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3.7-A NÁLISE DOS DADOS

1 COORDENADORIA NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE.

4.2 O MODO DE DESENVOLVIMENTO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM

No Brasil, a partir da década de 60, o ensino de enfermagem privilegiava a prática das ações de saúde no âmbito Hospitalar, voltado para o atendimento individual de caráter curativo, dando enfoque à doença, apesar de nessa mesma década já estar buscando mudar este paradigma.

A OMS, a partir da década de 70, começa a difundir a idéia da Atenção Primária à Saúde e, a partir de então, com o evoluir da história, novos modelos de atenção à saúde vão surgindo e com eles a necessidade de se rever a maneira com a qual os profissionais estão atuando nestes programas.

São vários os aspectos apontados como importantes para determinar o modo como vem sendo desenvolvida a consulta de enfermagem. Dentre estes, a seqüência, as etapas e a contribuição desta com a melhora do paciente e da família no seu contexto.

O cuidado ao paciente, o diagnóstico e a conduta adotada nem sempre estão de acordo com o que é preconizado.

Segundo Peduzzi (2000), embora existam questionamentos, o cuidado de enfermagem é usualmente reconhecido como objeto de trabalho dessa área profissional. Afirma ainda que, embora a prática moderna da enfermagem seja caracterizada como desdobramento do trabalho médico, ao longo das décadas e séculos constitui-se como um trabalho peculiar o que implica também na conformação de um saber próprio e singular.

Segundo a mesma autora, a primeira forma organizada do saber na enfermagem é constituída pelas técnicas de enfermagem, seguido pela sistematização dos princípios científicos que as fundamentam. No processo de trabalho assistencial, o enfermeiro toma como objeto as necessidades de cuidado e tem por finalidade a atenção integral de enfermagem.

Verificamos nos depoimentos que se segue que os mesmos estão ainda voltados para o modelo curativo e não preferencialmente para atenção básica a que se destinam, como se destacam nos princípios do Sistema Único de Saúde em vigor e principal idealizador do PSF. Nos relatos de algumas enfermeiras percebemos a preocupação maior com a prescrição de medicamentos, o que diz a legislação quanto a este procedimento e não necessariamente a promoção da saúde e prevenção de doenças, onde apenas uma das enfermeiras entrevistadas faz referência a esse fato. O mesmo se percebe nas observações não participativas onde a conduta adotada em grande parte das consultas assistidas é o tratamento medicamentoso e não necessariamente orientações para promoção da saúde e prevenção de doenças nas quais deveriam estar centradas as ações de enfermagem.

O atendimento não parece organizado, uma vez que as consultas são executadas de maneiras diferenciadas e sem uma seqüência ou um direcionamento das ações, uma vez que cada enfermeira apresenta um discurso quando se faz este questionamento e poucas vezes tais discursos coincidem em informações.

O papel da enfermeira no PSF não parece estar bem claro para as mesmas, visto que em algumas das suas falas podemos identificar dúvidas quanto às ações de enfermagem, principalmente no que se refere à consulta de enfermagem onde, uma delas relata não haver capacitação específica para o desenvolvimento dessa consulta e outra apresenta dúvida quanto ao que preconiza os programas do MS, dando prioridade à consulta médica, por falta de recursos. Relatam ainda pouca experiência para o atendimento na forma de consulta.

Algumas etapas das consultas são citadas, tais como entrevista /anamnese/levantamento de problemas/centralização das queixas do paciente, exame físico, solicitação de exames, medicação/ prescrição, orientação/educação e solicitação de exames. Porém nem em todos os discursos é possível evidenciar a consulta e estas não aparecem como uma forma de organização da sua prática. Tais pontos podem ser observados nos trechos

transcritos abaixo:

... Se for uma paciente de verminose, eu medico. Paciente com anemia a gente medica tanto adulto quanto criança. No caso da criança, se vem com alguma queixa de infecção urinaria a gente medica (...) a gente estuda farmacologia, a gente sabe qual a parte, mas até aonde eu posso ir pela lei? Enf 01.

