• Nenhum resultado encontrado

2 TRILHAS PERCORRIDAS: A CONSTRUÇÃO DE INFORMAÇÕES

3.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1.1 Análise documental

3.1.1.3 O livro didático utilizado

Nesse tópico, serão seguidos os critérios abaixo relacionados:

1. Apresentação geral do livro a ser analisado (capa, páginas, autor/autores, editora, ano de edição);

2. Análises das ilustrações, imagens, representações cartográficas, gráficos, quadros e tabelas;

3. Fidedignidade de informações e ausência ou presença de preconceitos;

4. Identificação de estímulo à observação, investigação, análise, síntese, criatividade e interpretação, entre outros, que se relaciona com o lugar;

5. Análise das atividades, no sentido de identificação das possibilidades de desenvolvimento de competências e habilidades por meio do lugar;

6. Tratamento da categoria lugar ao longo do livro.

O livro (Figura 6) do 9º ano do Ensino Fundamental, de autoria de José William Vesentini e Vânia Vlach, faz parte do Projeto Teláris, da Editora Ática, que foi uma das coleções de livros adotados pela rede municipal de ensino do município de Formosa - Goiás, no triênio 2014 - 2016.

79 Figura 7- Capa do livro Geografia do 9º ano do Ensino Fundamental.

Fonte: Brasil, MEC. PNLD, 2014.

O primeiro autor do Livro é Doutor e Livre-Docente em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), professor e pesquisador do departamento de Geografia da USP, especialista em Geografia política/Geopolítica e ensino de Geografia, foi também professor do Ensino Fundamental e Médio da rede particular e oficial de ensino de São Paulo. Já a segunda autora, Doutora em Geopolítica pela Université de Paris, Mestra em Geografia Humana pela USP e professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), além de ter sido professora da rede básica de ensino das redes oficial e particular de ensino do estado de São Paulo.

O livro didático, no que tange as questões mercadológicas, apresenta capa resistente e investigativa e possui símbolos geográficos, tais como, duas linhas (Equador e Greenwich), além dos símbolos que representam os conteúdos abordados. Em seu interior, encontram-se imagens, gráficos, tabelas, mapas, charges entre outros recursos de cores diferenciadas e com papel de boa qualidade, aspectos que se tornam importantes para chamar a atenção do aluno para a sua relação de aprendizagem com este instrumento. Para o caso dos termos mais complexos e que dificultem o entendimento dos alunos, apresenta um glossário no decorrer do livro, tendo como objetivo a compreensão dos conceitos ali apresentados. Sua encadernação é tipo brochura.

80 A capa do livro se apresenta nas cores verde e branco, possuindo 344 páginas dedicadas ao processo de aprendizagem do aluno. Há fonte legível e com espaçamentos 1,5 cm, o que possibilita uma boa visualização para a leitura.

Na apresentação os autores argumentam que existem livros cometas e livros estrelas. Os primeiros passam, porém os segundos permanecem. Nesse sentido, este livro estrela, segundo os autores, ajudará os alunos a ler e transformar o mundo em que vivem e torná-los cada vez mais capazes de exercer os direitos e deveres de cidadão.

Realizamos a análise geral de cada unidade, em que fizemos um pequeno resumo (quadro 6) do que se objetiva pedagogicamente em cada capítulo, com o intuito de destacar os conteúdos que integram o livro didático e perceber se estão de acordo com os documentos oficiais do ensino de Geografia para o respectivo ano. O livro é constituído por quatro unidades, sendo divididas em capítulos, sendo estes:

Quadro 6 - Organização dos conteúdos do Livro Didático do 9º ano 1 Europa e CEI

Cap1. Leva o aluno a entender a Europa em conjunto: seus aspectos físicos e humanos e os países que a compõem.

Cap2. Objetiva estudar as diversidades regionais da Europa, com suas áreas mais desenvolvidas e outras nem tanto.

Cap3. Tem o intuito de estudar o que é a comunidade de Estados Independentes (CEI) e quais são os países que compõem.

Cap4. Trata da regionalização da CEI e a situação de vários países-membros dessa comunidade.

2 América Anglo-Saxônica, Japão e Oceania

Cap5. Apresenta características dos dois países anglo-saxões da América do Norte: Estados Unidos e Canadá.

Cap6. Trata das características socioeconômicas do Japão

Cap7. Expõe os dois únicos países do chamado norte industrializado que se situam ao sul da linha do equador.

3 Desigualdades internacionais

Cap8. Apresenta o conceito de IDH e o contexto de sua criação pelo Programa das Nações Unidas.

81 entre as nações.

Cap10. Apresenta a chamada economia moderna e expõe que a mesma não é igual em todas as partes do mundo.

Cap11. Evidenciam a questão da pobreza, fome e exclusão social, fenômenos que estão interligados e que interferem na qualidade de vida dos seres humanos.

4 Globalização, nova ordem e o cenário do século XXI

Cap12. Mostra a divisão internacional do trabalho (DIT), desde o seu surgimento e as mudanças até o período atual.

