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O marco das neo drags: a capa do caderno Ela

2 O “MENINO DO RIO” QUE VIRA A “GAROTA DE IPANEMA”

2.5 O marco das neo drags: a capa do caderno Ela

Embora ainda esteja cedo para analisar o impacto alcançado pela popularização da cultura drag, oriundo de um modelo mais contemporâneo e inserido na cultura pop,

81 "(...) e basicamente um apagamento das Drag Queens na cena noturna da zona sul e centro da cidade e

começa um acolhimento das mesmas na zona norte e subúrbio." (KVALO, 2015, s/p).

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Disponível em http://blogs.odia.ig.com.br/lgbt/2014/05/01/suzy-brasil-a-drag-caricata-mais-popular- do-rio-faz-vinte-anos-de-carreira/ Acesso em 22 de setembro de 2016.

que decorreu da fama alcançada por RuPaul’s Drag Race, observa-se, atualmente, o crescimento de uma nova geração de drag queens no Brasil e no mundo; uma vez que, através da popularização de tal reality show, performers cada vez mais jovens – cujas idades estão entre 18 e 28 anos – acabaram descobrindo o seu talento e, dessa forma, estão renovando a cultura drag a partir de códigos visuais contemporâneos, que mostram a drag queen como mais do que alguém que deseja realizar uma ilusão do feminino ou criar um estereótipo caricato para fazer rir. Dessa forma, barbas, pinturas corporais inspiradas no grafite e discursos que questionam a noção de feminilidade, se fazem presentes e empreendem discussões que ganharam espaço na mídia, como, por exemplo, a reportagem publicada no Caderno Ela, no dia 07 de março de 2015, intitulada “Nova geração de drag queens discute a questão de gêneros e protagoniza websérie”.

Figura 51 – O coletivo Drag-se, algumas das representantes das neo drags

Fonte: Drag-se

Como filhas da era digital, tais artistas também fazem uso de plataformas que não se restringem aos palcos para divulgar o seu trabalho. As neo drags documentam o seu trabalho através de redes sociais, como Instagram e Facebook, e conquistam maior alcance que suas antecessoras pela grande exposição que tais veículos proporcionam, uma vez que existem grupos (no caso do Facebook) dedicados discussão da arte drag, por exemplo. Além da divulgação online, as neo drags também contam com o apoio de festas dedicadas a cultura drag e, dessa forma, conquistam espaço para expor o seu

trabalho em ambientes onde são respeitadas, o que impulsiona cada vez mais a carreira de tais artistas, bem como dá liberdade para que tal geração se sinta segura para agir, vestir e se expressar como deseja – ainda que em ambientes específicos.

Além disso, as neo drags se destacam em relação às gerações anteriores por oferecerem maior diversidade de estilos83. Se em momentos anteriores havia a necessidade de seguir determinada estética pra conseguir sucesso na noite (conforme foi destacado através da fala de Suzy Brasil, no tópico 2.5), no presente contexto, a ideia do que é ser drag queen se desdobrou de um ideal antigo e da própria noção de que drag é indissociável da ideia de ilusão do feminino, de que drag queen é “um homem que se traveste de mulher”. Tal ideia é definitivamente quebrada quando se observa que as neo

drags incluem mulheres que também se montam, o que corrobora a discussão acerca da

construção social do modelo feminino tradicional ao transitar entre os dois gêneros sem que exista a restrição a um único, de maneira semelhante faziam os Dzi Croquettes, mas expandindo-a em termos de discussão, visto que para as neo drags é importante romper com o binarismo de gênero. A partir de tal análise, observa-se que as gerações atuais estão mais cientes, em comparação com as anteriores, de sua importância nas lutas contra o conservadorismo, seja no boca a boca com o grupo de amigos ou no ativismo – através das redes sociais ou de maneira presencial, como se pode confirmar através das recentes imagens de drag queens na Esplanada, em manifestações contra o golpe sofrido pela presidenta Dilma Rousseff, por exemplo.

83 “Essa geração vem desmitificando a ideia de que quanto mais feminina, mais bonita é a drag. Não há

mais regras, todos os estilos são bem-vindos", diz Robson Dinair, de 28 anos, que vive a drag queen Ravena Creole. "Criam-se regras para algo que deveria ser totalmente livre", diz a drag Alma Negrot, em relação a padrões previamente ditos de como se montar, agir ou se maquiar.”

Disponível em < http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160202_drag_queens_db_ab> Acesso em 04 de setembro de 2016.

Figura 52 – Drag queen assiste à votação do impeachment

Fonte: Acervo pessoal

Além do aspecto político, pode-se destacar também que a nova geração de drag

queens é muito ligada a estética de suas personas, e tal estética, por sua vez, inclui

conceitos de moda, da natureza e das culturas nas quais estão inseridas as artistas. Essa preocupação estética tem contribuído para que, cada vez mais, as drags conquistem territórios, sem nunca sair da arte cênica ou abandonar os palcos, mas ganhando novos espaços, gravando CDs, se apresentando em programas de TV e fazendo arte.

Reforçando esse argumento, o reconhecimento do público, em especial o LGBT+, pode-se destacar o espaço conquistado pelas neo drags na mídia regional. Uma das personalidades, Aurora Borealis, saiu em um editorial da revista Vogue; e muitas

drag queens do eixo Rio de Janeiro/São Paulo foram convidadas para desfilar para o

designer paulista Fernando Cozendey, para apresentar a sua coleção de 2015, na Casa dos Criadores – evento anual de projeção para novos estilistas. Pode-se também destacar o exemplo do grupo As Baphonicas, que produziu e lançou uma música, além de sempre serem assunto de matérias e terem as suas performances cobertas pelo site Pheeno.

Figura 53 – Aurora Borealis em editorial da revista Vogue

Fonte: Acervo pessoal

Figura 54 – O grupo As Baphônicas