• Nenhum resultado encontrado

O lugar da produção do conhecimento e da sistematização de

No documento MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO (páginas 73-76)

5. A PALAVRA DA PRÁTICA

5.1. O lugar da produção do conhecimento e da sistematização de

saber é pouco como é que a água do mar entra dentro do coco? Leminsky

De acordo com os sujeitos da ONG A, a sua forma particular de inserção nas questões e no debate social tem por base a produção do conhecimento, que se dá pela via da análise crítica, da sistematização e difusão das políticas inovadoras, que impulsionem a democratização da gestão e das políticas públicas. Segundo o coordenador (A1), a sistematização de experiências ocupa um lugar central na prática da organização, uma vez que a sua atuação estrutura- se a partir do seguinte caminho: identificar, sistematizar, analisar, debater e difundir. Os resultados desse trabalho constituem, para ele, a contribuição específica da organização, frente à questão na qual atua.

O que fazemos é sistematização de conhecimento, em todas as suas dimensões. Fazemos pesquisas para isso, e identificamos que os resultados desse trabalho são a nossa contribuição no trabalho de formação, na consultoria para as prefeituras, na atuação das redes de cidadania onde estamos presentes. Essa é a nossa contribuição específica, singular (A1).

A idéia de sistematizar experiências está presente desde a origem da ONG A, no final dos anos 80. Para A1, o contexto da época - início da redemocratização – levou alguns municípios a priorizarem a área social. Surgiram então novas iniciativas que sinalizavam a busca por uma nova forma de governar, mais orientada por critérios como a melhoria da qualidade de vida, a universalização das políticas e a inclusão social. Daí o interesse em iniciar uma

área de sistematização da gestão democrática que identificasse, sistematizasse, analisasse, debatesse e difundisse esse conhecimento.

Começa a partir de Lajes, Boa Esperança, municípios com iniciativas que priorizavam o social e que sinalizavam o início de alguma coisa. Não encontramos um espaço que pudesse fazer esse trabalho - nem mesmo em centros de pesquisa ou partidos políticos - de sistematização das experiências de gestão democrática. Então acabamos agregando outras pessoas e fundamos a ONG. Alguns consideram que somos uma instituição de sistematização de conhecimento (A1).

Um exemplo importante desse trabalho é o projeto coordenado pela técnica (A2) e que trabalha especificamente na sistematização de experiências de gestões municipais, de maneira a que possam ser “adotadas” ou refletidas em qualquer outra gestão: “mesmo uma experiência desenvolvida em São Paulo, a decodificação de sua lógica permite pensar em aplicá-la em um pequeno município. O trabalho é então verificar o potencial das experiências” (A2).

Na ONG B a idéia da produção de conhecimento e sistematização sempre esteve presente nos projetos e ações desenvolvidos, considerada parte integrante de projetos de formação de educadores, que têm como princípios básicos: “acreditar na criança, integrar cultura e educação, tomar a relação teoria e prática como objeto da formação e apostar na autoria dos educadores como sujeitos de seu desenvolvimento profissional” (B1). Entretanto, a prática da sistematização para a disseminação de conhecimentos, de maneira mais ampla, é mais recente e deriva do desejo de organizar e socializar a experiência e aprendizagens construídas ao longo dos anos. Atualmente está em curso a sistematização de um programa de formação de educadores integrantes de Centros de Educação Infantil ligados a instituições sociais. Este trabalho é considerado como a consolidação da metodologia de formação continuada em serviço, construída nos últimos 20 anos de prática. Motivo de orgulho para todos os profissionais constitui-se em, na expressão da coordenadora:

Fruto do trabalho de muitas mãos, que gerou inúmeros desdobramentos, começou voando baixo, perto e devagar, e foi ampliando o seu raio de ação, alçando vôos, e, finalmente chegará a todos 5.560 municípios brasileiros (B1).

De acordo com os entrevistados da ONG C, a organização caracteriza-se pela combinação entre as ações: desenvolvimento de projetos, pesquisa, produção e disseminação do conhecimento, e ação política. Consideram que a sistematização permeia todos os trabalhos desenvolvidos, pautados, desde a sua origem, pela idéia da produção de conhecimento, já como um diferencial em relação ao ativismo tradicional da área. Entre os motivos que, segundo os entrevistados, justificam esse propósito é o fato de que a base da organização é formada por professores universitários e pesquisadores.

Entre os nossos sócios fundadores, temos pelo menos vinte que são professores, doutores, pesquisadores, gente com produção. Então quer dizer que nunca fomos totalmente à parte desse mundo de produção de conhecimento, pelo contrário (C1).

Assim, a sistematização e produção de conhecimento embora ocupem lugares diferentes a depender da organização, são considerados como parte integrante e constitutiva das suas identidades, e / ou elemento que transversa as ações desenvolvidas, dado pelo princípio metodológico adotado ou pelas características de seus dirigentes. Suas origens coincidem com o surgimento da organização, já que ambos (identidade e princípio) fazem parte integrante da construção institucional. As motivações ou justificativas para a ênfase no tema aparecem como prioritariamente políticas (coincidindo com a conjuntura de redemocratização no Brasil); relativas à cultura institucional (diálogo com os princípios da universidade, luta contra o ativismo); metodológicas; e circunstanciais (necessidade de organizar o conhecimento produzido ao longo dos anos).

A maneira de inserção da temática em cada ONG reflete as diferenças entre elas. Fundamentalmente temos: (A) uma organização de produção de conhecimento sobre experiências de outros atores (trata-se do olhar da sociedade civil sobre a experiência de gestores públicos); (B) uma organização caracterizada pela ação direta junto a educadores e técnicos da área de educação; e (C) uma organização que busca combinar a produção do conhecimento com a intervenção direta junto ao seu público prioritário (considerados como linhas de ação específicas). Consoante com isto, encontramos os seguintes modos de tratar o

tema: sistematização de conhecimento com o objetivo de comunicá-lo; sistematização como estratégia metodológica de construção de conhecimento com o objetivo de socializar as aprendizagens; a própria produção de conhecimento como objetivo.

No documento MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO (páginas 73-76)