No início a gente atendeu de uma forma geral. Na parte de enfermagem, foi um pouco confuso pra mim em termos de acompanhamento e sistematização da assistência, Tenho que atender todo mundo e a gente não tinha uma experiência maior... Tínhamos dificuldade em atender o idoso, de atender um paciente com tuberculose, com hanseníase. Inicialmente eu tentava e me sentia às vezes insegura, às vezes sem esse conhecimento, apesar de que, a gente tinha muito nesse período um apoio técnico (...) A gente priorizou o atendimento dela (da médica) por ser um atendimento mais dessa necessidade clínica de examinar. Fica deficiente o atendimento lá do outro lado, porque eu não tenho recursos materiais. A maca está quebrada, balança quebrada e essas questões que interferem no trabalho em si, principalmente do exame clinico. Enf 02.

...eu diria que 80% das consultas ainda são medicalizadas mesmo, e procuro fazer uma intervenção no paciente, no cuidador...procuro levantar outros problemas como a questão da humanização. Enf 04 ...nós atendemos aqui a família como um todo. Então, nós pegamos desde o recém-nascido até o idoso...Temos a puericultura, temos o pré-natal, temos o planejamento familiar, temos acompanhamentos de hipertensos e diabético, temos também acompanhamento de pessoas com tuberculose...Essas consultas de enfermagem são agendadas previamente e a consulta subseqüente sempre que o paciente vem para a consulta, ele já sai com a sua subseqüente marcada, já agendada também para que a gente não perca o vínculo com o paciente. Enf 05.

...não teve assim uma capacitação para nós estarmos desenvolvendo consulta de enfermagem.(...)a consulta de enfermagem é uma atividade da enfermeira, também do enfermeiro,mas não foi nada projetado, nem programado para essa realização da consulta e as atividades globais aqui. Eu faço a minha consulta de uma forma convencional, de uma forma que eu aprendi na universidade, mas nós não temos nenhum parâmetro, nenhum formulário que norteie na realização de consulta. A gente faz do modo do nosso conhecimento, da competência, da possibilidade. Enf 07.

Eu acho simples. O exame físico, a entrevista, anamnese, as queixas e medicar. A gente faz também a prescrição e a orientação, muita orientação; a gente tem que realmente estar colocando muito, porque assim o paciente começa a ter uma proximidade muito grande com a gente. Eles vêm aqui mesmo fora da consulta, a educação de está explicando e de está orientando –os é uma coisa muito mais presente aqui do que talvez em outro lugar. No PSF essa coisa de estar orientando, educando, mostrando a ele como é que faz. A consulta é

basicamente o exame, os exames também que a gente solicita, só isso. Enf 08.

A consulta de enfermagem é feita através do exame físico e abordagem sindrômica. Procuramos alguma alteração que nós possamos prevenir a verificação da pressão arterial, da glicemia capilar nos pacientes que já tem antecedentes de diabetes ou algum sintoma mesmo. A consulta é direcionada da seguinte maneira: O exame clínico, a gente calcula o índice de massa corpórea, e dar orientações. Enf 10.

Na tentativa de regularizar a atividade que já vinha sendo exercida pelos enfermeiros e enfermeiras, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), desde 1993, mediante a Resolução159/93, instituiu a consulta de enfermagem como atividade obrigatória em todos os níveis de assistência à saúde, considerando-a composta das fases do processo de enfermagem. Quanto ao tempo dispensado com a consulta, Gamba (1988, p102) revela que “a duração da consulta de enfermagem é de 35a 45 minutos na primeira consulta e por volta de 35 minutos a partir da segunda”.

No entanto, nas consultas em que estive presente como observador o tempo dispendido era igual ou maior ao determinado para a consulta de enfermagem mas, quando aguardava do lado de fora do consultório esse tempo mostrou-se bem menor do que o idealizado.