Tanto a psicoterapia individual quanto a terapia familiar oferecem uma abordagem de tratamento e uma maneira de compreender o comportamento humano.
A terapia individual pode fornecer o foco concentrado para ajudar a pessoa a enfrentar seus medos e aprender a se tornar, mais integralmente, o que ela é. Os terapeutas individuais reconhecem a importância da família na formação da personalidade, mas consideram que essas influências são internalizadas e que a distância intrapsíquica torna-se a força dominante que controla o comportamento. O tratamento pode e deve ser dirigido à pessoa e à sua constituição pessoal.
Os terapeutas familiares acreditam que as forças dominantes na nossa vida se localizam na família. A terapia baseada nessa estrutura objetiva mudar a organização da família. Quando a mesma é transformada, a vida de cada um de seus membros é alterada.
A família é o contexto natural de crescimento e cura. É deste contexto que o terapeuta de família dependerá para a atualização de seus objetivos terapêuticos. Este grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação, que constituem a estrutura familiar, a qual “governa” o funcionamento dos membros da família, delineando uma gama de comportamento e facilitando sua interação.
Para um terapeuta de família, a rede das transações familiares aparece em toda a sua complexidade. Mudar a família e a vida de cada um de seus membros é importante e deve ser examinado com cuidado. A terapia familiar provoca mudanças em toda a família; a melhora pode ser duradoura, por que cada membro da família é modificado e continua provocando mudanças sincrônicas nos outros.
Conforme Minuchin & Fishman (1990) os terapeutas familiares tendem a descuidar dos contextos de relação entre irmãos e a recorrem em demasia a estratégias terapêuticas que exigem incrementar a diversidade do funcionamento parental. O modo como a família cumpre suas tarefas importa muitíssimo menos que o êxito com que o faz. Os terapeutas devem lembrar-se que apresentam a função de ajudar as mesmas a se tornarem adequadas dentro das possibilidades que existem em seus próprios sistemas cultural e familiar (p. 29-30).
A família não é uma entidade estática; está em processo de mudança contínua assim como seu contexto social. A visão da família como um sistema vivo sugere que a longo prazo qualquer família mostre o desenvolvimento no qual os períodos de desequilíbrio se alternam com períodos de homeostase mantendo-se a flutuação dentro de uma amplitude manejável.
O terapeuta de família deve, desde o início, tomar certa posição de liderança sendo que os objetivos previstos para a família e o terapeuta devem ser os mesmos. Para o terapeuta, o paciente identificado é o portador do sintoma e a causa do problema são as transações disfuncionais da família; e o processo de cura envolverá a mudança destas transações e a intervenção do terapeuta ativará os mecanismos que preservam a homeostase dentro do sistema familiar. A esse respeito, temos que:
Família e terapeuta, então, formam uma sociedade com um objetivo comum que é mais ou menos formulado: libertar o portador do sintoma na família de seus sintomas, reduzir o conflito e a tenção em toda a família e aprender novos meios de superar as dificuldades. (MINUCHIN & FISHMAN, 1990, p. 38)
A família aceitará o terapeuta como líder e ele terá que conseguir liderar, acomodar, seduzir, submeter, apoiar, dirigir, sugerir e seguir a fim de conduzir o tratamento. Cooparticipar com uma família é mais uma atitude que uma técnica e é a cobertura sob a qual as transações terapêuticas ocorrem. O processo de cooparticipação num sistema terapêutico vai além de simplesmente apoiar a família. Há a busca de proximidade com a família identificando áreas de sofrimento, dificuldade ou tensão, admitindo-se que, embora não se evite, essas áreas tencionais, irá responder a elas com sensibilidade. Confirmando os aspectos positivos das pessoas, o terapeuta torna-se uma fonte de auto-estima para a família.
O terapeuta deve saber que sua liberdade de movimento será restringida por sua indução dentro do sistema familiar. Na posição de proximidade, aumenta a intensidade, é participante preso às regras de participação; deve estar apto a usar a si mesmo nesta modalidade, porém, é também essencial que saiba como desengajar-se depois de ter entrado.
