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Projeto de Educação para a Sexualidade e Afetos (ESA) na

No documento Dissertação de Mestrado (páginas 84-91)

2. O conceito de sexualidade

2.7. Projeto de Educação para a Sexualidade e Afetos (ESA) na

O Projeto Educação para a Sexualidade e Afetos (ESA) é um projeto pioneiro em Portugal, impulsionado pela Secretaria Regional de Educação e Cultura (SREC), em 1994, e implementado em todas as escolas da Região Autónoma da Madeira (RAM), nos segundo e terceiro ciclos, assumindo um caráter obrigatório a partir do ano letivo de 2006/2007.

O ESA é gerido pela Direção Regional da Educação (DRE) e integra a área curricular não disciplinar de Formação Cívica. São lecionadas dez aulas, aproximadamente um período letivo, por um professor com formação didática-pedagógica específica na componente da educação para a sexualidade e para a saúde, estando também presente o Diretor de Turma.

A estrutura básica do Projeto, para os dois ciclos-alvo, é seguida pelos docentes, porém e, sempre que se justificar, por motivos de caráter didático- pedagógica, devem adaptar as atividades planeadas. A figura 1 transmite-nos a forma como o Projeto se encontra organizado.

Figura 1 - Organigrama do Projeto ESA

No segundo ciclo, o grande tema escolhido é: “Compreendo e valorizo o meu corpo” e para o terceiro ciclo: “Sou responsável pelo meu comportamento”. No decorrer do Projeto, alguns dos objetivos e temas repetem-se, de forma intencional, nos diferentes anos de escolaridade, por serem de caráter formativo e desenvolverem-se de forma gradual, acompanhando o desenvolvimento físico-emocional da criança ou jovem.

Na primeira sessão, os alunos preenchem um questionário (formativo) e, anonimamente, sem preconceitos nem tabus, colocam questões, as quais são depositadas numa “caixinha de perguntas” que serão respondidas ao longo das sessões. Na última sessão, os alunos preenchem um questionário, igual ao da primeira sessão, para aferir conhecimentos, verificando-se se as suas dúvidas iniciais foram devidamente esclarecidas.

Segundo declarações de uma professora que leciona esta área, professora Patrícia Camacho, ao Diário de Notícias da RAM, a mesma refere que “apresentamos os factos pelo lado científico, nunca tomamos partido e, acima de tudo, mantemos a privacidade [dos alunos] ”, referindo ainda que, nestas sessões, não há tabus, todavia, por vezes, surgem questões mais difíceis de responder e outras que causam risos entre os alunos” (Caires, M., 2007, in Diário de Notícias, de 19 de Janeiro de 2007). In

http://www.saudinha.com/parcerias/revista_imprensa/diario_noticias/2007/dn_2007_02_1

9_01_k.htm).

A coordenadora do Projeto refere ainda que nenhum aluno falta a estas aulas e, até os alunos mais distraídos e perturbadores, atentam às informações e às discussões temáticas (ibidem). Foi realizado um estudo cujo objetivo era aferir as atitudes dos pais face à introdução do Projeto ESA nas escolas da RAM. Obtiveram-se resultados deveras positivos:

 A maioria dos pais elogiou o Projeto, referindo a importância do mesmo para os seus filhos;

 A maioria referiu que o ESA aumentou a frequência com que se fala sobre sexualidade em casa;

 Serviu para ultrapassar barreiras entre pais e filhos;

 Alguns pais denotam dificuldade em abordar assuntos no âmbito da sexualidade com os filhos, daí a importância da escola se preocupar com este assunto;

 Alguns pais referiram que os filhos gostariam de ter mais sessões com o Projeto ESA;

 Alguns lamentam o ESA não se ter iniciado mais cedo;

Objetivo geral do Projeto ESA

 Promover a vivência de uma sexualidade informada, responsável, saudável e gratificante.

Objetivos específicos do Projeto ESA

1- Com este projeto pretende-se que os alunos desenvolvam capacidades de:  Comunicação;  Negociação;  Escuta;  Assertividade;  Procura de ajuda;  Tomada de decisão;

 Reconhecimento e de resistência às pressões;  Lidar com desafios e com preconceitos;

 Selecionar informação fidedigna e adequada;  Reconhecer e ultrapassar barreiras;

 Discutir assuntos morais e sociais.

