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O Modelo Conceitual Multidimensional, Relacional e Multidirecional para a

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2. A Responsabilidade Social Corporativa

2.2.1 A Evolução do Conceito e Modelos de Responsabilidade Social Corporativa

2.2.1.3 O Modelo Conceitual Multidimensional, Relacional e Multidirecional para a

Compreendendo que a responsabilidade social corporativa demanda a interação solidária de responsabilidades entre os agentes econômicos, Ashley (2005a) propôs o modelo conceitual multidimensional, relacional e multidirecional para a responsabilidade social nos

negócios – Modelo MRMRSN com a finalidade de entender e avaliar a estratégia de gerenciamento da responsabilidade social nas organizações. Para tanto, o modelo se propõe a responder às seguintes questões: responsabilidade social “para quem é feito o negócio, quem afeta e é afetado pelo negócio, o que é o negócio, quem faz o negócio e quando e onde é feito o negócio” a fim de integrar a organização e a sociedade.

O modelo MRMRSN estabelece que uma organização esteja dividida em quatro dimensões, quais sejam: as relações político-sociais (Estado e Governo; Sociedade civil organizada; Famílias e comunidades), as relações econômicas objeto e meio do negócio ou relações core business (ambientes natural e construído, demandantes, ciência e tecnologia e fornecedores), as relações de produção e distribuição internas (agentes de direção, trabalho contratado, capital próprio e de terceiros) e a dimensão tempo/espaço, a fim de responder aos questionamentos que balizam essa dimensão. Além de ser perpassada pelo vetor comunicação e conhecimento, de acordo com a Figura 5.

Figura 5: Dimensões do Modelo MRMRSN Fonte: Ashley (2005a, p.121)

De acordo com a Figura 5, as instituições como o Estado e governo, famílias e comunidades, sociedade civil organizada são definidoras da constituição, execução e fechamento de organizações, garantindo a legitimação da organização por seus stakeholders e

encontra-se estabelecida na dimensão de relações político-sociais. Com isso, responde-se a questão para quem a responsabilidade social está destinada (ASHLEY, 2005a).

As relações econômicas e o negócio da organização são definidos pela dimensão de relações core business ou das relações econômicas objeto e meio do negócio e o objetivo é responder as perguntas: o que é o negócio? qual o seu propósito? Para tanto, nessa dimensão realiza-se a análise das relações operacionais estabelecidas com os fornecedores, demandantes, ciência e tecnologia e com os ambientes natural e construído, conforme demonstrado na Figura 5 (ASHLEY, 2005a).

Para Ashley, essa dimensão é a mais impactante e multiplicadora, pois alcança as relações entre a organização e seus fornecedores, os quais alcançarão outros envolvidos na sua cadeia produtiva (ASHLEY, 2005a). Dessa forma, Ashley (2005a) recomenda a adoção de equipe multidisciplinar e multidepartamental a fim de definir a política interna voltada para a implementação de programa de responsabilidade.

Quanto à dimensão de relações de produção e distribuição internas, esta define quem faz o negócio e representa, portanto, quem e o quê a organização escolhe para viabilizar a sua missão a partir da produção de bens e serviços. Inclui, assim, o trabalho contratado, capital próprio ou de terceiros e os agentes de direção, ilustrados na Figura 5 (ASHLEY, 2005a).

Já a dimensão tempo/espaço define o contexto na linha tempo e espaço em que as relações entre a organização e a sociedade são estabelecidas, evidenciando que o processo decisório recebe influência dessa relação, seja no âmbito individual ou coletivo. Responde as perguntas de onde e quando é feito o negócio, demonstrando que as relações entre a organização e com quem interagem não são padronizáveis, pois se inserem num contexto específico e que impactam em todas as relações estabelecidas, conforme demonstrado na Figura 5 (ASHLEY, 2005a).

Para Ashley (2005a), a gestão do vetor comunicação e o conhecimento, o qual perpassa as relações estabelecidas entre o negócio-sociedade, viabiliza a ampliação do entendimento das expectativas e percepções dos stakeholders e consequentemente promove a aprendizagem coletiva emanada das relações negócio-sociedade. Em um ambiente de contínuas mudanças e crescente interligação, o vetor da comunicação e conhecimento viabiliza o desenvolvimento da confiança entre os envolvidos. Além disso, esse vetor possibilita a eficiência do gerenciamento de um programa específico de responsabilidade social corporativa, quando o escopo for amplo, sob os aspectos econômico, ambiental e social (ASHLEY, 2005a).

O Modelo MRMRSN também demonstra a articulação de princípios, processos e resultados advindos de vetores que perpassam as dimensões, buscando garantir a integração com os ambientes interno e externo da organização.

Ashley (2005a) recomenda que na aplicação do modelo MRMRSN sejam observados o contexto econômico, legal, social e ambiental no qual a organização atua, bem como o seu porte, a sua natureza jurídica, a origem do capital, o setor (primário, secundário ou terciário), o padrão de responsabilidade social dos concorrentes, as expectativas dos clientes e o grau de investimento tecnológico, tendo em vista a necessidade de contextualizar as relações estabelecidas na linha temporal e espaço.

Segundo Ashley (2005a), a gestão da responsabilidade social corporativa deve alcançar o maior número possível de stakeholders, a fim de promover o fortalecimento social da organização. Para tanto, a organização pauta as suas relações na ética, a qual apresenta três desafios, os quais podem ser considerados simultâneos ou alternadamente, além de serem dinâmicos quando do estabelecimento das relações, ou seja, uma relação inicialmente pode ser classificada no nível 3, posteriormente, em outro contexto, poderá estar no nível 2 (ASHLEY, 2005a, p.122):

a) Desafio ético nível 1: cumprir a Lei;

b) Desafio ético nível 2: ir além do definido na Lei; a fim de atender as expectativas atuais da sociedade no contexto em que se insere a empresa;

c) Desafio ético nível 3: aspirar a ideais éticos, ainda não amplamente reconhecidos nas expectativas atuais de seu contexto social.

Esses desafios somam-se às dimensões do modelo MRMRSN para viabilizar a sua operacionalização a partir de normas sociais que garantam as obrigações mútuas advindas das relações estabelecidas entre a organização e seus stakeholders.

O modelo MRMRSN apresenta em si as diversas abordagens que o tema responsabilidade social corporativa tem desenvolvido, além de sua operacionalização ser consubstanciada em normas sociais que norteiam as relações estabelecidas entre a organização e seus stakeholders. Outro aspecto relevante é o fato de adequar-se ao tempo e espaço no qual a organização encontra-se inserida, atentando, portanto à realidade sócio- econômica e legal que a envolve. Destaca-se ainda, a presença do vetor comunicação e conhecimento que possibilita não apenas o registro dos fatos, mas a geração de conhecimento para que os envolvidos, a partir de dados medidos e apurados, possam adequar as suas estratégias para que alcancem a missão da empresa.

Portanto, esse modelo conceitual será o adotado para o escopo deste estudo, uma vez que possibilita identificar se a ação da organização contratante impacta junto à contratada para que essa promova uma gestão socialmente responsável, viabilizando uma visão multidimensional, relacional e multidirecional entre os envolvidos. Destaca-se que será aprofundada a análise sobre o stakeholder fornecedor contemplado na dimensão core business do modelo conceitual, a partir do contexto no qual a organização se encontra inserida.

Enfim, inúmeras são as abordagens sobre responsabilidade social corporativa e visam a construção de um novo paradigma que consiste em desvincular as ações sociais de uma visão caritativa e associá-las à uma visão estratégica da organização, com ética e transparência, buscando garantir a lucratividade, a sustentabilidade dos negócios e o resgate da cidadania social. Para tanto, torna-se necessário compreender a ética como um elemento fundamental que permeia as relações estabelecidas entre os diversos stakeholders envolvidos no negócio, o que é explicitado no item seguinte.