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1 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO

2.2 O IRDR nº 70081131146 (CNJ nº 0085023-40.2019.8.21.7000)

Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas admitido no TJ-RS, distribuído sob o nº 0085023-40.2019.8.21.7000 (CNJ) e 70081131146 (Themis), no ano de 2019.

Trata-se de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas suscitado pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, buscando a uniformização das decisões relativas às questões do pressuposto da prova para a condenação de indenização por dano moral, em razão do atraso e ou parcelamento dos vencimentos dos servidores públicos do Estado do Rio Grande do Sul.

2.2.1 Da decisão de admissão e demais procedimentos

Tal incidente, de relatoria do Desembargador Armínio José Abreu Lima da Rosa, foi admitido, eis que presentes os requisitos dos artigos 976 e seguintes do CPC: “(I) efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito; e (II) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.”

Nesse sentido, colaciono trecho da decisão de admissibilidade:

Oportuno, assim, admitir-se o IRDR fixando-se tese quanto a (1) se o atraso ou parcelamento dos vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas, por si só enseja dano moral; (2) caso positivo, se há necessidade de comprovação ou se o mesmo está in re ipsa; (3) admitidas tais hipóteses, se pode cada servidor/pensionistas, modo individual, propor mais de uma ação, (3.1) a relativamente a cada mês em que ocorrer atraso/parcelamento; (3.2) por rubrica ou vínculo que lhe diga respeito.

Fundamentou a decisão colacionando jurisprudências das Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, bem como das Turmas Recursais da Fazenda Pública, onde as decisões de ambas se divergem entre si, “o que gera inquietação sabendo-se que a cada mês ocorre parcelamento da remuneração dos funcionários públicos estaduais, o que bem permitiria a compreensão de autorização de nova ação indenizatória mensalmente”, conforme expressa o Desembargador relator em sua fundamentação.

Posterior a admissão do incidente, o Desembargador relator, Dr. Armínio José Abreu Lima da Rosa, em consonância ao artigo 982 do CPC, determinou a suspensão dos processos pendentes, individuais ou coletivos, de mesma causa de pedir, que tramitam no tanto no primeiro grau como no Tribunal de Justiça, assim como nos Juizados Especiais e Turmas Recursais.

Por fim, intimou o Ministério Público para no prazo de 15 dias manifestar eventual interesse, bem como determinou a publicação de edital no DJe, para que no prazo de 15 dias, interessados possam se manifestar. Ainda, determinou a comunicação ao CNJ, à Presidência, à Corregedoria-Geral da Justiça e ao Departamento de Imprensa deste Tribunal para ampla divulgação e publicidade.

2.2.2 Declinação de competência

Realizado o relatório pelo Desembargador Relator Eduardo Delgado, oportunidade em que narrou os pontos principais ocorridos durante o procedimento. Na fundamentação, mencionou que a questão preliminar inibe a admissão do presente IRDR por meio do 2º Grupo Cível, visto que o julgamento afeta Grupos de Direito Público e Privado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Conforme o Regimento Interno deste Tribunal, em seu artigo 8°, V, ‘l’:

Art. 8° Ao Órgão Especial, além das atribuições previstas em lei e neste Regimento, compete: (...)

V – processar e julgar os feitos a seguir enumerados: (...)

l) a uniformização da jurisprudência, com edição de Súmula, nas divergências entre órgãos fracionários de diferentes turmas ou destas entre si;

Dessa forma, o voto foi por declinar a competência ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

2.2.3 Da fixação da tese jurídica

Inicialmente, o Desembargador Relator propôs a formalização da admissão, como amicus curiae, das entidades AFOCEFE, ASTERS, CPERS e do Município de Porto Alegre, por sua representatividade quanto ao tema a ser definido neste incidente.

Em seguida foi julgada cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas, visto que previstos, simultaneamente, os requisitos de efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito e o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

No mérito, o relator narrou que em decorrência do grande número de processos envolvendo tal questão, bem como a probabilidade deste número aumentar, entende que é necessário uniformizar o entendimento das Turmas Recursais quanto a derivar o dano moral do pagamento parcelado dos vencimentos, proventos e pensões, dano este in re ipsa, que dispensa comprovação da extensão dos danos. Ainda, ressaltou que sabe-se que o parcelamento vem ocorrendo todos os meses, possibilitando, assim, nova possibilidade de ajuizar ação indenizatória.

Importante destacar que as questões submetidas a julgamento foram:

(1) se o atraso ou parcelamento dos vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas, por si só enseja dano moral; (2) caso positivo, se há necessidade de comprovação ou se o mesmo está in re ipsa; (3) admitidas tais hipóteses, se pode cada servidor/pensionistas, modo individual, propor mais de uma ação, (3.1) a relativamente a cada mês em que ocorrer atraso/parcelamento; (3.2) por rubrica ou vínculo que lhe diga respeito.

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu em fixar a seguinte tese jurídica “atrasar ou parcelar vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas, por si só, não caracteriza dano moral aferível in re ipsa”.

A decisão acima transcrita vale para todas as ações indenizatória por danos morais em decorrência de atraso ou parcelamento de vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos. O acórdão foi publicado em 28 de fevereiro de 2020.

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