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O J ARDIM S ENSORIAL

No documento O jardim sensorial (páginas 37-40)

São vários os relatos, que datam a década de 90, como a época em que terão começado a surgir os primeiros Jardins Sensoriais. Segundo Leão (2007, p. 39), “ (…) actualmente sabe-se que existem jardins dessa natureza no Brasil (Rio de Janeiro), Alemanha (Berlim), Japão (Kyoto), Polónia (Warsaw), Inglaterra (Londres), entre outros locais, (…) podendo surgir a cada dia novos espaços”.

O surgimento destes jardins, inicialmente tinham como público-alvo pessoas com deficiência visual, sendo o seu principal propósito, o de proporcionar aos utilizadores a possibilidade de estimular os outros órgãos dos sentidos que não se encontravam afectados. Recorrendo aos vários elementos que integram este tipo de jardins, todos os sentidos são estimulados. Sobretudo, no caso das situações em que as perdas sensoriais são degenerativas, a estimulação dos sentidos que não estão comprometidos, poderá ser útil

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para que estes sujeitos tenham mais informação acerca do meio ambiente onde se encontram.

Um jardim sensorial pode proporcionar uma variedade de experiências. Para Corrêa (2009, pp. 35-36) “Além do benefício propiciado para pessoas que apresentam diferentes deficiências (deficientes visuais, surdocegos, deficientes motores com alteração de marcha, pessoas com défice cognitivo e de equilíbrio); o jardim pode beneficiar também pessoas que necessitam de relaxamento e de contacto com a natureza para aliviar o stress (…)”. Esta opinião é também partilhada pela Horticultural Therapy Association of Victoria Inc. (2010)13 segundo a qual, os jardins sensoriais têm um valor terapêutico, pois a sua frequência permite às pessoas portadoras de deficiência terem contacto com a natureza num ambiente seguro. Os jardins sensoriais podem contribuir para o bem-estar físico e emocional, podendo ser locais agradáveis que permitam relaxar, reflectir, meditar, contemplar e conversar.

Segundo Moore e Worden (2003) os jardins sensoriais podem ser construídos em espaços de pequena ou grande dimensão, podem ser públicos ou privados. As autoras referem ainda que estes espaços podem ser construídos com o propósito de estimular apenas um órgão dos sentidos (e.g., Jardins de Aromas) ou estimular vários órgãos dos sentidos, existindo para isso diferentes zonas, direccionadas para a estimulação de cada sentido. Tendo em conta este objectivo, Moore e Worden (2003) e a Horticultural Therapy Association of Victoria Inc. (2010) apresentam algumas sugestões para estimular os sentidos, os quais passaremos a apresentar:

audição: poderá recorrer-se à colocação de gaiolas com aves, sinos, “espanta-espíritos”, fontes/quedas de água, colocar plantas que com o vento produzem sons (e.g., bambus). Sugerem ainda que se os caminhos sejam revestidos com materiais que produzam som ao passar (e.g., gravilha);

tacto: poderão ser cultivadas plantas com folhas de diferentes texturas, que sejam resistentes ao manuseamento frequente. O chão do percurso poderá também ser revestido com diferentes materiais;

olfacto: poderá recorrer-se à plantação de ervas aromáticas (chás, temperos e perfumes), devendo evitar-se que estes canteiros fiquem muito próximos uns dos outros a fim de se evitar uma mistura de odores no ar;

paladar: poderão ser utilizadas algumas das plantas aromáticas, como também poderão ser plantadas árvores de fruto ou plantas/arbustos que produzam frutos (e.g., morangueiros, framboeseiro, groselheira, etc.);

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visão: poderão ser cultivadas plantas de formas variadas, que produzam flores de cores e formatos variados.

A Horticultural Therapy Association of Victoria Inc. (2010) defende que os jardins sensoriais devem ser planificados de forma a encorajar a interactividade. Para atingir este propósito, fazem algumas alusões:

− Os canteiros devem estar a uma altura que permita o livre acesso a todos os visitantes, nomeadamente os que se encontrem em cadeira de rodas, que queiram tocar ou cuidar das plantas com facilidade;

− Os assentos devem ser colocados, tendo em conta as características dos frequentadores do espaço. Deve existir espaço suficiente ao seu redor para que possa caber uma cadeira de rodas ao lado;

− Os corredores devem serpentear o espaço. Esta disposição desafia o visitante a abrandar e olhar em redor.

No que concerne aos elementos que devem existir neste espaço, Moore e Worden (2003) referem que num jardim sensorial, não devem existir apenas plantas; nele podemos encontrar caminhos, bancos, pérgolas, muros, etc. Para a construção dos caminhos, as autoras sugerem que se utilizem diferentes tipos de materiais (pedra, madeira, etc.), os quais deverão variar ao longo do percurso. A largura do caminho deve ter no mínimo 48 polegadas14 (120 cm), sendo a largura de 60 polegadas (150 cm) a medida ideal para o acesso de cadeiras de rodas. Quanto à sinalética utilizada no espaço, as autoras consideram que se as diferentes zonas do jardim sensorial estiverem identificadas, o visitante sente-se motivado a interagir. Para identificar esses locais, é sugerido que se criem etiquetas em Braille com o nome das plantas; podendo ser utilizado um código de cores que evidencia os diferentes sentidos associados a cada planta. Essas etiquetas podem ser colocadas em locais acessíveis.

Tendo em conta as características da população que irá visitar o jardim sensorial, a escolha das plantas que irão estar acessíveis requer alguns cuidados. Chimenthi (n.d.)15 recomenda que “na escolha de espécies para jardins sensoriais, é fundamental que sejam evitadas aquelas espécies que possuem espinhos, como as roseiras, algumas bromélias e suculentas. Também devem ser evitadas algumas plantas munidas de substâncias tóxicas,

14 1 polegada = 2,5 cm (http://www.pat.patches.nom.br/down/Impressos/tabela1.pdf). 15 http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=16&Cod=130.

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como espinho-de-cristo16 e comigo-ninguém-pode17, dentre outras”. Leão (2007, p.39) refere que “nos jardins sensoriais, deve-se enfatizar a utilização de espécies vegetais que se destacam pela textura, pelo perfume, pela forma das folhas, dos caules, das flores, dos frutos e das sementes (…)”.

No documento O jardim sensorial (páginas 37-40)