O terapeuta pode reunir informações uteis sobre a família observando seu próprio meio de rastrear o processo familiar. O terapeuta forma uma ideia da família
como um todo depois de um primeiro exame de certos aspectos básicos de sua estrutura.
As famílias que buscam a terapia depois de uma luta prolongada têm usualmente identificado um de seus membros como problema, no presente caso este problema é a dependência química, contam ao terapeuta a sua luta, as soluções que tentaram e o fracasso de todas as tentativas. O terapeuta, porém, ingressa na situação terapêutica com o suposto de que a família se equivoca. O problema não é o paciente identificado, porém, certos padrões de interação da família. Observando a organização dos membros da família em torno dos sintomas e de seu portador, o terapeuta pode obter respostas que a família está usando inapropriadamente para enfrentar a situação atual.
Segundo Minuchin & Fishman (1990, p.75) “a tarefa do terapeuta é desafiar a definição da família do problema e a natureza de sua resposta segundo a abordagem estrutural” O objetivo é modificar ou reenquadrar a concepção que a família tem do problema, levando seus membros a procurar respostas alternativas de comportamento cognitivas e afetivas.
Os pacientes buscam a terapia porque a realidade, como a construíram é inviável. A terapia de família postula que padrões transacionais dependem de e contêm o modo como as pessoas experenciam a realidade. Para mudar a visão de realidade dos membros da família é requerido o desenvolvimento de novos meios de interação na família. As técnicas usadas nessa estratégia são os construtos cognitivos, intervenções paradoxais e a ênfase na força da família. (MINUCHIN & FISHMAN, 1990, p. 78)
O terapeuta toma os dados que a família lhe oferece e os reorganiza sendo que a realidade conflitiva e estereotipada da família recebe um enquadramento novo. À medida que os membros da família experimentam a si mesmos e a outro, de maneira diferente, novas possibilidades aparecem.
O primeiro problema do terapeuta sendo coparticipe da família é definir a realidade terapêutica. A terapia é uma empresa orientada para um fim, para o qual nem todas as verdades são relevantes. Observando as transações dos membros da família no sistema terapêutico, o terapeuta seleciona os dados facilitando na resolução do problema.
Pela terapia ocorre choque entre duas visões da realidade: a visão da família e a visão terapêutica. A visão da família é importante para a continuidade e
manutenção desse organismo em condições mais ou menos estáveis; a visão terapêutica atende ao objetivo de mover a família manejando de forma diferenciada e competente de sua realidade disfuncional.
O terapeuta começa o enquadramento levando em consideração aspectos importantes considerados pela família. Seu modo de obter informação no contexto da família enquadra o que foi apresentado de um modo diferente.
A tarefa do terapeuta é convencer os membros da família de que o mapa da realidade por eles traçado pode ser ampliado ou modificado. As técnicas de dramatização, focalização e obtenção de intensidade são relevantes para o sucesso do enquadramento terapêutico. (MINUCHIN & FISHMAN, 1990, p. 83)
Pela dramatização existem algumas vantagens terapêuticas como: facilitar a formação do sistema terapêutico, que produz compromissos sólidos entre os membros da família e o terapeuta. Enquanto a família está dramatizando sua realidade dentro do conteúdo terapêutico, há um desafio concomitante a esta realidade particular. As famílias se apresentam como um sistema com um paciente identificado e um conjunto de pessoas que o curam ou ajudam. Em lugar de um paciente com patologia, o foco é uma família em situação disfuncional. A dramatização inicia o questionamento da ideia da família sobre o problema. (MINUCHIN & FISHMAN, 1990, p. 85).
Na dramatização os membros do sistema terapêutico estão envolvidos um com o outro, ao invés de meramente ouvirem um ao outro, oferecem um contexto de experimentação em situações concretas.
