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Capítulo I – Enquadramento Teórico

3. Atividade física na terceira idade

4.1. O luto

Para Berger e Mailloux-Poireier (1995), é evidente a tendência para se associar a velhice à morte, o que é errado, dado que a morte se deve essencialmente às doenças crónicas e não à velhice.

Morte e morrer são, segundo Zimerman (2000), duas palavras que as pessoas costumam evitar dizer e duas questões sobre as quais a maioria procura não pensar. Este autor defende que a morte é erroneamente vista como uma rutura, pois deveria ser encarada como uma continuidade, um momento esperado no processo contínuo que é a vida. Neste contexto, a morte do cônjuge representa para qualquer pessoa um dos momentos mais trágicos que o destino pode trazer.

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A idade avançada acarreta a aproximação da morte, o aumento dos anos de vida e a finitude é inevitável. Todos estes fatores que concorrem para a consciencialização do que é ser-se idoso são, também, reforçados pela perda de pessoas próximas, como familiares e amigos (Goldin, 2002).

Face a qualquer perda significativa, de uma pessoa ou de um objeto estimado, desenrola-se um processo essencial e necessário para que o vazio deixado possa, com o tempo, voltar a ser preenchido. Este processo é designado de luto e consiste numa adaptação à perda. Originário do étimo latino luctu-, que significa dor pela morte de alguém, o luto é definido, no âmbito da Psicanálise, como “uma reação à perda de um ente querido, à perda de uma abstração que a represente, como a pátria, a liberdade ou ideal de alguém” Siqueira (2007, p. 76). O luto não implica, contudo, necessariamente o surgimento de patologias como a depressão (embora as possa desencadear e/ou agravar), uma vez que, feito o processo que se denomina de “trabalho de luto”, poderá o sujeito que sofreu a perda reinvestir noutros objetos substitutos (Siqueira 2007, p. 78).

Segundo Fontaine (2000), o luto é um processo complexo, não desprovido de sentimentos paradoxais; a morte do cônjuge, de forma particular, pode despertar rancor, tristeza, raiva, ansiedade e outras atitudes e sentimentos negativos, embora também possa significar, em certos contextos, libertação e paz.

Este processo de luto consiste numa adaptação à perda, envolvendo diversas tarefas ou fases. Existem, assim, diversos tempos no processo de ajustamento à realidade. Pincus (1976) distingue três fases no trabalho de luto: a inicial, a intermédia e a de recuperação. No que se refere particularmente aos idosos, Harwood (2001) enumera outros três estágios: o crónico, o ausente e o adiado, sendo que o primeiro é o mais frequente.

Sanders (1999) considera que o luto representa o estado experiencial que a pessoa sofre após tomar consciência da perda, perfazendo um termo global para descrever o vasto leque de emoções, mudanças e condições que ocorrem como resultado dessa perda.

Apesar de o processo de luto incorporar aparentemente um mecanismo universal, cada sujeito apresenta uma forma própria de o realizar. Este processo varia não só de pessoa para pessoa, dado que é condicionado pelas características psicossociais de cada um, bem como por fatores etários, culturais, económicos, entre outros.

A velhice expõe as pessoas a vivenciarem situações de perda, dentre as quais se incluem as “sociais” que ocorrem quando, por exemplo, o idoso deixa de desempenhar um

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papel importante no trabalho, na família ou na sociedade. Em todo o caso, o maior sofrimento é ainda representado pelas “perdas emocionais”, porque se encontram relacionadas com entes queridos (Portela & Pasqualotti, 2005).

No caso dos idosos, a viuvez é frequentemente responsável pelo aparecimento de sintomatologia depressiva, encontrando-se também associada ao desenvolvimento de processos mórbidos graves, podendo, inclusivamente, levar à morte (Magalhães, 2003).

Paúl (1991, cit. por Magalhães, 2003) alerta para o facto de a viuvez se traduzir frequentemente associada à solidão, o que se deve essencialmente à perda de uma relação íntima muito particular. Segundo a mesma autora, o stress, que resulta da perda, aumenta a perturbação dos idosos e na velhice, são comuns a ansiedade, a depressão e a solidão, em especial entre as mulheres.

Alguns idosos que perderam os seus cônjuges recusam participar em atividades aliadas ao divertimento e de recreação, pois, para eles, a viuvez deve ser acompanhada de uma privação voluntária ou, quanto muito, de uma participação social passiva (Magalhães, 2003).

Perante a morte do companheiro, o idoso sente normalmente necessidade de arranjar um novo parceiro, ou um objeto amado substituto que preencha o vazio provocado pela perda, ainda que não o demonstre ou assuma claramente (Cattani et al., 2004). A necessidade de ter alguém com quem partilhar intimamente todos os momentos da vida; alguém emocional e amorosamente envolvido com o sujeito, com quem ele possa falar, rir, chorar, desabafar é importante, mas não só. Nesta fase da vida, a sexualidade existe e traduz-se relevante, o que contraria alguns mitos sociais que foram sendo construídos em redor da terceira idade.

Hisatugo (2002) destaca que a difícil arte de sobreviver à ausência de pessoas importantes torna-nos aptos a recomeçar. As perdas são contínuas ao longo da vida e o processo de envelhecimento tende, particularmente, a fazer-se acompanhar de uma substancial perda do número de amigos, que se reflete num empobrecimento das relações sociais em geral. Para combater a solidão na terceira idade é importante aumentar a rede de suporte do idoso e manter o contacto humano (Sousa, 2007).

Zimerman (2000) realizou um estudo em que procurou compreender determinados comportamentos de luto que ocorrem em homens e mulheres após a perda do cônjuge. Entrevistou, então, dez viúvos na faixa etária acima de 50 anos, 5 homens e 5 mulheres.

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Através de uma análise qualitativa, as entrevistas possibilitaram, por exemplo, a identificação de aspetos relevantes no que diz respeito à diferenciação de comportamentos entre os géneros. Apurou-se que, durante o processo de luto, os homens tendem a isolar-se com mais frequência e a adotar muitas vezes posturas hostilizadas, embora a sua reestruturação ocorra mais rapidamente. Em contrapartida, as mulheres buscam conforto entre parentes e amigos que preferencialmente já tenham vivenciado essa situação, demonstrando maior dificuldade na aceitação da perda. No tocante às fases do processo de luto, não foram encontrados dados que apontassem para diferenciação entre homens e mulheres.

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