Cap13. Tem o intuito de estudar a chamada nova ordem mundial, que na verdade é uma realidade dinâmica em construção.

Cap14. Objetiva estudar as principais organizações internacionais que atuam no mundo de hoje: ONU, Grupo dos Sete, Grupo dos Vinte, OMC, Unasul e várias outras.

Cap15. Apresenta os problemas demográficos mundiais: o envelhecimento da população, aumento da obesidade e os problemas de racismo e intolerância.

Cap16. Demonstra a importância da questão ambiental para o futuro da humanidade. Organização: Carvalho Sobrinho, 2016.

Em relação às questões didáticas, o livro apresenta exemplos que fazem referência a seus próprios textos complementares, bem como as suas imagens, gráficos e tabelas. Seu conteúdo atende ao disposto nos PCNs (BRASIL, 2001). Entretanto, o livro foi organizado sem a preocupação de relacionar os conteúdos das demais unidades, tornando-os fechados em si mesmos, sem uma continuidade temática. Desse modo, deixa de fornecer uma sequência sistemática ao aluno, no percurso de sua aprendizagem.

As imagens, fotos, gravura, tabelas e gráficos são referenciados e todas possuem fonte e data de publicação. As informações estão, de modo geral, atualizadas. Os desenhos, fotografias, gráficos, representações cartográficas são nítidas, sendo um relevante aspecto para boa visualização do que se queira transmitir e relacionar. Elas instigam a curiosidade e se relacionam ao texto, porém não se detectou estímulo para pensar, por meio da categoria lugar, a relação dos conteúdos com o vivido pelos alunos. Consideramos que os conteúdos expressos no LD estão retratando, na maioria das vezes, outros países e continentes10, realidades

10Os conteúdos trabalhados estão sintetizados no quadro 6, onde expõe o que se objetiva pedagogicamente cada

82 diferentes das vivenciadas pelo estudante, mas não se estabeleceu condições de significação destes por meio da categoria lugar.

Não foram detectados erros e as informações se apresentam corretamente, bem como o livro é ausente de preconceitos. As atividades propostas nas várias unidades não valorizam o lugar, pois foram identificadas poucas nas quais se conduz o aluno a pensar a relação dos conteúdos com o seu espaço vivido.

Vale lembrar que, de forma geral, o livro não evidencia qualquer tipo de preocupação com a categoria lugar, nem tampouco suas possibilidades de uso orientadas à aprendizagem do aluno. Todavia, deve-se ressaltar que o professor pode redimensionar e relacionar os conteúdos, tal como aplicá-los ao lugar, considerando-o elemento de mediação pedagógica orientado à sua significação, o que permitirá uma compreensão mais efetiva dos fenômenos geográficos por parte do aluno.

Tal consideração reafirma a importância do lugar ao processo de aprendizagem dos alunos em Geografia. Ao se considerar essa premissa, pode-se efetuar considerações acerca do livro didático de Geografia analisado: esse instrumento deve promover a inserção do aluno no processo de aprendizagem, para que se (re)conheça como sujeito atuante no seu mundo vivido, com implicações concretas em seu mundo não vivido e aguçar a curiosidade do aluno, ao criar as condições para que seja compreendida a ideia de que o espaço é uma construção social, onde ele se insere.

A esse respeito cabe mencionar que um processo de ensino-aprendizagem exitoso não deve se restringir apenas ao livro didático, visto que não há como transferir a responsabilidade dos conhecimentos para esse instrumento, mesmo que seja o mais utilizado pelo professorado brasileiro.

Assim, a análise realizada do LD utilizado pelos professores e alunos evidencia que a abordagem do lugar para a construção dos conhecimentos geográficos aparece de forma tímida o que, consequentemente, prejudicará a construção da aprendizagem do aluno de forma significativa, tendo em vista que é, segundo os próprios docentes, o LD que norteia as práticas pedagógicas em ambas as escolas pesquisadas.

O livro analisado nessa pesquisa compõe o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) 2014, o qual se encerra ao término deste ano. Após isto, outro triênio do programa, o PNLD 2017-2019, entrará em vigor e novamente milhões de livros serão distribuídos em todo o país. Como forma de vislumbrar uma formação e a valorização do espaço vivido pelo aluno e de

83 sua formação enquanto sujeito e cidadão, novas pesquisas devem ser realizadas para verificar se o potencial de uso da categoria em pauta continua relegado a uma posição inferior, de um lado, e como, efetivamente, conduzir os envolvidos na relação ensino/aprendizagem à construção de conhecimento por meio do lugar, de outro.

Após as considerações no que se refere à pesquisa documental, passamos a analisar as entrevistas que foram realizadas com os professores. Destarte, destacamos que o papel exercido pelo professor é essencial na compreensão dos processos de ensinar/aprender Geografia, devido ser, por meio dele, que a mudança de mentalidade no ensino da Geografia se concretizará.

3.1.2 Os professores e o Lugar/Formosa no processo de ensinar/aprender Geografia: