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O incidente de resolução de demandas repetitivas como meio de solucionar a sobrecarga do poder judiciário

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CAROLINA DE FAVERI BUSS

O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO MEIO DE SOLUCIONAR A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO

Ijuí (RS) 2020

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CAROLINA DE FAVERI BUSS

O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO MEIO DE SOLUCIONAR A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Prof. Me. Joaquim Gatto

Ijuí (RS) 2020

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CAROLINA DE FAVERI BUSS

O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO MEIO DE SOLUCIONAR A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Banca de Defesa, como requisito parcial de avaliação para obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas.

Data de aprovação: ___/___ /_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Professor Ms. Joaquim Gatto (Orientador)

____________________________________________________ Professor (a)

(4)

“Аоs meus pais, irmão е a toda minha família que, cоm muito carinho е apoio, nãо mediram esforços para qυе еυ concluísse esta etapa importante da minha vida.”

(5)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por minha vida, família е amigos. À UNIJUÍ, pela oportunidade dе concluir meu curso.

Ao meu orientador, professor Joaquim Gatto, pela orientação, apoio е confiança.

Agradeço а minha mãе Andréia, heroína qυе deu-me apoio, incentivo nas horas difíceis, de desânimo е cansaço.

Ao mеυ pai Marcelo, qυе apesar de todas as dificuldades, fortaleceu-me е sempre acreditou muito em mіm.

A minha avó Sônia, meus tios, minhas tias e primos, que sempre me auxiliaram direta ou indiretamente para minha formação.

Se pudesse, os faria eternos! Muito Obrigada!

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“Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo.”

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O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO MEIO DE SOLUCIONAR A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO

RESUMO

Acadêmica: Carolina De Faveri Buss Orientador: Professor Me. Joaquim Gatto

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise sobre o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, instrumento inserido pelo Novo Código de Processo Civil de 2015. Tal incidente foi inspirado no procedimento-modelo alemão, chamado Musterverfahren, bem como objetiva garantir a isonomia e a segurança jurídica das decisões. Nesta pesquisa, buscou analisar os requisitos necessários para a interposição de tal instrumento, seu procedimento e julgamento. Ainda, a partir de análises de jurisprudências, buscou-se analisar a efetiva aplicabilidade do IRDR.

Palavras-Chaves: Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Novo Código

de Processo Civil de 2015. Procedimento-modelo alemão. Isonomia. Segurança jurídica.

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THE INCIDENT TO RESOLVE REPEAT DEMANDS AS A MEANS OF SOLVING THE OVERLOAD OF THE JUDICIAL POWER

ABSTRACT

Academic: Carolina De Faveri Buss Advisor: Teacher Me. Joaquim Gatto

The present work of conclusion of the course analyzes the Incident of Resolution of Repetitive Demands, an instrument inserted by the New Code of Civil Procedure of 2015. This incident was inspired by the German model procedure, called Musterverfahren, as well as it aims to guarantee the isonomy and legal certainty of decisions. In this research, try to analyze the necessary requirements for the interposition of the instrument, its procedure and judgment. Still, based on case law analysis, we seek to analyze the effectiveness of the IRDR.

Keywords: Repetitive Demand Resolution Incident. New Civil Procedure Code 2015.

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LISTA DE ABREVIATURAS

Art. – Artigo § - Parágrafo

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais. CNJ – Conselho Nacional de Justiça

IRDR - Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas CPC – Código de Processo Civil

Nº - Número

STJ - Superior Tribunal de Justiça STF - Superior Tribunal Federal

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………...11

1 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO SOLUÇÃO PARA A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO………...……..13

1.1 A sobrecarga do Poder Judiciário decorrente das demandas repetitivas…13 1.2 A nova modalidade de solução dos conflitos repetitivos……….………15

1.2.1 Evolução histórica………...………...15

1.2.2 Conceito……….……...………...17

1.2.3 Princípios Constitucionais: Isonomia, Segurança Jurídica e Razoável Duração do processo………....18

1.3 Finalidade………...20

1.4 Requisitos de instauração e cabimento………..…...22

1.5 Legitimidade para requerer instauração………...24

1.6 Competência………...25

2 A APLICAÇÃO DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVA NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL COMO INSTRUMENTO DE UNIFORMIZAÇÃO DE DECISÕES………...28

2.1 O procedimento do IRDR………...………...28

2.2 O IRDR nº 70081131146 (CNJ nº 0085023-40.2019.8.21.7000) ...33

2.2.1 Da decisão de admissão e demais procedimentos………...……...33

2.2.2 Declinação de competência………...…...34

2.2.3 Da fixação da tese jurídica………...35

2.3 O IRDR nº 70069445039 (nº CNJ: 0154697-13.2016.8.21.7000) ...36

2.3.1 Da decisão de admissibilidade……...………...………...36

2.3.2 Da fixação da tese jurídica………...………...………...36

CONCLUSÃO………...39

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INTRODUÇÃO

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao curso de Ciências Jurídicas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, tem como principal objetivo discutir sobre a alta demanda de processos no Poder Judiciário. É fato que a demanda de processos, muitos deles repetitivos, é um entrave para o sistema que organiza o Poder Judiciário como um todo.

Pensando nisso, foi possível realizar a pesquisa apresentada, levando em conta, também, a minha atuação como estagiária no FORUM da Comarca de Ijuí, espaço em que pude perceber a quantidade de processos, que muitas vezes, acabam deixando o trabalho moroso.

Além disso, o trabalho apresentado, busca analisar o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), mecanismo posto no direito brasileiro através do novo Código de Processo Civil (CPC) e com inspiração no direito alemão. Esse mecanismo, na verdade, é uma tentativa de reduzir a quantidade de demandas e, também, a lentidão dos processos que estão em tramitação judicial.

O IRDR tem como principal objetivo auxiliar na redução da carga excessiva de processos que o Poder Judiciário possui no seu dia a dia. Também, visa assegurar o tratamento isonômico dos muitos processos que possuem o mesmo tema, possibilitando que todos possam ser julgados de forma segura e justa.

As ações repetitivas podem ser vistas como uma anormalidade do sistema processual, uma vez que muitas ações com o mesmo tema configuram-se como uma demanda que poderia ser estancada se o Judiciário pudesse adotar algumas técnicas que dessem o mesmo valor a cada processo, garantindo a sua isonomia e segurança.

Por isso, pensando nessa alta demanda processual, o Código de Processo Civil, de 2015, contemplou um dispositivo que pudesse assegurar que processos com temas iguais fossem julgados e tratados de forma igualitária. O IRDR vem ao encontro dessa busca pela isonomia e segurança, principalmente para rever casos com o mesmo teor. E, assim, possibilitar que o Poder Judiciário seja mais instantâneo em suas decisões.

Portanto, o IRDR é o tema de pesquisa desenvolvido nesse trabalho de pesquisa. E o primeiro capítulo versa sobre a sobrecarga do Poder Judiciário

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decorrente das demandas repetitivas, bem como mostra a nova modalidade de solução dos conflitos repetitivos; trazendo para a discussão o seu conceito, finalidade, requisitos de instauração e cabimento, a sua legitimidade e competência.

O segundo capítulo, por sua vez, versa sobre a aplicação do IRDR, no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, como um mecanismo para a uniformização de decisões sobre os casos. Importante mencionar que nesse capítulo são analisados dois casos jurisprudenciais que mostram, na prática, como o mecanismo de IRDR pode ser aplicado.

