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O Ludo Termoquímico e o Terceiro Nível de Interação

CAPÍTULO 5 Ludo Químico: Um Jogo Didático Para Ensinar Conceitos de

5.8 O Ludo Termoquímico e o Terceiro Nível de Interação

Após algumas aplicações do ludo termoquímico, novamente se observou a presença do terceiro nível de interação. Cabe aqui salientar que a proposta inicial era que se tentasse atingir esse nível de forma estruturada, ou seja, seriam separadas e arquitetadas atividades para tal fim.

No entanto, notou-se que este nível, em todos os casos estudados, é conseqüência do primeiro e do segundo nível de interação. Surge naturalmente da vontade dos participantes em alterar, manipular e interagir com o jogo, ou com a atividade lúdica. Os alunos e professores envolvidos experimentam novas regras e possibilidades. Somente para o ludo termoquímico, constatou-se 10 maneiras diferenciadas de jogá-lo, o que, a princípio, corrobora um dos objetivos desta tese, que era fazer com que os sujeitos dos jogos passem a entendê-lo, manipulá-lo e logicamente, que passem a criar a partir de uma idéia inicial.

As mudanças estruturais no ludo termoquímico passaram por aspectos ligados ao tabuleiro, como a presença de valores de energia no próprio, ou seja,

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durante o percurso percorrido pelo peão, estariam quadrados com valores diferenciados de energia, substituindo-se as cartas usadas com o mesmo fim. Cartas com cores baseadas na perda ou no ganho de energia também foram observadas. Uma outra variável interessante é baseada na distribuição de objetivos antes do início do jogo, ou seja, as reações a serem completadas são distribuídas e o jogador prossegue no jogo com o intuito de angariar a energia necessária para que a reação em mão ocorra. Tal regra explícita é baseada em outro jogo de tabuleiro moderno, conhecido como WAR, da Grow, empresa de jogos e brinquedos.

Segundo CHATEAU16, essa quantidade de variações nas regras e no próprio brinquedo é uma necessidade humana de sempre aprimorar o entendimento e o andamento das atividades, por meio de discussões, para que se busquem consensos como forma de evitar que um dos próprios participantes possa vir a burlar, enganar ou levar vantagem em relação aos outros. CHATEAU ainda cita aspectos ligados ao próprio darwinismo, para sustentar sua argumentação.

Essas variações podem ser chamadas de incorporações lúdicas, pois durante o andamento dos jogos, decorrem sempre novos aspectos que devem ser explorados, principalmente os lúdicos, propostos pelo grupo ou pelo professor. Tais incorporações proporcionam variações no próprio conteúdo estudado, e se existe essa variação no próprio conteúdo, já se vislumbra a clara realidade de sua incorporação pelo aluno. KISHIMOTO42 ainda observa que esta incorporação é bem característica em se tratando de brinquedos e jogos que permitam a variação de usos e significados, como bonecas, tabuleiro de números, entre outros.

Porém, CHATEAU16 discute que as regras adicionais ou as eventuais

mudanças que surgem acabam por desaparecer, para que se volte à forma tradicional de jogar. No entanto, não foi o que se observou, pois muitas dessas novas regras permaneceram e se consolidaram em novas formas opcionais de jogos que, diga-se de passagem, passaram a não ser mais opcionais.

De qualquer maneira, a complementação lúdica do material pelos alunos, seja com alteração das regras implícitas (mudança de tabuleiros, de cartas, etc.) ou das regras explícitas (através das novas regras), indicam claramente novas possibilidades, como exercício de operações que levem a outros conceitos correlatos e também, a novos conteúdos.

Em se tratando da mudança das regras implícitas, ou seja, de tabuleiro de cartas entre outras, pode-se destacar a interdisciplinaridade com professores de

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artes, de matemática e de português. Em algumas aplicações, os alunos confeccionavam o tabuleiro juntamente com o próprio professor de química, em outros momentos, os tabuleiros eram confeccionados pelo autor.

Em outros casos, como também descrito no Capítulo 4, professores de arte proporcionavam oficinas de recortes e pinturas para que os alunos pudessem fabricar os próprios jogos. Esta atividade foi muito enriquecedora até para o autor, o que confirma a importância da interdisciplinaridade.

Alguns professores de Guaxupé - MG, descrevem interações com professores de matemática para se construir tabuleiros cada vez mais simétricos, o que possibilitou estudos sobre geometria, medidas, manipulação de régua e logicamente, treino de habilidades manuais há muito esquecidas causadas provavelmente pelo processo de adultificação.

Tais interações vão de encontro aos PCN79, que incentivam a interdisciplinaridade. Deve-se salientar que nele, estão propostos a interdisciplinaridade e transversalidade, ligados a aspectos eminentemente sociais, apresentados como fundamentais para a atuação crítica do aluno na sociedade.

No entanto, como observa MACEDO97, estas propostas estão colocadas em um patamar de importância inferior ao das disciplinas na organização curricular, ou seja, da forma com que é colocada, a interdisciplinaridade é realizada por um professor apenas, em sua disciplina específica, sem a interação com outros professores, mesmo porque os PCN são organizados por disciplinas e por ciclos, o que dificulta aspectos relacionados à própria transversalidade. Cabe lembrar que, no caso dos jogos, houve um desenvolvimento lúdico que abarcou no mínimo três áreas de conhecimento, como a química, a matemática e a educação artística.

Essa falta de clareza presente nos PCN, com relação à interdisciplinaridade é causada, segundo LOPES98, pela falta de definição de alternativas, pois o texto do PCN parece não se decidir quanto à integração ou não das áreas previstas, pois a proposta é dividida e delineada por grandes áreas do conhecimento. A própria definição das áreas de conhecimentos não as integra umas com as outras, expressando-as como compartimentos estanques.

À margem dessa discussão, o principal aspecto observado com a interdisciplinaridade obtida com o lúdico, foi a sociabilização e a cooperação, necessárias ao engrandecimento da sociedade em contraponto com a competição desmedida, além do resgate de atividades lúdicas que novamente executadas

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trazem lembranças positivas e alegres, importantes no desenvolvimento do jovem e do adulto de forma geral.

Acredita-se que a interdisciplinaridade tem uma importância relevante na atividade, no entanto, os resultados observados levam a acreditar que a presença do lúdico foi o responsável pela primeira e que o processo de desadultificação do ser pensante, certamente, traz desenvolvimento cognitivo e social.