Em terapia familiar, a focalização pode ser comparada com uma montagem fotográfica. Por meio desse jogo com múltiplas vistas do mesmo objeto, uma visão multidimensional surge. Observando a família, o clínico consegue dados, seleciona os mesmos dentro de um esquema que lhes confira sentido, sendo que é um esquema terapêutico que promove a mudança e os fatos se permitem relacionem entre si com relevância terapêutica. O trabalho do terapeuta é ajudar a família a mudar, e não fazer com que se sintam cômodos.
As características do terapeuta são uma variável significativa no desenvolvimento da intensidade. As famílias diferem no grau ao qual demandam lealdade à realidade familiar e intensidade da mensagem do terapeuta para variar de acordo com o que estiver questionando. Mesmo quando terapeutas reconhecem a
ineficácia de suas intervenções e querem mudá-las poderão tropeçar em algumas regras. Intervenções para intensificar mensagens variam de acordo com o grau de envolvimento do terapeuta.
A fase inicial do tratamento é dedicada a transformar a hipótese do terapeuta em uma formulação sobre o que mantém o problema e a começar a trabalhar para resolvê-lo. Trata-se de criar uma aliança para desafiar ações e suposições. A maioria dos terapeutas consegue perceber o que precisa mudar. Quando o tratamento prossegue, acontece sua fase intermediária com as seguintes características:
O terapeuta assume um papel menos diretivo e incentiva os membros da família a confiar nos próprios recursos. O nível de ansiedade é regulado fazendo com que eles falem um pouco uns com os outros e um pouco o terapeuta. O terapeuta estimula os membros da família a irem além de criticas e acusações e a falarem diretamente sobre o que sentem. (NICHOWLS & SCHWARTZ, 2007, p. 82)
Ainda estes vários autores consideram que o término acontece na terapia breve assim que o problema apresentado for resolvido. Para os terapeutas psicodinâmicos, a terapia é um processo de aprendizagem demorado e pode continuar por anos. Uma pista indicando o momento de terminar é quando a família fica apenas no bate papo, conversando sobre coisas menos importantes.
Na terapia familiar psicanalítica o objetivo está em libertar os membros da família de limitações inconscientes, para que possam interagir como indivíduos sadios.
A questão central deste trabalho de terapia apresenta que fatores familiares tem se apresentado como problemas de abuso de substâncias químicas. O abuso de substância destrói a coesão da família como unidade e prejudica o funcionamento de seus membros (NICHOLS & SHWARTZ, 2007, p. 403).
Além disso, práticas parentais com pouco monitoramento, disciplina ineficaz e má comunicação também estão implicadas nos problemas de abuso de substancias na adolescência embora as atitudes parentais interajam claramente com uma série de outros fatores para predizer o início do abuso de drogas e problemas relacionados. Então:
Intervenções ou tratamentos familiares apresentam como modelos mais efetivos as abordagens multisistêmicas, integrativas, planejadas para alterar
a ecologia de vida do adolescente usuário de drogas, mudar padrões familiares desadaptativos e melhorar o relacionamento nas esferas da escola, trabalho e envolvimento legal. (NICHOLS & SHWARTZ, 2007, p. 404)
Há evidências empíricas solidas e consistentes de estudos clínicos e que confirmam que a terapia familiar reduz os níveis de uso de drogas e proporciona o aumento do funcionamento adaptativo. Essas abordagens conseguem engajar os adolescentes e os pais no tratamento, por meio de estratégias especializadas. As intervenções familiares demonstram ter efeitos terapêuticos superiores sobre os níveis do uso de drogas, comparadas à terapia individual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação a dependência química, cada caso tem sua complexidade e o correto é, antes de mais nada, informar-se e buscar ajuda profissional colaborando para que o usuário deixe de ser dependente.
É preciso admitir que exista o problema e buscar ajuda, preservando a identidade do dependente e a reparação de danos causados por ele e o trabalho com outros usuários de drogas que queiram se recuperar.
Existem muitos tipos de dependências e o tratamento para cada uma delas é diferente. O tratamento também varia dependendo das características do paciente. Ele depende também do tipo de droga do qual o sujeito é usuário.
