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O lugar da família e a dependência química

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DFP – DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E PSICOLOGIA CURSO DE PSICOLOGIA

O LUGAR DA FAMÍLIA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

ALESSANDRA SEVERO PADILHA

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ALESSANDRA SEVERO PADILHA

O LUGAR DA FAMÍLIA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Psicologia, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga.

Orientadora: Profª. Drª. Lala Catarina Lenzi Nodari

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DFP – DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E PSICOLOGIA CURSO DE PSICOLOGIA

A COMISSÃO ABAIXO ASSINADA APROVA O PRESENTE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO INTITULADO:

O LUGAR DA FAMÍLIA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

ELABORADO POR: ALESSANDRA SEVERO PADILHA

COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE PSICÓLOGA

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________ Prof. ...

_____________________________________________ Prof. ...

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar por me guiar nessa caminhada.

Aos mestres que com responsabilidade partilharam ensinamentos.

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“A busca da paz é uma maneira de rezar, que termina gerando luz e calor. Esqueça um pouco de si mesmo, saiba que na luz está a sabedoria, e no calor reside a compaixão. Ao caminhar por este planeta, procure notar a verdadeira forma dos céus e da terra; isso é possível se você não se deixar paralisar pelo medo, e decidir que todos os seus gestos e atitudes corresponderão àquilo que você pensa”.

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RESUMO

A drogadição é um sintoma psicossocial cada vez mais presente em nossa sociedade, onde os adolescentes são os mas atingidos, bem como suas famílias. Com esta preocupação, surgiu o projeto de pesquisa: “O Lugar da família e a dependência química”. A partir das leituras e consultas bibliográficas voltadas para o seguinte objetivo: contribuir para a melhora da relação da família com o dependente químico, busca-se na terapia familiar formas de enfrentamento da problemática da drogadição, visando assim aprofundar aspectos dinâmicos das famílias dos adolescentes que se envolvem com drogas. Constituiu-se numa pesquisa bibliográfica onde a sistemática utilizada para a obtenção dos dados ocorre por meio de leitura e estudos dos textos, possibilitando que desse modo se realizasse uma análise do assunto em questão percebendo a função da psicologia no contexto. Neste sentido a psicologia contribui através da terapia familiar em que a mesma é ressaltada com o intuito de ajudar as pessoas a mudarem, a saírem do sofrimento sendo a família o contexto natural de crescimento e de cura onde a terapia deva acontecer. A sua função aparece como forma de ajuda para que a família a compreenda os sintomas do paciente, identificando se na verdade está servindo a uma função crucial de manutenção da homeostase familiar.

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ABSTRACT

The drug addiction is a symptom of psychosocial increasingly present in our society, where teens are affected but, as well as their families. With this concern came the research project: "The paper/place of the family and chemical dependency." From the readings and bibliographical consultations focused on the following objective: to help improve the family's relationship with the chemically dependent, we seek to family therapy in ways of coping with the problem of drug addiction, thus aiming at further dynamic aspects of the families of teenagers get involved with drugs. Consisted of a literature search where the system used for obtaining data is through reading and studying the texts, thereby enabling it to conduct an analysis of the subject matter to understand the role of psychology in context. In this sense contributes through the psychology of family therapy in which it is emphasized in order to help people change, to leave the suffering the family being the natural context of growth and healing where the therapy should happen. Its function appears as a way to help the family understand the patient's symptoms, identifying it is actually serving a critical function of maintaining family homeostasis.

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LISTA DE SIGLAS

SNC – Sistema Nervoso Central AVC – Acidente Vascular Cerebral THC – delta-9-tetra-hidrocanabinol SUS – Sistema Único de Saúde

HIV – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida AA – Alcoólicos Anônimos

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ... 12

CAPÍTULO II AS PRINCIPAIS DROGAS E MECANISMO DE AÇÃO ... 22

2.1 Maconha ... 22

2.2 Cocaína ... 24

2.3 Crack ... 27

2.4 Álcool ... 29

CAPÍTULO III O LUGAR DA FAMÍLIA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão do curso de psicologia tem como tema: “O papel/lugar da família e a dependência química. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que objetiva a compreensão da temática.

Dependência química é o comportamento de um sujeito na relação com uma substancia psicoativa, ou seja, qualquer droga que altere o comportamento e que possa causar dependência tais como: o álcool, maconha, cocaína, crack e medicamentos para emagrecer a base de anfetaminas, calmantes indutores de dependência ou faixa preta e nicotina.

A dependência pode ser considerada como atingindo não somente o dependente, mas também a sua família. Os familiares de dependentes, muitas vezes adoecem emocionalmente, sendo essencial que a família se trate, receba orientações a respeito de como lidar com os sentimentos do dependente.

O dependente por sua vez sofre a dependência física, caracterizada pela presença de sintomas físicos desagradáveis, que surgem quando interrompe o uso, diminui de forma abrupta ou em abstinência. A dependência psicológica tem como características o intenso estado de mal estar psíquico, sintomas de ansiedade, depressão, dificuldades de concentração entre outros, a partir do momento em que o individuo para de ingerir a droga na frequência e quantidade habitual. Socialmente sofre pela aceitação da sociedade que o exclui e não vê com bons olhos e também não procura ajudar.

Diante da problemática do uso de drogas ocasionando problemas ao usuário e sua família, a terapia familiar se apresenta como ajuda visando contribuir para a melhor relação da família com o dependente. Neste sentido cabe conhecer o que é a

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terapia família e como ela pode acontecer levando inclusive o usuário a abandonar o uso de drogas.

A terapia familiar existe desde a bom tempo, no campo da Psicologia com o intuito de ajudar as pessoas a mudarem, a saírem do sofrimento sendo a família o contexto natural de crescimento e de cura onde a terapia deva acontecer. Para tanto, o objetivo do terapeuta familiar é ajudar a família a compreender os sintomas do paciente, identificando-se, na verdade, serve a uma função crucial de manutenção da homeostase familiar.

Visando a apresentação da pesquisa temos a mesma dividida em capítulos. O primeiro capitulo: “A dependência química”, tecemos algumas ideias sobre dependência química enfatizando a causa da busca pela droga encontrada na família, no contexto de amigos, nas suas insatisfações em que pretende suprir faltas e obter o prazer e o gozo.

No segundo capitulo: “Drogas e mecanismos de ação”, trazemos alguns tipos de produtos consumidos que levam a dependência química e ocasionam problemas a seus usuários e seus familiares.

No terceiro capitulo: “O papel-lugar da família e a dependência química”, a terapia é conceituada e consequentemente seus objetivos e funções. Esta terapia proporciona a escuta dos membros da família que podem se expressar e chegar a um atendimento mútuo, sendo o terapeuta que incentiva os membros da família a interagirem na busca de solução para o problema apresentado.

Finalizando, temos as considerações finais a respeito do tema abordado e contribuições da pesquisa.

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CAPÍTULO I A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Conceituando a dependência química podemos dizer que é uma doença crônica, com correlatos neurológicos, frequentemente reincidente, que causa a busca e uso compulsivo de drogas, apesar das consequências prejudiciais para o indivíduo e para aqueles ao seu redor. Embora a decisão inicial de experimentar uma droga seja voluntária para a maioria das pessoas, as alterações cerebrais que ocorrem ao longo do tempo desafiam o autocontrole da pessoa e a sua capacidade de resistir aos impulsos intensos que a impelem a usar a droga.

A dependência química ou física é uma condição orgânica que nasce da utilização constante de certas drogas psicoativas, as quais consequentemente provocam o aparecimento de sintomas que envolvem especialmente o Sistema Nervoso Central. O sujeito se torna dependente de uma dada substância, sofrendo assim os efeitos de uma abstinência repentina e prolongada. O uso abusivo do álcool, de drogas consideradas ilegais e da nicotina pode gerar esta reação corporal (MASUR, 1985, p. 23).