Acerca da metodologia adotada para esse trabalho de pesquisa pode-se afirmar que o mesmo foi construído a partir de uma revisão bibliográfica, pois foi desenvolvida com base em material publicado em livros, revistas e redes eletrônicas com material acessível ao público em geral; levando em consideração autores da área do Direito, bem como a jurisprudência disponível. A pesquisa bibliográfica mostra-se eficaz para o desenvolvimento do trabalho, uma vez que o material disponível para pesquisa é rico em informações e conhecimentos.

Com relação aos dados coletados e as leituras realizadas, esses foram analisados através da sistematização que foi produzida através dos conceitos dos autores que compõem o corpus da pesquisa, tais como: Temer (2017); Nunes (2019); Zanferdini e Santos (2019); Cabral (2019); Neves (2018); Rocha (2015); Ramalho (2019), entre outros que estão descritos nas referências do trabalho apresentado.

Trata-se, portanto, de um trabalho de cunho qualitativo e exploratório. Além disso, pode-se dizer que o percurso metodológico adotado teve a função de delimitar o tema pesquisado, bem como definir de que forma a pesquisa foi conduzida, demonstrando os resultados alcançados.

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1 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS COMO SOLUÇÃO PARA A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO

O Novo Código de Processo Civil disciplina o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, e o apresenta como uma das suas grandes novidades, sendo este instrumento uma modalidade de solução de demandas repetitivas, visando, ainda, a segurança jurídica das decisões e a isonomia. O estudo de tal temática é de grande relevância, eis que todas as questões relacionadas ao IRDR são totalmente inovadoras e pretendem modificar a prestação jurisdicional, bem como o próprio sistema processual civil brasileiro.

Assim, é necessário o estudo do IRDR, em virtude de que esse instrumento poderá amenizar a sobrecarga do Poder Judiciário, possibilitando a resolução de uma forma mais acelerada, de demandas repetitivas, que são aquelas ações que versam sobre as mesmas questões de direito. Desse modo, a partir de estudos e, a fim de reduzir a morosidade da prestação jurisdicional e a sobrecarga do Poder Judiciário, o legislador, inspirado no procedimento-modelo alemão, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema historicamente, ou seja, sua origem, seu conceito, as razões para a implementação desse instrumento no ordenamento jurídico, seu cabimento, competência e requisitos, que possibilitarão a posterior averiguação de sua eficácia nas causas concretas.

1.1 A sobrecarga do Poder Judiciário decorrente das demandas repetitivas

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas integrou o ordenamento jurídico brasileiro a fim de sanar ou amenizar uma das principais causas da sobrecarga, bem como da morosidade do Poder Judiciário, a saber, o crescimento do número de demandas. A procura da Justiça para a resolução de conflitos vem aumentando cada vez mais com o passar dos anos, sendo um dos fatores geradores de tal situação a garantia de direitos previstos na Constituição Federal de 1988.

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O despertar de uma nação para os seus direitos, reprimidos por décadas de autoritarismo, a promulgação de uma Constituição garantidora de direitos, a consolidação de visões consumeristas, ambientalistas, entre outras, geraram um excesso de demandas nunca visto antes no Poder Judiciário. Nesse cenário, o Poder Judiciário passou a ser exigido pelos cidadãos que buscam ansiosamente a outorga de direitos outrora negados pelos anos de repressão. De outra banda, apesar da autonomia administrativa consagrada ao Poder Judiciário na Constituição de 1988, ele não estava preparado para receber a avalanche de demandas oriundas da ideia do acesso irrestrito à jurisdição.

Desse modo, pelos motivos anteriormente referidos, o Brasil vem enfrentando uma crise no Poder Judiciário, em razão de inúmeros fatores. Algumas demandas podem ser consideradas inúteis, e o Judiciário não pode ser visto como o único meio de solução de conflitos. Métodos variados devem ser usados para evitar uma judicialização desnecessária que gera problemas como a morosidade da Justiça.

De acordo com Nunes (2019) um dos fatores geradores da sobrecarga que assola o Poder Judiciário é o das demandas repetitivas, que correspondem a um conjunto considerável de ações judiciais que versam sobre a mesma questão de direito, que são analisadas repetidas vezes pelo Judiciário. Contribuindo, assim, de forma significativa para o congestionamento, além de acarretar a insuficiência, a morosidade e a violação da isonomia nas decisões.

Nesse aspecto, com relação aos processos idênticos, é notório que estes constituem uma problemática para o sistema jurídico brasileiro. Isso porque inúmeras ações, por exemplo, em que se discute a cobrança de assinatura básica de telefonia, geram sobrecarga não somente na Justiça de primeiro grau, bem como o abarrotamento dos Tribunais, em decorrência dos milhares de recursos que são interpostos.

Nesse sentido, de acordo com o autor Gomes (2019), o Novo Código do Processo Civil de 2015, a fim de buscar uma solução para os litígios repetitivos em massa, inspirou-se no modelo alemão para a resolução de demandas repetitivas. Dessa forma, são selecionando as “causas piloto”, para serem julgadas e utilizadas como parâmetro para as demais decisões que envolvam a mesma questão jurídica. Assim surgiu o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.

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1.2 A nova modalidade de solução dos conflitos repetitivos

Inicialmente, cabe destacar o entendimento do influente doutrinador italiano Dinamarco (2013, p. 121), que destaca:

Conflito, assim entendido, é a satisfação existente entre duas ou mais pessoas ou grupo, caracterizada pela pretensão a um bem ou situação da vida e impossibilidade de obtê-lo – seja porque negada por quem poderia dá-lo, seja porque a lei impõe que só possa ser obtido por via judicial. Essa situação recebe tal denominação porque significa sempre o choque entre dois ou mais sujeitos, como causa da necessidade do uso do processo.

No mesmo sentido expressa Alvim (2018, p. 5):

Como os bens são limitados, ao contrário das necessidades humanas, que são ilimitadas, surge entre os homens, relativamente a determinado bens, choques de forças que caracterizam um conflito de interesse, sendo esses conflitos inevitáveis no meio social.

A partir disso, foram introduzidas novos meios de solucionar lides, pelo Novo Código de Processo Civil, o denominado Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), regulado nos artigos 976 ao 987.

1.2.1 Evolução histórica

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) surgiu em decorrência do engarrafamento do Poder Judiciário com milhões de processos iguais, além da demora na entrega da prestação jurisdicional, que refletem e afetam diretamente os princípios da isonomia e segurança jurídica. Assim, o Código de Processo Civil a fim de tentar solucionar tais problemas elaborou o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.

Diante do entendimento do autor Mendes (2019, p. 193), o legislador brasileiro desenvolveu o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas baseado fundamentalmente no procedimento-modelo alemão (Musterverfahren). Tal instrumento tem como objetivo reunir demandas repetitivas para buscar uma decisão uniforme para todos os processos ou recursos relativos à mesma questão de direito.

Tal inspiração é justificada na Exposição de motivos do CPC/2015:

[...] criou-se, com inspiração no direito alemão, o já referido incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, que consiste na identificação de processos que contenham a mesma questão de direito, que estejam ainda no primeiro grau de jurisdição, para decisão conjunta.

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Ademais, a Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil (2010, p.21) referiu que o termo “Muster” significa decisão modelo, bem como “KapMug” significa buscar a resolução das questões semelhantes, sendo sua base um único processo individual.

No entanto, segundo o autor Camargo (2019) apesar de o IRDR ter os mesmos objetivos que o procedimento-modelo alemão, o legislador brasileiro trouxe ao nosso instituto algumas mudanças, como por exemplo, poder versar apenas sobre questões de direito, enquanto o instituto alemão pode versar sobre questões de fato e direito. Outro exemplo que demonstra as diferenças do modelo brasileiro para o alemão é a de que, conforme expõe Cabral (2019, p. 257):

A admissibilidade do incidente é feita pelo Juiz de origem no procedimento-modelo alemão enquanto que no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas o órgão competente para julgar o mérito do incidente também deve realizar a análise da admissibilidade.

No mesmo sentido, ressalta Cabral (2019, p. 258):

Pode versar tanto sobre questões de fato como de direito, o que denota a possibilidade de resolução parcial dos fundamentos da pretensão, com a cisão da atividade cognitiva em dois momentos: um coletivo e outro individual. Esse detalhe é de extrema importância, pois evita uma potencial quebra da necessária correlação entre fato e direito no juízo cognitivo. Vale dizer, se na atividade de cognição judicial, fato e direito estão indissociavelmente imbricados, a abstração excessiva das questões jurídicas referentes às pretensões individuais poderia apontar para um artificialismo da decisão, o que não ocorre aqui, com a vantagem de evitar as críticas aos processos-teste.

Diante disso, é possível verificar que o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, modelo brasileiro, foi inspirado no procedimento-modelo alemão (Musterverfahren), buscando a mesma finalidade, de dar maior efetividade à prestação jurisdicional. Deve-se considerar, também, que ambos os modelos preocupam-se com dois princípios constitucionais, o da razoável duração do processo e o da isonomia, de acordo com o entendimento do autor, acima mencionado (CAMARGO, 2019).

Segundo Martins (2019), o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) é instituto jurídico instituído pelo Novo Código de Processo Civil, nos termos dos artigos 976 a 987. E são instaurados nos casos em que há diversas demandas processuais controvertidas sobre questões de direito e que possam oferecer a isonomia e a segurança jurídica.

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Ainda, o mesmo autor acima mencionado, entende que o legislador brasileiro trouxe esse instituto para o ordenamento jurídico brasileiro em decorrência das inúmeras causas repetitivas, sendo que o direito perseguido é o mesmo. Salientou que essas ações merecem uma decisão unificada, não sendo possível conformar-se com julgamentos distintos para uma mesma questão, justificando a figura do IRDR.

De acordo com Zanferdini e Santos (2019. p. 527) o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas compreende-se em um instituto com a finalidade de reforçar a tutela coletiva de direito, a partir de técnicas processuais modernas que reconhecem o valor das jurisprudências dos tribunais. Desse modo, o IRDR, como dito, é um instrumento, inspirado em um procedimento-modelo alemão, que carrega o intuito de amenizar o ajuizamento de ações repetitivas, que versam sobre as mesmas questões de direito, resultando em um descongestionamento do Poder Judiciário.

Segundo Sales (2019) a ideologia do novo Código de Processo Civil pretende ir além da mera eficácia das normas instrumentais, a fim de atingir a efetividade do processo. Desse modo, o IRDR visa uniformizar entendimentos e possibilitar a agilidade no julgamento dos processos, uma vez estabelecido o “processo-modelo” pelo segundo grau.

1.2.2 Conceito

A grande inovação do Novo CPC, o IRDR, por trazer ao processo peculiaridades procedimentais, está sendo objeto de amplo debate. Em razão disso, o estudo de sua conceituação é de suma importância a fim de compreender tal instrumento.

Para a compreensão do incidente de resolução de demandas repetitivas é preciso destacar dois núcleos que integram seu nome: “incidente” e “demandas repetitivas” (BECKMANN, 2018, p.47). O doutrinador Didier Júnior (2016, p. 286) defende que “a demanda (entendida como conteúdo da postulação) é o nome processual que recebe a pretensão processual relativa à relação jurídica substancial posta à apreciação do Poder Judiciário”.

Aponta Temer (2016), que não foi utilizado pelo legislador a técnica apropriada ao denominar demandas repetitivas, eis que o IRDR serve, igualmente, para solucionar questões idênticas de direito material ou processual. Defende a autora que

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“o IRDR visa a solucionar questões repetitivas e não necessariamente demandas repetitivas”.

Sobre o conceito do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, Martins (2019) relata que o IRDR é um “instituto jurídico trazido pelo Novo Código de Processo Civil, nos artigos 976 até 987, sendo instaurado quando há diversas demandas processuais”. Esse instrumento processual, conforme Abreu (2019, p. 02), é de fundamental importância para a celeridade do processo e da decisão das demandas em massa.

Para o autor Câmara (2015, p. 725) o conceito do IRDR tem o seguinte sentido: O IRDR é um incidente processual destinado à através de um julgamento de um caso piloto, estabelecer um precedente dotado de eficácia vinculante capaz de fazer com que casos idênticos recebam dentro dos limites da competência territorial do tribunal soluções idênticas sem com isso esbarrar-se nos entraves típicos do processo coletivo.

Temer (2019, p. 03), salienta, ainda, que tal instrumento é aplicado em ações que possuem mesmas questões de direito, a fim de serem decididas de forma uniforme. Tratando ainda da conceituação do IRDR, a mesma autora (2019, p. 04), diz que o incidente não é um recurso, mas um método de soluções de demandas em massa.

Segundo Ayres (2017) “o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas é mais um mecanismo de geração de precedentes jurisprudenciais”, bem como tem efeito vinculante obrigatório e não restringe ao julgamento inter partes. Ainda, sustentou que a instituição de precedentes jurisprudenciais é um dos meios de solução de grandes volumes de processos estagnados junto ao Poder Judiciário, visando dar celeridade e segurança jurídica.

1.2.3 Princípios Constitucionais: Isonomia, Segurança Jurídica e Razoável Duração do Processo

É notório que o Novo Código de Processo Civil de 2015 trouxe nos artigos 1° ao 12 as chamadas normas processuais fundamentais, ou seja, os princípios processuais. No que se refere ao tema IRDR, os princípios basilares são: princípio da isonomia, da segurança jurídica e da razoável duração do processo:

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Quanto ao princípio da isonomia, este está previsto no art. 7° do Código de Processo Civil, além de estar expresso no art. 5°, caput, da Constituição Federal de 1988, que dispõem:

Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

Nesse sentido, Bastos (2019) destaca que a própria morfologia da palavra é autoexplicativa, eis que “iso” = igual e “nomia” = lei, ou seja, o princípio da isonomia visa garantir a aplicação igualitária às pessoas que se submetem a ela. Acrescenta a mesma autora, que a isonomia assegura que o que é válido juridicamente para uma pessoa, deve ser válido para todos aqueles que estão nas mesmas condições de aplicação da referida norma.

Ensina Couto (2016), que o princípio da igualdade ou isonomia é um dos mais pilares do Estado Democrático, eis que “o que se busca é a efetiva igualdade entre as partes, aquela de fato. Busca-se a denominada igualdade real ou substancial, onde se proporcionam as mesmas oportunidades às partes”.

Assim, sabe-se que o princípio da isonomia busca igualdade de tratamento perante a lei para todas as pessoas.

No que se refere o princípio da segurança jurídico, este está normatizado no artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal de 1988:

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; (...)

É a partir dessa disposição que o autor Patriota (2017), afirma que o princípio da segurança jurídica, também conhecido como princípio da confiança legítima, visa garantir a proteção ao direito adquirido. Além disso, Almeida e Brito (2010, p. 14)

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menciona que “a segurança jurídica não se configura apenas numa garantia do cidadão frente ao Estado. Trata-se, na realidade, de um verdadeiro direito fundamental do indivíduo de certeza e estabilidade em sociedade”.

