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4 CRENÇAS E CONCEPÇÕES SOBRE MATEMÁTICA, EDUCAÇÃO

5.1 O método utilizado

Adotei, nessa linha da pesquisa qualitativa, a abordagem de investigação, formação autobiográfica, por permitir, segundo Lani-Bayle (2008), construir e conquistar a própria história, narrando-a e dando-lhe forma, pois

[...] estudar a parcela dos acontecimentos que se revelam marcantes na vida de cada um, do modo como a narrativa se manifesta, e segundo o grau de proximidade experimentada, tanto no tempo quanto no espaço, põe em evidência a antecipação aprisionante, na construção dos saberes, partindo- se dos mais próximos e familiares para os mais distantes. (LANI-BAYLE, 2008, p. 297).

Entendo, assim como López Górriz (2008, p. 303), que, quando se desenvolve um processo como este, produz-se uma transformação existencial e social nas pessoas que estão nele envolvidas, permitindo a ampliação de novas possibilidades experienciais. Segundo a autora,

Em nossa experiência de investigação/formação autobiográfica e nas investigações/formações autobiográficas que desenvolvemos com outras pessoas, temos constatado que quando o processo autobiográfico se desenvolve durante um longo período, as pessoas vivem uma transformação existencial que lhes permite passar de um modelo de pessoa dependente e submissa a outro mais autônomo [...]. (LÓPEZ GÓRRIZ, 2008, p. 304).

O desenvolvimento de um processo autobiográfico leva a uma mudança nas estruturas pessoais e sociais de conhecimento, iniciando com a compreensão do modelo reprodutivista educativo e sociocultural das pessoas com as quais interagimos (LÓPES GÓRRIZ, 2008).

A partir daí, a compreensão das nossas ações começa a se desmontar, em virtude dos questionamentos, gerando uma crise, que é condição sine qua non para mudança, pois permite o rompimento dos moldes a que estamos aprisionados, possibilitando uma nova configuração.

Entendo, conforme Lani-Bayle (2008, p. 301), que não há porque proibir ou impor memórias escolhidas ou transformadas, mas é importante buscar “[...] uma

visão policrônica transversal”, que permita equilíbrio entre esses dois extremos, oportunizando o conhecimento dos saberes contidos em si mesmo, mas que são desconhecidos, inscientes.

Insciente, de acordo com Lani-Bayle (2008, p. 301), “[...] é o que se sabe para além ou aquém das palavras para dizê-lo. Pois quando vivemos algo, isso se inscreve dentro de nós.”. Não há meios para representá-lo pela linguagem, mesmo sabendo que continua no nosso interior. Esse insciente só poderá ser desvelado, apresentado, pelas palavras daqueles que são próximos de nós, dando acesso ao que foi vivido desde o início de nossa existência. Esse discurso do outrem nos permite compreender os desencadeamentos dos processos que constroem nossa relação com o saber.

Quando a pessoa chega a tal ponto, produziu-se nela uma metamorfose que lhe dá consistência e poder sobre si mesma. Sente-se capaz de reconduzir e desenvolver seu próprio projeto de vida. Gera espaços de autonomia e respeito à singularidade e à pluralidade dos outros, e se posiciona frente às situações com clareza e firmeza, estabelecendo a negociação e o consenso a partir de seus espaços pessoais, profissionais e sociais. É o momento que começa a tomar, fortemente, o controle de sua vida. (LÓPEZ GÓRRIZ, 2008, p. 307).

Josso (2004) explica que a transformação de uma vivência em experiência acontece no momento em que centramos nossa atenção em nós, no nosso interior, e, assim, percebemos o que se passa em nós e/ou na situação na qual estamos implicados pela nossa simples presença.

A literatura compreende ainda que a construção da narrativa autobiográfica aloja-se na relação entre a subjetividade e a identidade, quando o sujeito professor, ao partir das suas experiências de si, vividas ao longo da sua trajetória escolar e profissional, questiona sobre o sentido dessas vivências e aprendizagens. Até porque os acontecimentos não têm o mesmo sentido para os mesmos sujeitos, cada um os interpreta de uma maneira peculiar.

A abordagem Histórias de Vida e Formação (HIVIF) abre campo de vastidão em pesquisa e (auto)formação, em que esta narrativa autobiográfica se torna possível e revela o que fui, transforma o que sou, bem como me deixa entrever o que sou capaz de vir a ser. Do encontro entre o outrora, o agora e o porvir se tecem os relatos de si neste âmbito de estudo. Há que ousar saber de si – e ousar se sentir. (CASTRO, 2014, p. 288).

Fazendo uma analogia com essa ideia, considero que os memoriais constituem um espaço no qual o sujeito, ao eleger o que considera relevante da sua formação e para a escrita de seu texto, potencializa a reconstrução de sua trajetória pessoal e profissional, utilizando a autorreflexão para compreender sua identidade, caracterizando-se como uma excelente perspectiva de formação.

Ghedin, Oliveira e Almeida (2015, p.102) afirmam

[...] ao ter consciência de sua própria identidade docente o professor poderá legitimar a sua identidade de pesquisador contribuindo com o processo de ensino-aprendizagem e desenvolvendo a criticidade e autonomia do estudante ao passo que socializa os conhecimentos obtidos nas suas pesquisas a partir de um criterioso estudo e de uma reflexão apurada [...].

Faz-se necessário, dessa forma, refletir e discutir os fundamentos históricos, teóricos, metodológicos e legais do estágio presentes na matriz curricular do curso de matemática, contextualizando com as novas tendências na formação do professor desta área, fortalecido pela análise dos relatórios de estágio e entrevistas com os acadêmicos do oitavo período do referido curso, numa permanente relação teoria e prática no processo de construção e execução do projeto de estágio.

No entendimento de Barreiro e Gebran (2006, p. 89-90),

A relação teoria e prática na formação do professor constitui o núcleo articulador do currículo, permeando todas as disciplinas e tendo por base uma concepção sócio histórica da educação, nesse sentido, alguns princípios devam nortear os projetos de estágios. 1 – A docência é a base da identidade; 2 - O estágio enquanto momento de interação teoria – prática; 3 – O estágio não se resume a aplicação imediata, mecânica e instrumental de técnicas, rituais e normas e 4 – O estágio é o ponto de convergência e equilíbrio entre professor e aluno.

Conforme Pimenta (2006), os saberes teóricos se articulam aos saberes da prática, em um processo de ressignificação mútua. Assim, a teoria tem o papel de oferecer aos professores perspectivas de análise para compreender os contextos sócio-históricos, culturais e de si mesmos enquanto profissionais, onde se desenvolve sua atividade docente, ampliando a possibilidade de intervenção para a transformação. Em virtude disso, decorre a necessidade do exercício constante da crítica das diversas situações nas quais o ensino ocorre, ou seja, da prática reflexiva como um processo dialético entre teoria e prática.