Estudos feitos na medicina nos lembram que pacientes tratados com morfina por doenças dolorosas diversas, podem entrar em estado de dependência necessitando de repetidos tratamentos de desintoxicação, sendo que apresentam dificuldade em curar-se de sua toxicomania.

Para compreender as razões da dependência trazemos uma pouco da historia do uso de drogas. Antigamente o uso de drogas era um elemento de integração. Utilizada na maioria das vezes por adultos, com objetivos místicos, religiosos, intelectuais ou guerreiros por certos grupos e em certas circunstâncias. A droga estava inserida num momento sociocultural, ou seja, a maconha era utilizada no oriente, o álcool no ocidente (MELMAN, 1990, p. 69).

Atualmente o uso de drogas é um elemento de desintegração, ocupando o espaço da intimidade das relações entre as pessoas. A droga não é tratada como assunto de saúde pública e sim como uma questão econômica, visto que a plantação, produção e comércio das drogas ocupam o terceiro lugar na economia mundial.

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A função primordial do uso de drogas na sociedade é, antes de obter o prazer, é o de evitar em pensar, é de não sofrer. O uso de drogas é uma tentativa então de não sentir a dor existencial.

Em relação à questão do gozo, a busca do objeto perdido temos efetivamente o outro, aquele que somos levados a renunciar, que se apresenta no corpo materno. O sujeito liga-se ao Outro por esta perda, ou separação de uma parte de seu corpo - este gozo do outro – o luto sendo aqui objetivo – aprender o Outro, e na falta de conseguir aprende-lo, ocorre a toxicomania. (MELMAN, 1990, p. 70)

Este momento da toxicomania é momento amoroso, de anestesia, onde as barreiras habituais do desgosto encontram-se levantadas.

A droga assegura ao toxicômano, enquanto isto funciona, um estado de prazer, sendo suscetível de baixar as tensões psíquicas, ideal buscado gozando de sua própria morte; indo assim ao fim do que é gozo de seu próprio excremento. Se para o toxicômano, o principio do prazer é assegurado por sua droga, o que faz o gozo para ele é justamente, o momento de falta, gozo atroz. (MELMAN, 1990, p. 74)

O que comanda cada um o gozo, o objeto, na medida em que cada um ali encontra de uma forma ou outra, seu ganho. Trata-se de algo deslocante que, colocando no lugar da mesma, o objeto “a” viria, de forma brutal, tomar função.

O objeto de gozo do toxicômano é a morte, que ele consiste mesmo que seja por eclipses em desaparecer, ausentar-se e quando reemerge não se faz sem drama pois o mundo lhe parece particularmente cinza e duro e até mesmo insuportável.

Somos fundamentalmente imitadores e se determinados produtos são colocados como bons, a medida que se tem produtos capazes de fazer isto, criados em laboratórios como neurolépticos, tranquilizantes por exemplo, com a ideia de que estes irão fazer voar, flutuar, aliviar o fato de existir, levam portanto ao seu uso.

A introdução ou a iniciação as drogas é quase sempre através de um amigo, um colega de aula, um namorado. Convencidos por estes de que o uso da droga lhes fará bem acabam usando pela primeira vez e muitas vezes acabam se tornando escravos dela.

Os motivos para passar a usar drogas são vários, e conforme o sujeito, é possível pensar que depende de sua personalidade, seu estado emocional, além de

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outras razões como: desajuste familiar; fuga de problemas; modismo; imitação; busca de prazer; pais alcoólicos ou drogados; tranquilização; complexo de inferioridade, ociosidade; pais separados; filhos adotados; falta de religiosidade; desinformação; ausência de amor; auto-afirmação;curiosidade;modernismo; permissividade; desespero; contestação, rebelião contra as autoridades; falta de desportos; prazer de violar ou desafiar as convenções sociais e familiares; facilidade do uso; falta de ambiente familiar; falta de diálogo com os pais; Influência de amigos, namorado (a); freqüência de maus ambientes; enriquecimento rápido; falta de orientação na escola; propaganda; estimulação e desinibição; tendências psicopáticas; distúrbios da personalidade.

Conforme estudo apresentado pela UNESCO, "estudantes começam a beber por curiosidade, pelo desejo de inserção social, para esquecer problemas e para “ter coragem” nas “paqueras” (NOSSA, 2003).

A toxicomania é pode também ser como um fenômeno social, sua propagação não depende somente da inclinação, do gosto ou fraqueza psíquica de um sujeito, mas também das incitações que podem ser exercidas pelo meio. A toxicomania não é apenas um problema singular, mas um fenômeno social que parece testemunhar uma transformação na economia do gozo.

Dizer que as drogas é a causa da deterioração da vida é, no mínimo, uma inversão de valores. É o próprio sistema social que cria uma tendência a proliferação da drogadição.

Os toxicômanos são doentes. A doença está ligada de forma imaginária no sujeito histérico, de forma tal naquele que é atingido por uma doença orgânica – de forma sistemática à deserção operada, no que se refere ao corpo, por esta instancia terceira. Deste referente terceiro que o corpo se afirma. Na medida em que o toxicômano esteja privado da possibilidade de uma referencia a esta instancia terceira, se encontra tendo um corpo desertado por este suporte, ele é doente por definição, assim a toxicomania é um assunto de terapêutica. A doença vai levá-lo a condutas de delinquência e o ponto de partida de tudo é sua doença O momento do gozo não é aquele em que está absorvendo o produto, o momento em que está em estado de nirvana, de redução, de resolução das tensões, em estado de prazer. O momento do gozo é de tensão desejante, aquele em que está em estado de falta. É um gozo que se exprime de forma que, o confina imediatamente a dor e ao intolerável (p. 109). O toxicômano ama o estado de falta porque dele goza. O toxicômano se introduz na categoria de falta, são filhos de nossos ideais, tem necessidade de neoformação para ser introduzido em algum gozo possível. A angústia aliada ao estado de falta é o tempo forte do vivido toxicomaníaco. (MELMAN, 1990, p. 108-110)

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Na verdade o dependente tem uma carência afetiva, problemas para eliminar sua angustia da frustração, uma necessidade inesgotável de amor e aprovação, é hipersensível a critica e lhe falta a confiança e busca nas drogas encontrar esta satisfação e forma de resolver seus problemas dessa natureza.

Conforme Neto et al. (2003), a adolescência se constitui em idade de risco para o uso de substancias psicoativas, devido as rápidas modificações que decorrem do processo de amadurecimento psicológico e tornam o individuo emocionalmente suscetível e influenciável pelo grupo de iguais.

Em razão da adolescência ser um período, de instabilidade afetiva de mudanças significativas, o uso de substancias psicoativas pode ser uma estratégia utilizada por adolescentes para enfrentar o cotidiano.

Buscando a satisfação, sob o efeito da droga a pessoa percebe-se - onipotente (todo poderoso), viajando, distante dos problemas ou ligado num mundo melhor, escondendo com isso sua insegurança de não saber quem é. A pessoa vai formando um conceito de si mesmo, tendo a droga como liga, usando a mesma, fica” numa boa, muito maluco, down e tem um alívio imediato”, caindo num padrão de pensamento seletivo, que é de lembrar das boas experiências sob o efeito de drogas.

No início do processo de dependência, o efeito da droga é de um prazer fugaz, depois de estabelecida a dependência, torna-se escravo da droga e passa então a viver em função dela, necessitando encobrir, sem saber, sua solidão. O que foi apreendido é de que não suportando a dor dos problemas, usa droga e tem o alívio imediato, e esse processo de continuidade gera a dependência química, dado pela sistemática.

A profunda solidão que o dependente vive é percebida, pois quem elege a droga como modo de anestesiar crises, e na maioria das vezes essa escolha é inconsciente, é para que a sua fragilidade e carência de pessoa não fiquem aparentes para as outras pessoas. Solitário de si mesmo, a droga é a tentativa iludida de encontrar-se.

Desse modo fica notório que a drogadição é um projeto suicida, que se manifesta através de atitudes autodestrutivas ou de suicídios parciais. Tal situação é um viver que não se valoriza e cuja essência colocamos em evidência.