Outro princípio que visa ser garantido pelo Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas é o princípio da razoável duração do processo, que é disposto nos artigos 4º do Código de Processo Civil e 5º, LXXVIII da Constituição Federal de 1988 que expressa:

Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Art. 5º (...)

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação

Assim, quanto a esse objetivo o autor Welsch (2008) refere que a insatisfação da sociedade com a prestação da tutela jurisdicional, eis que não deve ser apenas prestada pelo Estado, mas sim efetiva, tempestiva e adequada devendo ao Estado alcançar esse objetivo.

Acrescenta Granja (2018), que o tempo da justiça para analisar o processo, possibilitando conduzir o litígio de uma decisão de qualidade. Ainda, salienta que o período da interposição da demanda e a satisfação do direito de ação, deve percorrer um prazo razoável de tempo.

Dessa forma, tais princípios são os que o Incidente de Resolução de Demandas repetitivas visa garantir, sendo uma das finalidades desse instrumento processual conforme será explicado no próximo tópico.

1.3 Finalidade

No que se refere à finalidade do instituto, o IRDR, possui como objetivo central que é buscar a obtenção de decisões uniformes, proporcionando uma segurança jurídica e igualdade de tratamento, como refere Duarte (2019, p. 173). Assim, nesse contexto, resta claro que a finalidade primordial desse instrumento é garantir a

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segurança jurídica, eis que se trata de um princípio constitucional, com o intuito de trazer estabilidade para as relações jurídicas, evitando decisões conflitantes em ações que tratam sobre questões de direito idênticas.

Nesse sentido, além da segurança jurídica o IRDR também visa garantir outro princípio constitucional, o princípio da isonomia, que conforme constata Camargo (2019), “a isonomia revela-se pela necessidade de dar às partes tratamento igualitário em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais.”Além das finalidades garantista acima mencionadas, o IRDR, de acordo com Zanferdini e Santos (2017, p. 527) compreende-se em um instituto com a finalidade de reforçar a tutela coletiva de direito, a partir de técnicas processuais modernas que reconhecem o valor das jurisprudências dos tribunais.

Especificamente, Monnerat (2015 p. 189), explica que a isonomia é um dos pilares do ordenamento constitucional brasileiro, onde significa que o processo deve produzir respostas jurisdicionais uniformes a quem se encontra frente às mesmas questões jurídicas. Bem como, no que diz respeito à segurança jurídica, De Lucca (2015, p. 58), dispõe que “é uma característica e um objetivo do Estado de Direito”.

Desse modo, o IRDR, como dito, é um instrumento inspirado em um procedimento-modelo alemão, que carrega o intuito de amenizar o ajuizamento de ações repetitivas, que versam sobre as mesmas questões de direito, resultando em um descongestionamento do Poder Judiciário. Segundo a ideologia do novo Código de Processo Civil pretende ir além da mera eficácia das normas instrumentais, a fim de atingir a efetividade do processo. Desse modo, o IRDR visa uniformizar entendimentos e possibilitar a agilidade no julgamento dos processos, uma vez estabelecido o “processo-modelo” pelo segundo grau.

Ainda, nesse sentido Rego (2019) acrescenta que o IRDR tem a finalidade de evitar decisões conflitantes (uniformização de decisões) com a intenção de garantir uma maior segurança jurídica, seja para as partes, interessados, executados ou advogados. Diante do entendimento dos autores acima expostos, é possível compreender que o incidente veio ao ordenamento jurídico com escopo de ser uma alternativa. Não só de garantir a isonomia, a segurança jurídica e a uniformização das decisões, mas também a fim de acabar com as litigiosidades em massa que

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ocasionam o congestionamento do Poder Judiciário, principalmente dos tribunais com a grande demanda de recursos.

Segundo Neves (2016, p. 1.399), o incidente de resolução de demandas repetitivas não deve ser admitido quando há um risco de grande número de processos com decisões divergentes, bem como sua eficácia não será plena se for instaurado quando ocorre a quebra da segurança jurídica e da isonomia já forem fatos consumados. O referido autor salienta, que a instauração precisa de maturação, debate, divergência, mas não pode demorar a ocorrer.

1.4 Requisitos de instauração e cabimento

É necessário considerar, que na tentativa de evitar a presença de inúmeras ações que versem sobre as mesmas questões de direito é que o legislador brasileiro optou por introduzir ao Novo Código de Processo Civil o IRDR.

Conforme o artigo 976 do Código de Processo Civil:

É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente:

I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito;

II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

Assim, os requisitos para a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas estão previstos em lei. O pressuposto de efetiva repetição de processos com a mesma questão de direito, quer dizer, segundo Oliveira (2016, p. 66) que ocorre quando referente a um assunto específico, são ajuizadas diversas ações. Bem como expõe Siqueira (2019) a efetiva repetição de processos com a presença de idênticas questões de direito, deve ser comprovada com documentos, como exposto no artigo 977, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

Assim, o primeiro pressuposto refere-se a multiplicação no ajuizamento de ações que abordam as mesmas controvérsias de matéria, unicamente, de direito, resultando a insegurança jurídica, em razão das decisões conflitantes. No que diz respeito ao segundo requisito, de acordo com o autor acima citado, é necessário que as lides versem sobre questões de direitos iguais entre as demandas (OLIVEIRA, 2016, p. 66).

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Pertinente a ao requisito de controvérsias sobre mesma questão unicamente de direito, Duarte (2019, p. 177) esclarece que em razão do fundamento central do IRDR ser garantir os princípios constitucionais de segurança jurídica e isonomia, deve-se a ação apredeve-sentar controvérsias para que deve-seja objeto da instauração de tal instrumento.O terceiro requisito aborda no art. 976, é o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. Tal pressuposto refere-se a existência de grande número de processos, que ensejam decisões conflitantes, assim oferecendo risco à segurança jurídica e à isonomia.

Conforme alerta Duarte (2019, p. 180) “além da representatividade da controvérsia, que deve ser relevante e de longo alcance quanto ao número de envolvidos, ela há de ser efetiva e restando imprescindível que a decisão vá ao encontro da segurança jurídica.”Assim, entende-se que é imprescindível a presença dos requisitos acima mencionados, para que se instaure o incidente de resolução de demandas repetitivas em processos judiciais.

Segundo Neves (2019, p 1496), o disposto no art. 976, caput, do Novo CPC, onde expressa em que casos é cabível o IRDR, deve ser analisada de uma forma mais flexível, em razão de que por mais que existam processos com diversidade de fatos, a questão de direito pode ser idêntica. Assim, o autor salienta, que deve ser observado que os fatos devem ser suficientes a fim de influenciar a aplicação do direito ao caso concreto.

No que tange o cabimento do IRDR em múltiplos processos, valendo-se do entendimento de Neves (2018, p. 1487), constata-se que:

Prefiro a corrente doutrinária que defende a necessidade de ao menos um processo em trâmite no tribunal, justamente o processo no qual deverá ser instaurado o IRDR. Esse requisito não escrito decorre da opção do legislador de prever, no art. 978, parágrafo único, do Novo CPC, a competência do mesmo órgão para fixar a tese jurídica, decidindo o IRDR, e julgar o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o incidente.

Nesse sentido, entende-se que deve-se valer do entendimento do autor acima mencionado, eis que não basta a existência de inúmeros processos que tratam sobre a mesma questão de direito. Deve haver um processo em trâmite no tribunal para que se fixe a tese jurídica.

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Ainda, os autores Temer (2016, p. 102) e Bueno (2015, p. 578) argumentam que o Projeto de Lei do Senado 166/2010 visava a implementação do incidente de forma preventiva. Corroborando com tais afirmações dos autores citados, Cimardi (2015, p. 311) expõe seu entendimento:

Parece-nos, entretanto, que a opção originária, de estabelecer um procedimento com caráter eminentemente preventivo, estaria mais ajustada aos objetivos da reforma total do ordenamento jurídico processual, pois se poderia evitar que decisões com conteúdos diferentes e até mesmo contrários pudessem ser proferidas. O incidente poderia ter por objetivo a fixação de uma tese jurídica para ser aplicada a todos os casos considerados semelhantes, antes de ocorrer a efetiva repetição em massa. Bastaria a perspectiva de que tal repetição pudesse ocorrer para que fosse instaurado o incidente, possibilitando o julgamento de demandas de massa em potencial, com maior operacionalidade e rapidez pelo judiciário. A discussão no âmbito do incidente preventivo poderia ser ampla, pois oportunidades poderiam ser oferecidas às partes diretamente envolvidas, às partes dos processos suspensos em virtude do incidente, ao Ministério Público, ao amicus curiae.

Assim, é possível compreender que os doutrinadores expõem outras finalidades para o IRDR, além das principais que são a isonomia e a segurança jurídica.

1.5 Legitimidade para requerer instauração

A legitimidade para a instauração do incidente e resolução de demandas repetitivas está previsto no art. 977 do Código de Processo Civil, que dispõe:

O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de tribunal: I – pelo juiz ou relator, por ofício;

II – pelas partes, por petição;

III – pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição.

Parágrafo único. O ofício ou a petição será instruído com os documentos necessários à demonstração do preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente.

Assim, o inciso I, do artigo acima mencionado, prevê a legitimidade do juiz ou relator, mediante ofício. Importante salientar, conforme entendimento de Neves (2018, p. 1498), ainda que não esteja previsto em lei, a legitimidade do relator só será possível quando o processo repetitivo já estiver no tribunal em grau recursal.

Importante se faz salientar que as partes (autores ou réus) poderão suscitar a instauração do IRDR, mediante petição. Para o requerimento do IRDR não há necessidade do consentimento da parte contrária, o que não impede também que ambos convencionem neste sentido (MENDES, 2017).

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Conforme o art. 976, §§1° e 2° do Código de Processo Civil, poderão as partes desistir ou abandonar o processo afetado, no entanto, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente e assumir a sua titularidade. Dessa maneira, a parte não está impedida de desistir da ação ou do recurso, porém, a desistência será apenas em relação ao seu processo ou ao respectivo recurso, porquanto o IRDR adquire autonomia processual em relação ao processo afetado, pois o julgamento do IRDR transcende os interesses subjetivos das partes, sobressaindo o interesse público quanto à fixação da tese jurídica e a uniformização da jurisprudência (MACHADO, 2017).

A legitimidade do Ministério Público e da Defensoria Pública para a instauração do IRDR, prevista no inciso II, do art. 977 CPC, decorre da legitimidade extraordinária destas Instituições para o ajuizamento da ação civil pública na defesa de direitos individuais homogêneos (CAVALCANTI, 2015). A instauração do IRDR pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, assim como pelas partes, deve ser realizada mediante petição, conforme explicam Didier e Cunha (2016, p. 632).

Ademais, ainda conforme o entendimento de Didier e Cunha (2016, p. 633) “o Ministério Público poderia, até mesmo, em vez de requerer a instauração do IRDR, ajuizar ação civil pública para resolução coletiva da questão”. Considerando o dispositivo legal e o entendimento dos autores acima mencionados, nota-se que o Incidente de Resolução Demandas Repetitivas só pode ser suscitado pelas pessoas determinadas no artigo 977 do Código de Processo Civil, tendo elas o dever de dirigir o pedido ao presidente do tribunal competente para o julgamento.

1.6 Competência

No que diz respeito à competência para o julgamento do incidente, prescreve o artigo 978 do Código de Processo Civil “o julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno dentre aqueles responsáveis pela uniformização da jurisprudência no tribunal”. Desse modo, diz o art. 978 do CPC, que a competência para o julgamento do IRDR será do tribunal, deixando a critério do Regimento Interno de cada tribunal a escolha do órgão que analisará o incidente.

Ainda, segundo Didier e Cunha (2016, p. 630) não cabe somente aos tribunais de justiça e regionais federais o julgamento do IRDR, eis que pode ser suscitado aos

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tribunais superiores, sendo eles o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Superior Tribunal Federal (STF). Acrescenta Neves (2018, p. 1501) em que nas ações de competência originárias dos tribunais superiores, nestes casos, é excepcionado, a instauração do IRDR perante os tribunais superiores.

Deve ser considerado que há divergências doutrinárias no que diz respeito a competência para julgar o incidente dos tribunais superiores, sendo explicado por Cavalcantti (2016, p. 261):

[…] a aferição da competência dos tribunais deve tomar como base a localização de tramitação dos processos repetitivos. Quando houve interesse da União (em sentido amplo), os processos repetitivos devem, necessariamente, tramitar na justiça federal. Nesse caso a competência será do Tribunal Regional Federal que abrangem a área onde tramitam os processos repetitivos. Se não houver interesse da União, a justiça federal é absolutamente incompetente para conhecer dessas demandas repetitivas. Esses processos devem tramitar a justiça estadual ou distrital, e o Tribuna de Justiça do respectivo Estado ou Distrito Federal é quem tem competência para processar e julgar o IRDR.

Diante da divergência doutrinária, deve-se salientar que na versão do projeto de lei do novo CPC, aprovado pela Câmara dos Deputados, o art. 988, previa que o incidente poderia ser suscitado perante o Tribunal de Justiça e Tribunal Regional Federal, ou seja, somente nos tribunais de segundo grau, conforme narram Becker e Peixoto (2019). Ainda, no que diz respeito à incompetência originária dos tribunais superiores, Neves (2018, p. 1490) relata que tal fato justifica-se em razão da competência recursal para o julgamento de recursos especial e extraordinário repetitivos, que permite aos tribunais superiores à criação de precedente vinculante como o que seria criado no julgamento do IRDR.

Valendo-se dos diversos entendimentos sobre a competência para o julgamento do IRDR, constata Martins (2019):

[…] o IRDR tem cabimento apenas a processos em 1º grau de jurisdição, processos de competência originária e a alguns recursos, não sendo aplicado aos Recursos Especial / Extraordinário, uma vez que estes já possuem a sistemática de julgamento por Recursos Repetitivos, cuja finalidade é muito semelhante ao deste instituto, além de ter um poder vinculativo muito maior, decorrendo daí a vedação do parágrafo 4º do artigo 976 que diz ser incabível o IRDR quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.

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Para Garcia (2020), o IRDR é instituto, segundo o qual cada Tribunal Regional Federal ou Tribunal de Justiça cria temas repetitivos com grande abrangência em sua jurisdição. Firmando, assim, teses jurídicas que irão nortear decisões de 1° grau, dos Juizados Especiais Federais e do tribunal da 4ª Região.

Becker e Peixoto (2019) e, segundo, a Petição 8245, o Ministro Dias Toffoli, presidente do STF, através de decisão monocrática, lavrada no dia 10 de outubro de 2019, proferiu a decisão que entende que “[…] o IRDR é da competência originária do tribunal estadual ou federal a que o juiz da causa estiver vinculado, pois em razão do regime de direito estrito, as hipóteses de ações, recursos e incidentes da competência da Suprema Corte estão taxativamente disciplinadas no art. 102 da Constituição Federal.”

