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4 A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA NO CURRÍCULO DE GEOGRAFIA

4.4 O lugar da Cartografia Escolar no currículo de Geografia

Como visto na parte anterior, a Cartografia Escolar tem se destacado entre um dos temas pesquisados nos eventos acadêmicos no Brasil (PINHEIRO, 2005a; CAVALCANTI, 2010; BUITONI, 2014; CALLAI et. al., 2016). Apesar dos inúmeros trabalhos publicados nos últimos anos sobre os assuntos referentes à Cartografia e sua relação com a Educação e a Geografia, seja na forma de livro, capítulo de livro, artigos de periódico e/ou trabalhos em eventos nacionais e regionais, é necessário ressaltar a importância da obrigatoriedade do uso da linguagem cartográfica nos livros didáticos de Geografia utilizados na escola, como está inserido nos guias, propostas, orientações e parâmetros curriculares. A linguagem cartográfica, tão peculiar à ciência geográfica, ainda é pouco usada em sala de aula, demonstrando a dificuldade de professores e alunos dos variados níveis de ensino em lidarem com os conceitos cartográficos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Geografia (6º ao 9º ano) indicam um eixo do terceiro ciclo, “A Cartografia como instrumento na aproximação dos lugares e do

mundo”, em que se enfatiza a importância da Cartografia para o ensino e aprendizagem da Geografia Escolar, já que

[...] a Cartografia torna-se recurso fundamental para o ensino e a pesquisa. Ela possibilita ter em mãos representações dos diferentes recortes desse espaço e na escala que interessa para o ensino e pesquisa. Para a Geografia, além das informações e análises que se podem obter por meio dos textos em que se usa a linguagem verbal, escrita ou oral, torna-se necessário, também, que essas informações se apresentem especializadas, com localizações e extensões precisas, e que possam ser feitas por meio da linguagem gráfica/cartográfica. É fundamental, sob o prisma metodológico, que se estabeleçam as relações entre os fenômenos, sejam eles naturais ou sociais, com suas espacialidades definidas. (BRASIL, 1998, p. 76)

Figura 10 - Conteúdo do terceiro ciclo do ensino fundamental.

Fonte: Brasil (1998)

Na tentativa de encontrar respostas para uma das questões norteadoras deste trabalho, referente ao lugar da linguagem cartográfica no currículo escolar, buscou-se suporte nos PCN, no Referencial Curricular de Geografia do ensino fundamental do 6º ao 9º ano do estado do Maranhão e o texto final do componente Geografia da Base Nacional Comum Curricular.

É importante frisar que tanto os PCN quanto a BNCC não representam o currículo praticado pelas escolas, seja no nível estadual ou municipal. Esses documentos constituem um

referencial nacional para que, a partir deles, os estados, municípios e escolas possam construir seus respectivos currículos.

Figura 11 - Mapa conceitual da Cartografia no ensino fundamental.

Fonte: Brasil (1998)

Dito isso, parte-se para a análise dos documentos na ordem em que foram citados nos parágrafos anteriores. Os PCN, elaborados e aprovados em 1998, apresentaram uma proposta de trabalhar a Cartografia no terceiro ciclo (6º e 7º ano) do ensino fundamental como eixo temático e dentro do eixo abordar dois temas (ver Quadro 17). Num primeiro momento,

propõe-se iniciar o processo de alfabetização cartográfica e, em seguida, a leitura autônoma do mapa. Para tal, foram utilizados dois mapas conceituais construídos por Simieli (1986).

Quadro 17 - A Cartografia no 3º ciclo (6º e 7º ano) do ensino fundamental como conteúdo temático.

EIXO TEMAS

Eixo 4: A Cartografia como instrumento na aproximação dos lugares e do mundo.

Da alfabetização à leitura crítica e mapeamento consciente.

Os mapas como possibilidade de compreensão e estudos comparativos das diferentes paisagens e lugares.

Fonte: Brasil (1998). Organização do autor.

Com base nos dados do quadro acima, a Cartografia aparece como sugestão de conteúdo a ser ministrado no 3º ciclo, que corresponde ao 6º e 7º ano do atual currículo do ensino fundamental de nove anos. O retrato da fidelidade à proposta apresentada nos PCN está nos livros didáticos utilizados na escola, nos quais os conteúdos de Cartografia são inseridos no 6º ano e em raros casos aparecem nas séries subsequentes, seja no final das unidades ou como anexo no final do livro.

Poucos estados ousaram construir seus currículos de forma a atender as necessidades locais ou regionais. A maioria construiu um currículo na tentativa de atender aos critérios estabelecidos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) a partir de 2010, ou seja, o conteúdo do livro didático serviu muito mais de referência para a elaboração ou reformulação dos currículos de alguns estados e municípios do que os PCN. Um exemplo claro dessa realidade foi a elaboração do currículo maranhense, que resultou na rejeição do mesmo pela maioria dos municípios do estado.

A seguir, passa-se a analisar a estrutura e composição do currículo do Maranhão, reformulado e aprovado em 2010. Com o nome de Referencial Curricular de Geografia para o ensino fundamental do 6° ao 9° ano (RCGEF), o referido documento apresenta a proposta de trabalhar as quatro séries que compõem os anos finais do ensino fundamental a partir de eixos temáticos, como representado no quadro abaixo.

Quadro 18 - A Linguagem Cartográfica no Currículo de Geografia do Ensino Fundamental anos finais no Maranhão.

EIXOS CARACTERÍSTICAS

Linguagem e representação cartográfica

Destaca a necessidade de trabalhar a Cartografia de forma contextualizada e inserida no decorrer do desenvolvimento dos conteúdos ao longo da etapa dos anos finais do ensino fundamental.

A construção do espaço brasileiro e maranhense

Prioriza o reconhecimento do espaço geográfico maranhense e brasileiro, dando ênfase ao estado do Maranhão de forma a contextualizar a realidade brasileira e local com a dinâmica mundial, nos diversos conteúdos disciplinares e dos temas social ao longo da etapa dos anos finais do ensino fundamental.

Meio ambiente e sociedade A proposta de Geografia para o estudo das questões ambientais favorece ao aluno a concepção clara dos problemas de ordem local, regional e local a compreensão e a formação de novas atitudes em relação ao desenvolvimento de um ambiente saudável.

Globalização: produção consumo e tecnologia.

Enfatiza o estudo das grandes mudanças ocorridas como resultado do processo de globalização. A análise deve permitir a comparação entre o Brasil e outras realidades do mundo capitalista, aprofundando os fenômenos sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais que acontecem no espaço geográfico mundial.

Fonte: Maranhão (2010). Organização do ator.

Os quatro eixos definidos no RCGEF seguem a mesma estrutura para as quatro séries que compõem os anos finais do ensino fundamental, mudando apenas capacidades e conteúdos básicos. No referido documento, a linguagem cartográfica aparece como primeiro eixo como o nome “Linguagem e Representação Cartográfica”. Nesse eixo é sugerido o emprego da linguagem cartográfica ao trabalharem com os conteúdos específicos da Geografia. Como dito anteriormente, poucos municípios maranhenses usam esse documento como currículo, haja vista que, após sua aprovação e publicação, não houve a formação continuada prevista no projeto inicial. Diante do descumprimento desse item da proposta, alguns municípios se recusaram a trabalhar com o novo currículo. No entanto, algumas escolas têm procurado definir o que chamam de currículo mínimo para o ensino fundamental, ou seja, conteúdos considerados importantes para a formação básica em cada componente curricular.

Desde 2015 se presencia o processo de reformulação do currículo nacional da educação básica, restando apenas a apresentação do texto final do ensino médio. Para muitos,

o texto final do ensino fundamental apresenta avanços, para outros o documento é um retrocesso à educação do país. No entanto, vale frisar que a BNCC, assim como foi com os PCN, não será considerada o currículo nacional e sim uma base para que, a partir dela, os estados, municípios e escolas possam reformular ou até mesmo criar seus respectivos currículos.

No quadro a seguir são apresentadas as unidades básicas consideradas eixos organizadores dos conteúdos escolares, seguidas das características, ou seja, o que se espera alcançar ao final de cada unidade temática.

Quadro 19 - A Cartografia na BNCC de Geografia no Ensino Fundamental anos finais.

UNIDADES TEMÁTICAS CARACTERISTICAS

O sujeito e seu lugar no mundo. Focalizam-se as noções de pertencimento e identidade.

Conexões e escalas.

Promover articulação de diferentes espaços e escolas de análise, possibilitando que os alunos compreendam as relações existentes entre fatos nos níveis local e global.

Mundo do trabalho. Abordam-se os processos e as técnicas construtivas e o uso de diferentes materiais produzidos pelas sociedades em diversos tempos.

Formas de representação e pensamento espacial.

Promover ampliação gradativa da concepção do que é um mapa e de outras formas de representação gráfica são reunidas aprendizagens que envolvam o raciocínio geográfico.

Natureza, ambiente e qualidade de vida.

Busca-se a unidade da Geografia, articulando Geografia Física e Geografia Humana, com destaque para a discussão dos processos físico- naturais do planeta Terra.

Fonte: Brasil (2017). Organização do autor.

Na BNCC para o ensino fundamental de nove anos, as cinco unidades temáticas definidas seguem o currículo do 1° ao 9º, mudando apenas os objetos de conhecimentos e as habilidades. Vale destacar que a unidade temática “Formas de representação e pensamento espacial” indica a possibilidade de inserção da tão sonhada “alfabetização cartográfica” desde os anos iniciais, como defendem os pesquisadores da Cartografia Escolar que têm dedicado seus estudos ao processo de iniciação a leitura e interpretação de mapas (PASSINI, 2012).