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A droga é um objeto pelo qual o dependente químico dá vida. Uma vez ingerida, a droga retorna em destruição ou morte. É uma troca de vida por morte, a ponto de tornar-se escravo dela, transformando-a em senhor, transformando-a na sua melhor companheira e na sua melhor amante. Não é a droga que tem o poder, é pessoa dependente que está fragilizada. (MELMAN, 1990, p. 112)

A dependência de drogas concretiza a desvalorização interior. Esse projeto suicida coloca a tendência de realização de por término da sua vida, ao mesmo tempo que se nega como ser-ao-mundo. O seu mundo e o núcleo da vida é apenas a droga, é um jeito triste de ser e viver.

O dependente químico possui uma grande dificuldade de superar os pequenos problemas do cotidiano e acredita ter encontrado a solução definitiva para as suas respostas, revela a ausência de saúde mental e emocional não percebendo a realidade como ela é assim como não admite ser dependente. Apresenta comportamento impulsivo, não tem paciência em esperar que as coisas aconteçam normalmente. A ação e o efeito rápido provocado pelo uso de drogas substitui a ação normal.

Transformando-se em escravo da droga, definitivamente não há lugar para o outro, o semelhante. Na história de vida do dependente, o outro sempre foi o outro-coisificado, mero objeto. Isto revela a ausência do outro, do próximo. E explica porque o dependente não consegue manter relacionamentos profundos e duradouros com o seu semelhante. A experiência do EU é ligada a um objeto e a experiência do NÓS e anulada. A drogadição é o aniquilamento do EU e do NÓS, ou seja não tem nenhum posicionamento no mundo. (MELMAN,1990, p. 113)

O dependente apresenta incapacidade de enfrentar problemas, frustrações, e muitas vezes recorre as drogas para enfrentar a angústia, de forma a buscar sempre a gratificação imediata, pois não aprendeu a controlar o impulso com o pensamento;geralmente se usa de alguns mecanismos para com as pessoas de forma a manipulá-los;se ilude a respeito de sua condição e nega a realidade, não admite a dependência química, acha que pára quando quiser e consegue controlar o uso de drogas., justifica seus comportamentos insanos, negando a realidade e a causa do comportamento, que é a droga (ZAGO, 1996, p. 145).

O indivíduo minimiza o problema, levando a se iludir sobre sua própria condição, projeta suas dificuldades nas outras pessoas, e vê características dos

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seus comportamentos nos outros, de forma que as pessoas que o rodeiam são o problema.

A dependência química baixa a estima, o dependente tem uma necessidade inesgotável de amor e aprovação, é hipersensível a criticas e lhe falta confiança em si mesmo, possui dependência afetiva exacerbada. Gera a frustração, não consegue aceitar sem conflitos, fatos, situações ou comportamentos que estejam fora das próprias expectativas ou desejo, não consegue lidar com o não, ou com resultados inesperados.

O dependente químico quer a satisfação imediata do desejo, está sempre sob um sentimento de urgência. Se considera invulnerável e imortal, vive a fantasia grandiosa de vencer a finitude.

Modificar a realidade requer tempo, esforço e muitas outras condições, fazê-lo na fantasia é fácil, imediato e só requer esforços insignificantes. A megalomania é justamente um transtorno psicológico no qual o doente tem ilusões de grandeza, poder e superioridade, também o caracteriza pela obsessão em realizar feitos e atos. Um dos efeitos da droga é de diminuir os estados de angustia ou depressão, enquanto que em outras os intensifica perigosamente.

A questão das consequências com o uso de drogas depende de usuário, do consumo, do tipo e droga utilizada, do tempo em que está neste processo. Na primeira fase o uso estimula ou dá sensação de bem estar e na segunda fase deprime. O usuário poderá a tornar-se dependente de uma droga pela consequência do efeito que ela oferece.

Ela envolve o emocional, alteração de humor, ansiedade, mudança brusca de comportamento, agressividade, angústia, irritabilidade, tensão, desorientação no tempo e no espaço, paranóia (medo, perseguição, pânico), depressão primária gerando problemas semelhantes ao doente psiquiátrico como depressão e convulsões, problemas de memória, confusão mental, concentração, raciocínio, lapsos de memória, crise de identidade.

Alguns problemas como sono alterado (insônia ou sono pesado), sonhos aumentados, onde as angústias são resolvidas à fabricação de coisas boas e a esperança de acontecer, pesadelo podem ser apresentados.

Com a dependência física temos sintomas como:

- sudorese (suor aumentado), cefaléia (dor de cabeça), dores musculares, câimbras, tremores, fadiga, oscilação pressão arterial (alta ou baixa), taquicardia

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(coração acelerado), febre, náuseas e vômitos, diarréia ou intestino preso, falta de apetite, alucinações/delírios (LEITE, 1999, p. 6).

Algumas pessoas se sentem mais onipotentes no inicio do uso tal como prazer (fica leve, solto) com alivio imediato, com prestigio no sexo, nas tarefas ou trabalho, ou consequências negativas como perdas materiais/moral/legal e sequelas pisco/físicas.

Há uma progressão nas fases da doença com o uso normal: tolerância normal, benefícios, problemas, com o uso médio, a tolerância é média, benefícios e problemas médios, com o abuso, e a síndrome da abstinência aparece, benefícios inexistentes, problemas grandes assim como a violência e problemas gravíssimos levando a é a morte.

Stuart e Laraia (2001) colocam que com a dependência química podem ocorrer problemas físicos, perturbações graves no trabalho, na vida social e familiar da pessoa.

O que o usuário entende é que se não suportar a dor (problema), usa droga e tem o alívio imediato, e esse é o processo de continuidade que gera culpa, vergonha.

Na doença da dependência química não tem culpado, somente responsável, a culpa termina nela própria e a responsabilidade começam nela própria.

Pode-se reconhecer este quadro através da observação de diversos sintomas, entre eles a necessidade de ampliar a dose habitual para se conquistar repetidamente o efeito desejado; ansiedade, irritação, incapacidade de dormir normalmente ou tremedeira, sensações desencadeadas pela tentativa de se abster da droga; consumo cada vez maior ou por mais tempo do que a pessoa havia planejado; necessidade contínua de reduzir ou dominar a utilização da droga ou experiências frustradas neste sentido; amplo dispêndio temporal com tentativas de conquistar e ingerir as substâncias almejadas, ou com a cura de suas consequências; deixar de lado as antigas ocupações sociais e culturais em prol do uso da droga.

O uso frequente de drogas interfere no sistema de transmissão nervosa do cérebro alterando o modo normal como as células nervosas (neurônios) realizam o processo de enviar, receber e processar informação. Há pelo menos duas maneiras como as drogas interferem: (1) imitando mensageiros químicos naturais do cérebro,

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os chamados neurotransmissores e (2) por excesso de estimulação do “circuito de recompensa” do cérebro.

Algumas drogas (por exemplo, maconha e heroína) têm uma estrutura similar aos neurotransmissores naturais. Esta similaridade permite que as drogas “enganem” os receptores dos neurônios ativando as células nervosas para enviar mensagens de modo anormal.

Outras drogas, como cocaína ou anfetamina, podem causar uma liberação anormalmente grande de neurotransmissores naturais nas células nervosas (principalmente dopamina) ou bloquear o mecanismo de re-captação normal dessas substâncias, que é necessária desligar a sinalização entre os neurônios. A Dopamina está intimamente associada com recompensa comportamentos de busca, tais como abordagem, consumo e dependência.

O resultado é um cérebro inundado de dopamina, um neurotransmissor existente nas regiões do cérebro que controlam o movimento, a emoção, a motivação e os sentimentos de prazer. A hiperestimulação do sistema de recompensa, que existe para recompensar os comportamentos naturais ligados à sobrevivência (comer, trabalhar, praticar exercícios, atividades lúdicas, ouvir música, fazer amor, etc.), produz efeitos eufóricos em resposta às drogas psicoativas. Esta reação põe em movimento e reforça um padrão que, de certa forma, “ensina” as pessoas a repetirem o comportamento gratificante no caso, o uso de substâncias.