No segundo capitulo deste trabalho apresentei as diferentes drogas e seus mecanismos de ação. Problemas mentais, ocupacionais, de saúde, ou sociais, que tornam as pessoas dependentes dificultam ainda mais o tratamento. As terapias comportamentais oferecem às pessoas estratégias para serem usadas nas crises de ausência da droga. Ensinam aos usuários meios de abandonar a droga e de evitar recaídas, e ajudam a lidar com as recaídas, caso elas ocorram.
Os melhores programas juntam uma combinação de terapias e outros serviços para atingir as necessidades individuais do paciente que são ajustadas de acordo com a idade, raça, cultura, orientação sexual, gravidez, parentesco, moradia e emprego.
Pesquisas mostram que o uso contínuo da droga causa modificações significantes nas funções cerebrais que persistem por muito tempo depois que o indivíduo para de usar a droga. Podemos, pelas leituras realizadas sobre o tema que um sujeito dependente que abusa do vício deverá estar sempre em alerta, evitando a presença daquilo que o tornou dependente. Deve evitar também situação que leve
à possibilidade de novamente experimentá-la. Se isto ocorre, a possibilidade de retornar à dependência é bastante aumentada.
O entendimento que o vício tem tal componente biológico é importante para ajudar a explicar a dificuldade que a pessoa tem de atingir e manter a abstinência sem tratamento e revela o motivo do processo de tratamento do vício precisar de um longo período. Muitas instituições consideram, inclusive, que o tratamento de um dependente químico dura para o resto de sua vida.
Além de fazer com que o usuário abandone o uso de drogas, o êxito do tratamento leva a pessoa de volta às funções normais da família, do lugar de trabalho e da comunidade. O processo do tratamento individual depende da extensão e da natureza dos problemas apresentados pelo paciente e da participação ativa do paciente no tratamento.
Conclui-se que a terapia familiar é um bom indicativo no tratamento da dependência química. Nesse sentido, os terapeutas podem realizar um trabalho voltado para a família. Com relação aos diferentes tipos de drogas e seus mecanismos foi possível obter um conhecimento mais aprofundado sendo possível relacionar teoria e prática aprendidos, no decorrer do curso de psicologia.
Apresenta-se ainda a possibilidade de continuidade dos trabalhos em torno do tema, aprofundando a questão sobre uma das drogas específicas ou sobre estudos de caso com dependentes químicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LARANJEIRA, R. Abuso e dependência de álcool. Diagnóstico & Tratamento, n. 2, p. 43-50, 1997.
LEITE, M. C. Aspectos básicos de tratamento da síndrome de dependência
psicoativa. Brasília (DF): SENAD, 1999.
______. Conversando sobre cocaína e crack. Brasília (DF): SENAD, 1999. MASUR, J. O que é toxicomania. Brasiliense: São Paulo, 1985.
MELMAN, C. Alcoolismo, delinquência, toxicomania: uma outra forma de gozar. São Paulo: Escuta, 1992.
MINUCHIN, S.; FISHMAN, H. C. Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
NETO, A. C.; GAUER, G. J. C.; FURTADO, N. R. Psiquiatria para estudantes de
medicina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
NICHOLS, M. P.; SHWARTZ, R. C. Terapia familiar: conceitos e métodos. Porto Alegre: Artmed, 2007.
NOSSA, L. Estudo mostra uso de drogas por estudantes. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12 nov. 2002.
PERCILIA, E. Maconha: principais efeitos. Brasil Escola. Disponível em: <www.brasilescola.com/drogas/naescola.htmacess>. Acesso em: 12/07/2011.
STUART, G. W.; LARAIA, M. T. Enfermagem psiquiátrica. São Paulo: Artmed, 2001.
ZAGO, J. A. Considerações sobre os aspectos psicossociais, clínicos e terapêuticos da drogadição. Informação Psiquiátrica, n. 15, p. 145-149, 1996.