Assim, ainda que seja possível a interposição de agravo interno da decisão monocrática do ministro Dias Toffoli, o atual entendimento é de que a competência originária para processar e julgamento o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas é, somente, dos tribunais estaduais ou federais.

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2 A APLICAÇÃO DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL COMO INSTRUMENTO DE UNIFORMIZAÇÃO DE DECISÕES

Com relação ao que foi abordado no capítulo anterior, é fato que as demandas judiciais em massa, são um dos principais fatores que assolam o Poder Judiciário no Brasil. Não obstante a isso, o Código de Processo Civil de 2015, com a finalidade de dar celeridade, bem como garantir a isonomia, regulou o denominado Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR).

Conforme estudado anteriormente, a instauração do IRDR se dará nas esferas dos Tribunais de Justiça e nos Tribunais Regionais Federais. Nesse sentido, no presente capítulo será exposta a possibilidade de aplicação do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas em casos concretos, com a finalidade de fixação de teses jurídicas em questões de direito repetitivas nos Tribunais brasileiros.

O segundo momento da monografia também será o espaço em que será discutida uma das grandes finalidades do instrumento IRDR, que é a uniformização das decisões, visto que, é selecionado um processo que envolve uma discussão de direito frequente no Poder Judiciário, a partir disso julgado e aplicado o IRDR, a fim de se tornar uma tese jurídica que deve ser aplicada nos demais processos que abordam as mesmas questões de direito. Em virtude disso, uma das principais finalidades desse instrumento é a uniformização de decisões.

Ademais, o estudo das jurisprudências em que o IRDR é aplicado serão analisadas a fim de observar a eficácia de sua imposição em processos que versam sobre as mesmas questões de direito, bem como se sua aplicação atinge todas as finalidades objetivadas para esse instrumento.

2.1 O procedimento do IRDR

O presente estudo versa sobre a uniformização das decisões, bem como a análise da eficácia das finalidades do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) como a segurança jurídica e a estabilidade das decisões, visto que,

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como Ramalho (2020) expressa, muito se fala da falta de previsibilidade do Judiciário, bem como a demora para muitos julgamentos, existindo uma verdadeira “jurisprudência lotérica”, visto que casos similares muitas vezes são decididos de maneira opostas.

A Lei 13.105/2015, o Código de Processo Civil, dispõe, expressamente, em seu art. 926, que “os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. De acordo com Garcia (2020) “as noções de integridade e coerência, por sua vez, evidenciam que casos semelhantes devem ser decididos sob o prisma da igualdade, com respeito aos princípios que foram utilizados nas decisões anteriores [...]”.

Ademais, conforme expressa Neves (2018, p. 1.381):

A harmonização dos julgados é essencial para um Estado Democrático de Direito. Tratar as mesmas situações fáticas com a mesma solução jurídica preserva o princípio da isonomia. Além do que a segurança no posicionamento das cortes evita discussões longas e inúteis, permitindo que todos se comportem conforme o Direito. [...]

Segundo Ramalho (2020), a uniformização de jurisprudências no Novo Código de Processo Civil de 2015, corrobora para uma maior igualdade de tratamento, no mundo jurídico. Ademais, a mesma autora menciona que a Lei 13.105/2015 trouxe o instrumento processual (IRDR) visando, especificamente, a uniformização dos posicionamentos dos tribunais.

A sistemática do IRDR ocorre de forma semelhante ao Recurso Repetitivo, julgado pelo STJ, de acordo com o que refere o autor De Paula (2020). Ainda, explicado pela autora Ortega (2020), na existência de processos repetitivos, sobre uma mesma matéria de direito, em um Estado ou em uma Região específica, o citado instrumento processual será suscitado perante o Presidente do Tribunal local. A partir disso, caso admitido o incidente, “todos os processos com a mesma matéria, no Estado ou Região, serão suspensos pelo prazo máximo de 01 (um) ano”, acrescenta a autora acima mencionada.

Importante para o processamento e julgamento do IRDR, é destacar os Enunciados de números 89 e 90 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:

Enunciado nº 89 - Havendo apresentação de mais de um pedido de instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas perante o mesmo tribunal todos deverão ser apensados e processados conjuntamente;

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os que forem oferecidos posteriormente à decisão de admissão serão apensados e sobrestados, cabendo ao órgão julgador considerar as razões neles apresentadas.

Enunciado nº 90 – É admissível a instauração de mais de um incidente de resolução de demandas repetitivas versando sobre a mesma questão de direito perante tribunais de segundo grau diferentes.

Dessa forma, em seguida à distribuição do pedido de instauração do IRDR, haverá “a distribuição do pedido ao órgão competente para julgamento de acordo com o regimento interno previsto por cada tribunal com a designação de relator”, é o que destaca Simão (2020, p. 22). Após, a primeira providência ser tomada, antes do juízo de admissibilidade, é o cumprimento do disposto no artigo 979 do Novo Código de Processo Civil, sendo divulgado por meio do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) o pleito de instauração do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no âmbito daquele Tribunal, segundo o mesmo autor.

É fato que a divulgação do pedido de instauração do IRDR seja divulgado, visto que tal julgamento poderá afetar diversos processos que estão tramitando. Simão (2020, p. 23), ainda elenca os objetivos desta divulgação, sendo estes:

(i) evitar instauração de incidentes idênticos, (ii) dar conhecimento para que haja suspensão dos demais processos individuais e coletivos que tratam da tese jurídica, mas, principalmente e (iii) dar conhecimento a sociedade civil acerca da existência do incidente para que possam formular o pedido de ingresso como amicus curiae.

A partir deste momento, o procedimento judicial do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas inclui duas fases, sendo a primeira a análise do juízo de admissibilidade e a segunda a análise do mérito e a fixação da tese, é como explica o autor Oliveira (2020, p. 09). Assim, após a divulgação da instauração de tal incidente, o mesmo será distribuído ao órgão colegiado competente para a condução do incidente, bem como a nomeação de um desembargador relator que analisará o juízo de admissibilidade, conforme expressa o mesmo autor acima mencionado. Deve-se, assim, considerar a existência dos requisitos para sua instauração e legitimidade do requerente, estes explicados no Capítulo 1 da presente monografia.

Sendo assim, positiva a análise do juízo de admissibilidade, o relator deverá, inicialmente, suspender todos os processos pendentes que tramitam no Estado ou na região, e que versam sobre as mesmas questões de direito. A suspensão dos processos ocorrerá pelo prazo de 1 (um) ano, sendo que nos casos em que o prazo

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for superado, há a possibilidade de prorrogar mediante decisão fundamentada do relator (SIMÃO, 2020, p. 24), situação disposta no artigo 980 do Código de Processo Civil:

Art. 980. O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos processos prevista no art. 982, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário.

Dessa forma, superada a fase de admissibilidade, passa-se para a fase de análise do mérito e fixação de tese jurídica acerca do caso em apreciação. Nessa fase, cabe ao desembargador relator a possibilidade de “requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no qual se discute o objeto do incidente”, expressa o artigo 982, II do Código de Processo Civil. Ainda, conforme o artigo 983 do Novo CPC, compete ao relator ouvir as partes e interessados, requerer juntada de documentos, bem como diligências necessárias. Há, ainda a possibilidade de designar audiência para ouvir depoimento de pessoas com experiência e conhecimento da matéria, segundo disposto no artigo 983, §1º do Código de Processo Civil.

