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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 CONTRIBUIÇÕES E ANTECEDENTES

3.1.2 O Legado da Contracultura

Drop City foi uma das primeiras comunidades dos anos 60 que se destacaram no Movimento da Contracultura. Em 1965, um grupo de artistas recém-graduados pela Universidade do Kansas e pela Universidade do Colorado compraram sete acres de terra em El Moro, uma região aos arredores de Trinidad, no sul do Colorado, EUA, com o objetivo de criar uma comunidade independente onde pudessem desenvolver sua arte.

Esta parte da pesquisa tem como objetivo resgatar a história dessa comunidade, retratando qual foi a sua importância para a Arquitetura, a partir do olhar de seus fundadores, o cineasta Gene Bernofsky e sua esposa Jo Ann Bernofsky, juntamente com os artistas Clark Richert e Richard Kallweit, por meio de contatos com a pesquisadora.

A história de Drop City (Fig. 8) pode ser dividida em várias fases, o foco aqui está em sua fase inicial.

Figura 8. Fotografia de Drop City by Myron Wood

“Descobri17

a existência de Drop City Colorado em 1987 em ‘Geodésicas e Cia’, publicação para fins acadêmicos de Vitor Amaral Lotufo e João Marcos Almeida Lopes. Em 1994, tive a oportunidade de conhecer um dos autores, o arquiteto e professor Vitor Lotufo. Nesta ocasião, comentei que eu gostaria de conhecer esta cidade, mas o Vitor me informou que não havia mais nada lá, era uma cidade abandonada. Em 2011, ocasião em que decidi seguir carreira acadêmica e pensei em fazer Doutorado, consegui estabelecer contato pela Internet com Gene Bernofsky. E logo fui estabelecendo contato com os demais. Em 2015 na ocasião da Comemoração do Aniversário de 50 anos de Drop City Colorado18·, conheci pessoalmente Clarck Richert e Richard Kallweit, entre outros que fizeram parte do movimento de arte Criss-Cross. No dia 05 de julho de 2015, Richard me levou para visitar a região onde ficava Drop City; não há quase nada, mas ainda permanece a escola na qual muito dos filhos dos habitantes de Drop City estudaram. Alguns meses depois, conheci Gene Bernofsky e Joan Grossman, durante a apresentação e discussão do documentário com a participação de ambos, no Walker Art Center (Fig. 9), em Minneapolis/ Minnesota. Este evento fez parte da Exposição ‘Hippie Modernism: The Struggle of Utopia’.”

Figura 9. Exposição sobre Drop City

Fonte: Walker Art Center, 2015

Drop City durou cerca de sete anos. Porém, antes de se tornar um modelo para futuras sociedades ou mesmo um modelo de vida em comunidade, teve sua “alma” descaracterizada

17 Autoria própria.

devido a uma invasão de curiosos que para lá migraram e que, infelizmente, não comungavam com os princípios de seus fundadores. Drop City foi uma provocativa social e um experimento físico que, por um breve período, mostrou um modelo de vida alternativo para a América, essencial para o desenvolvimento de relacionamentos sociais e transformações culturais posteriores.

Para Bourriaud (2009), curador e crítico contemporâneo de arte, o papel da arte não é formar uma realidade imaginária e utópica, mas operar num mesmo horizonte teórico e prático: a esfera das relações humanas, que é o postulado básico da Estética Relacional. Os espaços-tempos relacionais, as experiências inter-humanas que tentam se libertar das restrições ideológicas da comunicação de massa, são lugares onde se elaboram sociedades alternativas, modelos críticos, modelos de convívio construído.

A influência da contracultura na prática da arte contemporânea merece um olhar atento. É evidente que o trabalho de uma vanguarda de artistas associados à estética relacional assemelha-se ao “faça você mesmo”, à “autodeterminação”, que fazem parte das práticas expandidas que foram desenvolvidas durante os anos 60.

Logo em seu primeiro ano, a comunidade de Drop City passou de 15 para 20 habitantes e começou a se destacar nas notícias, que rapidamente se espalharam, chamando a atenção de muita gente, entre eles Steve Baer, que estava lecionando na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Novo México, em Albuquerque. Nessa ocasião, Baer tinha muito interesse sobre as estruturas poliédricas, e Drop City surgiu como uma oportunidade para que pudesse desenvolver sua pesquisa na prática. Baer precisava de espaço e mão de obra para poder experimentar suas novas invenções e então se aproximou dos Droppers, oferecendo seus projetos em troca de trabalho. Foi desta forma que Baer introduziu os “zomes”.

O zome é um sistema de dome que emprega uma quantidade menor de peças do que as geodésicas de Fuller, e ao mesmo tempo permite mais tolerância de erro. Os domos geodésicos de Fuller exigem precisão total, enquanto que os zomes permitem mais espontaneidade em sua construção, pois é possível modificar a sua estrutura através da variação e alteração dos elementos. Isto incentiva a experimentação, o que contribuiu para resultados diferenciados e únicos. Além de oferecer maior liberdade em relação às regras da geodésica, o seu custo é mais baixo, pois permite o emprego de diferentes materiais.

Steve Baer questiona a simetria presente nas geodésicas de Fuller, que foi libertada pela nova matemática de Baer e autenticada pelo amadorismo e baixo orçamento dos Droppers. A matemática desenvolvida por Baer para a construção dos zomes trouxe uma liberdade que não estava presente nas cúpulas de Fuller. As construções mutantes de Baer introduziram novos

materiais e um novo meio de arrecadação. Segundo Bernofsky, “Steve Baer é, essencialmente, um inventor. Ele inventa tecnologias. Isso é diferente de ser um escravo a serviço das tecnologias.”. Em seus textos e entrevistas, Baer19

comenta quais eram as suas restrições. Considerava que os pisos circulares dos domos, as múltiplas arestas e articulações, de diferentes comprimentos, traziam limitações que comprometiam o conforto dos espaços de alojamento. Baer estudava o trabalho do arquiteto inglês Keith Critchlow e em 1967 lançou a primeira publicação do livro Dome Cookbook, que se tornou referência pelos modelos de construções arquitetônicas, superfícies convexas, domos e geodésicas. Além disso, ensinava a construir coberturas para essas estruturas com car tops (Fig. 10).

Figura 10. Livro sobre a geometria zonohedra

Fonte: Walker Art Center (2015)

Drop City, Libre e Archigram são exemplos significativos da Contracultura na Arquitetura e da Utopia. As ideias de Buckminster Fuller influenciaram os habitantes de Drop City, que começaram a construir estruturas geodésicas e zomes20 com capôs de automóvel. Quando Steve Baer se aproximou da comunidade conheceu Paul Hildebrandt e desta parceria nasceu o Zometool, um kit para a montagem de estruturas geométricas de diferentes escalas, e posteriormente a Zomeworks21, com placas solares. O Zometool22 foi usado por Hoberman no início de seus estudos para compreender e visualizar a geometria que queria desenvolver.

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