À medida que uma pessoa continua a fazer uso drogas psicoativas, o cérebro vai se adaptar à liberação excessiva de dopamina, produzindo menos dopamina natural ou reduzindo o número de receptores de dopamina no circuito de recompensa. O resultado é uma diminuição do efeito normal da dopamina no circuito de recompensa, o que reduz a capacidade do abusador tanto para desfrutar o efeito das drogas, bem como usufruir os eventos da vida que normalmente causam prazer.

Esta diminuição obriga a pessoa viciada a manter o uso de drogas em uma tentativa desesperada de manter a função da dopamina nos níveis normais. Uma vez instalada a dependência, são necessárias quantidades cada vez maiores da droga para alcançar o mesmo nível de liberação de dopamina: esse efeito é conhecido como tolerância O abuso a longo prazo provoca alterações nos circuitos e sistemas de neurotransmissão do cérebro. Por exemplo, glutamato é um neurotransmissor que influencia o circuito de recompensa e a capacidade de aprender.

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Quando a concentração ideal de glutamato é alterada pelo uso de drogas, o cérebro tenta compensar aumentando os seus níveis, o que pode prejudicar a função cognitiva e levar a um prejuízo da atenção, memória e capacidade de aprendizado. Estudos de imagem cerebral (como tomografia e ressonância eletromagnética) de indivíduos dependentes de drogas mostram alterações em áreas do cérebro que são fundamentais para as capacidades de julgamento, tomada de decisão, aprendizagem, memória, e controle de impulsos. Juntas, essas alterações podem levar um dependente para buscar e usar drogas compulsivamente, apesar do efeito adverso das consequências devastadoras do vício para sua vida.

Como consequência ainda temos pelo uso de drogas: a falta de motivação para estudar ou trabalhar; mudanças bruscas de comportamento, troca do dia pela noite; inquietação, Irritabilidade, ansiedade, cacoetes, perda de interesse pelas atividades rotineiras, insônia; olhos avermelhados, olheiras. Necessidade cada vez maior de dinheiro, desaparecimento de objetos de valor ou dinheiro, de pertences de valor de dentro de casa ou de amigos e parentes; há alterações súbitas de humor, uma intensa euforia, alternada com choro ou depressão, perda de sono ou apetite, insônia, intercalada com períodos de sono demorado, começa a se relacionar com amigos diferentes; fica mais descuidado com a higiene pessoal; muda o vocabulário, usando termos mais pesados.

Acrescidos a estas manifestações apresenta atitudes de culpa e reparação: agride os pais, chora, se tranca no quarto; passa noites fora de casa; apresenta apetrechos como espelhinhos, fósforos, canudos, usados para cheirar cocaína; aparecem entre os pertences restos de fumo, maconha ou crack; tem receitas de medicamentos ou caixas de comprimidos de psicotrópicos; as roupas, os lenços ou as mantas têm cheiro forte de solvente; há vestígios de pó branco nos bolsos.

A dependência química pode ser considerada uma doença familiar pois afeta não somente o dependente, mas a sua família. A droga encurta a vida do usuário e prejudica sua qualidade de vida. O dependente sofrerá diferentes formas a dependência: a dependência física pela presença de sintomas físicos extremamente desagradáveis que surgem quando o individuo interrompe ou diminui de forma abrupta o uso da droga, o que constitui na síndrome de abstinência. Quanto a dependência psicológica, as principais características compreendem um intenso estado de mal estar psíquico, levado por sintomas de ansiedade, depressão,

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dificuldades de concentração, entre outros, a partir do momento em que o individuo para de ingerir a droga na frequência e quantidade habitual.

O dependente químico racionaliza sua dependência em termos de uma ideologia de vida (ou morte) assume um delírio diferente em conteúdos daqueles que conhecemos nas psicoses, mas que é igual em sua estrutura. O sujeito vive com isto se suicidando a curto ou longo prazo de acordo com tal ideologia delirante.

O dependente químico não consegue entrar em contato com seus sentimentos. Justifica os momentos de excesso, como consequência de problemas que os outros vem causando. Deturpa a realidade, acredita que o hábito está ligado ao momento atual de vida.

Todos se negam a ver o problema quando este surge e inventam desculpas para o comportamento anti-social que a pessoa passa a apresentar. Só quando superada a negação, é que se torna possível atuar de forma eficaz sobre o problema do abuso de drogas.

Neste primeiro capítulo tratei então, da dependência química, discorrendo acerca das razoes pelas quais alguém se torna dependente. Falo também do comportamento do usuário de drogas e das conseqüências dessa dependência para o próprio sujeito, sua família e grupo social onde está inserido.

No próximo capítulo, apresentarei e discorrerei sobre algumas drogas e seus mecanismos de ação. Escolhi tratar do álcool, da maconha, cocaína e crack.

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CAPÍTULO II AS PRINCIPAIS DROGAS E MECANISMO DE AÇÃO

Em farmacologia, a expressão mecanismo de ação refere-se a interação bioquímica específica através da qual uma droga produz um efeito farmacológico. A seguir destacamos alguns tipos de drogas e seus efeitos.

2.1 Maconha

Em 1735, o botânico Carl Lineu nomeou a Maconha como Cannabis sativa. A mesma foi chamada de Cannabis indica, pelo biólogo francês, Jean Baptiste Lamarck. Assim como outras plantas a maconha possui dois gêneros; macho e fêmea. Em um mesmo pé pode ter ambas as estruturas sexuais. É a flor do macho que produz o pólen que fecunda a fêmea, quando a flor da fêmea é fecundada ela se enche de sementes e depois morre (PERCILIA, 2006).

Segundo a mesma autora, quando não ocorre fecundação da fêmea, essa excreta uma grande quantidade de resina pegajosa composta por dezenas de substâncias diferentes. Dentre as várias substâncias, existe a THC (delta-9-tetra-hidrocanabinol), que serve de filtro solar para a planta, pois essa é de clima desértico. Apesar do THC estar presente em toda a planta é na flor da fêmea que se encontra a maior concentração da substância. A real droga da maconha é essa flor.

O THC tem uma propriedade bem curiosa, gruda em algumas moléculas das paredes dos neurônios de animais, até mesmo do homem, tais moléculas são conhecidas como receptores de canabinóides, quando ocorre a ligação o receptor opera sutis mudanças químicas dentro da célula, mas não se sabe dizer ao certo quais são elas.

Não se sabe qual a finalidade da anandamida no cérebro, mas está relacionada ao controle da dor. Pelo fato de haver receptores de canabinóides em células fora do cérebro, leva a pensar que a anandamida desempenha um papel mais abrangente do que parece (PERCILIA, 2006).

No Brasil, a maconha se faz tão presente por existir muitas áreas sem qualquer tipo de vigilância. Com isso fica mais fácil o escoamento da droga. Durante um bom tempo a maconha era comercializada com um preço insignificante. Vários

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países tentaram mais nenhum conseguiu erradicar a maconha de seu território. A maconha é conhecida em muitos países como “marijuana”.

Os efeitos causados pelo consumo da maconha, bem como a sua intensidade, são os mais variáveis e estão intimamente ligados à dose utilizada, concentração de THC na erva consumida e reação do organismo do consumidor com a presença da droga. Os efeitos físicos mais frequentes são avermelhamento dos olhos, ressecamento da boca e taquicardia (elevação dos batimentos cardíacos, que sobem de 60 - 80 para 120 - 140 batidas por minuto). Com o uso contínuo, alguns órgãos, como o pulmão, passam a ser afetados.

Devido à contínua exposição com a fumaça tóxica da droga, o sistema respiratório do usuário começa a apresentar problemas como bronquite e perda da capacidade respiratória. Além disso, por absorver uma quantidade considerável de alcatrão presente na fumaça de maconha, os usuários da droga estão mais sujeitos a desenvolver o câncer de pulmão. O consumo da maconha também diminui a produção de testosterona1. A testosterona é um hormônio masculino responsável, entre outras coisas, pela produção de espermatozóides.

