrar uma representatividade estatística, mas sim obter uma representatividade social do fenómeno em estudo na sua ampla diversidade e que se apresente como uma síntese do universo social que representa. Na opinião de Trivinos (1987), citado por Manzini (s/data), a entrevista semiestruturada promove a descrição dos fenómenos sociais, assim como a sua explicação e a sua compreensão global.

No concernente às caraterísticas dos entrevistados, Guerra (2006) menciona a importância de se ter um bom interlocutor, que tenha a capacidade de verbalizar as suas condições de vida e cuja comunicação seja capaz de traduzir as suas posições. Ora, os indivíduos entrevistados neste estudo possuem um deficit cognitivo, caraterística esta que deve ser considerada aquando da elaboração do guião condutor da entrevista aos jovens. A formulação de perguntas deve ser básica para o tema a ser investigado (Manzini, 2003, in Manzini, s/data). Deve obedecer ainda às seguintes premissas:

 decidir, previamente, o tipo de questões a colocar no momento da entrevista;

 realizar perguntas bem elaboradas, claras e precisas;  decidir o número de questões a colocar;

 partir das questões mais fáceis para as mais difíceis.

Em relação à penúltima premissa, e neste estudo em concreto, o número de perguntas que compõem a entrevista não pode ser demasiado extenso, tendo em conta o nosso público-alvo, pois o seu poder de atenção e concentração é muito limitado.

Os indivíduos portadores de DM podem manifestar dificuldades na elaboração das suas respostas por apresentarem problemas acentuados nos processos de memória de curto e de médio prazo e conceptualização, ou seja, mesmo que lhes tenham sido facultadas determinadas informações, neste caso sobre sexualidade, podem não as ter assimilado.

De facto, e como constata Foddy (1996), o entrevistador deve contar com estes problemas na memória de curto prazo aquando da realização das perguntas que devem ser simples, básicas e claras.

Então, pressupõe-se que uma boa entrevista começa por perguntas básicas, utiliza uma linguagem adequada e estrutura a sequência das perguntas da entrevista (Ibidem). A pessoa entrevistada deve ter tempo suficiente para responder às perguntas ao seu ritmo, bem como exprimir-se utilizando as suas próprias palavras.

Paralelamente, o entrevistador não deve emitir qualquer juízo de valor em relação ao conteúdo das respostas dadas, mantendo uma posição neutra face às mesmas. O entrevistador deve ter em conta que “é normal (…) que as pessoas frequentemente reprimem, ou se recusam a revelar, matérias sensíveis no plano psicológico e social” (Foddy, 1996:145). Então, devemos contar com a probabilidade de os nossos interlocutores recusarem-se a responder a alguma das questões colocadas, não serem capazes de transmitir o que lhes é solicitado ou, simplesmente, desconhecerem o assunto questionado.

A realização destas entrevistas coloca questões de caráter ético, pois abordar o tema da sexualidade, envolvido em tabus e preconceitos sociais, requer um tratamento especial por penetrar na intimidade pessoal, intima e familiar. De facto, o tema deve ser abordado com cautela de modo a não ferir suscetibilidades e respeitar a esfera da intimidade dos intervenientes neste estudo.

Todas as preocupações anteriormente manifestadas foram tidas em conta aquando da elaboração da entrevista aos encarregados de educação entrevistados, por serem detentores de uma baixa escolaridade, um nível de compreensão limitado e pertencerem a um meio sociocultural desfavorecido.

Quanto aos docentes, detentores de uma formação académica, o guião da entrevista pode conter uma linguagem mais elaborada e o tema ser abordado de forma mais direta.

Com as perguntas elaboradas na entrevista semiestruturada pretende-se obter uma visão concreta, por parte dos próprios sujeitos portadores de DM, sobre aspetos relacionados com a sua sexualidade. A realização do guião teve como base as várias pesquisas e revisão da literatura sobre a temática da sexualidade no seu sentido mais lato e da sexualidade na DM.

A entrevista dos jovens encontra-se estruturada em dez partes, constituída por vinte e duas perguntas, organizadas, propositadamente, da menos delicada para a mais íntima, para que os nossos interlocutores se sintam gradualmente mais à vontade. Os IV, VI, IX e o último grupo têm um duplo objetivo: o de aferir os conhecimentos e dúvidas que os jovens têm em relação à sexualidade e perceber se se justifica a implementação de um programa de Educação Sexual direcionado para esta população específica, em contexto escolar.

A entrevista aos encarregados de educação apresenta-se estruturada em nove partes, constituída por vinte e uma perguntas, também organizadas da menos delicada para as mais difíceis e que penetram na intimidade.

A entrevista às docentes especializadas em Educação Especial, está organizada em dez partes, contendo vinte e cinco questões.

No documento Dissertação de Mestrado (páginas 96-101)