Após encerrada a fase de instrução, o relator deverá solicitar data para o julgamento do incidente pelo órgão colegiado, conforme é previsto no regimento interno do tribunal, na forma que estabelece o artigo 984 do Código de Processo Civil. No julgamento, segundo Simão (2020, p. 27), o relator apresentará o objeto do IRDR, sendo que o autor, o réu e o Ministério Público poderão, sucessivamente, sustentar suas razões por 30 minutos. Ainda, os demais interessados terão 30 minutos, divididos entre todos, podendo o prazo ser ampliado dependendo do número de inscritos.

Dessa forma, quanto ao julgamento do Tribunal perante o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, se pronuncia Fernandes (2020):

Após o seu julgamento, o entendimento adotado será aplicado a todos os processos, individuais ou coletivos, em trâmite ou futuros (salvo se houver revisão do entendimento), que versem sobre questão idêntica e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive nos juizados especiais (art. 985, §1º, do Novo CPC).

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Adotamos a posição segundo a qual o incidente de resolução de demandas repetitivas apenas resolve a questão de direito, fixando a tese jurídica, que será posteriormente aplicada tanto nos casos que serviram como substrato para a formação do incidente, como nos demais casos pendentes e futuros. Entendemos, portanto, que no incidente não haverá julgamento de “causa-piloto”, mas que será formado um “procedimento-modelo”.

A partir da decisão proferida pelos Tribunais de 2° grau para um determinado processo que aborda questões de direito repetitivas, o denominado “procedimento-modelo”, é aplicada tal tese fixada nas demais demandas que versam sobre as mesma questões, especificamente de direito.

Conforme mencionado pelo autor Simão (2020, p. 28), mesmo não havendo previsão expressa em lei, há a possibilidade de oposição de embargos de declaração em face da decisão que julgou o IRDR, podendo ser oposto pelas partes, pelo Ministério Público e/ou pelos amicus curiae, bem como será julgado pelo mesmo órgão colegiado que proferiu a decisão embargada.

Após a fixação da tese jurídica referente a uma questão de direito, a mesma somente poderá ser revisada pelo próprio tribunal que a fixou, de acordo com o que expressa Rocha (2015, p.73). Outrossim, o art. 986 do Código de Processo Civil prevê a possibilidade de revisão:

Art. 986. A revisão da tese jurídica firmada no incidente far-se-á pelo mesmo tribunal, de ofício ou mediante requerimento dos legitimados mencionados no art. 977, inciso III.

Ademais, vale considerar que o requerimento de instauração do procedimento de revisão de tese jurídica pode ser feito, eventualmente, pelos Desembargadores e Ministros perante o tribunal competente, configurando assim a possibilidade de revisão ‘de ofício’. Ainda, quanto a possibilidade de instauração pelo Ministério Público e Defensoria Pública, tais entidades poderão requerer nas matérias constitucionalmente, legalmente e regimentalmente que possuírem competência para atuação. As partes não possuem legitimidade para postularem a instauração do procedimento de revisão de tese jurídica, sendo que alguns doutrinadores cogitam uma inconstitucionalidade por violação do artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal, conforme o que diz o autor Simão (2020, p. 29).

Acrescenta Martins (2020), que não há prazo para pleitear a revisão da tese jurídica, podendo ser feito a qualquer momento, devendo, no entanto, ser

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fundamentada a necessidade de revisão com demonstração de efetiva mudança das circunstâncias jurídicas, sociais políticas ou econômicas.

Por fim, o artigo 987 do Código de Processo Civil prescreve que “do julgamento de mérito caberá recurso extraordinário ou especial, conforme o caso”. Além disso, Simão (2020, p. 29) esclarece que caberá a interposição de alguns destes recursos às partes, incluindo o amicus curiae, tendo efeito suspensivo, bem como a presunção de repercussão geral de questão constitucional eventualmente discutida.

2.2 O IRDR nº 70081131146 (CNJ nº 0085023-40.2019.8.21.7000)

Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas admitido no TJ-RS, distribuído sob o nº 0085023-40.2019.8.21.7000 (CNJ) e 70081131146 (Themis), no ano de 2019.

Trata-se de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas suscitado pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, buscando a uniformização das decisões relativas às questões do pressuposto da prova para a condenação de indenização por dano moral, em razão do atraso e ou parcelamento dos vencimentos dos servidores públicos do Estado do Rio Grande do Sul.

2.2.1 Da decisão de admissão e demais procedimentos

Tal incidente, de relatoria do Desembargador Armínio José Abreu Lima da Rosa, foi admitido, eis que presentes os requisitos dos artigos 976 e seguintes do CPC: “(I) efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito; e (II) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.”

Nesse sentido, colaciono trecho da decisão de admissibilidade:

Oportuno, assim, admitir-se o IRDR fixando-se tese quanto a (1) se o atraso ou parcelamento dos vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas, por si só enseja dano moral; (2) caso positivo, se há necessidade de comprovação ou se o mesmo está in re ipsa; (3) admitidas tais hipóteses, se pode cada servidor/pensionistas, modo individual, propor mais de uma ação, (3.1) a relativamente a cada mês em que ocorrer atraso/parcelamento; (3.2) por rubrica ou vínculo que lhe diga respeito.

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Fundamentou a decisão colacionando jurisprudências das Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, bem como das Turmas Recursais da Fazenda Pública, onde as decisões de ambas se divergem entre si, “o que gera inquietação sabendo-se que a cada mês ocorre parcelamento da remuneração dos funcionários públicos estaduais, o que bem permitiria a compreensão de autorização de nova ação indenizatória mensalmente”, conforme expressa o Desembargador relator em sua fundamentação.

Posterior a admissão do incidente, o Desembargador relator, Dr. Armínio José Abreu Lima da Rosa, em consonância ao artigo 982 do CPC, determinou a suspensão dos processos pendentes, individuais ou coletivos, de mesma causa de pedir, que tramitam no tanto no primeiro grau como no Tribunal de Justiça, assim como nos Juizados Especiais e Turmas Recursais.

Por fim, intimou o Ministério Público para no prazo de 15 dias manifestar eventual interesse, bem como determinou a publicação de edital no DJe, para que no prazo de 15 dias, interessados possam se manifestar. Ainda, determinou a comunicação ao CNJ, à Presidência, à Corregedoria-Geral da Justiça e ao Departamento de Imprensa deste Tribunal para ampla divulgação e publicidade.

2.2.2 Declinação de competência

Realizado o relatório pelo Desembargador Relator Eduardo Delgado, oportunidade em que narrou os pontos principais ocorridos durante o procedimento. Na fundamentação, mencionou que a questão preliminar inibe a admissão do presente IRDR por meio do 2º Grupo Cível, visto que o julgamento afeta Grupos de Direito Público e Privado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Conforme o Regimento Interno deste Tribunal, em seu artigo 8°, V, ‘l’:

Art. 8° Ao Órgão Especial, além das atribuições previstas em lei e neste Regimento, compete: (...)

V – processar e julgar os feitos a seguir enumerados: (...)

l) a uniformização da jurisprudência, com edição de Súmula, nas divergências entre órgãos fracionários de diferentes turmas ou destas entre si;

Dessa forma, o voto foi por declinar a competência ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

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2.2.3 Da fixação da tese jurídica

Inicialmente, o Desembargador Relator propôs a formalização da admissão, como amicus curiae, das entidades AFOCEFE, ASTERS, CPERS e do Município de Porto Alegre, por sua representatividade quanto ao tema a ser definido neste incidente.