Portanto, com a diminuição da quantidade de testosterona, o homem que consome continuamente maconha apresenta uma capacidade reprodutiva menor. Os efeitos psíquicos são os mais variados, a sua manifestação depende do organismo e das características da erva consumida. As sensações mais comuns são bem-estar inicial, relaxamento, calma e vontade de rir. Pode-se sentir angústia, desespero, pânico e letargia. Ocorre ainda uma perda da noção do tempo e espaço além de um prejuízo na memória e latente falta de atenção. Em longo prazo o consumo de maconha pode reduzir a capacidade de aprendizado e memorização, além de passar a apresentar uma falta de motivação para desempenhar as tarefas mais simples do cotidiano.

Certas correntes advogam que a maconha deve ser descriminalizada, mas não legalizada, enquanto outras defendem sua legalização, baseando-se no fato de que drogas como o álcool e a nicotina são utilizadas e vendidas com total liberdade, apesar de ninguém ignorar que causam mal à saúde. É importante, então, esclarecer como a maconha age no organismo. Assim que a fumaça é aspirada, cai nos pulmões que a absorvem rapidamente. De seis a dez segundos depois, levados

1A testosterona é um hormônio masculino responsável, entre outras coisas pela produção de

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pela circulação, seus componentes chegam ao cérebro e agem sobre os mecanismos de transmissão do estímulo entre os neurônios, células básicas do sistema nervoso central.

Os neurônios não se comunicam como os fios elétricos, encostados uns nos outros. Há um espaço livre entre eles, a sinapse, onde ocorre a liberação e a captação de mediadores químicos. Essa transmissão de sinais regula a intensidade do estímulo nervoso: dor, prazer, angústia, tranquilidade. As drogas chamadas de psicoativas interferem na liberação desses mediadores químicos, modulam a quantidade liberada ou fazem com que eles permaneçam mais tempo na conexão entre os neurônios. Isso gera uma série de mecanismos que modificam a forma de enxergar o mundo.

2.2 Cocaína

A cocaína ressurge no inicio da década de 1970 e, ganha reputação de droga segura e “light”, “a vitamina dos anos 90”. O resultado disto foi a explosão do consumo na América do Norte, atingindo seu pico em 1985 nos Estados Unidos da América e cinco anos mais tarde em nosso pais. O Brasil passa a ser reconhecido como uma das principais vias de exportação da droga, principalmente para a Europa (LEITE, 1999, p. 6).

O consumo intranasal de cocaína produz seus efeitos entre 1 e 2 minutos após o uso, tendo duração de 30 minutos e, média.Tanto o uso endovenoso como fumado produzem efeitos quase imediatos, porém estes se dissipam mais rapidamente até 10 minutos, muitas vezes obrigando o individuo a voltar a utilizar a droga após 5 minutos. Os metabólitos do uso da substancia ativa podem ser detectados alguns minutos após poucas aspiração ou injeção, permanecendo por até três dias (LEITE, 1999, p. 8).

O efeito imediato é a euforia produzida pela cocaína, a falsa sensação de aumento de suas capacidades físicas, intelectuais, energia, diminui o apetite e a necessidade de sono, o individuo fica mais ansioso e as vezes passa a suspeitar que está sendo observado ou perseguido e a sensação do tato torna-se mais intensa, bem como a disposição para manter relações sexuais.A cocaína pode promover a ejaculação espontânea, dependendo da dose e via utilizada. Esse efeito repetido tem como consequência em muitos usuários a perda da capacidade de

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obter o prazer sexual convencional, que se mantém por meses após a interrupção do consumo da droga.

A euforia se transforma em depressão e irritabilidade, aumentando a necessidade de voltar a acender o cachimbo ou esticar mais uma fileira. O sujeito passa a ter uma autoconfiança irreal, podendo ainda apresentar alucinações e delírios de perseguição indistinguível da patologia psiquiátrica, sintomas físicos do consumo são observados como aumento da pressão arterial, da frequência de batimentos cardíacos, constrição dos vasos sanguíneos, aumento de temperatura corpórea, liberação de açúcar no sangue e aumento da força de contração do músculo cardíaco.

A droga tem capacidade de promover anestesia local, fato que motivou sua utilização médica no século XIX. A cocaína possibilitou, a primeira cirurgia oftálmica e o oftalmologista tornou-se dependente de droga, interrompendo sua carreira profissional. Devido aos ricos da droga e ao desenvolvimento de outros anestésicos seguros tal utilização foi completamente banida da medicina até 1914. Quando os efeitos da droga dissipam, os usuários contam que apresentam sintomas contrários como depressão e angustia, levando ao desespero por uma nova dose (fissura - característica mais proeminente de todas as formas de consumo da cocaína) (LEITE, 1999, p. 8).

Os efeitos do uso continuado são letais, desastrosos sobre a vida humana nas diversas áreas de funcionamento. Entre estes efeitos estão: depressão intensa com na ansiedade e ataques de pânico, risco de suicídio, desmotivação, sonolência, irritabilidade crônica, episódios paroxísticos.

De acordo com Leite (1999) aos efeitos crônicos associam-se os efeitos potencialmente letais da droga. O uso de cocaína é a principal causa e infarto agudo de miocárdio em jovens até 40 anos nos EUA. A cocaína altera o ritmo elétrico cardíaco, produzindo arritmias, que podem ser visualizadas no eletrocardiograma. O aumento da pressão arterial contribui para hemorragias em diversas partes do corpo, inclusive no cérebro, possibilitando a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais como derrame. O aumento de temperatura corpórea pode atingir mais de 42º, provocando a morte por hipertermia. Doses maiores estão relacionadas com a parada respiratória.

Uma das consequências mais importantes do consumo de cocaína é o surgimento de convulsões de todos os tipos, principalmente tonico-clonicas. As

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complicações médicas do consumo vão desde um ligeiro sangramento nasal, após um uso isolado até o comprometimento irrecuperável e morte.

Alguns dos mais drásticos comprometimentos da cocaína ocorrem sobre o Sistema Cardíaco – respiratório como angina de peito, infarto agudo do miocárdio e aumento do volume cardíaco são efeitos proeminentes observados sobre o coração.

Usuários crônicos apresentam capacidade respiratória reduzida e maior dificuldade de transporte de oxigênio. Dores intensas no peito, falta de ar, incapacidade de ejaculação ou de obter orgasmo, diminuição do desejo sexual, tentativas de suicídios oscilações entre euforia pelo uso da droga e depressão posterior estão relacionadas, assim como infecções na pele por injeção contaminada hepatite quando usam a mesma seringa, e até mesmo AIDS (Síndrome da imunodeficiência adquirida). (LEITE, 1999, p. 10)

Associado a cocaína está o uso de álcool, e outras drogas, dependendo dessas apresentar a potencialização dos efeitos danosos de cada uma, se engajando em atividades ilícitas (criminais) para a obtenção da droga e manutenção do consumo levando a acidentes e homicídios.

Nem todos os usuários de cocaína tornam-se dependente da droga, da mesma forma que ninguém imaginava se tornar dependente pelo consumo. A experimentação da cocaína desenvolve-se sempre dentro de um meio social definido, promovendo efeitos estimulantes e euforia pronunciada, consumo ocasional, parecendo ao usuário iniciante que os avisos e informações que tinha sobre a droga antes da primeira experiência foram exagerados ou simples propaganda enganosa. Em busca dos efeitos iniciais, o consumo da mesma continua e o sujeito passa a visitar outros usuários com mais frequência, dando desculpas que estes são os verdadeiros amigos por compartilharem sensações e prazeres semelhantes, diferentes dos amigos caretas de antigamente.

O tratamento tem como objetivo interromper o consumo, restaurar suas consequências e mudar o estilo de vida do individuo, que facilita o retorno ao uso. Quanto mais cedo se detecta a dependência, maior o sucesso que intervenções terapêuticas podem obter.

O tratamento deve ter a orientação para a abstinência total de todas as drogas, inclusive álcool, da mesma forma que deve ocorrer no tratamento do paciente adulto porém, esta tarefa é difícil para o adolescente, pelo fato de que este não dispõe de um sistema de suporte social (trabalho, relações afetivas).

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Os objetivos terapêuticos do tratamento da população de adultos jovens devem incluir proposta de mudança global do funcionamento do individuo e de seu estilo de vida, desenvolvimento de valores saudáveis, atitudes e comportamento que propiciem a interação social positiva e esforço para a reabilitação ocupacional (escola, preparação vocacional) de forma ainda mais intensiva que para a população adulta.

2.3 Crack

O crack é uma mistura de cloridrato de cocaína (cocaína em pó), bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada, que resulta em pequeninos grãos, fumados em cachimbos (improvisados ou não). É mais barato que a cocaína mas, como seu efeito dura muito pouco, acaba sendo usado em maiores quantidades, o que torna o vício muito caro, pois seu consumo passa a ser maior (LEITE, 1999, p. 7).

Estimulante seis vezes mais potente que a cocaína, o crack provoca dependência física e leva à morte por sua ação fulminante sobre o sistema nervoso central e cardíaco.

Apenas a ingestão de cocaína decresceu na última década, mas ao mesmo tempo o número de dependentes do crack tornou-se mais amplo, pois esta droga chega mais rapidamente e de forma mais impactante ao Sistema Nervoso Central. As consequências são também mais drásticas e a dependência mais séria e difícil de sanar.

O crack leva 15 segundos para chegar ao cérebro e já começa a produzir seus efeitos: forte aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremor muscular e excitação acentuada, sensações de aparente bem-estar, aumento da capacidade física e mental, indiferença à dor e ao cansaço. Mas, se os prazeres físicos e psíquicos chegam rápido com uma pedra de crack, os sintomas da síndrome de abstinência também não demoram a chegar. Em 15 minutos, surge de novo a necessidade de inalar a fumaça de outra pedra, caso contrário chegarão inevitavelmente o desgaste físico, a prostração e a depressão profunda (LEITE, 1999, p. 12).

Estudiosos asseguram que "todo usuário de crack é um candidato à morte", porque ele pode provocar lesões cerebrais irreversíveis por causa de sua concentração no sistema nervoso central.

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Como o crack é uma das drogas de mais altos poderes viciantes, a pessoa, só de experimentar, pode tornar-se um viciado. Ele não é, porém, das primeiras drogas que alguém experimenta. De um modo geral, o seu usuário já usa outras, principalmente cocaína, e passa a utilizar o crack por curiosidade, para sentir efeitos mais fortes, ou ainda por falta de dinheiro, já que ele é bem mais barato por grama do que a cocaína.

Todavia, como o efeito do crack passa muito depressa, e o sofrimento por sua ausência no corpo vem em 15 minutos, o usuário usa-o em maior quantidade, fazendo gastos ainda maiores do que já vinha fazendo. Para conseguir, então, sustentar esse vício, as pessoas começam a usar qualquer método para comprá-lo. Submetidas às pressões do traficante e do próprio vício, já não dispõem de tempo para ganhar dinheiro honestamente; partem, portanto, para a ilegalidade: tráfico de drogas, aliciamento de novas pessoas para a droga, roubos, assaltos, etc.

Uma droga de rápida absorção, prazer efêmero e devastadora para o organismo. Forma menos pura da cocaína, o crack causa danos ainda maiores ao corpo humano pela velocidade e potência com que seus componentes chegam ao pulmão e ao cérebro. Hipertensão, problemas cardíacos, acidente vascular cerebral (AVC) e enfisema são alguns dos efeitos do seu consumo. Apesar de todos esses males, a violência e o vírus HIV ainda são apontados como as principais causas de morte dos usuários de crack.

O crack provoca uma má circulação aguda, o que deixa os usuários mais suscetíveis a problemas que podem acometer órgãos nobres, como o cérebro e o coração. O risco de o usuário ter tais disfunções ocorre independentemente da dose consumida. Mesmo com doses usuais, um indivíduo pode sofrer infartos cerebrais ou cardíacos

O pulmão é outro órgão seriamente atingido pelas substâncias do crack. A fumaça do crack gera lesões nos pulmões que causam problemas respiratórios agudos, tosse e dores no peito levando a enfisema pulmonar.

Uma vez aquecida, a pedra de crack facilmente libera o principio ativo da droga. O usuário então aspira uma pequena quantidade de fumaça quente, que chega aos pulmões em alta temperatura. O usuário queima a boca, os dedos, as vias aéreas e o pulmão. Em alguns casos, chegam a ser feitas feridas, úlceras junto ao lábio pela alta temperatura do cachimbo ou da latinha.

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O emagrecimento repentino também é um dos efeitos do crack porque o organismo passa a funcionar em função da droga, e o dependente mal come ou dorme. Assim, os casos de desnutrição são comuns. A pessoa fica virada e só para por exaustão. O uso do crack altera o centro da fome: há uma hiperdosagem de neurotransmissores, e a pessoa não sente necessidade de outras coisas (LEITE, 1999, p. 3).

Apesar do efeito devastador que o crack causa no organismo, a violência ainda é a principal causa de morte entre os usuários da droga.

2.4 Álcool

O alcoolismo é característico das sociedades modernas. Nas sociedades tradicionais as bebidas alcoólicas eram usadas em rituais religiosos, não compondo quadros de dependência.

O alcoolismo cria suas raízes na cultura no momento em que todas as comemorações são vinculadas ao uso e abuso da bebida alcoólica. A mídia reforça sistematicamente e com ênfase este conceito de afinidade entre comemoração, felicidade e álcool. Estes conceitos são internalizados desde cedo através de gerações e o álcool passa a ser visto e presenciado com naturalidade.

Quando um indivíduo sofre de alterações afetivas, depressão, ansiedade, fobias ou até mesmo alguns conflitos temporários e adaptativos de determinadas fases do desenvolvimento, como a timidez da adolescência, torna-se o álcool um recurso de fácil acesso para a resolução de suas dores.

O custo afetivo do alcoolismo para o paciente e seus familiares é inestimável, sendo que muitos pacientes depressivos ou com outros desajustes sociais graves são filhos de alcoolistas.

Para Melman (1990, p. 25) o alcoolismo é uma tentativa de corrigir a castração, através da oralidade. É uma tentativa de validar um gozo outro. O objeto do qual se trata o alcoolismo, o objeto deste gozo infinito é o falo, parece ser uma tentativa imaginária de assegurar um enlaçamento entre o real, o imaginário e o simbólico, e que as alcoolistas demandam um terapeuta bastante móvel para aceitar se mover entre os lugares do outro e demandam também de uma terapeuta que fala bastante, pois o silencio é insuportável, já por demais percebidos do Outro, alguém

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que precisa ser um terapeuta bastante perspicaz, para poder aceitar a ineficiência da interpretação, bem como da construção.

No alcoolista, a fase do espelho não opera, pois falta o olhar do outro, que faria aprovação, há também a falta de fantasma, ele não se vê, uma vez que não há o Outro, um olhar para organizar sua visão e que o olhar de um parceiro o faz se sentir como ideal, sem relação com a realidade.

O alcoolista organiza com este outro uma generosidade suprime a propriedade privada, por isso o alcoolista é sensível para adivinhar os últimos redutos do privado, podendo parecer xenófobo.

O alcoolismo inicia cedo, geralmente no inicio e meio da adolescência, com o grupo de amigos ou em casa. Podemos entender a questão do alcoolismo buscando na história antecedentes que nos levam ao reconhecimento da produção de álcool, primeiramente de forma artesanal. Depois, com o aumento da produção, o preço do álcool diminuiu muito, facilitando o acesso ao produto por parte de um maior número de pessoas (LARANJEIRA & PINSKY, 1997, p. 2).