2- O Projeto proporciona ainda:

 Oportunidades para adquirirem informações e conhecimentos de caráter técnico e científico sobre a sexualidade nas dimensões: biológica, pessoal e relacional, social, histórica e expressiva. Permite também a aquisição de instrumentos facilitadores da reorganização de informações incorretas, incompletas, fragmentadas com as quais são constantemente bombardeados por diversos agentes sociais: pelos amigos, pelos meios de comunicação social, pela família e pelos adultos.

 Oportunidades para realizar debates sobre as escolhas morais relacionadas com questões atuais, no âmbito da sexualidade, tais como: a procriação, o aborto, as DSTs e o uso do preservativo.

Figura 2 - Modelo de desenvolvimento pessoal adotado no Projeto ESA.

Pelo exposto e, de acordo com a figura 2, se conclui que, um programa de educação para a sexualidade assente nestes princípios contribui sobremaneira para que estas crianças e jovens aprendam a SER, ou seja, assumam a condução do seu próprio projeto de vida, estabelecendo relações interpessoais mais salutares, respeitando-se e respeitando os outros nas suas diferenças, conhecendo-se melhor e responsabilizando- se pelas suas decisões e consequências que delas podem advir.

Na área da educação sexual direcionada a alunos com DM, não existem diretrizes concretas, no que diz respeito ao Projeto ESA.

PARTE II

CAPITULO 3

Introdução

A problemática da sexualidade remete-nos, infalivelmente, para o desenvolvimento individual do ser humano e, concomitantemente, para a complexidade que o carateriza. As manifestações sexuais fazem parte do desenvolvimento psico-emocional e psicossexual do indivíduo e, como tal, não pode ser negado às pessoas portadoras de DM a oportunidade de expressar e vivenciar a sua sexualidade, a qual não se resume exclusivamente ao ato e órgãos sexuais. A sexualidade é muito mais abrangente e deve ser entendida na sua amplitude, valorizando-se diferentes aspetos da conduta humana como os sentimentos de afeto, de amor, de amizade, de carinho, os relacionamentos afetivos e sexuais, e a própria expressão da identidade.

Vários autores defendem que:

“na adolescência, as pessoas com deficiência, por estarem expostas às mesmas normas

sociais que as não-deficientes, anseiam pelo estabelecimento de uma relação amorosa

e poderão manifestar o interesse por relacionamentos afetivos e sexuais”. (Maia &

Aranha, 2005:2)

Os jovens com DM nem sempre, ou raramente, são ouvidos, ou levados a sério, no que diz respeito às suas dúvidas, anseios, desejos e experiências a respeito da sua vida afetiva e sexual. Nesta ótica, pretendemos, com o presente trabalho, proceder a uma investigação e obter dados relativos aos conhecimentos e às necessidades de indivíduos portadores de DM no que concerne à vivência da sua sexualidade.

No âmbito da educação sexual, as propostas de intervenção e orientações programáticas por parte do Ministério da Educação e da legislação vigente para a Educação Especial, Decreto-Lei 3/2008, de 7 de Janeiro, concernente aos alunos com NEE e, mais concretamente em relação aos alunos com DM, são nulas ou inexistentes. Em virtude da educação sexual, em contexto escolar, ser ainda uma área de inovação, são limitados os impulsos para produzir bibliografia adequada sobre esta temática.

Gostaríamos de referir que o presente estudo surgiu, essencialmente, por nos encontrarmos a lecionar numa escola dos 2º e 3º ciclos, situada numa freguesia chamada Caniçal, sendo que, em tempos, o seu único acesso fazia-se por via marítima. A freguesia manteve-se isolada até 1956, ano em que foi construído o túnel denominado de Engenheiro José Nasoloni. Até aí a população vivia isolada por montanhas, sendo também possível estabelecer a comunicação com a freguesia e concelho de Machico através de veredas de difícil acesso. Pelo exposto, percebe-se que esta pequena aldeia permaneceu isolada durante décadas e a sua população mantinha poucos contactos com

as freguesias vizinhas, motivo pelo qual houve, e continua a haver, matrimónios consanguíneos que, como é do conhecimento geral, podem gerar problemas genéticos. Ora, no Caniçal proliferam problemas de saúde de vária ordem, entre eles a DM. A título de curiosidade, é possível encontrar no mesmo agregado familiar vários casos de deficiências físicas e DM.

Referimos ainda que um dos sujeitos entrevistados, aluno número um, acompanhado, em contexto escolar, pelo entrevistador há já dois anos, foi o motivo impulsionador deste estudo pelas caraterísticas individuais específicas que apresenta, relativamente à forma como encara a sexualidade, as quais apresentaremos ainda neste capítulo.

No documento Dissertação de Mestrado (páginas 84-91)