Em seguida foi julgada cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas, visto que previstos, simultaneamente, os requisitos de efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito e o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

No mérito, o relator narrou que em decorrência do grande número de processos envolvendo tal questão, bem como a probabilidade deste número aumentar, entende que é necessário uniformizar o entendimento das Turmas Recursais quanto a derivar o dano moral do pagamento parcelado dos vencimentos, proventos e pensões, dano este in re ipsa, que dispensa comprovação da extensão dos danos. Ainda, ressaltou que sabe-se que o parcelamento vem ocorrendo todos os meses, possibilitando, assim, nova possibilidade de ajuizar ação indenizatória.

Importante destacar que as questões submetidas a julgamento foram:

(1) se o atraso ou parcelamento dos vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas, por si só enseja dano moral; (2) caso positivo, se há necessidade de comprovação ou se o mesmo está in re ipsa; (3) admitidas tais hipóteses, se pode cada servidor/pensionistas, modo individual, propor mais de uma ação, (3.1) a relativamente a cada mês em que ocorrer atraso/parcelamento; (3.2) por rubrica ou vínculo que lhe diga respeito.

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu em fixar a seguinte tese jurídica “atrasar ou parcelar vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas, por si só, não caracteriza dano moral aferível in re ipsa”.

A decisão acima transcrita vale para todas as ações indenizatória por danos morais em decorrência de atraso ou parcelamento de vencimentos, soldos, proventos ou pensões de servidores públicos. O acórdão foi publicado em 28 de fevereiro de 2020.

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2.3 O IRDR nº 70069445039 (Nº CNJ: 0154697-13.2016.8.21.7000)

Incidente de resolução de demandas repetitivas distribuído sob o nº 0154697-13.2016.8.21.7000 (CNJ) e nº 70069445039 (Themis), no ano de 2016.

Trata-se de IRDR suscitado pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, quanto aos mandados de injunção os quais objetivam a concessão de gratificação noturna, ou seja, adicional noturno para policiais militares estaduais.

2.3.1 Da decisão de admissibilidade

O incidente, de relatoria do Desembargador Ivan Leomar Bruxel, foi admitido, visto que presente as duas hipóteses iniciais para a admissibilidade. O relator fundamentou informando que no momento da decisão eram, aproximadamente, 280 mandados de injunção em curso no Tribunal. Ademais, a controvérsia circunscreve-se à matéria de direito e existência de potencial ofensa à isonomia e a circunscreve-segurança jurídica, uma vez que há decisões conflitantes.

2.3.2 Da fixação da tese jurídica

No dia 08 de maio de 2017 foi realizado o julgamento do IRDR no que diz respeito os mandados de injunção os quais objetivam a concessão de gratificação noturna aos policiais militares estaduais.

O Estado do Rio Grande do Sul requereu o reconhecimento da ausência de direito dos militares estaduais ao adicional noturno, observando as seguintes teses jurídicas:

Policiais militares não têm direito à remuneração superior pelo trabalho noturno em vista da ausência de norma legal específica estabelecendo o benefício, sendo defeso ao Judiciário suprir tal omissão em face da ausência de norma constitucional conferindo a vantagem e da vedação à concessão de vantagem remuneratória por isonomia, dada a inaplicabilidade do artigo 39, §3º, da CF88, a inconstitucionalidade do artigo 46, I, da CERS e ausência de outra previsão do direito na Constituição; policiais militares não fazem jus ao adicional mencionado em face da exceção prevista no artigo 113, parágrafo único, da Lei Complementar n. 10.098/94.

Em contrapartida, a Associação Beneficente Antônio Mendes Filho – ABAMF

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destacando a inexistência de normatização do adicional noturno aos servidores públicos que integram a Brigada Militar. Salientou que inexiste norma na Constituição Federal de 1988 que proíba a concessão de tal benefício aos policiais militares. Disse que deve ser utilizado, analogicamente, as normas constitucionais nos artigos 34 e 113, caput, da Lei Estadual 10.098/1994, bem como referiu que os artigos 46, I, da Constituição Estadual, 7º, IX, e artigo 39, §3º, da Constituição Federal, garantem a concessão do acréscimo de 20% ao trabalho noturno, sendo possível a aplicação no presente caso.

Ainda, a Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar manifestaram-se, afirmando que o adicional noturno aos policiais militares está garantido no artigo 39, §3º, da Constituição Federal, e artigo 29, inciso IV, da Constituição Estadual.

Por fim, foi apresentada a manifestação do Ministério Público, opinando pela fixação da tese jurídica a fim de reconhecer a concessão do benefício da gratificação noturna aos policiais militares, aplicando-se a regra do artigo 113, caput, da Lei Complementar Estadual n. 10.098/94.

O Procurador-Geral de Justiça argumentou que os artigos 7º, IX, e artigo 39, §3º, da Constituição Federal, bem como o artigo 46, I, da Constituição Estadual, asseguram aos trabalhadores a remuneração do trabalho noturno superior ao diurno, incluindo os servidores públicos. Concluiu que, há fundamento constitucional para a concessão da ordem de injunção, sendo assim, o entendimento do Estado, afirmando que não é possível a concessão de gratificação noturna aos policiais militares, não assiste razão.

O Desembargador relator Ivan Leomar Bruxel teve seu voto vencido, sendo que, neste momento, disse que após analisar a Constituição Federal, a Constituição Estadual e a Lei Estadual 10.098. Concluiu que os policiais da Brigada Militar não têm direito ao benefício do adicional noturno, sob dois argumentos: o primeiro, em razão da carência de previsão na Constituição Federal, considerando o princípio da simetria constitucional, que expressa a necessidade de paridade entre a Constituição Federal e as demais Constituições, proibindo, assim, a reprodução da Constituição Estadual; o segundo argumento é o que está expresso no artigo 113 da Lei Estadual 10.098/94, que dispõe:

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Art. 113 - O serviço noturno terá o valor-hora acrescido de 20% (vinte por cento), observado o disposto no artigo 34.

Parágrafo único - As disposições deste artigo não se aplicam quando o serviço noturno corresponder ao horário normal de trabalho.

Dessa forma, concluiu que em decorrência da profissão de policial militar envolver o trabalho noturno, tais profissionais não fazem jus ao benefício do adicional noturno. Sendo assim, votou por negar o direito do adicional noturno aos policiais militares do Estado do Rio Grande do Sul.

Após, realizada a votação pelo demais desembargadores, restou fixada a seguinte tese jurídica:

Os militares do Estado do Rio Grande do Sul, porque submetidos pela Constituição Federal ao regramento próprio dos militares das Forças Armadas, não têm direito à remuneração do trabalho noturno superior à do diurno, não se lhes aplicando o regime jurídico dos servidores ocupantes de cargo público subsidiariamente para essa finalidade.

A decisão acima transcrita vale para todos os mandados de injunção que referem sobre a questão de concessão de gratificação noturna aos policiais militares do Estado do Rio Grande do Sul. O acórdão foi publicado em 22 de janeiro de 2018 e transitou em julgado no dia 02 de março de 2018.

Em suma pode-se observar que a presente resolução facilitou que outras demandas com a mesma questão de direito fossem julgadas. Garantindo, assim, que o Poder Judiciário não sofresse uma sobrecarga maior. Isso porque a Brigada Militar do Rio Grande do Sul possui um número expressivo de militares, razão que poderia acontecer o ajuizamento de outros processos discutindo a mesma questão. Tal decisão mostrou categoricamente que a IRDR aplicada facilitou os trâmites jurídicos.

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