A maior parte das populações passou a viver em grandes concentrações urbanas, mudando bastante o perfil das relações sociais. O álcool até então era uma bebida a ser consumida durante as refeições, comprada a preços baixos. Essas mudanças permitiram que um número muito maior de pessoas passasse a consumir álcool constantemente; a partir de então, os médicos começaram a observar uma série de complicações físicas e mentais decorrentes desse consumo excessivo, inclusive as primeiras descrições daquilo que hoje, chamamos de alcoolismo.

Ninguém nasce dependente de nenhuma droga. Não existe nenhum fator que determine, de forma definitiva, que pessoas ficarão dependentes do álcool, assim como nós não podemos saber, de um grupo de crianças ou adolescentes, quais fumarão cigarro a ponto de se tornarem dependentes da nicotina. Na realidade uma combinação de fatores contribuiria para que algumas pessoas tivessem maiores chances de desenvolver problemas em relação ao álcool durante algum período de sua vida.

A dependência começa a partir do momento em que a pessoa ingerir quantidades de álcool capazes de provocar algum tipo de indisposição – a popular “ressaca” no dia seguinte. Que a pessoa tem repetidas ressacas percebe que parte do desconforto do dia seguinte pode ser aliviada se recomeçar a beber. Se alguém que estava acostumado a beber somente a noite e a ter ressacas muito fortes começarem a beber na hora do almoço,

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sentirá que uma parte da irritação, ansiedade e falta de concentração melhorará com o álcool. A partir disso que a dependência pode começar; a pessoa passa a beber não mais por prazer, ou num ambiente social, mas para aliviar os sintomas de abstinência do álcool. (LARANJEIRA & PINSKY, 1997, p. 18)

A dependência significa que o ato de beber deixou de ter uma função social e de eventual prazer e passou a ficar disfuncional, isto é um ato em si mesmo. A pessoa progressivamente perderá sua liberdade de decidir se quer ou não beber, fiando a mercê da própria dependência.

Qualquer pessoa que beba além das quantidades consideradas seguras está fazendo uso abusivo de álcool, então podem surgir problemas comumente associados ao consumo abusivo de álcool: problemas físicos como gastrite, pancreatite, hepatite, pressão alta, fraqueza nas pernas, quedas frequentes, convulsões semelhantes a ataques, quedas frequentes, convulsões semelhantes a ataques epilépticos, tremores pela manhã.

Como problemas psicológicos temos o nervosismo, irritabilidade, insônia, falta de concentração, problemas com a memória, mentiras frequentes e problemas sociais como perda de produtividade, faltas no trabalho, brigas frequentes com familiares e amigos, gastos excessivos, perda da responsabilidade em relação – a família.

É comum pessoas com depressão, desânimo, visão negativa da vida, falta de vontade para fazer qualquer coisa, irritabilidade, falta ou excesso de sono, beberem muito. Muitas mulheres que ficam em casa sozinhas acabam consumindo álcool sem que ninguém veja. Nessas condições, não é incomum haver associações com depressão. A mulher sente-se envergonhada pelo consumo excessivo de álcool e isso faz com que os familiares demorem a descobrir o problema, retardando assim a busca por auxilio (LARANJEIRA & PINSKY, 1997, p. 22).

O álcool é um péssimo calmante, pois seu efeito imediato produz uma certa euforia seguida de depressão do sistema nervoso, com sedação. Muito embora o álcool produza inicialmente relaxamento, o entusiasmo por esse efeito diminui logo que se avalia o que ocorre em seguida.

O álcool pode piorar a qualidade do sono, levar a problemas de stress devido á ação direta do álcool no sistema nervoso em células do cérebro, provocando a diminuição da memória e na capacidade de raciocínio mais complexo no julgamento de situações mais difíceis.

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O álcool etílico, no fígado, é convertido em aldeído acético, e que por ação da enzima acetoaldeído desodrogenase, é transformado em acetato. A pessoa normal, em relação ao consumo de álcool, teria nível baixo desta enzima, o que elevaria a concentração de aldeído acético, responsável por rubor facial intenso, queda de pressão, palpitações, vômitos, tonturas, aumento da freqüência cardíaca.

O álcool pode produzir uma cardiomiopatia alcoólica, que é uma infiltração gordurosa do músculo cardíaco, produzindo dilatação do coração com diminuição da capacidade de impulsionar o sangue, além da hipertensão, causa delírio, alucinações, agitação.

De acordo com Laranjeiras & Pinsky (1997, p. 43-50), os fatores psicológicos associados ao desenvolvimento do alcoolismo podem incluir algumas características de personalidade, usualmente percebidas no desenvolvimento do individuo, que contribui para tornar algumas pessoas mais angustiadas, ansiosas, receosas, dependentes e com dificuldade em lidar com problemas difíceis.

A qualidade da relação pais-filhos é um item especialmente importante e parece influenciar o consumo de bebida de alcoólicas tanto direta quanto indiretamente. Um relacionamento próximo entre pais e filhos pode influenciar a escolha de amigo destes últimos, e ter efeitos sobre o uso inadequado de álcool pelo adolescente.

Crenças, atitudes e comportamentos dos pais, principalmente no que tange ao estabelecimento de regras e limites para conduta do adolescente, podem influenciar a ocorrência do uso inadequado de álcool. De modo geral, pode se afirmar que o alcoolismo se desenvolve com mais frequência em famílias cujos pais impõem limites muito tênues aos filhos. Os pais devem estar atentos aos filhos e considerar que podem e devem dizer não em determinadas circunstancias, impor limites faz parte do papel dos pais, assim como dar carinho, sentir e demonstrar interesse.

A família pode ter um papel bastante atuante para prevenir tanto quanto para estimular o uso de bebidas alcoólicas. Muitas pesquisas apontam para uma associação positiva entre o consumo abusivo de álcool por parte dos pais e o consumo pelo adolescentes. Assim é provável que os filhos apresentem problemas com relação ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas em famílias em que os pais bebem muito do que em uma família abstêmica, ou que consuma álcool apenas moderadamente. O fator biológico, deve exercer papel nessa historia, mas a

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ocorrência de um modelo de comportamento positivo par ao uso de álcool é extremamente importante.

É possível prevenir o alcoolismo desenvolvendo estratégias para lidar com dificuldades, momentos ruins e ansiedades evitando que estes fatores provoquem o consumo abusivo de álcool. A família pode ter ai um papel facilitador.

O tratamento para o alcoolismo depende da severidade do uso do mesmo. Existem várias possibilidades de tratamento como as internações, ou concomitante a ela outras possibilidades com enfoque farmacológico, de terapia de auto-ajuda e ambulatorial.

As internações podem ser de curto ou longo prazo, visam de maneira geral, dar oportunidade para os mais debilitados se recomporem e ficarem momentaneamente afastados do ambiente de consumo de bebidas alcoólicas. Podem ser realizadas em hospitais e clinicas particulares ou públicos que tratem de dependência, ou que atendam também pacientes com problemas psiquiátricos.

A internação deve ser pensada depois de outras medidas menos intensivas terem sido experimentadas. O individuo será afastado de seu ambiente. Os grupos de auto-ajuda (AA) são um tipo de tratamento bastante popular em que o trabalho e realizado com grupo de alcoolistas e as reuniões são centralizas nos depoimentos pessoais sobre o uso de álcool e com o objetivo de abstinência de bebidas alcoólicas por 24 horas reafirmando-se o mesmo objetivo. Apesar de suas vantagens, nem sempre os alcoolistas se adaptam á estrutura e ás premissas do AA.

O tratamento farmacológico do alcoolismo é geralmente utilizado em conjunto com outras formas de atuação, como apoio a atendimentos individuais ou grupais em ambulatório.

Para o melhor funcionamento da terapia, os terapeutas grupais geralmente estabelecem algumas regras de funcionamento chamadas de contrato terapêutico intenção é definir, na primeira sessão, os objetivos e a duração do tratamento, horário e locais das sessões, número de faltas aceitas, sigilo de contrato externo e, no caso a maioria dos tratamentos, a necessidade de o individuo estar abstinente na sessão.

Os ambulatórios oferecem cada vez mais trabalhos dirigidos ao grupo de familiares. A família começou a ser incluída no tratamento por que o profissional foi se dando conta de que é importante o papel dessa na prevenção e estimulo ao

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desenvolvimento do uso de drogas. A inclusão da família nos tratamentos visa, amplamente auxiliá-la a se tornar ativa e eficiente ao lidar com o membro dependente auxiliando-o a se dar conta de seu poder de atuação tanto para ajudar quanto para piorar a situação.

O fator ambiental, por muito tempo nem mesmo considerado na abordagem dessa questão, tem sido cada vez mais encarado como de extrema importância no desenvolvimento do consumo excessivo de álcool e do alcoolismo e, portanto, em sua prevenção.

Fatores sociais são observados como demanda e oferta, informação e propaganda, constituem elementos poderosas tanto de prevenção quanto de estímulo ao desenvolvimento de padrões inadequados de bebida.

Estar informado sobre as bebidas alcoólicas e seus efeitos é importante, mas isso não significa que o individuo vai, necessariamente, estar livre de um envolvimento perigoso com abuso/dependência de álcool. Muitas pessoas prejudicam a si e a outrem mesmo sabendo, racionalmente, que não estão fazendo a coisa certa.

Apesar da prevenção nas escolas, informar não é prevenir; a mudança de comportamento e atitudes em relação ao álcool não decorre apenas da quantidade d e da qualidade de informações que a pessoa recebe. O individuo que já tem algumas atitudes em relação ao uso de bebidas alcoólicas vai apreender, das informações recebidas, o que faz sentido para ele, vai transformar as informações em função de sua atitude e de seu comportamento preestabelecidos.

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CAPÍTULO III O LUGAR DA FAMÍLIA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Tanto a psicoterapia individual quanto a terapia familiar oferecem uma abordagem de tratamento e uma maneira de compreender o comportamento humano.

A terapia individual pode fornecer o foco concentrado para ajudar a pessoa a enfrentar seus medos e aprender a se tornar, mais integralmente, o que ela é. Os terapeutas individuais reconhecem a importância da família na formação da personalidade, mas consideram que essas influências são internalizadas e que a distância intrapsíquica torna-se a força dominante que controla o comportamento. O tratamento pode e deve ser dirigido à pessoa e à sua constituição pessoal.

Os terapeutas familiares acreditam que as forças dominantes na nossa vida se localizam na família. A terapia baseada nessa estrutura objetiva mudar a organização da família. Quando a mesma é transformada, a vida de cada um de seus membros é alterada.

A família é o contexto natural de crescimento e cura. É deste contexto que o terapeuta de família dependerá para a atualização de seus objetivos terapêuticos. Este grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação, que constituem a estrutura familiar, a qual “governa” o funcionamento dos membros da família, delineando uma gama de comportamento e facilitando sua interação.

Para um terapeuta de família, a rede das transações familiares aparece em toda a sua complexidade. Mudar a família e a vida de cada um de seus membros é importante e deve ser examinado com cuidado. A terapia familiar provoca mudanças em toda a família; a melhora pode ser duradoura, por que cada membro da família é modificado e continua provocando mudanças sincrônicas nos outros.

Conforme Minuchin & Fishman (1990) os terapeutas familiares tendem a descuidar dos contextos de relação entre irmãos e a recorrem em demasia a estratégias terapêuticas que exigem incrementar a diversidade do funcionamento parental. O modo como a família cumpre suas tarefas importa muitíssimo menos que o êxito com que o faz. Os terapeutas devem lembrar-se que apresentam a função de ajudar as mesmas a se tornarem adequadas dentro das possibilidades que existem em seus próprios sistemas cultural e familiar (p. 29-30).

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A família não é uma entidade estática; está em processo de mudança contínua assim como seu contexto social. A visão da família como um sistema vivo sugere que a longo prazo qualquer família mostre o desenvolvimento no qual os períodos de desequilíbrio se alternam com períodos de homeostase mantendo-se a flutuação dentro de uma amplitude manejável.

O terapeuta de família deve, desde o início, tomar certa posição de liderança sendo que os objetivos previstos para a família e o terapeuta devem ser os mesmos. Para o terapeuta, o paciente identificado é o portador do sintoma e a causa do problema são as transações disfuncionais da família; e o processo de cura envolverá a mudança destas transações e a intervenção do terapeuta ativará os mecanismos que preservam a homeostase dentro do sistema familiar. A esse respeito, temos que:

Família e terapeuta, então, formam uma sociedade com um objetivo comum que é mais ou menos formulado: libertar o portador do sintoma na família de seus sintomas, reduzir o conflito e a tenção em toda a família e aprender novos meios de superar as dificuldades. (MINUCHIN & FISHMAN, 1990, p. 38)

A família aceitará o terapeuta como líder e ele terá que conseguir liderar, acomodar, seduzir, submeter, apoiar, dirigir, sugerir e seguir a fim de conduzir o tratamento. Cooparticipar com uma família é mais uma atitude que uma técnica e é a cobertura sob a qual as transações terapêuticas ocorrem. O processo de cooparticipação num sistema terapêutico vai além de simplesmente apoiar a família. Há a busca de proximidade com a família identificando áreas de sofrimento, dificuldade ou tensão, admitindo-se que, embora não se evite, essas áreas tencionais, irá responder a elas com sensibilidade. Confirmando os aspectos positivos das pessoas, o terapeuta torna-se uma fonte de auto-estima para a família.

O terapeuta deve saber que sua liberdade de movimento será restringida por sua indução dentro do sistema familiar. Na posição de proximidade, aumenta a intensidade, é participante preso às regras de participação; deve estar apto a usar a si mesmo nesta modalidade, porém, é também essencial que saiba como desengajar-se depois de ter entrado.

O terapeuta pode reunir informações uteis sobre a família observando seu próprio meio de rastrear o processo familiar. O terapeuta forma uma ideia da família

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como um todo depois de um primeiro exame de certos aspectos básicos de sua estrutura.

As famílias que buscam a terapia depois de uma luta prolongada têm usualmente identificado um de seus membros como problema, no presente caso este problema é a dependência química, contam ao terapeuta a sua luta, as soluções que tentaram e o fracasso de todas as tentativas. O terapeuta, porém, ingressa na situação terapêutica com o suposto de que a família se equivoca. O problema não é o paciente identificado, porém, certos padrões de interação da família. Observando a organização dos membros da família em torno dos sintomas e de seu portador, o terapeuta pode obter respostas que a família está usando inapropriadamente para enfrentar a situação atual.

Segundo Minuchin & Fishman (1990, p.75) “a tarefa do terapeuta é desafiar a definição da família do problema e a natureza de sua resposta segundo a abordagem estrutural” O objetivo é modificar ou reenquadrar a concepção que a família tem do problema, levando seus membros a procurar respostas alternativas de comportamento cognitivas e afetivas.

Os pacientes buscam a terapia porque a realidade, como a construíram é inviável. A terapia de família postula que padrões transacionais dependem de e contêm o modo como as pessoas experenciam a realidade. Para mudar a visão de realidade dos membros da família é requerido o desenvolvimento de novos meios de interação na família. As técnicas usadas nessa estratégia são os construtos cognitivos, intervenções paradoxais e a ênfase na força da família. (MINUCHIN & FISHMAN, 1990, p. 78)

O terapeuta toma os dados que a família lhe oferece e os reorganiza sendo que a realidade conflitiva e estereotipada da família recebe um enquadramento novo. À medida que os membros da família experimentam a si mesmos e a outro, de maneira diferente, novas possibilidades aparecem.

O primeiro problema do terapeuta sendo coparticipe da família é definir a realidade terapêutica. A terapia é uma empresa orientada para um fim, para o qual nem todas as verdades são relevantes. Observando as transações dos membros da família no sistema terapêutico, o terapeuta seleciona os dados facilitando na resolução do problema.

Pela terapia ocorre choque entre duas visões da realidade: a visão da família e a visão terapêutica. A visão da família é importante para a continuidade e

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